MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 30 de novembro de 2018


Em jantar secreto, Paulo Guedes se aproxima de Renan


Futuro superministro da Economia disse a amigos que aprovou o encontro

Redação
BAHIA.BA
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, começou a se aproximar de Renan Calheiros, informa a Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo.
A convite de Guedes, os dois jantaram na terça-feira em Brasília. Um amigo em comum intermediou o petit comité, mantido até então sob sigilo pelos dois protagonistas. Renan disse a interlocutores que saiu impressionado. E brincou que a partir de agora será liberal com relação a Chicago, em referência à escola de Guedes, e conservador em relação a Curitiba, terra de Sérgio Moro. O futuro ministro também disse a amigos que aprovou o encontro.

‘Essa bomba vai explodir’, diz Neto sobre situação fiscal do Estado


Democrata não economizou nas críticas a Rui Costa (PT) sobre a suplementação da Alba e atribuiu crise à má gestão petista: "Estão aí há 12 anos, vão culpar quem?"

Luiz Felipe Fernandez / Matheus Morais
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Foto: Matheus Morais/Bahia.ba
Foto: Matheus Morais/Bahia.ba

O prefeito ACM Neto não economizou nas críticas a respeito do governador Rui Costa (PT), que anunciou veto na suplementação para a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e para o Tribunal de Justiça (TJ-BA). O democrata atribuiu o problema à má gestão petista no estado e se mostrou indignado com a “postura” de Rui.
“Está claro que o governador encobriu tudo isso ao longo da campanha política. O momento que ele deveria ter colocado com clareza toda a dificuldade, era na campanha política. Não colocou”, afirmou o presidente nacional do DEM em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (30).
Para ele, Rui omitiu a situação fiscal da Bahia. “Pelo contrário, ele se gabava, dizia que tava tudo muito bem, enquanto os outros estados estavam em dificuldade”. O prefeito afirmou que as consequências estão sendo percebidas só agora e, que um dos sinais do desespero do governador, é cogitar privatização da Embasa. O “maior objeto de luta política do PT” na época em que fazia oposição ao extinto PFL.
Neto disse que já se reuniu com “alguns deputados estaduais” para discutir o assunto e pretende tomar uma “decisão conjunta” com a bancada da oposição. Ele prometeu ficar atento à situação e profetizou: “Essa bomba vai explodir”. De acordo com o Democrata, a população vai passar a ter a “exata noção do estrago” causado pelo mandato do PT.
“Toda situação fiscal na Bahia foram eles que fizeram. Eles estão aí há 12 anos, eles vão culpar quem? Vão transferir essa responsabilidade para quem? Quero saber. Vou cobrar e vou cobrar muito essa postura do governador Rui Costa”, disparou.

ACM Neto: ‘Rui Costa de 2018 é a Dilma 2014’


"Há um estelionato eleitoral cometido na Bahia pelo governador e o tempo vai se incumbir de mostrar isso"

Milena Teixeira / Matheus Morais
BAHIA.BA

Foto: Raul Golinelli/ GovBA
Foto: Raul Golinelli/ GovBA

O prefeito ACM Neto (DEM) voltou a comparar governo de Rui Costa com o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014. “Eu sinto o Rui Costa de 2014 como a Dilma de 2018. Estou sentindo a mesma coisa. A Dilma se reelegeu e depois teve que adotar uma prática completamente diferente”, disse o presidente do DEM durante coletiva, na manhã desta sexta-feira (30).
O democrata disse que um vídeo divulgado pelo petista sobre o  aumento da contribuição da Previdência estadual é “constrangedor”.
“Na campanha, ele não disse que ia fazer uma reforma na Previdência […] Eu vi  ele criticar os deputados que votaram na reforma. Ele vai ser perverso com os servidores. Nem tomou uma posse e já está fazendo diferente do que falou”, afirmou ACM Neto.
Sobre declaração de Rui, afirmando que  a oposição não deveria ser ouvida pela base governista na Assembleia em relação à escolha da nova presidência da Casa, o prefeito declarou:  “A pior coisa na vida é você achar que esta acima do bem e do mal. A  oposição é fundamental para democracia[…] A eleição da Assembleia segue seu próprio ritmo. Já escolhemos nosso candidato, que vai ser divulgado pela liderança.  Eu espero que tenha desfecho”.

Heineken inaugura linha de produção de cervejas na Bahia


São empregadas 636 pessoas diretamente e outras 300 indiretamente

Redação
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Foto: Alberto Coutinho/GOVBA
Foto: Alberto Coutinho/GOVBA

O Grupo Heineken no Brasil inaugurou, nesta sexta-feira (30), a 1ª linha de produção da marca Heineken na região Nordeste, na cidade de Alagoinhas. A unidade será a quarta do grupo a produzir a cerveja Heineken no Brasil.
O investimento de R$ 135 milhões para implantação da fábrica é parceria da empresa com o governo estadual e a prefeitura da cidade. São empregadas 636 pessoas diretamente e outras 300 indiretamente.
A obra incluiu a montagem de quatro tanques horizontais usados exclusivamente para o processo de fermentação de Heineken; ampliação da linha de vidro – a maior do grupo no Brasil em flexibilidade de produção para diferentes tipos de embalagens; nova embaladora para a linha de latas, permitindo a fabricação de diferentes produtos e embalagens e uma nova e moderna linha de chope.
A cervejaria de Alagoinhas está entre as maiores do grupo e os investimentos recebidos são parte de um projeto que se estenderá até 2019.
Presente na inauguração, o governador Rui Costa disse que que “mais investimento significa mais emprego, principalmente quando está agregando a imagem de uma cerveja reconhecida mundialmente pela qualidade, que agora passa a ser produzida na nossa Bahia”.
De acordo com Marcelo Jorge de Araujo, diretor da cervejaria, a nova linha acompanha o crescimento do mercado de cervejas premium, liderado pela  Heineken. “O Grupo Heineken no Brasil tem o compromisso de atender o mercado brasileiro com cervejas de alta qualidade e sua estratégia de operação acompanha o crescimento do mercado e favorece a logística, em especial na região Nordeste”, afirma.
Programa de estágio – A cervejaria também tem vagas abertas para o programa de estágio em vários estados, incluindo a Bahia. Os interessados devem se inscrever neste site até dia 20 de dezembro.

Substitutas de cubanos são recebidas na segunda para atuar no Mais Médicos


Em Salvador, um médico do país caribenho segue trabalhando por força de decisão judicial

Redação
BAHIA.BA
Foto: Adenilson Nunes/GOVBA
Foto: Adenilson Nunes/GOVBA

As duas médicas brasileiras substitutas dos cubanos no programa Mais Médicos serão recebidas pela prefeitura na segunda-feira (3).
Após o governo de Cuba anunciar a saída do programa de cooperação, a médica Kenia Garcia, que atuava na capital baiana, foi desligada do cargo no dia 20 de novembro.
Já o outro profissional cubano, Yosvany Sol Ramos, permanece atuando na USF Canabrava por conta de uma decisão judicial proferida em junho deste ano que determinou a renovação do contrato por três anos – equiparando as condições com os demais médicos intercambistas de outros países, inclusive quanto à integral remuneração.

Palocci escancara os segredos de Lula & Dilma


A delação de Antonio Palocci é a mais volumosa contra Lula e Dilma, escreve Merval Pereira no jornal O Globo:

Quem desdenhava da delação premiada que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci fez à Polícia Federal, inclusive os procuradores de Curitiba, que consideraram incipientes as denúncias, agora não tem mais dúvidas de que o depoimento dele é o mais cheio de informações sobre os ex-presidentes Lula e Dilma.

Hoje Palocci deve ir para casa, de tornozeleira eletrônica, mas em prisão domiciliar em regime semiaberto, o que lhe permitirá trabalhar durante o dia. O TRF-4 considerou, por maioria, que a delação premiada foi efetiva para as investigações.

A 8ª Turma ainda reduziu sua pena para nove anos e 10 dias, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele que fora condenado pelo juiz Sérgio Moro a 12 anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime fechado. 

Palocci admitiu que administrou o caixa 2 que a Odebrecht colocou à disposição do PT, e também que era o "Italiano" ou "Itália" das planilhas da Odebrecht. Um dos dois principais ministros do primeiro governo Lula – o outro foi José Dirceu, que ontem teve sua pena confirmada em segunda instância – Palocci incriminou os ex-presidentes Lula e Dilma, de cuja campanha presidencial foi coordenador.

