MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 28 de fevereiro de 2021

 


Ford vai fechar 160 concessionárias e terá de brigar pelas lojas que vão restar

 


Ford vai fechar 160 concessionárias e terá de brigar pelas lojas que vão restar

A decisão da Ford de deixar de produzir carros no Brasil e passar a ser apenas importadora de modelos premium, anunciada em janeiro, vai despejar no mercado ao menos 160 concessionárias que fecharão as portas ou vão tentar migrar para outras marcas.

A rede Ford tem 283 pontos de venda nas mãos de 138 empresários. A empresa quer manter cerca de 120 delas, consideradas viáveis para o novo negócio. Esse mesmo grupo, porém, é alvo de outras montadoras que veem oportunidade de ampliar sua representação no País ou abrir unidades aonde não atuam.

Ao mesmo tempo em que descarta grande número de revendas que considera "sem condições adequadas de continuidade" - como disse em carta aos distribuidores -, a Ford hoje disputa com concorrentes suas melhores lojas. "Vencerá quem fizer a melhor oferta", diz um executivo envolvido na discussão.

"Várias marcas estão em conversações intensas para atrair as melhores revendas Ford", confirma um empresário, que pede anonimato. "Tem muita gente convidando concessionárias a mudar de bandeira, oferecendo pacotes atraentes como linhas de crédito, carência e carros de segmentos que a Ford não terá mais." A disputa está sob responsabilidade de diretores das áreas de gestão de rede e comercial e consultorias que avaliam localização das lojas, saúde financeira, histórico de vendas, carteira de clientes e estrutura.

A Lei Renato Ferrari, que dita regras do setor, prevê delimitação de área para vendas de veículos de uma marca. "Isso será respeitado", diz o empresário. Vários revendedores foram procurados e não quiseram falar abertamente sobre o tema. Segundo eles, há cláusula de confidencialidade sobre as negociações.

A Ford já fechou alguns contratos de manutenção de revendas. "Poucos", diz a Associação Brasileira dos Distribuidores Ford (Abradif), que é contra a estratégia de conversas individuais com concessionários e defende negociações em bloco.

A montadora se vale do fato de os contratos de representação serem individuais. Como importadora, ela precisa de menos da metade da rede atual para vender carrões com preços a partir de R$ 160 mil que trará da Argentina (Ranger), China (Territory), Uruguai (Transit), EUA (Mustang) e Bronco (México).

Na lista que quer manter com o slogan oval provavelmente estão grupos que em 2020 fizeram altos investimentos na inauguração (ou reinauguração) de lojas com o novo padrão global de arquitetura da Ford.

Entre eles estão os grupos Amazonas (São Paulo), Econorte (interior de São Paulo), Roma (Rio), GranVia (Pernambuco) e Forlan (Minas Gerais), que construíram instalações modernas, com paredes envidraçadas e oficinas com alta tecnologia.

Fontes do setor calculam em cerca de R$ 2 milhões o investimento em lojas com esse padrão. "Investi uma fortuna", diz Paulo Magalhães Noronha, da Econorte, que inaugurou em agosto uma revenda com padrão global em Taubaté (SP).

O grupo tem mais duas lojas no interior de São Paulo, e 150 funcionários. Noronha diz que, se depender dele, as três lojas vão manter a bandeira Ford. Os outros grupos foram procurados, mas não comentaram.

Quem sobrar na rede Ford também terá de prestar serviços aos carros em circulação. Segundo a Abradif, há cerca de 500 mil veículos rodando pelo País que ainda estão no prazo de três anos de garantia dado pela fabricante na compra.

Marcas que disputam revendas Ford também estão de olho na fatia de 7,5% do mercado que ela tinha antes de parar a produção. Carteira de contatos e fidelidade de clientes interessam às fabricantes, ainda que o mercado não esteja tão aquecido e as lojas operem com ociosidade.

Há uma janela de oportunidades no segmento de distribuição e marcas com bom desempenho em vendas querem aproveitar. Registraram queda inferior ao mercado em 2020 e ganharam participação Fiat, Jeep, Hyundai e Caoa/Chery (que tem dez revendas Ford). Mas há outras fora dessa lista na briga.


Associação de revendas avalia ir à Justiça

A disputa por suas revendas mais rentáveis travadas por concorrentes ocorre paralelamente às difíceis negociações da Ford com a Associação Brasileira de Distribuidores Ford (Abradif) sobre a indenização a ser paga aos revendedores, alguns deles grupos familiares com 60 anos de representação da marca.

A entidade avalia entrar com ação na Justiça, o que pode prolongar uma solução entre as partes, mas afirma acreditar em consenso sem a judicialização.

Uma das desavenças é que a Ford propôs indenização de acordo com o faturamento da loja nos últimos dois anos, mas exclui da conta as vendas diretas (para frotistas e locadoras) e para pessoas com deficiência. Ambas são feitas pelas montadoras, mas passam pelas revendas para entrega e serviços de revisão. Nos últimos dois anos esse tipo de venda representou mais de 40% dos negócios de veículos novos no País.

A Abradif quer que a empresa desconsidere o ano de 2020 que, em razão da pandemia, registrou as piores vendas dos últimos anos. Em 2019 foram vendidos 218,5 mil carros Ford, número que caiu para 139,2 mil no ano passado, uma redução de 36,3%.


Conta da entidade indica que o investimento médio realizado pelas concessionárias somam R$ 1,5 bilhão, indicando que seria esse o total da indenização a ser paga. Outra reivindicação é que a montadora arque com custos da demissão de funcionários - a rede emprega 11 mil pessoas.


