MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 30 de junho de 2013

Avanços obtidos por protestos em MT ainda são relativos, dizem analistas


Medidas votadas pela Câmara de Cuiabá são demagogas, avalia sociólogo.
Por outro lado, “susto” à classe política valeu a pena, diz articulista.

Renê Dióz Do G1 MT

Manifestação em Cuiabá (Foto: Renê Dióz/G1)Manifestação em Cuiabá chegou a reunir 45 mil pessoas (Foto: Renê Dióz/G1)
Os avanços pontuais na gestão do transporte público obtidos pelos protestos das duas últimas semanas em Cuiabá devem ser comemorados com parcimônia. Ouvidos pelo G1, os mesmos especialistas que apontaram a relevância histórica das manifestações – com mais de 45 mil pessoas nas ruas da capital – consideram, numa primeira análise, que os frutos imediatos da pressão popular ainda devem ser vistos como avanços concretos relativos, tendo servido por enquanto mais para dar um “recado” à classe política local sobre uma profunda crise de representação.
Tais avanços consistem na aprovação pela Câmara Municipal de Cuiabá de projetos de lei determinando o retorno da figura do cobrador nos ônibus da capital, a possibilidade de pagamento em dinheiro das passagens, transação que era feita somente pelo cartão do usuário, maior tempo de integração e ampliação do passe-livre estudantil para outras categorias de estudantes, como os que se dedicam a cursos de pós-graduação.
Estas medidas precisam ainda ser sancionadas pelo prefeito Mauro Mendes, a quem restou o “ônus” da resposta rápida dos vereadores à pressão popular, na visão do professor de Sociologia Pedro Félix e do comentarista político Alfredo da Mota Menezes.
Ônus
Manifestação em Cuiabá (Foto: Renê Dióz/G1)Manifestação 'é a ponta do iceberg que está sendo resolvida', diz sociólogo (Foto: Renê Dióz/G1)

“É a ponta do iceberg que está sendo resolvida. Esses políticos que estão aí nunca tiveram capacidade de virar nossos líderes. Começaram a tirar do baú projetos populares e não pensaram em sua dimensão econômica aos cofres públicos. Demagogicamente, acham que estão resolvendo. A resposta imediata tem sido zarolha, irresponsável. Não se está pensando no amanhã”, critica Pedro Félix sobre as medidas aprovadas pela Câmara com potencial – ao contrário do que alegaram os vereados após a votação - para onerar ainda mais as contas municipais.
Isso porque o prefeito Mauro Mendes (PSB) já havia, em meio aos protestos, anunciado redução na tarifa de transporte público graças a medida provisória que zerou em todo o país as alíquotas de Pis/Cofins na composição do valor. Caso as próximas respostas do Poder Legislativo sigam a mesma “toada” sem muito critério, Félix teme as consequências de inúmeros subsídios bancados pelos gestores do Poder Executivo sob risco de redução de investimentos em várias áreas essenciais. Daí a comemoração moderada do professor sobre os efeitos dos protestos em Cuiabá.
Os políticos estão assustados. O povo nas ruas assustou a classe política e isso é bom. Perceberam que estão em um mundo e a sociedade em outro"
Alfredo Menezes,
comentarista político
“O Legislativo tirou o problema dele e jogou para o Executivo, mas alguém vai ter de pagar essa conta”, concorda o articulista Alfredo da Mota Menezes, reprovando as votações em tempo recorde pelos vereadores de Cuiabá, na ânsia de se posicionar perante a massa de manifestantes.
Menezes observa ainda uma peculiaridade: no contexto nacional, a cobrança dos manifestantes nas ruas recaiu em maior proporção sobre as costas da presidente Dilma Rousseff (PT), que agora tende a “tirar o bode da sala dela e colocar no Congresso” para atender aos pleitos dos protestos. Em Cuiabá, o movimento foi inverso, com o Legislativo repassando o ônus da resposta ao Executivo.
Segundo Menezes, o comportamento dos poderes se mostra essencialmente igual no contexto regional: sem conseguir desenhar em tempo uma resposta robusta e devidamente ponderada aos anseios de uma “erupção social inesperada”, um joga a responsabilidade para o outro.
Recado
Pelo menos, nesse turbilhão todo alguém se incomodou nos altos escalões do poder, diz Menezes. “Os políticos estão assustados. O povo nas ruas assustou a classe política e isso é bom. Perceberam que estão em um mundo e a sociedade em outro”.
“As passeatas podem acabar, mas o sentimento de rua está com todos os brasileiros e os políticos estão se borrando, estão atrapalhadamente resgatando projetos para dizer que estão nos atendendo. Falam que as manifestações chegam a ser fascistas porque não aceitam partidos. Mas não é que o povo não queira partido, é que esses partidos não representam mais ninguém. Esse povo está mandando um recado. Como eu vi outro dia numa manifestação: ‘os problemas são tantos que nem cabem no cartaz’”, complementa Félix.
Manifestação em Cuiabá (Foto: Dhiego Maia/G1)Manifestantes protestaram em frente ao prédio da Câmara de Vereadores em Cuiabá (Foto: Dhiego Maia/G1)

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