Segundo seu depoimento, parte do dinheiro da empreiteira Odebrecht seria destinada a gastos pessoais do ex-presidente, inclusive a compra de um imóvel para o Instituto Lula, que nunca foi usado para isso. Essas denúncias corroboram outras, que fizeram de Lula réu em processo da Juíza Gabriela Hardt sobre o Instituto Lula, e o do chamado quadrilhão do PT, pelo juiz Vallisney de Souza, em que Lula e Dilma estão denunciados como réus, além do próprio Palocci, entre outros.

Palocci, nas várias denúncias, contou que o então presidente Lula envolvia-se diretamente em alguns pedidos de propinas. Citou um fato que ocorreu antes mesmo de Lula ser eleito presidente, em 2002, envolvendo o delegado do PT no fundo de pensão da Petrobras, o Petros.

Já naquela época, Emilio, o presidente da Odebrecht, pediu ajuda a Lula, pois estava encontrando dificuldades com esse representante petista na Brasken, que tinha sociedade com os fundos.

Outro momento da delação de Palocci que atinge diretamente Lula foi a revelação de que o ex-presidente Lula mandou que o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, encomendasse a construção de 40 sondas de exploração de petróleo para arrecadar propina para campanha de Dilma Rousseff à Presidência naquele ano.

Pallocci relatou uma reunião em 2010 na biblioteca do Palácio do Alvorada, com a presença também de Lula, Dilma, e José Sérgio Gabrielli, em que foram acertadas as compras que serviriam para financiar a campanha de Dilma naquele ano. Gabrielli, por sinal, está indiciado em outro processo, em que se investiga a construção de uma sede da Petrobras em Salvador, onde atuava politicamente.

Ao confirmarem a validade da delação de Palocci, os juízes do TRF-4 denotaram que a base das denuncias está sendo confirmada, ou que Palocci deu indicações firmes que poderão gerar novas investigações.

Indulto

Pelo andar dos votos e comentários paralelos de alguns juízes, é possível prever que o resultado final do julgamento do indulto do presidente Temer de 2017, que deve se encerrar hoje, será favorável à liberdade completa dos presidentes de concederem indulto a quem quiserem, na base que bem entenderem.

Isso vai dar a Temer a condição de aumentar as benesses no indulto deste ano. Uma questão ficou clara, no entanto, nas discussões paralelas. O ministro Celso de Mello, que deve votar a favor do presidente, contou que o então presidente Sarney o consultou sobre a amplitude do indulto, pois queria retirar dele os crimes contra a economia popular.

O decano comentou que era uma época em que a hiperinflação sangrava a economia e o Plano Cruzado tentava contê-la. Uma situação daquele momento, que Sarney levou em conta na hora do indulto.

Agora, vê-se pela generosidade do indulto do presidente Temer, que ele não se incomoda com o momento atual, em que a sociedade exige um combate forte à corrupção e aos crimes de colarinho branco.

Com a permissão do Supremo, Temer poderá favorecer, mesmo que o indulto seja genérico e não pessoal, vários políticos, como Eduardo Cunha, a se livrarem da cadeia.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

Só 4% dos navios negreiros saíram de Portugal. A maioria partiu do Brasil.


Nos séculos XVI a XIX, 37% das viagens de navios negreiros iniciaram-se no Brasil, 31% na Grã-Bretanha, 13% em França, 5% na Holanda, outros 5% nas Caraíbas e menos de 4% partiram de Portugal. Artigo do historiador João Pedro Marques, publicado pelo Observador:

Pedro Lains escreveu recentemente sobre o antigo tráfico transatlântico de escravos, concebendo-o como trágica parte de uma rede de comércio global — o que é correcto — e sugerindo que Portugal e os países ocidentais em geral terão de pedir oficialmente desculpa por terem estado envolvidos nele, e prevendo, até, que esse pedido acabará por surgir futuramente. Já por diversas vezes contestei a exigência do pedido de desculpas e não vou repetir-me aqui. No âmbito de um debate que já dura há ano e meio parece-me mais útil insistir nos aspectos em que Pedro Lains tem razão, e trazer à superfície outros que ele não focou e que são, a meu ver, muito importantes.

O texto de Pedro Lains tem a grande vantagem de apontar o carácter multinacional do tráfico negreiro. O autor fala-nos em “navios saídos de Lisboa, carregados de panos vindos da Índia, usados para pagamento dos escravos na costa africana, depois traficados para o Brasil, onde os negociantes locais os pagavam com prata, adquirida a troco de ouro no Rio da Prata, na actual Argentina, prata essa que era depois remetida para Lisboa, usada para pagar os panos comprados na Índia e assim fechar o círculo”. Diz-nos que “os capitais deste comércio podiam ser portugueses, brasileiros, indianos, espanhóis, ingleses ou holandeses, seguindo os fluxos financeiros de então, cada vez mais globais”. E logo acrescenta que “nesta história, entram os comerciantes e traficantes de Lisboa e do Brasil, os traficantes africanos, os colonos espanhóis do Rio da Prata, os comerciantes indianos, e os capitalistas de várias origens. Toda uma rede global em que os africanos escravizados se viram envolvidos, enquanto elo mais fraco. Esta visão alargada do tráfico de escravos mostra a complexidade da operação e a multiplicidade das responsabilidades”.

Pedro Lains tem toda a razão quando acentua “a multiplicidade de responsabilidades”, algo que também tentei explicitar num artigo no Observador. E tem igualmente razão quando lembra que o tráfico de escravos terminou “quando era ainda negócio rentável e por deliberada acção política, guiada pelo iluminismo e pela incipiente opinião pública de então”. Há, todavia, um aspecto em que não tem razão, ou antes, em que teria sido possível e desejável esclarecer melhor o que efectivamente se passou. A visão que Lains nos transmite não é suficientemente representativa porque é concebida em termos de tráfico triangular, um conceito que só se aplica marginalmente ao caso português. A ideia, ainda muito comum entre nós — e que Pedro Lains sugere e difunde no seu artigo —, de que os navios saíam de um porto europeu, aportavam às costas africanas, viajando daí para as Américas carregados de escravos, para depois regressarem à Europa com produtos coloniais, adequa-se aos casos inglês ou francês, por exemplo, mas ajusta-se muito mal ao caso português. Quem consultar o Atlas of the Transatlantic Slave Trade(2010), da autoria de David Eltis e David Richardson, os responsáveis pela muito citada Trans-Atlantic Slave Trade Database, verificará que, dos séculos XVI a XIX, 37% das viagens de navios negreiros se iniciaram no Brasil, 31% na Grã-Bretanha, 13% em França, 5% na Holanda, outros 5% nas Caraíbas e que só menos de 4% partiram de Portugal — 3,8%, para ser mais exacto. Os restantes navios partiram dos Estados Unidos, de Espanha, do Uruguai, dos estados bálticos e, até, da própria África.

Pedro Lains não tem esses factos em devida conta. Foca-se exclusivamente nos números brutos da Trans-Atlantic Slave Trade Database para concluir, em tom de recomendação ou de exigência, que “a participação de Portugal e do Brasil, enquanto colónia, nesta gigantesca operação tem de ser entendida”. Deve, de facto, ser bem entendida, mas uma das primeiras coisas que devemos entender é que o envolvimento directo de Portugal continental nos 5,5 milhões de escravos embarcados em África com destino ao Brasil foi limitado. O tráfico no âmbito do império português fez-se quase sempre da América para África e retorno à América, sem passar por Lisboa. Quase não houve tráfico triangular no sentido literal da expressão e, para adquirir escravos na costa africana, os negreiros recorreram muitas vezes a produtos americanos, como a aguardente de cana, por exemplo. O problema do comércio de escravos é, como não me canso de repetir, um problema afro-brasileiro, no qual Portugal riscou menos do que se julga.

Claro que poderá sempre alegar-se que no período colonial, até 1825, o Brasil foi uma possessão da Coroa Portuguesa e que, por isso, fazia tudo parte do mesmo bolo, sendo indiferente o local de onde partiam os navios negreiros. Mas é preciso perceber as circunstâncias e as nuances — e é também e sobretudo para isso que serve a História. De facto, outra das coisas que tem de ser entendida é que parte do tráfico de escravos foi feito à revelia dos interesses e directivas de Lisboa. Pense-se, desde logo, naquele que foi feito de 1825 em diante para um Brasil já independente (1,25 milhões de pessoas). Mas mesmo o que se fez anteriormente correu, por vezes, fora dos canais estipulados e desejados.