Notificação

A Abradif notificou extrajudicialmente a Ford sobre seu descontentamento com a proposta e critica as negociações individuais com revendedores, o que caracteriza como "assédio moral negocial".

Em resposta, a Ford diz que "seguirá com contatos individuais para entendimentos justos e equilibrados". Acrescenta que as negociações "dão o tom de seu comprometimento quanto à velocidade para conclusão dos acordos e subsequentes pagamentos, minimizando eventuais impactos do período de transição para toda a rede".

A Abradif alerta para o fato de o negócio de cada concessionária ter perdido valor de mercado com o fim da produção. Os modelos Ka e EcoSport, fabricados em Camaçari (BA), respondiam por 85% das vendas dos lojistas. Em carta à entidade, a Ford diz que oferece aos revendedores selecionados condições robustas para participar de sua nova fase como importadora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Bahia prorroga medidas e toque de recolher por mais 48 horas

 


Governo da Bahia e prefeitura de Salvador decidiram estender a ampliação das medidas restritivas por mais dois dias, após um fechamento de atividades não essenciais entre as 17h da última sexta-feira (26) e as 5h desta segunda (1º). Com a decisão, apenas serviços essenciais vão continuar funcionando em toda a Bahia - exceto o Oeste, o Norte e o Nordeste - até a próxima terça-feira. Neste domingo (28), a Bahia registrou o maior número de internados em unidades de terapia intensiva desde o início da pandemia, com 983 pessoas hospitalizadas em leitos Covid-19, incluindo crianças e adolescentes. Foram registradas ainda 90 mortes nas últimas 24h, com concentração dos óbitos registrados nas últimas semanas. “Os hospitais privados continuam operando a quase 100%. A rede pública acima de 90%. Ao longo do dia de hoje estavam na fila esperando a regulação mais de 195 para leitos de UTI”, explicou o governador Rui Costa. A extensão das medidas restritivas ampliadas inclui também o toque de recolher, que se mantém entre 20h e 5h até o dia 7 de março. Nesse período, apenas urgências e emergências na área de saúde e segurança podem ser atendidas.

Governo aceita mudanças em PEC do auxílio, mas Senado quer mais

 

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O governo encaminhou uma proposta de mudança na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial no Senado para tentar destravar a votação na próxima quarta-feira, 3. A PEC é uma condição da equipe econômica para liberar uma nova rodada do auxílio emergencial. Uma lista com cinco pontos menos essenciais, ao qual o Broadcast/Estadão teve acesso, foi enviada a líderes partidários para viabilizar um acordo. Os senadores, porém, avisaram que a proposta terá de ser ainda mais desidratada.

O governo se comprometeu a preservar os gastos mínimos com saúde e educação, retirando da PEC a medida mais polêmica colocada no relatório do senador Marcio Bittar (MDB-AC). O próprio relator admitiu que vai retirar a desvinculação para viabilizar a votação na quarta-feira, 3. A proposta poderia desobrigar a aplicação de R$ 90,6 bilhões na educação em Estados e municípios neste ano, de acordo com a Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, como revelou o Broadcast Político.

Com ampliação de restrições, governo deve retomar medida que permite antecipar férias de trabalhador
Com ampliação de restrições, governo deve retomar medida que permite antecipar férias de trabalhador
O Executivo, porém, insiste na manutenção de gatilhos para congelar gastos públicos, outro alvo de críticas no Senado. É uma condição para retomar o auxílio emergencial. O parecer prevê o acionamento automático de gatilhos, como congelamento de salários de servidores públicos e concessão de novos subsídios, quando a despesa obrigatória superar 95% do total, o que pode ocorrer nos próximos anos, ou quando for decretado um novo estado de calamidade pública, a qualquer momento – neste caso, o congelamento seria feito durante e até dois anos após o fim do decreto. De forma opcional, também há gatilhos quando a despesa atingir 95% da arrecadação na União, Estados e municípios.

Há pressão de bancadas para fatiar a PEC e aprovar só o benefício agora, deixando as medidas de contenção para depois. Por isso, líderes do Senado avisaram o governo que será preciso “desidratar muito” ou votar apenas o dispositivo que autoriza o pagamento para o auxílio. A negociação deve se estender até quarta e coloca em dúvida a votação da proposta em dois turnos, como quer o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

O Executivo também admitiu preservar a possibilidade de intervenção da União nos Estados e municípios e dos governos estaduais nas prefeituras quando há descontrole das finanças públicas. De acordo com o relatório atual, não haveria mais intervenção quando não ocorre pagamento de dívida, aplicação de mínimos constitucionais e entrega da repartição de receitas estaduais em municípios.

Houve compromisso também de preservar a vinculação das receitas destinadas ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que haviam perdido o carimbo no parecer de Bittar. O governo sinalizou ainda que pode retirar a proibição de as emendas parlamentares, indicadas por deputados e senadores no orçamento federal, alocarem recursos para pagamento de pessoal em serviços públicos de saúde.

Outro ponto colocado pelo governo como menos importante é a necessidade de o poder público observar “o direito ao equilíbrio fiscal intergeracional”. Para técnicos do Congresso, o dispositivo era genérico e abria margem para União, Estados e municípios deixarem de aplicar recursos em áreas essenciais alegando desequilíbrio fiscal.