O caso mais elucidativo é o da chamada Costa da Mina, que corresponde aproximadamente à faixa litoral que vai do Gana à Nigéria. Em meados do século XVII, com Angola ainda em mãos holandesas, D. João IV autorizou os comerciantes brasileiros a irem transitoriamente à Costa da Mina adquirir escravos. Sucedeu, porém, que os baianos encontraram aí compradores para o seu tabaco de refugo, que não tinha qualquer outro aproveitamento económico. Abriram, desse modo, um escoadouro comercial importante que, para além de permitir a colocação de um subproduto da produção tabaqueira, servia de pretexto para o contrabando com holandeses, ingleses e franceses que frequentavam os mesmos pontos, nomeadamente Ajudá. Quando, nas primeiras décadas do século XVIII, a Coroa Portuguesa tentou que os brasileiros deixassem o mercado de Ajudá e voltassem ao trato em Angola, eles resistiram, alegando que em Luanda e Benguela o tabaco de refugo não teria procura e que, não podendo vendê-lo na Costa da Mina, deixariam de ter interesse em cultivar a planta, com o que todos perderiam. A Coroa teve de ceder.

É verdade que os governos e interesses de Lisboa tentaram imiscuir-se no negócio e na administração dessa nova rede escravista, mas sem grande sucesso. E sempre que procuravam impor regras e restrições àquele trato, os comerciantes da Bahia e de Pernambuco passavam a frequentar outros locais, como Porto Novo ou Onim. Assim, o poder central resignou-se à impossibilidade de quebrar esse laço e a Costa da Mina revelar-se-ia uma das mais importantes áreas do comércio negreiro, como tal permanecendo até meados do século XIX.

São todas estas coisas que devemos compreender se quisermos ter uma visão informada e equilibrada sobre o envolvimento de Portugal no tráfico de escravos. Não basta dizer, sem apresentar termos de comparação, que se embarcaram 5,5 milhões de escravos em África para os levar para o Brasil. É preciso ir além desse número bombástico, ir mais longe e mais fundo — como, aliás, Pedro Lains foi — para tentar perceber, entre muitas outras coisas, quem, como e por que razão os vendeu, e quem, como e por que razão os levou. E perceber também que, ao contrário do que por aí se diz, Lisboa não foi uma das grandes capitais do tráfico negreiro — muito longe disso.
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Dilma pode até se livrar da cadeia, mas não do hospício.


Agora que a ex-presidente virou ré, como fará a Justiça para decifrar depoimentos em dilmês?, pergunta Augusto Nunes:


Só Dilma Rousseff fala dilmês ─ um estranhíssimo subdialeto que não faz sentido por ser uma procissão de falatórios sem pé nem cabeça. Algumas frases começam mas não terminam. Outras terminam sem ter começado. Muitas são interrompidas por pausas bêbadas que precedem mudanças de assunto, de tom, de direção. Nenhuma frase diz coisa com coisa. Só Dilma, ou nem ela, sabe o que quis dizer, mas não foi dito, porque alguma coisa acontece entre a ordem dada pelo cérebro deserto de neurônios e o que sai pela boca.

Como esse assombro linguístico é falado apenas por quem o inventou, o dilmês não tem tradutores nem intérpretes. Não pode ser traduzido o que ninguém entende. Feita a constatação, vem a pergunta inevitável: agora que Dilma virou ré, como fará a Justiça para decifrar depoimentos em dilmês? Se o juiz quiser, por exemplo, pedir-lhe explicações sobre contratos da Petrobras superfaturados em 30%, poderá ouvir uma preciosidade que há muito tempo faz sucesso na internet.

“A Petrobras tem o direito a 30% de uma parcela de 25% a 30%. É isso que é o pré-sal. Tirar a Petrobras de 30% não é tirar de 30%, é tirar de 7,5% ou 12,5%. E, com isso, é um desconhecimento porque poucas empresas do mundo a Petrobras é uma”. Parece mentira, mas é isso o que Dilma aparece dizendo no vídeo antológico.

Com declarações desse teor, ela pode até livrar-se da cadeia. Mas não vai escapar de uma longa temporada em algum hospício.
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Em desmanche


O presidente eleito Jair Bolsonaro disse que "o importante não é o que vamos fazer, mas o que vamos desfazer". De fato, há muito para desmanchar no país: "a verdade, para simplificar a história, é que o país se prejudica muito mais com as coisas que o governo faz do que com as coisas que não faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não fizesse nada do que não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano Quinquenal. Não precisa de “obras estruturantes” nem de “políticas públicas”. Coluna de J. R. Guzzo, na próxima edição de Veja:

Circulou no noticiário um pensamento muito interessante que o novo presidente, Jair Bolsonaro, expressou durante uma conversa com a também nova deputada Janaina Paschoal. “O importante não é o que vamos fazer”, disse ele, “mas o que vamos desfazer.” O Brasil será um país a caminho da felicidade se Bolsonaro estiver mesmo pensando assim — e, principalmente, se conseguir até o fim do seu mandato desmanchar metade do que imagina que precisa ser desmanchado. O país, caso essa visão se transforme em realidade, fará mais progresso em seu governo do que fez nos últimos cinquenta anos. Já aconteceu com o Mais Médicos, que sumiu antes mesmo de o novo governo começar. Continuará a acontecer? É claro que muita gente pode perguntar: como assim, se há tanta coisa que precisa ser feita, e com tanta urgência? Simples: isso tudo deverá vir naturalmente, no espaço deixado pela monstruosa montanha de entulho que foi jogada em cima da sociedade brasileira nos últimos quinze anos. Pense um minuto, por exemplo, no “trem-bala” dos presidentes Lula e Dilma. Não existe trem-bala nenhum. Nunca existiu. Nunca vai existir. A única coisa que existiu, aí, foi a transferência de dinheiro do seu bolso para o bolso dos empresários do “campo progressista”. Mas até hoje continua existindo a empresa estatal legalmente constituída para cuidar do “projeto”. Chama-se EPL, tem diretoria, 140 funcionários, orçamento de 70 milhões de reais e por aí afora. Nenhum país no sistema solar pode dar certo desse jeito.

A escolha é clara: ou o Brasil progride, cria riquezas, cria empregos, gera e distribui renda com o desenvolvimento da atividade econômica produtiva, ou tem o trem-bala de Lula e Dilma. É uma coisa ou a outra: não dá para ter as duas ao mesmo tempo. Também não dá para melhorar a vida de um único pobre, um só que seja, doando 1,3 milhão de reais de dinheiro público à cantora Maria Bethânia, para que ela declame poemas num blog pessoal, em clipes produzidos pelo diretor Andrucha Waddington. Não será possível ir a nenhum lugar enquanto continuar existindo a TV Brasil, invenção de Lula que custa 1 bilhão de reais por ano, emprega mais de 2 000 amigos do PT e tem zero de audiência. Que mais? Mais de mil coisas, ou seja lá quantas forem, que a segunda parte do governo Dilma — este que está aí, com o nome de “governo golpista” de Michel Temer — deixou intactas para você pagar. Tirem esse lixo todo daí e o Brasil dará um salto.

A verdade, para simplificar a história, é que o país se prejudica muito mais com as coisas que o governo faz do que com as coisas que não faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não fizesse nada do que não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano Quinquenal. Não precisa de “obras estruturantes” nem de “políticas públicas”. Não precisa da Refinaria Abreu e Lima, pela qual você está pagando 20 bilhões de dólares desde o início do governo Lula — dez vezes mais do que estava orçado — e que até agora não ficou pronta. (Essa era a tal em que fizeram a Petrobras ficar sócia da Venezuela de Hugo Chávez, que nunca colocou um único tostão na obra.) Não precisa de PAC — um monumento mundial à roubalheira, à incompetência e à mentira. Não precisa de pirâmides como a Copa do Mundo, ou a Olimpíada, com estádios e uma Vila Olímpica inteira hoje afundando no chão, porque roubaram no material, no projeto e em tudo o que foi humanamente possível roubar — sem que nenhuma alma em todo o majestoso Estado brasileiro ficasse sabendo de nada. O teste mesmo é o seguinte: o Brasil estaria melhor ou pior se não tivesse feito nada disso?

Num país em que uma empresa pode gastar 2 000 horas por ano só lidando com as exigências que o governo inventa para arrecadar impostos — e quando se vê que essas 2 000 horas significam 83 dias de 24 horas, inteiramente perdidos, sem que se produza um único alfinete —, dá para se ter uma ideia da ruína em que colocaram o Brasil. Se o governo desfizer isso, simplesmente desfizer, será melhor ou pior? Fala-se aqui, singelamente, das aberrações mais estúpidas. Espere até chegarem os problemas realmente classe AAA, gold-platinum-­plus — como a constatação de que 50% de todos os gastos federais vão unicamente para a Previdência Social, e que o grosso disso é engolido com o pagamento das aposentadorias dos funcionários públicos — sobretudo da elite de gatos gordos. (Esses são os “direitos” que não podem ser tocados.) Será inútil, simplesmente, querer montar alguma coisa de útil no Brasil enquanto não se desmontar esse ambiente de demência.
Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611
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Olavo de Carvalho, capa de Veja: "sou o segundo governo".


A revista Veja que estará nas bancas neste final de semana traz reportagem de capa com o filósofo Olavo de Carvalho, que conseguiu colocar dois nomes no governo eleito e é assim apresentado: "quem é o guru da direita que conquista fiéis com cursos on-line e vocabulário obsceno, ensinará filosofia a parlamentares e indica ministros para Bolsonaro":


Em 2014, de sua casa de dois andares na cidade de Carson, no estado americano da Virgínia, Olavo de Carvalho, hoje aos 71 anos, gastava parte de seu tempo tentando insuflar, nas redes sociais, a candidatura à Presidência da advogada Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil que ganhou fama ao dar declarações incendiárias durante o caos aéreo entre 2006 e 2007. A empreitada presidencial de Denise naufragou, mas o apoio de Olavo de Carvalho não esmoreceu: persistiu quando ela decidiu, no mesmo ano, sair candidata a deputada federal — outra tentativa fracassada. Quatro anos depois, o ex-astrólogo, jornalista e filósofo, autor de 27 livros e pai de oito filhos, fez a aposta política mais certeira. Apoiou, pediu votos, forneceu o lastro ideológico para a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência e, após a vitória, emplacou dois ministros no governo: Ernesto Araújo, diplomata, e Ricardo Vélez Rodriguez, professor. Dispor de tamanha influência em um governo eleito com mais de 57 milhões de votos alça o filósofo — que jamais cursou ensino superior em filosofia — a uma posição singular no governo de Bolsonaro, apesar de nunca ter encontrado o presidente eleito ao vivo. Conhece pessoalmente só seus filhos Eduardo e Flavio, deputado federal e senador eleitos.

“Professor Olavo”, como o guru é conhecido nas redes, não desmerece o poderio recém-alcançado. A VEJA, explica a importância de sua contribuição intelectual, recorrendo a Alexander Soljenítsin (1918-2008), autor de Arquipélago Gulag, radiografia dos campos de concentração comunistas na Rússia soviética: “Essa influência que eu exerci está explicada em uma frase do Soljenítsin: ‘O grande escritor é como se fosse um segundo governo’. Entende por que eu não quero nenhum cargo público? Porque eu já sou esse segundo governo. A influência intelectual é uma coisa, assim, que transcende e engloba a política. E eu já estou neste posto e estou muito contente com ele. Era o que eu queria ser quando crescesse. Já cresci e já sou”.
O professor diz que, para chegar lá, não fez muito esforço. Segundo ele, a admiração por Bolsonaro veio a partir de seus discursos na Câmara, que circulavam no início dos anos 2010 em seletos rincões da internet. “Engraçado” e “sincero” são alguns dos adjetivos usados pelo filósofo para se referir ao presidente eleito. A aproximação com o clã só se deu em 2012, quando Flavio, entusiasta da produção literária do professor Olavo, foi até a Virgínia entregar-lhe a Medalha Tiradentes, honraria do governo do Rio de Janeiro a personalidades que prestaram serviços ao estado — onde o filósofo morou de 1991 a 1999. Daí por diante, os laços se estreitaram. Para convencer Eduardo a lançar-se pela primeira vez candidato a deputado, em 2014, Bolsonaro presenteou o filho com O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota, best-seller de Olavo, lançado em 2013, que vendeu mais de 300 000 exemplares (veja o quadro na pág. 52). Eduardo gostou tanto do que leu que se matriculou no curso on-line de Olavo, cujas aulas em formato livesão ministradas por ele semanalmente da biblioteca de sua casa em Petersburg, cidade onde vive hoje, também na Virgínia. Nesse período, a prole organizou dois hangouts com Olavo com a presença do próprio Jair. “Bolsonaro teve a prudência de se apegar a mim porque sou um bom conselheiro”, diz o professor ao discorrer sobre seus méritos.
Das conversas virtuais à indicação de ministros, um imenso rio transcorreu. Um dos alunos mais devotos de Olavo e seu principal escudeiro nas redes sociais, Filipe Garcia Martins, de 30 anos, aproximou-se de Eduardo ainda em 2014 e desde então tornou-se não só amigo do deputado mas também o principal interlocutor do professor dentro do clã. Bacharel em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), Martins entrou oficialmente na campanha em 2018 para cuidar da área “internacional” do PSL, partido do presidente eleito. Uma de suas atribuições era colocar a campanha em contato com Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump e idealizador do grupo nacionalista Movimento, que tem se referido a Bolsonaro como “o tipo de líder que só aparece a cada duas gerações”. Martins também foi responsável por apresentar o diplomata Araújo e o professor Vélez Rodriguez aos Bolsonaro. Enquanto vivia em Washington, Araújo visitou Olavo, a quem mostrou textos de sua autoria. “Vi que é um homem de intelecto gigante, capaz de analisar as coisas da política externa em um nível filosófico que ninguém na mídia brasileira consegue”, diz Olavo. Araújo, pouco a pouco, vem revelando nuances da genialidade que o filósofo diz ver em seus escritos. Em artigo no jornal Gazeta do Povo, publicado no dia 26, escreveu que trabalhará contra o “alarmismo climático” — o nome que dá ao aquecimento global — e a adesão a “pautas abortistas e anticristãs”. Já Vélez, de quem Olavo conhece teses acadêmicas, mas com quem se encontrou poucas vezes no Brasil, é alguém que “vai colocar os interesses da nação acima de suas ideias”, avalia o guru.
As duas indicações foram formuladas, segundo Olavo, depois que ele ouviu rumores de que “um cidadão ligado a um governo globalista e ao George Soros (investidor húngaro radicado nos Estados Unidos)” chefiaria o Ministério da Educação. “Se entrasse um cara desses, estaria tudo acabado”, afirmou. Aproveitou a deixa para sugerir não só Vélez, mas também Araújo. As apresentações dos ministros aos Bolsonaro ficaram a cargo de Martins, que também cuidará para que cerca de vinte deputados do PSL viajem para a Virgínia para ter aulas de filosofia com o professor.

Olavo com o poeta Bruno Tolentino e o maestro João Carlos Martins.
Até tornar-se conselheiro presidencial, Olavo teve uma vida irrequieta. Filho de um advogado e uma operária da indústria gráfica que se divorciaram quando ele ainda era criança, saiu de casa e da escola aos 15 anos para ganhar a vida. Diz ter desistido do ensino formal quando uma professora de português pediu que lesse Joaquim Manuel de Macedo e ele se recusou, afirmando estar muito ocupado lendo obras do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Tornou-se um leitor voraz, embora seja um crítico de qualquer método de educação convencional — tanto que a primogênita de seus oito filhos, Heloisa, se envolveu em uma briga pública com o pai ao alegar não ter sido escolarizada durante a infância. Sem aptidão para os esportes e inclinado a paixões platônicas, Olavo era conhecido por ser “bom de papo”. Na adolescência, tinha fascinação pela obra de Karl Marx e Antonio Gramsci, autores contra os quais hoje destila repulsa. “O Olavo era comunista. Tinha uma turminha de comunistas no colégio, e ele fazia parte. Ficava buzinando na minha orelha para eu virar comunista, mas eu só queria jogar bola”, lembra o amigo Valentino Bergamo Filho.

Depois de deixar a escola, Olavo recorreu ao jornalismo para sobreviver — primeiro trabalhou no jornal Notícias Populares, entrevistando “p… e delegado”, em suas palavras, e depois no Jornal da Tarde, no qual revisava textos dos repórteres. Desse período, colegas se recordam dele como alguém discreto e reservado, mas Olavo carrega lembranças de ter sido humilhado, como na ocasião em que, escalado para fazer a cobertura do palácio do governo de São Paulo, foi ignorado pelos setoristas mais experientes: quando havia entrevistas coletivas, ele não era avisado. Incomodava-­o ainda o fato de, como copidesque do Jornal da Tarde, ter de corrigir textos de repórteres com diploma na profissão que eram considerados por ele intelectualmente inferiores.