Estadão Conteúdo

Bolsonarismo reaviva articulação para substituir Lei de Segurança Nacional, entulho da ditadura

 

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O Congresso Nacional retomou o debate sobre a necessidade de substituição de uma legislação que voltou aos holofotes após a ascensão de Jair Bolsonaro e que é considerada um dos principais entulhos autoritários da ditadura que vigorou no Brasil de 1964 a 1985, a Lei de Segurança Nacional.

Retirada do ostracismo pelo governo do ex-capitão do Exército, a lei passou paradoxalmente a ser usada também contra o bolsonarismo, em especial nas investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal sobre as manifestações antidemocráticas e, mais recentemente, na ordem de prisão emitida pelo ministro Alexandre de Moraes contra o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).

Bolsonaro em atos antidemocráticos em Brasília
Bolsonaro em atos antidemocráticos em Brasília
Mais de três dezenas de projetos em tramitação na Câmara dos Deputados tratam de alterações ou revogação da norma, editada em sua última versão em 1983, que seria substituída por uma Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, tese que encontra respaldo significativo entre especialistas.

Apesar disso, há ao menos dois fatores que conspiram contra a articulação.

O primeiro é o histórico de fracassos de ações nesse sentido. A revogação da lei de segurança é uma ideia discutida desde o fim da ditadura militar, tendo atingido o ápice após a péssima repercussão do uso da norma pela Polícia Federal, em 2000, para enquadrar integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

O governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) montou então uma comissão coordenada pelo ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Luiz Vicente Cernicchiaro e que contou com a participação, entre outros, do atual ministro do STF Luís Roberto Barroso, então professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

O trabalho da comissão resultou em um projeto de lei que revogava a Lei de Segurança Nacional e introduzia no Código Penal um título específico sobre crimes contra o Estado democrático de Direito, entre eles o golpe de Estado. A proposta foi encaminhada em abril de 2002 a FHC pelo então ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, mas nunca prosperou.

Após isso, houve a retomada da iniciativa nos governos do PT, mas nada, igualmente, foi adiante, até pela consolidação nos meios jurídicos da insignificância da norma à luz de um ambiente democrático.

Sob Bolsonaro, e com o surgimento de movimentos ostensivos de questionamento das instituições e da democracia, a Lei de Segurança Nacional voltou a ser acionada com ênfase.

Dados revelados pelo Painel mostram que em 2020 houve um recorde no número de investigações da PF abertas com base na lei (51), praticamente o dobro em relação a 2019, primeiro ano de mandato de Bolsonaro, e que já havia registrado o maior número de casos dos últimos anos (26).

Entre as apurações motivadas pelo governo houve representação encaminhada à Procuradoria-Geral da República pelo Ministério da Defesa contra o ministro do STF Gilmar Mendes, que havia declarado que o Exército estava “se associando a um genocídio” na gestão da pandemia, e pedidos de investigação feitos pelo ministro da Justiça, André Mendonça, contra jornalistas.

Entre eles um relativo ao colunista da Folha Hélio Schwartsman, pelo texto “Por que torço para que Bolsonaro morra”, publicado após o presidente anunciar que havia contraído a Covid-19.

É nesse contexto que surge o outro dos grandes entraves. Hoje a Câmara é comandada pelo centrão, que dá sustentação política ao governo. Bolsonaro, que é entusiasta da ditadura militar e de próceres do regime, tendo apoiado várias manifestações contrárias às instituições, é praticante de atos que poderiam ser enquadrados como crimes em uma Lei de Defesa do Estado Democrático.

Projeto de lei elaborado por uma equipe de especialistas e apresentado no ano passado pelos deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e João Daniel (PT-SE) estabelece, por exemplo, pena de até três anos de prisão a quem fizer apologia de “fato criminoso ou de autor de crime perpetrado pelo regime ditatorial de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985”. O projeto ainda não teve tramitação na Câmara.

Dentre as várias manifestações feitas ao longo de toda a carreira política de Bolsonaro, inclusive na Presidência, está a defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015.

Ele comandou o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações) do 2º Exército (SP) entre 1970 e 1974, órgão que a Comissão Nacional da Verdade apontou como responsável pela morte ou desaparecimento de ao menos 45 presos políticos nesse período.

A Lei de Segurança Nacional tem 35 artigos e trata, em suma, de crimes contra a “a integridade territorial e a soberania nacional, o regime representativo e democrático, a federação e o Estado de Direito e a pessoa dos chefes dos Poderes da União”.

Suas versões anteriores, bem mais duras, foram usadas diversas vezes para perseguição a opositores políticos do regime. O texto de 1983 mantêm trechos genéricos e anacrônicos como o de incitação “à subversão da ordem política ou social” ou a pena de até quatro anos de prisão para quem imputar fato ofensivo à reputação dos presidentes da República, do Supremo, da Câmara e do Senado.

Nome escolhido pelo novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para comandar as principais medidas de alteração jurídica de sua gestão, a deputada Margarete Coelho (PP-PI) se diz favorável à revogação da Lei de Segurança Nacional.

“Eu entendo que ela não deveria ter permanecido na ordem constitucional de 1988, porque ela dialoga com um outro tempo, cujo regime identificava parte dos cidadãos como inimigos internos, e nenhum cidadão que reivindique direitos pode ser considerado inimigo do Estado”, afirma a parlamentar.

Ela ressalta que as Forças Armadas existem para proteger o país de inimigos externos, “jamais de seus próprios cidadãos”, e que, por isso, entende que a lei deve ser substituída. “Sei que temos boas propostas na Câmara para que criemos uma lei de garantia do Estado democrático de Direito, com o qual eu estaria de acordo.”