Quando jornalista iniciante, também foi um militante de esquerda. Foi membro de um grupo de guerrilha urbana organizado nos tempos da ditadura militar. Na época, Olavo chegou a dividir o teto com os hoje petistas José Dirceu e Rui Falcão na Casa do Estudante, que abrigava alunos do curso de direito da USP. Mas decepcionou-se com a esquerda no início dos anos 1970. Diz ter se assustado quando integrantes da organização lhe pediram que ajudasse a colocar em cárcere privado um membro do grupo cuja namorada era suspeita de ser agente do Dops, o braço da ditadura que zelava pela “ordem política e social”. Olavo afastou-se do grupo, mas antes cumpriu a missão.
Olavo com a mulher e os dois filhos caçulas.
Nos anos 1970, ainda jornalista, interessou-se por astrologia, alquimia e esoterismo. Dedicou-se a esses assuntos anos a fio. Ministrou cursos sobre os temas em uma sala nos Jardins, em São Paulo, à qual deu o nome de Escola Júpiter. Nesse período, Olavo não costumava escrever suas opiniões na imprensa. Isso só passou a ocorrer em meados dos anos 1990, depois que publicou seu primeiro livro de repercussão, O Imbecil Coletivo, em que ataca uma obsessão: a classe intelectual “dominada pelo marxismo”. Jornalistas e acadêmicos, justamente aquelas categorias profissionais que não o acolheram como esperava, tornaram-se seu principal alvo. Sua tese era que, fracassado o socialismo, a esquerda teria adotado a estratégia gramsciana de “povoar a cultura” para depois infiltrar-se na política. Por isso, diz ele, “comunistas” começaram a ocupar espaços nas universidades, na imprensa e em todas as áreas do conhecimento. Quando O Imbecil Coletivo foi lançado, Olavo já havia publicado dez livros (de Aristóteles a astrologia), mas todos passaram em branco. Com O Imbecil, ganhou certa fama de polemista e começou a integrar o panteão dos escritores “de direita”. Colaborou com as revistas Bravo!, República,Primeira Leitura e Época e teve uma coluna no jornal O Globo, do qual foi demitido em 2005, ano em que se mudou para os Estados Unidos como correspondente do Diário do Comércio. Desde então, jamais voltou a pisar no Brasil.

Teve três mulheres: aos 21 anos, Eugênia, mãe de seus quatro primeiros filhos; Silvana, com quem teve dois; e Roxane, mãe dos dois mais jovens e com quem é casado até hoje. Católico praticante depois de passear pelo misticismo e pelo sufismo, Olavo é crítico fervoroso do aborto e não se diz entusiasta de métodos contraceptivos. Seu passatempo preferido é “dar uns tiros” no jardim de sua casa com uma Steyr-­Mannlicher calibre .375 H&H, sua arma de caça favorita. Nutre aversão visceral aos filósofos brasileiros da USP, que ele classifica de “imbecis”, e é plenamente correspondido. Elogia poucos intelectuais, entre eles o poeta Bruno Tolentino, de quem foi amigo, o economista Roberto Campos e o escritor Ariano Suassuna — todos falecidos. Na Virgínia, criou um curso on-­line de filosofia que até hoje, segundo suas contas, já lhe garantiu 20 000 alunos, que pagam até 640 reais por ano para baixar suas aulas. Olavo não diz quanto ganha com os cursos e a venda dos livros, mas afirma receber “mais que professor universitário e que a maioria dos jornalistas, exceto os que sobem na vida puxando o saco do patrão”. Recluso, não tira férias e só sai de casa se é estritamente necessário. O cineasta pernambucano Josias Teófilo, expelido do meio intelectual depois de tornar-se admirador de Olavo e lançar um documentário sobre sua vida, intitulado O Jardim das Aflições, conta que o filósofo carrega sempre um livro para onde vai e é capaz de sacá-lo no meio de um jantar e começar a ler enquanto os demais conversam.

Sua relação com os alunos mais devotos tende a ser mercurial. Quando obedecem a seus ensinamentos e lhe dão o devido crédito, são gênios. Quando os contestam, são expulsos dos grupos de estudo e, não raro, atacados nas redes sociais pelos fiéis, também chamados de “olavetes”. O economista Rodrigo Constantino, que não chegou a fazer o curso mas já foi alvo da fúria de Olavo na internet, afirma que a dificuldade do professor em lidar com o contraditório vem do medo de ser “ofuscado”. “Ele briga com qualquer pessoa que se destaca nesse meio liberal conservador e que represente algum risco de dividir a atenção. Só não briga com aqueles que se mantêm submissos e prestam referência de que ele é o seu guru”, diz Constantino, que, apesar de tudo, afirma respeitar a obra do filósofo. A persona de Olavo nas redes faz uso constante de termos vulgares, sob o pretexto de que “qualquer palavrão” dito por ele “é mais decente do que oração em latim recitada por padre comunista”. Mais do que as ideias persistentes de Olavo de Carvalho, foi o inimigo em comum com Bolsonaro que o aproximou do hoje presidente eleito. Será curioso ver de que lado Olavo ficará quando o novo mandatário sentir as dores reais do poder, muito mais nocivas que os fantasmas da Guerra Fria.

O governo de Jair Bolsonaro, antes mesmo da posse, está vivendo um intenso love affair com a Casa Branca. Na quinta-feira 29, o conselheiro para assuntos de segurança dos Estados Unidos, John Bolton, a caminho da reunião do G20 em Buenos Aires, aproveitou para se reunir com Jair Bolsonaro em sua casa no Rio de Janeiro. O presidente eleito disse que a conversa foi “producente e grata”. O assessor da Casa Branca informou apenas que foram discutidos “interesses bilaterais” — e transmitiu ao presidente eleito um convite de Donald Trump para visitar Washington. Tão conhecido pelas posições radicais e um tanto belicistas quanto pelo seu farto bigode de morsa, Bolton defende um ataque militar à Coreia do Norte e duras sanções contra a Venezuela. Em uma entrevista recente, disse que vai propor ao Brasil parceria para combater o terrorismo.

Enquanto Bolton estava no Brasil, o deputado Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do presidente eleito, visitava os Estados Unidos. Foi recebido na Casa Branca por Jared Kushner, genro de Trump e um de seus principais conselheiros (veja em Radar, na pág. 40). Na saída, posou para fotos usando o boné da reeleição de Trump em 2020. O motivo da visita é tentar “resgatar a credibilidade brasileira no país”, segundo ele. Também houve um encontro com senadores do Partido Republicano, conversas com investidores e visita ao presidente da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro.

Na terça-feira, o deputado foi um dos convidados para o jantar de aniversário de Steve Bannon, o ex-estrategista da campanha de Trump e líder de um movimento direitista internacional. Depois do encontro, o deputado postou nas redes sociais uma foto dos dois e classificou Bannon como “um ícone no combate ao marxismo cultural”. Ao postar a imagem em seu perfil no Twitter, Eduardo divulgou uma conta falsa de Bannon. Foi uma gafe com reciprocidade, digamos assim. Em recente entrevista ao jornal inglês The Guardian, Bannon chamou o presidente Bolsonaro de “Botolini”.

A próxima missão “diplomática” de Eduardo é impedir que a Cúpula Conservadora das Américas, um evento que pretende reunir na próxima semana em Foz do Iguaçu os expoentes da direita latino-americana, se transforme num fiasco. A ideia dos organizadores é fazer um contraponto ao Foro de São Paulo, entidade que agrega os partidos e organizações de esquerda da região. Até agora nenhum chefe de Estado confirmou participação. O próprio Jair Bolsonaro não sabe se comparecerá. Olavo de Carvalho, um dos palestrantes da Cúpula, também já disse que não estará fisicamente presente. Participará por videoconferência.

Ao fazer uma transmissão ao vivo após a vitória, em 28 de outubro, Jair Bolsonaro exibiu duas obras de não ficção na mesa de sua casa: o livro O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota, reunião de artigos de Olavo de Carvalho organizados por Felipe Moura Brasil, e o segundo volume das memórias de Winston Churchill. A exposição alçou ambos às listas de mais vendidos, o que significa que pelo menos 1 000 unidades foram comercializadas em uma semana. Foi a primeira vez que o livro de Churchill atingiu tal patamar no país.

A produção literária de Olavo de Carvalho tem sentido mais intensamente as delícias de contar com um leitor como Bolsonaro. Ao ser relançado pela Editora Record no Brasil às vésperas da eleição, O Imbecil Coletivo foi comprado por 40 000 leitores — Homo Deus, best-seller de Yuval Harari, vendeu 49 000 cópias no país em 2018. Já O Mínimo, cuja primeira edição é de 2013, teve saída de mais de 18 000 unidades após a “live da vitória” — e mais de 300 000 no total, quase o mesmo patamar da autobiografia de Rita Lee, lançada em novembro de 2016 pela Globo Livros e que até o momento vendeu 350 000 exemplares.

A influência de Bolsonaro e a redescoberta da direita têm favorecido não só as obras de Olavo, mas também as de outros autores que abordam temas similares. Deputado eleito pelo mesmo partido do presidente, o príncipe Luiz Philippe Orleans e Bragança, em sua obra inaugural, Por que o Brasil É um País Atrasado?,lançada pela Novo Conceito, comercializou mais de 10 000 unidades apenas em 2018. Para a Câmara Brasileira do Livro, um título que vende um total de 15 000 exemplares pode ser chamado de best-seller.

Segundo dados da Record, que hoje edita os livros de Olavo no Brasil, independentemente do boom editorial atrelado a Bolsonaro, o filósofo é considerado um dos autores mais populares do selo, com vendas mensais de 2 000 unidades, em média. É um dos raros autores brasileiros capazes de viver de direitos autorais — ele recebe, em média, 10% do valor de capa. Nada mau para um escritor autodidata que nem concluiu o ensino médio.

Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

O liberalismo e o poder


Diretor do Instituto Juan de Mariana (Espanha), Juan Ramón Rallo afirma, em artigo publicado pelo Instituto Cato, que a resposta liberal às más opções que uma pessoa faz para existir não pode passar pela limitação das liberdades de alguém, mas pela eliminação das múltiplas barreiras que ainda hoje obstaculizam o surgimento de boas alternativas:

Afirma mi compañero Esteban Hernández que servidor es liberal en todos los aspectos salvo en uno crucial: “el poder”. A su juicio, muchos liberales nos hemos vuelto los aliados de los poderes fácticos (“los tontos útiles”, imagino que preferiría haber escrito) y, al hacerlo, hemos traicionado la esencia propia del liberalismo: luchar contra la interferencia del poder (en este caso, la del “poder económico”) sobre nuestras vidas.

Empecemos por el principio: ¿cuál debería ser la postura liberal frente al poder? Hernández presume que la postura liberal ha de ser la de impedir que cualquier poder ejerza influencia alguna sobre vidas ajenas, pero para llegar a una conclusión tan fuerte habría que empezar por demostrarlo. A la postre, poder simplemente significa “facultad o potencia de hacer algo”: por ejemplo, poder leer simplemente significa poseer la capacidad para leer (a saber, disponer de aquellos medios humanos y materiales que permiten alcanzar el objetivo de leer); poder escalar el Everest significa poseer la capacidad de coronar la cima. Eliminar el poder, pues, sería tanto como eliminar la capacidad de obrar: suprimir las capacidades de cada persona para alcanzar sus correspondientes fines.

Sin embargo, es dudoso que Hernández se vea perturbado por los poderes/capacidades que ejerce un individuo aislado. Lo que —entiendo— le preocupa enormemente es lo que podríamos denominar 'poder social': a saber, nuestra capacidad para influir sobre la vida de otras personas. Desde esta perspectiva, lo que deberíamos hacer los liberales es criticar toda forma de poder social: toda capacidad que posea cualquier individuo para influir en la vida de los demás.

Pero esta exigencia resulta enormemente problemática por dos motivos: por un lado, porque las personas interactúan entre sí y, al hacerlo, cada una de ellas ha de contar con plena autonomía para determinar los términos de esa interacción, algo que inevitablemente influirá sobre la vida de los demás; por otro, porque, en muchos casos, los fines vitales de una persona pueden consistir en influir a los demás.

Primero, desde un punto de vista liberal, toda relación entre dos personas ha de ser de mutuo acuerdo. Si un individuo puede ser forzado a relacionarse con otro, entonces estamos recortando sus libertades. Imaginemos una persona a la que se obliga a casarse con otra; o a trabajar profesionalmente con otra; o a escribir en un determinado medio de comunicación; o a vender su casa a un comprador; o a unirse a una determinada confesión religiosa, etc. El liberalismo evidentemente defenderá la libertad de cada individuo para rechazar asociarse con aquellos con los que no desea asociarse. Pero en tanto en cuanto le reconocemos a cada persona el derecho a decir que no, también le estamos reconociendo el derecho a decir un 'sí condicionado': “si me prometes fidelidad, me casaré contigo”; “si nos repartimos las tareas de esta manera, cooperaré profesionalmente contigo”; “si me garantizas la autonomía para escribir lo que quiera, publicaré en tu medio”; “si me pagas tanto por la casa, te la venderé”; “si me permites compatibilizar tu religión con el culto a mis dioses familiares, entonces me uniré”, etc. La libertad para negociar los términos de la interacción es, en el fondo, la libertad para tratar de influir sobre los demás: “Si quieres relacionarte conmigo, adapta tus planes vitales a satisfacer mis peticiones”. Pero eso, la capacidad de condicionar los términos de mis relaciones con los demás, es poder social.

¿Debe el liberalismo obligar a una persona a que se relacione con las demás? No: sería un incuestionable ataque a su libertad. ¿Debe el liberalismo impedir que una persona establezca condiciones a sus relaciones con los demás? Sería absurdo, dado que entonces muchas interacciones potencialmente beneficiosas dejarían de desarrollarse (y, además, le estaríamos dando todo el poder a la contraparte: esta podría exigirnos interactuar con ella sin darnos nada a cambio). Entonces, ¿puede el liberalismo oponerse 'per se' a toda manifestación de poder social? Desde luego que no.

Pero, como decíamos, existe un segundo motivo por el cual el liberalismo no debe oponerse a toda manifestación del poder social: los planes vitales de muchas personas consisten, precisamente, en influir sobre los demás. Pensemos en lo que sucede con filósofos, predicadores, 'influencers', opinólogos, publicistas y también empresarios: todos ellos dedican sus vidas a tratar de persuadir a los demás de que deberían abrazar determinadas ideas, determinado estilo o determinado producto. Y algunos de ellos, en la medida en que gocen de mejores tribunas, de mejores argumentos o de mejor habilidad divulgadora, serán más eficaces a la hora de lograr su objetivo: es decir, tendrán un mayor poder social sobre los demás. El propio Esteban Hernández posee mayor poder social para persuadir al resto de ciudadanos que un jubilado o un estudiante de periodismo (escribe en uno de los periódicos más leídos de España; posee una prosa convincente, y es una persona con un buen bagaje de lecturas): ¿deberíamos restringir su libertad para anular ese poder social de persuasión? No parece que en sí mismo sea algo negativo o reprobable, por mucho que Hernández termine influyendo poderosamente sobre la vida de sus lectores.

La postura liberal ante el poder, pues, no puede ser la de oponerse sin más a cualquier capacidad de obrar o de ejercer algún tipo de influencia sobre los demás sino, en esencia, la de oponerse al poder ilegítimo, ya sea ilegítimo en su origen o en su (ab)uso. Es decir, cuando una persona posee poder por haber violado derechos ajenos (“soy rico porque me he apropiado violentamente de los bienes de otros”; “tengo una enorme capacidad de influencia porque soy la única editorial autorizada a publicar libros”) o cuando ejerce ese poder para conculcar derechos ajenos (“uso mi verborrea para manipularte y que cometas un crimen”; “te contrato para que extorsiones a mi vecino”), entonces el liberal se opondrá radicalmente a esas formas de poder. 'A contrario sensu', si una persona ejerce sus capacidades dentro de su esfera de derechos individuales (libertad, propiedad, contratos), entonces 'prima facie' no habrá nada que reprocharle.

Por ejemplo, Hernández se queja de que, actualmente, el poder se concentra en el sector financiero: dejando de lado la conspiranoia que en demasiadas ocasiones existe al respecto, los liberales sí nos oponemos frontalmente a los privilegios que alimentan ese poder financiero en la actualidad, a saber, su acceso (cuasi) ilimitado a la liquidez del banco central y su promesa de rescate a costa del contribuyente. ¿Cuántas entidades financieras sobrevivirían si cerráramos los bancos centrales (o los sometiéramos a los mismos principios jurídicos a los que se somete el resto del sector privado) y si impidiéramos el rescate estatal de la banca? Con su modelo de negocio presente, probablemente ninguna: difícil concluir que semejante discurso beneficia a sus principales perjudicados, esto es, al poder financiero. En cambio, Inditex se dedica a diseñar, producir y distribuir textil sin violar los derechos de ninguna persona: para arruinarla deberíamos restringir muy seriamente la libertad de las personas de relacionarse con ella. El poder (económico y social) de unos es ilegítimo, mientras que el de la otra no lo es.