Lira não respondeu às perguntas da Folha. Em live neste sábado (27), ele foi instado a priorizar a remoção da lei. Na resposta, o presidente da Câmara afirmou que o assunto será debatido em algum momento e opinou que a norma, “até pelo nome, já deveria ter sido modificada”.

Ressaltando que, em sua visão, o problema do Brasil não são as leis, mas a interpretação que a Justiça dá a elas, ele acrescentou que não faltará oportunidade para que o debate sobre a modificação ou revogação da Lei de Segurança Nacional seja feito “com a urgência e a importância que ele requer”.

Especialistas ouvidos pela Folha foram unânimes em também defender a substituição da lei.

“Esse aparato autoritário subsiste no Brasil muito em função de uma transição inadequada da ditadura para a democracia”, afirma Tayara Lemos, professora de direito constitucional da Universidade Federal de Juiz de Fora (campus Governador Valadares).

“A Justiça de Transição requer que levemos a sério o dever de memória, a verdade histórica factual, as políticas de reparação em relação às vítimas da ditadura. A subsistência de leis como a de Segurança Nacional demonstra como nossa Justiça de Transição foi mal feita e como isso prejudica o entendimento da própria sociedade, que se reflete em atos públicos de pedido de retorno da ditadura, do AI-5, de fechamento do STF, de questionamento da independência e equilíbrio entre os Poderes e de apologias de torturadores.”

A professora lembra que embora a lei seja um dispositivo antidemocrático, está em vigor, sendo necessária uma ação legislativa que coloque fim ao legado autoritário ou uma jurisprudência do Supremo que solidifique a interpretação pró-democracia.

“Uma lei em defesa da democracia, por exemplo, dificilmente não enquadraria como criminosas ações de desmantelamento de instituições democráticas. Por outro lado, dificilmente enquadraria como criminosas ações da imprensa, da arte, da cultura, como a Lei de Segurança Nacional vem fazendo.”

Rubens Beçak, professor associado do Departamento de Direito do Estado da USP, afirma que o cenário nacional e internacional que vem desde o final do século 20 reforça a necessidade de uma nova lei.

“Não tem sentido falar hoje numa lei que pune charge, caricatura, isso é de uma outra época. Já em 83, quando tivemos essa lei, questionava-se se fazia sentido reeditar a doutrina de segurança nacional dos anos 60. Já era algo extremamente antiquado. Então, quase 40 anos depois, pretender que aquela lei ainda seja usada? Estamos muito atrasados nessa discussão”, afirma.

Fernando Dias Menezes de Almeida, professor titular da Faculdade de Direito da USP, afirma que do ponto de vista político-constitucional há pertinência na maior parte dos casos definidos na lei, ainda que comportando atualizações, mas há pontos incompatíveis com a ordem constitucional vigente.

Ele cita como exemplos os artigos de incitação a subversão da ordem pública e os de calúnia e difamação do presidente da República e outras autoridades, “que, se levados ao extremo, seriam atentatórios à liberdade de expressão”.

Também professor titular do Departamento de Direito da USP, Floriano de Azevedo Marques Neto afirma ser premente a substituição da norma por uma lei de defesa da democracia, nos termos da proposta que tramita no Congresso.

“Não só porque a lei é dos tempos da ditadura. Sua substituição é necessária pois ela partia de uma visão ultrapassada de soberania como um dado titularizado pelo ente Estado e pela nação e não algo pertencente aos cidadãos, típica visão Schmittiana [Carl Schmitt, teórico jurídico nazista]. Suas prescrições, baseadas na defesa da autoridade e não da democracia e de suas instituições, estão ultrapassadas. E seus tipos são antigos e não colhem os desafios contemporâneos”, afirma o professor.

Folhapress

‘Prestígio’ de Tarcísio de Freitas não leva verba à infraestrutura

 

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O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é figura frequente ao lado do presidente Jair Bolsonaro em eventos presenciais e lives nas redes sociais. Com a fama de “rei do asfalto”, costuma ciceronear o chefe em inaugurações de obras de rodovias. Em janeiro, no interior da Bahia, Bolsonaro disse que Tarcísio era “a figura mais importante” da administração. As contas da pasta, no entanto, mostram que a Infraestrutura não é a prioridade na hora de liberar verbas do Orçamento e o ministro se sobressai na equipe de governo pelas obras de pavimentação de estradas.

O montante disponível para investimentos no Ministério da Infraestrutura segue estagnado desde o começo da gestão Bolsonaro. Tanto em comparação com o disponível para a área no governo anterior, de Michel Temer (MDB), quanto em proporção do total investido pelo Executivo. Enquanto bilhões de reais de fundos ligados ao ministério são retidos (contingenciados) para diminuir o déficit da União, áreas como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), autarquia ligada ao ministério, reclamam de falta de verbas para pagar fornecedores.

Desde que Tarcísio de Freitas assumiu a Infraestrutura, a pasta nunca recuperou completamente o volume de recursos que teve durante as gestões de seus antecessores, Maurício Quintella Lessa (2016-2018) e Valter Casimiro Silveira (2018-2019), quando o órgão se chamava Ministério dos Transportes.

Em 2020, a pasta empenhou R$ 8,1 bilhões em investimentos. A despeito da pandemia do novo coronavírus, é um valor maior que o empenhado em 2019 (R$ 7,8 bilhões). É menos, porém, do que os valores empenhados antes da chegada de Jair Bolsonaro ao poder: em 2018, foram R$ 10,6 bilhões em investimentos; e R$ 13,1 bilhões em 2017. Em 2016, ano marcado pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e pela troca de comando no governo, o montante fechou em R$ 9,9 bilhões.

Os valores foram levantados pela reportagem usando a ferramenta Siga Brasil, do Senado, e corrigidos pela inflação. Esses índices e valores foram apresentados ao ministério para comentários. A pasta não questionou os dados e destacou que tem buscado “otimizar” o uso dos recursos públicos.

Assim como no Ministério da Infraestrutura, o total destinado aos investimentos no Executivo como um todo vem caindo desde 2016 em valores reais. Mesmo assim, sob Bolsonaro, a pasta foi responsável por uma fatia menor desse dinheiro. Em 2017 e 2018, o orçamento autorizado para investimentos no antigo Ministério dos Transportes correspondeu a 19% do total do Poder Executivo. Já na gestão atual, em 2019 e 2020, o porcentual ficou em 17,5% e 18,1%, respectivamente.

Estadão Conteúdo

Governadores enfrentam resistência para tomar medidas mais duras contra Covid-19 e culpam Bolsonaro

 

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Governos de vários estados anunciaram medidas que, nos bastidores, as próprias gestões avaliam ser insuficientes para conter o avanço da Covid-19. Eles se veem sem força e apoio social para bancar ações necessárias para evitar a escalada da doença e a falência da rede hospitalar. Para governadores, isso é resultado da postura negacionista de Jair Bolsonaro, que levou o país ao atual cenário: à beira de um colapso nacional, sem vacina, sem auxílio emergencial, sem leitos de UTI vagos.

Alguns estados iniciaram toque de recolher noturno, como São Paulo, de João Doria (PSDB), e Ceará, de Camilo Santana (PT), ações consideradas por especialistas aquém do necessário para enfrentar o pior momento da pandemia do coronavírus.

“Não se deterá o avanço de casos assim. O lockdown tem que ser total. Temos que ficar 10 a 15 dias sem ninguém na rua”, diz o sanitarista Gonzalo Vecina.

Alguns governadores citam pressão enorme da população e de empresários. E dizem que gestores que falam em fechamento de comércio estão sendo xingados no interior do país.

Nos bastidores, secretários de Saúde criticaram o presidente da Câmara. Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, passou a semana mais difícil da pandemia discutindo polêmico projeto para salvar a pele de parlamentares. Os gestores estaduais esperam a aprovação do auxílio emergencial para conseguir algum apoio para medidas restritivas.

Enquanto governadores buscam saída, o presidente segue a vida que teve durante toda a pandemia: fake news sobre ineficácia das máscaras, viagens para tratar de outros temas e aglomerações por onde passa.

Painel/Folhapress

Sob tensão, democracia é frágil e requer defesa, dizem representantes da política, economia e sociedade civil

 

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Para o ex-governador capixaba Paulo Hartung, de perfil centrista, a democracia brasileira é “uma planta frágil”. Bem menos poético, o ex-deputado tucano Xico Graziano, bolsonarista arrependido, diz que ela foi “prostituída”.

A conclusão de que nosso arcabouço institucional é menos sólido do que se imaginava é majoritária entre dez representantes da política, da economia e da sociedade civil ouvidos pela Folha na semana passada.

O grupo, que reúne liberais, conservadores, centristas e progressistas, foi convidado a opinar sobre o diagnóstico feito pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, em entrevista à Folha no início de fevereiro.

Fachin apontou sete riscos institucionais no Brasil de hoje, incluindo a militarização do poder civil, a desvalorização do voto, os ataques à imprensa e os incentivos às armas.

Os entrevistados demonstraram preocupação com o estado da nossa democracia, concordando que precisa ser defendida e reformada.

Mas divergiram quanto à capacidade do país de resistir aos arroubos provocados, sobretudo, por Bolsonaro e seu entorno.

Parte afirma que as instituições têm dado mostras de robustez ao conter o presidente. Os demais, no entanto, disseram estar preocupados com a exaustão da sociedade após dois anos de tensionamento permanente.

“As instituições estão reagindo instigadas pela sociedade civil. Sinto uma enorme capacidade de reação, mas foram dois anos muito intensos. Não sei como vamos conseguir manter esse nível de resistência”, diz Juana Kweitel, diretora-executiva da Conectas, ONG especializada em direitos humanos.

Desde que assumiu, em janeiro de 2019, Bolsonaro tem promovido ataques periódicos à imprensa e a opositores, um método destinado a manter energizada sua base conservadora.

Aliados e membros de sua família se notabilizaram por ameaças ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, embora estas tenham arrefecido nos últimos meses.

Para os entrevistados, um dos itens mais sensíveis do cardápio de ameaças de Bolsonaro é o que Fachin apontou como “remilitarização do poder civil”, o crescente movimento de colocar generais e outros egressos das Forças Armadas no comando de setores importantes do governo.

Até julho de 2020, eram mais de 2.500 militares em cargos comissionados em 18 órgãos. O último lance nessa direção foi a escolha do general Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras.

“Não existe democracia que mereça esse nome com esta quantidade de militares no aparato do Estado”, diz Jorge Zaverucha, professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Estudioso da história militar, ele afirma que as fragilidades da nossa democracia são anteriores a Bolsonaro, a começar do fato de que a Lei de Segurança Nacional, de 1983, um dos pilares de sustentação jurídica da ditadura, nunca foi revogada.

A diferença, diz, é a falta de comprometimento do atual presidente com a institucionalidade. “Bolsonaro tem a democracia não como opção, mas como estratégia”, afirma.