Con todo, puede que limitar la crítica liberal al poder ilegítimo no satisfaga plenamente a quienes, desde la izquierda, se preocupan, no sin cierto motivo, de que las diferencias de poder, incluso legítimas, puedan conducir a situaciones de opresión o dominación: a saber, que uno se convierta, en contra de su voluntad, en un títere dentro de los planes de otra persona. Y, al respecto, permítanme efectuar dos comentarios.

Primero, cuando se afirma que una persona se relaciona (por ejemplo, laboralmente) con otra “en contra de su voluntad”, lo que en realidad estamos queriendo decir es que “esa persona no querría relacionarse con la otra, pero sus restantes alternativas son tanto peores que no le queda otro remedio menos malo”. ¿Y por qué todas sus alternativas son tan malas? En ocasiones, porque se están violando sus libertades (por ejemplo, un esclavista que amenace con ejercer la violencia contra su esclavo si este le desobedece); en otras, por mala suerte, malas decisiones vitales, mala situación de partida, mal entorno, etc. (por ejemplo, si me hipoteco para comprarme una casa y esta se destruye en un terremoto sin haberla asegurado, mi situación personal se volverá muy precaria sin necesidad de que nadie haya violado mis libertades en esa triste sucesión de acontecimientos). Cualquier ser humano mínimamente empático lamentará que otras personas se hallen en posiciones precarias desde las que tomar decisiones: algunos de ellos decidirán ayudarlos, otros se mostrarán indiferentes y aun otros tratarán de aprovecharse. La cuestión, empero, es si un ordenamiento jurídico liberal puede imponernos a todos algún tipo de obligación para con esas personas: ya sea limitar nuestra libertad de relacionarnos con ellas (“no es aceptable que os relacionéis de este modo”) o ya sea el disfrute pleno de nuestra libertad o propiedad (“tenéis que destinar parte de vuestro tiempo o de vuestros recursos a ayudarles forzadamente”).

Y, en demasiadas ocasiones, esta cuestión se formula únicamente en relación con el derecho de propiedad: como si la propiedad, por alguna extraña razón no bien expresada, fuera menos importante que otras de nuestras libertades. Así que traslademos esa misma cuestión a otros ámbitos: imaginemos que Pablo Iglesias tiene mayor capacidad de persuasión que Santiago Abascal (Iglesias tiene un enorme poder social sobre los votantes y Abascal no). ¿Cuál debería ser la respuesta del ordenamiento jurídico ante esta situación? ¿Deberíamos impedir que Iglesias desmonte discursivamente las propuestas de Abascal para que los votantes no huyan del segundo y se echen en brazos del primero? (es decir, impedirle que ejerza su poder social de influencia sobre el votante en perjuicio de Abascal), ¿O deberíamos obligar a los ciudadanos a que regalen parte de su tiempo y recursos a Abascal para que este pueda competir en términos más equitativos con el persuasivo Iglesias? (por ejemplo, asistencia obligatoria a sus mítines o transferencias de recursos a su plataforma política). Planteado de este modo, creo que a todos nos chirriará que, en nombre de la libertad, puedan llegar a plantearse semejantes limitaciones de la libertad de expresión, de la libertad de asociación o de la propiedad privada.

No, la respuesta liberal ante la precariedad de las opciones vitales de una persona (y su consecuente desventaja negociadora en los tratos con terceros) no puede pasar esencialmente por limitar las libertades de nadie, sino por suprimir las muchas barreras regulatorias que a día de hoy todavía siguen obstaculizando la aparición de buenas alternativas (verbigracia, restricciones a la competencia que instituyen monopolios y monopsonios), por minimizar la pobreza, por incrementar el poder negociador de muchas personas vía asociacionismo (mutualidades, sindicatos, asociaciones de consumidores, etc.) y por promover comportamientos voluntarios de carácter virtuoso (responsabilidad para con uno mismo y para con los demás). No hace falta cercenar las libertades de nadie para mejorar las alternativas existenciales de muchísimas personas: basta con no perjudicarlas de un modo ilegítimo.

Pero además, y en segundo lugar, ¿cuál es la alternativa, dizque liberal, que nos ofrece Hernández para liberar a los ciudadanos de cualquier situación de dominación social? ¡Someterlos todavía más al demos! Es decir, aumentar la capacidad de interferencia de las mayorías políticamente organizadas sobre la esfera de derechos de cada ciudadano (ya sea controlando su libertad de acción, sus propiedades o su libertad de asociación). ¿En qué sentido aumentamos la libertad de las personas cuando las sometemos, 'de iure' y 'de facto', a la arbitrariedad de las mayorías? En ninguno: si una persona quiere asociarse voluntariamente con otras para ganar poder de negociación frente a un tercero, es muy libre de hacerlo; lo que no debería poder hacer es utilizar la violencia contra ese tercero.

En definitiva, el liberalismo no está en contra de la capacidad de obrar de las personas, pues es esa capacidad de obrar lo que les permite perseguir sus proyectos vitales. Tampoco se opone 'per se' a que una persona trate de influir al resto, siempre y cuando lo haga dentro del ejercicio de sus libertades. A lo que sí se opone es a violar la esfera de derechos de una persona: es decir, al poder ejercido y perpetuado sobre la premisa de la desigualdad jurídica entre los seres humanos.

Este artículo fue publicado originalmente en el blog Laissez Faire de El Economista (España) el 26 de noviembre de 2018.
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Como os autoritários usam o capitalismo para fortalecer seus regimes opressivos


Artigo de Álvaro Vargas Llosa, publicado pelo Instituto Independiente, aborda os péssimas exemplos da Rússia, China, Turquia e Arábia Saudita:

Mientras viajaba recientemente de ciudad en ciudad en Rusia bajo el hechizo de la Copa del Mundo, me acosaba una pregunta: ¿Son la Rusia de Vladimir Putin, la China de Xi Jinping, la Turquía de Recep Tayyip Erdogan y la Arabia Saudí de Mohammed Bin Salman modelos políticos para otros?

Los cuatro son "exitosos" a su manera. Si bien hablan mal de Putin en las grandes ciudades de Rusia, lo idolatran en las más pequeñas y en el campo, y el sistema le ha permitido hasta ahora mantener el poder y ampliar su huella global. Él es lo que deseaba ser: un zar. Su popularidad personal duplica a la del gobierno ruso: El Primer Ministro Dmitri Medvédev y compañía son culpados de todo lo que está mal, jamás él. Tal vez eso es lo que el presidente Donald Trump encuentra tan atractivo.
En China, Xi ha inscrito su nombre, su doctrina y su marca personal en la constitución, algo que nadie, excepto el presidente Mao, había intentado antes. Lo que China tiene en común con el régimen de Rusia es el uso del nacionalismo como aglutinante social, y del capitalismo de Estado y de amigos como generadores de suficiente prosperidad como para evitar que se abran grandes grietas en el monolito del poder.

En Turquía, Erdogan también ha utilizado el nacionalismo (y, como Putin, la lucha contra el terrorismo o los separatistas ampliamente acusados de terrorismo) para crear cohesión. En su caso, otro factor es el islam. Erdogan utiliza con frecuencia la religión musulmana para justificar los ataques contra algunos de sus oponentes secularistas.

Pero no la ha utilizado -aún no- para librar una guerra contra el laicismo popular con el que Ataturk, el fundador de la moderna Turquía, marcó su país y que muchos turcos siguen abrazando. Bajo Putin la religión es un factor sólo en la medida en que la Iglesia Ortodoxa ayuda a sostener el establishment; en Turquía, Erdogan se ha convertido en la voz del islam.

En Arabia Saudita, la fuerza impulsora del nuevo autoritarismo es la modernización. Parece paradójico que alguien que, como Bin Salman, intenta modernizar el país -incluyendo la expansión del papel de la mujer y el fin de la dependencia económica del petróleo- utilice métodos brutales para hacerlo. Pero no es la primera vez en la historia moderna. Ataturk de manera similar empleó métodos de mano dura para modernizar Turquía en las décadas de 1920 y 1930.