A instabilidade representada pela enxurrada de militares no governo é compartilhada pelo cineasta Josias Teófilo, autor de “O Jardim das Aflições”, sobre o filósofo Olavo de Carvalho.

“Isso pode ser perigoso até para o Bolsonaro. Imagina se o presidente resolve expulsar todos esses miliares. Podem se juntar contra ele”, afirma.

Da mesma forma, diz ele, vale o oposto: num cenário de radicalização por parte de outro Poder, como o Supremo, os representantes da caserna são uma arma para o chefe do Executivo.

Para Teófilo, o caso do deputado Daniel Silveira (RJ), preso por ofensas ao STF, representou um risco real de instabilidade, que por pouco foi evitada.

“Há uma radicalização tão grande que a situação é realmente preocupante. Os ânimos estão tão exaltados que qualquer hora alguém pode fazer uma merda”, afirma.

A grande questão colocada, e que dividiu os entrevistados, é até que ponto esse “alguém pode fazer uma merda” resultaria em um retrocesso democrático.

Se por enquanto os ânimos têm sido contidos, não há consenso sobre a durabilidade desse cenário.

“O que estamos vivendo não tem precedente. O que o Brasil viveu no passado foram golpes. Esse método de desgaste da democracia é novo”, afirma a historiadora Heloisa Starling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo ela, Bolsonaro obriga a sociedade a defender ativamente a democracia, o que nunca foi uma tarefa tão premente.

“As instituições democráticas não se defendem sozinhas. Ou a sociedade diz que a democracia é importante, que tem orgulho dela, ou o perigo é muito grande”, afirma.

A professora não enxerga com bons olhos o estica-e-puxa provocado pelos excessos do presidente e discorda da tese de que as instituições se fortalecem a cada ato de resistência a Bolsonaro, como se estivessem fazendo musculação.

“Cada vez que as instituições reagem, se desgastam. Veja a quantidade de críticas que o STF sofreu pela ação de prender o deputado [Silveira]. O esforço de cauterização é grande”, afirma.

Da mesma forma, a economista Elena Landau, de perfil liberal, afirma que as instituições brasileiras “estão se esgarçando”. É um processo, afirma, que não começou no atual governo.

“No governo Lula havia muitos ataques à imprensa, você tinha os blogueiros progressistas. A diferença é que o Bolsonaro não tem vergonha, ele até se orgulha disso”, afirma.

O presidente, afirma ela, opera num modo de tensão permanente, claramente sem respeitar a Constituição e a institucionalidade. “Ele vai avançando pelas beiradas do nosso sistema”.

Seria temerário, acredita, minimizar as declarações do presidente apenas como bravatas. “Quando Bolsonaro disse que queria fuzilar o Fernando Henrique, achavam que era bravata também. Pode ser bravata só porque ele não teve a oportunidade ainda, nunca vamos saber”.

Os temores de golpe, ou ruptura, não convencem Graziano, para quem o risco é inexistente.

O problema real, para ele, é uma espécie de jogo de compadrio na República. “O STF é totalmente desacreditado, mas o Congresso também é. E a Presidência fala uma coisa e faz outra. Todos eles se respeitam, se adulam e se comprometem”, afirma Graziano, que lançou recentemente “O Fracasso da Democracia no Brasil” (editora Almedina).

“Não vejo risco de quebra institucional, golpe, de ditadura. O problema é que nossa democracia é prostituída. Aproveitaram a liberdade que tivemos para criar uma excrescência”, diz ele, crítico do modelo de formação de coalizões de governo baseado na distribuição de cargos e emendas.

Na mesma linha, o ex-governador Hartung diz que a sociedade soube responder a desafios como a participação de Bolsonaro em atos que pediam medidas contrárias à democracia.

“Há um ano, todos nós percebemos que havia uma ameaça às instituições democráticas. A sociedade, o Supremo, o Parlamento, a imprensa, os abaixo-assinados mostraram força para defendê-las. Se novamente isso se mostrar necessário, não tenho dúvida de que a sociedade brasileira vai dizer presente”, afirma.

Entre os itens apontados por Fachin como ameaças à democracia, as medidas de Bolsonaro para armar a população figuram no topo da lista de preocupações de parte dos entrevistados.

“Não precisa nem falar. É o mais sério, eu colocaria primeiro”, afirma Kweitel, da Conectas.

Ieda Leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado, concorda: não há ameaça maior. “Quem acha que arma resolve é porque foge do diálogo”, declara.

Desde que assumiu, o presidente, por meio de diversos decretos, aumentou as possibilidades de obtenção de munição, autorizou novos calibres de armas, afrouxou os critérios de fiscalização e concedeu regalias para os chamados CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores).

Embora parte dessas medidas tenha sido derrubada pelo STF e pelo Congresso, pedaços dos decretos vingaram, gerando temor de que o presidente possa estar criando milícias privadas para manter-se no poder.

A diretora-executiva do Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), Mônica Sodré, vê com receio a confluência dos atos de Bolsonaro de distribuir armas e de sinalizar que não aceitará uma eventual derrota no ano que vem.

“A negação do resultado eleitoral de antemão revela um espírito que não condiz com a democracia. O princípio da democracia prevê a alternância de poder. E também o respeito à minoria que foi derrotada na urna, e pode tentar retornar na eleição seguinte”, afirma.

A Raps é uma das entidades surgidas nos últimos anos com o propósito de renovar a política.

Segundo Sodré, a democracia não se mede apenas pelo comparecimento periódico às urnas, mas também por outros aspectos, como questões.

“É impossível dissociar o problema da democracia com o fato de não combatermos as desigualdades”, diz ela, que aponta também a questão da desinformação como uma questão relevante nos dias de hoje.

“Democracia tem a ver com tomada de decisão e com informação, e não pode ser exercida plenamente se eu estou constantemente afogada por mensagens falsas”, afirma.

O cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Arns, diz que os ataques de Bolsonaro contra a urna eletrônica não são uma ameaça, mas uma “declaração de intenção”.

“Foi o que ele disse logo depois da invasão do Capitólio [nos EUA]. Aqui vai ser pior se a cédula de papel não for implementada”, afirmou.

Para Pinheiro, ex-secretário de Direitos Humanos no governo de FHC, há um processo de autocracia em curso, que fica claro por declarações e atos de Bolsonaro.

“As instituições não estão sólidas. O que eu acho mais grave é que o chefe de governo não esconde seus objetivos, e as pessoas fazem o jogo do contente”, afirma.

A autocracia que ele aponta é resultado direto do modo como Bolsonaro organizou seu governo, com uma “junta militar informal”. “Eles coonestam todas as decisões do presidente. Isso revela o apoderar-se da estrutura civil”.

Todo este aparato estatal de intimidação precisa ser defendido vigorosamente, segundo Leal, do Movimento Negro Unificado.

“Precisamos urgentemente retomar a nossa democracia. Aquilo que nós construímos após os anos da ditadura militar. Não acordamos um dia de manhã e ganhamos a democracia, nós a conquistamos”, afirma.

Folhapress

Criticado por Bolsonaro, home office é adotado por 1 em cada 4 servidores públicos

 

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Um em cada quatro servidores do Executivo federal terminou o ano de 2020 trabalhando em home office integral, a mesma modalidade adotada pelo presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de ficar “11 meses sem trabalhar”.

Além disso, 35 órgãos do governo já aderiram ao programa que vai colocar o teletrabalho como opção permanente na administração pública. Quatro deles estão dentro do Palácio do Planalto: Casa Civil, Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Secretaria-Geral da Presidência e Secretaria de Governo.

A pedido do Estadão/Broadcast, o Ministério da Economia informou que havia 142.995 servidores federais do Poder Executivo em trabalho remoto integral no mês de dezembro de 2020, último levantamento realizado pela pasta. O número representa 23,8% dos 599,9 mil funcionários ativos no mesmo período.

Descontente com a política de preços de combustíveis adotada pela Petrobrás, Bolsonaro anunciou a demissão de Castello Branco do comando da companhia e passou a criticá-lo por, entre outros motivos, estar em regime de trabalho remoto. “O atual presidente da Petrobrás está há 11 meses em casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso faz poucas semanas”, afirmou o presidente na segunda-feira passada.

As declarações de Bolsonaro geraram indignação dentro da Petrobrás porque o presidente da companhia tem 76 anos e está no grupo de risco para a covid-19. Em sua primeira aparição pública após ser demitido, Castello Branco afirmou que o regime de teletrabalho gerou ganhos de produtividade e redução de custos, além de ter contribuído para diminuir a contaminação pelo novo coronavírus na empresa.

Os ganhos de produtividade e a redução de custos são justamente os efeitos buscados pelo Executivo federal ao adotar o trabalho remoto como prática permanente. No ano passado, o governo economizou R$ 1,5 bilhão ao deixar de gastar com diárias, passagens, conta de luz e água e cópias e reprodução de documentos, além de despesas com auxílio-transporte, horas extras, entre outros benefícios a servidores.

Para 2021, a previsão é poupar um valor ainda mais significativo, pois a migração definitiva para o teletrabalho vai permitir ao governo se planejar para a revisão de aluguéis e ocupação de espaços físicos.

Em dezembro, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Paes de Andrade, estimou que dos cerca de 600 mil servidores em atividade no Executivo, aproximadamente 200 mil estão em posições que, a princípio, se encaixariam no modelo de trabalho remoto. Não significa que todos eles migrarão para o home office. Antes disso, dois passos são essenciais: o órgão aderir, apontando quais atividades podem ser exercidas a distância, e o servidor manifestar desejo pela mudança.

Entre os 35 órgãos que já aderiram estão 11 agências reguladoras, Banco Central, os ministérios da Economia, do Desenvolvimento Regional, da Cidadania, de Minas e Energia, as quatro pastas abrigadas no Palácio do Planalto (Casa Civil, Secretaria-Geral, Secretaria de Governo e GSI), além de fundações, institutos e superintendências ligadas a essas estruturas.

A implantação do chamado Programa de Gestão (PGD) inclui o trabalho realizado de forma presencial, híbrida e teletrabalho. Oito órgãos já concluíram a implantação do sistema informatizado que fará a gestão do PGD.

Estadão Conteúdo

MEC tem 8,9 mil obras abandonadas pelo país e pode perder R$ 1,1 bilhão

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A despeito dos desafios educacionais de infraestrutura, inclusão e orçamento, o Ministério da Educação pode perder R$ 1,1 bilhão de recursos destinados a obras canceladas.

A CGU (Controladoria-Geral da União) identificou que o montante foi pago desde 2007 para 5.673 obras atualmente canceladas. A CGU vê risco de o dinheiro não voltar para União e ser perdido.

Essas obras representam 64% das obras contratadas sem execução (o restante está paralisada ou inacabada, mas pode ser retomada).

A pasta é o órgão federal com maior volume de construções abandonadas. Hoje, enquanto milhões de crianças e jovens estão fora da sala de aula ou em unidades precárias, há 8.904 obras federais abandonadas, entre creches, escolas, quadras e reformas.