Lo que estos regímenes entienden es algo que los comunistas y los populistas extremos nunca hicieron: que el autoritarismo, acompañado de suficientes dosis de empresa privada, torna viable el autoritarismo.

Si los “chavistas” en Venezuela hubieran sido un poco más maquiavélicos, habrían aplastado a la oposición, incluida la otrora vibrante prensa libre, sin nacionalizar la economía ni ahuyentar a todo el capital extranjero, causando así el infierno económico y social que ahora los pone en peligro.

Putin, Xi, Erdogan y Bin Salman nunca permitirían que el capitalismo de libre empresa cree polos de poder independientes, pero tampoco eliminarían a la empresa privada porque ésta alimenta sus regímenes.

Esto plantea un reto para aquellos de nosotros que apoyamos las sociedades libres.

La atracción fatal autoritaria

Con muchas democracias liberales experimentando crisis de liderazgo, confundidas sobre sus creencias, identidades y roles en el mundo, y menos comprometidas con los valores que las hicieron lo que actualmente son, los modelos autoritarios de gobierno atraen a mucha gente. Parecen funcionar. Pero, ¿lo hacen?

Los hechos apuntan a otra parte. Las democracias liberales del mundo, basadas en el estado de derecho y las economías de mercado, han sido mucho más exitosas que los regímenes autoritarios.

El autoritarismo no constituye un “modelo” porque no se descansa en un conjunto de valores. Descansa en un conjunto de prácticas malignas cuyo objetivo es mantener el poder en manos de unos pocos ungidos.

La Copa Mundial, debo decir, estuvo muy bien organizada por sus anfitriones rusos, porque si hay una cosa que los autoritarios hacen bien es organizar las vidas de los otros. Pero organización y libertad no son lo mismo.

Si el autoritarismo es un modelo, es uno defectuoso. Aquellos que actualmente se encuentran bajo su hechizo precisan entender el precio que pagan.
Álvaro Vargas Llosa es Asociado Senior en el Centro para la Prosperidad Global del Instituto independiente. Es oriundo del Perú y recibió su Licenciatura en Historia Internacional en la London School of Economics. Entre sus libros del Instituto Independiente se incluyen Global Crossings: Immigration, Civilization, and America, Lessons From the Poor: Triumph of the Entrepreneurial Spirit, The Che Guevara Myth and the Future of Liberty y Liberty for Latin America.
 
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Que vivam a MUDANÇA e o fim da IMPUNIDADE e da FALTA DE CARÁTER!


Caros amigos
A eleição de Jair Bolsonaro produzirá uma completa mudança no Executivo, ao mesmo tempo em que, na próxima legislatura, uma significativa renovação se processará nas fisionomias e nas posturas do Congresso Nacional.
Comparando o fato com o perfil e as atitudes do nosso Judiciário, me vem à lembrança um comercial de shampoo dos anos 70 em que a protagonista dizia: “Você se lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos…”. Por analogia, no próximo ano, a partir da mudança que haverá nos demais Poderes da República, poderemos dizer: “Você se lembra da nossa Suprema Corte? Pois é, continua a mesma…”
Se não, vejamos! A nossa Constituição Federal – promulgada em 1988 para assegurar liberdade de ação ao crime organizado – dá margem para que o “indiciado por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro” que ainda ocupa a Presidência da República conceda INDULTO NATALINO a seus camaradas presos e, ainda, para que os advogados que aparelham o STF aprovem esta absurda iniciativa! Não dão a impressão de que se trata de uma quadrilha com estatuto?
Eu, como cidadão brasileiro, considero que o Supremo Tribunal Federal, no momento em que aprova um decreto presidencial que concede “Indulto Natalino” a criminosos em geral para beneficiar, objetivamente, a quem cumpre pena por corrupção, está sendo conivente com o crime!
É um direito meu, como cidadão, não concordar e não confiar no conjunto dos atuais ministros da nossa Suprema Corte!
Infelizmente, até o final deste MANDATO, o Brasil estará sendo dirigido, de fato, por uma súcia dividida em três poderes que, descaradamente e enquanto podem, se concedem indultos e aumentos salariais!
Que vivam a MUDANÇA e o fim da IMPUNIDADE e da FALTA DE CARÁTER!
General Paulo Chagas

Brasil pode encerrar 2018 com recorde na exportação de soja


A projeção é a de atingir, no fechamento do ano, 80 milhões de toneladas, número que ainda pode ser acrescido em mais dois milhões de toneladas.

Tribuna da Bahia, Salvador
29/11/2018 17:32 | Atualizado há 1 dia, 3 horas e 32 minutos
   
Foto: Tony Oliveira/CNA/Direitos Reservados

Os exportadores de soja em grãos têm bons motivos para comemorar o desempenho do setor ao longo de 2018, mantendo-se na liderança do ranking internacional, posição que tem-se alternado com os Estados Unidos. A projeção é a de atingir, no fechamento do ano, 80 milhões de toneladas, número que ainda pode ser acrescido em mais dois milhões de toneladas. Caso se confirme, o Brasil terá exportado uma quantidade 19,4% superior à do ano passado, de 67 milhões de toneladas).
Esse volume superou as expectativas do setor, que projetava algo em torno de 70 milhões de toneladas, de acordo com Sergio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Ele disse que além do câmbio favorável, dos bons preços na cotação da commoditie, esse resultado, sem dúvida, teve a influência do fato de os chineses terem sobretaxado a soja americana.
Apesar disso, o executivo destacou que “o Brasil é competitivo em qualquer situação e não precisa que os Estados Unidos tenham problemas comerciais com a China”, se referindo às negociações com o grão. Mendes informou que, sozinho, os chineses consomem 80% da soja exportada e os 20% restante seguem para outros países asiáticos e parte da Europa.
Para o próximo ano, o dirigente acredita que o setor continuará obtendo bons resultados, mas avalia ser difícil fazer qualquer projeção justificando que tudo vai depender do comportamento do mercado. “Vamos crescer em 3% na produção, mas precisamos esperar um pouco mais para estimar se as exportações poderão crescer também”.
Sergio Mendes manifestou a expectativa de que seja mantida a política de desoneração do setor por meio da Lei Kandir, já que, uma eventual revogação seria “uma burrice e uma verdadeira maldição” porque o Brasil só se tornou competitivo nesse setor justamente pelos incentivos fiscais.
Mendes também queixou-se das desvantagens de custo com seu maior competidor no mercado internacional, apontando que o país gasta por tonelada US$ 40 a mais do que os Estados Unidos para embarcar a mercadoria.

Compras com cartões cresceram 14,7% no terceiro trimestre do ano


O levantamento mostra que os brasileiros movimentaram R$ 391,1 bilhões em transações, com maior peso para os cartões de crédito, que registraram R$ 244,4 bilhões e crescimento de 14,8%. Os cartões de débito somaram R$ 143,8 bilhões (13,7%) e os cartões pr

Tribuna da Bahia, Salvador
29/11/2018 15:27 | Atualizado há 1 dia, 5 horas e 34 minutos
   
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As compras com cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 14,7% no 3º trimestre de 2018 em comparação com o mesmo período do ano passado. Segundo dados da Associação das Empresas Brasileiras de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), o resultado é o maior desde o 2º trimestre de 2014, quando o setor avançou 15%.
O levantamento mostra que os brasileiros movimentaram R$ 391,1 bilhões em transações, com maior peso para os cartões de crédito, que registraram R$ 244,4 bilhões e crescimento de 14,8%. Os cartões de débito somaram R$ 143,8 bilhões (13,7%) e os cartões pré-pagos, R$ 2,9 bilhões (67%).
O estudo aponta ainda que a região Sudeste concentra a maior quantidade de uso de cartões, que detém 60,4% de todo o volume movimentado. No entanto, os crescimentos mais expressivos no período vieram das regiões Norte, com alta de 16,4%, e Nordeste, com 15%. Em seguida estão Sudeste (14,7%), Centro-Oeste (14,6%) e Sul (13,9%).
No acumulado do ano, o uso dos cartões chegou a R$ 1,11 trilhão, com crescimento de 14% em relação ao mesmo intervalo de 2017. A projeção da Abecs é que o valor transacionado supere R$ 1,5 trilhão em 2018.
As compras internacionais realizadas por brasileiros com cartão de crédito somaram R$ 8 bilhões, avanço de 7% em relação ao mesmo período do ano passado. Já os gastos de estrangeiros no Brasil com cartões cresceram 20,4%, chegando a R$ 3,6 bilhões.