O quadro é resultado de entraves acumulados nos governos Lula, Dilma (PT) e Temer (MDB), e a controladoria aponta deficiência do governo Jair Bolsonaro (sem partido) nos esforços para reaver o dinheiro e retomar obras.

Auditoria do órgão, do fim do ano passado, fala em ausência do MEC, liderado pelo ministro Milton Ribeiro.

“Não se verificam ações de supervisão do Ministério da Educação no que se refere aos problemas das obras inacabadas, canceladas e paralisadas da pasta, não obstante o conhecimento da precariedade das medidas adotadas pelo FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] e o alto risco de prejuízo à União pela ausência de ressarcimento de recursos”, diz relatório da CGU.

A Folha procurou por mais de duas semanas o MEC e o FNDE, órgão ligado à pasta responsável pelos repasses. Não obteve nenhuma resposta até a conclusão desta reportagem.

Os motivos para o cenário envolvem cancelamentos de despesas federais, falhas na execução de contratos e baixa capacidade de coordenação nacional.

Um dos casos de abandono é o do Colégio Estadual Mansões Odisseia, em Águas Lindas (GO), que deveria atender alunos do ensino médio. O local começou a ser erguido em 2014, no fim do segundo governo Lula, e hoje, com 64% da estrutura acabada, é ponto de uso de drogas.

Outra construção, que seria a escola de ensino fundamental Jardim América, no mesmo município, tem salas com crateras e o pátio, tomado por capim, virou pasto para cavalos.

As obras são vinculadas ao governo de Goiás. Em nota, a secretaria de Educação informou que assumiu os contratos e prevê nova licitação no 2º semestre para retomar as obras com recursos próprios.

A pasta afirma que, dos R$ 5,6 milhões recebido a obras canceladas, restituiu quase R$ 3 milhões.

Técnicos do FNDE disseram à Folha que é precário o controle do panorama de obras, de recursos e acerca de possíveis usos do dinheiro de obras canceladas para outros fins por parte de gestores locais. Segundo eles, a suspensão de despesas não executadas nos respectivos exercícios, os chamados restos a pagar, é o maior motivo para os cancelamentos. Isso ocorreu a partir de 2018.

Mesmo que o governo federal consiga o ressarcimento, o dinheiro não retorna para a Educação, e vai para o Tesouro. O Ministério da Economia não respondeu aos questionamentos.

A cidade de Fortaleza teve 109 obras canceladas. “A política local que mais sofreu impacto com essa ação foi a expansão da rede de educação infantil”, disse em nota a secretaria de Educação da capital cearense.

A prefeitura informou que, dos R$ 27 milhões recebidos para obras canceladas, 87% foram devolvidos à União.

A ideia do MEC era cancelar apenas obras não iniciadas, mas há 121 construções com esse status mesmo com alguma execução, segundo painel online do ministério.

Das 8.904 obras abandonadas, 744 estão​ paralisadas e 1.944, inacabadas. Houve redução no volume de obras paralisadas desde 2017, mas a quantidade de construções inacabadas saltou 80% no período. “Como causa é apontada a baixa efetividade da ação de retomada das obras inacabadas”, diz a CGU.

As obras inacabadas são aquelas interrompidas e com termo de compromisso vencido. Já as paralisadas têm termo vigente.

Do total de abandonadas, 70% estão vinculadas a municípios. O diretor da área de estudos técnicos da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), Eduardo Stranz, diz que a burocracia com convênios e contratações, mudanças de mandatos municipais e também dificuldades para manter a oferta de educação infantil colaboram para o cenário.

“Muitas obras foram aprovadas sem cuidado e muito do dinheiro não foi repassado”, diz.

“O dinheiro só pode ser usado naquela obra, mas é muito comum que os gestores usem para outras coisas, e as consequências podem ser graves”, completa ele, sobre os recursos de obras canceladas, o que ocorre sobretudo em cidades pequenas.

O Brasil tem 6 milhões de crianças de até três anos fora das creches. A taxa de atendimento é de 37%, enquanto a meta do PNE (Plano Nacional de Educação) é chegar a 50% em 2024.

Folhapress

Tratamentos contra covid-19 avançam em ritmo mais lento do que vacinas

 

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No começo de fevereiro, um grupo de pesquisadores da Universidade de Toronto divulgou um estudo com um medicamento antiviral experimental que foi capaz de acelerar a recuperação de pacientes com covid-19. O trabalho, publicado na revista Lancet Respiratory Medicine, teve como objetivo testar a droga em pessoas infectadas que não tinham sido hospitalizadas.

Pacientes que receberam uma única injeção de peginterferon-lambda tiveram mais de quatro vezes mais chances de terem a infecção curada em sete dias, quando comparados a um grupo tratado com placebo. O trabalho trouxe uma nova esperança de que seja possível ter um tratamento que consiga conter a dispersão do Sars-CoV-2.

Não é a primeira vez, porém, que surge essa sensação. Em um ano da pandemia de covid-19, a ciência foi capaz de desenvolver, de modo recorde, pelo menos meia dúzia de boas vacinas contra o coronavírus, mas por mais que estejam sendo feitos centenas de estudos com remédios – em sua maioria já usados para outras doenças –, ainda nenhum se mostrou eficaz para barrar o vírus.

A expectativa agora se volta para que a ciência inove e passe a desenvolver novos fármacos, do zero: moléculas desenvolvidas para ter como alvo específico proteínas do coronavírus.

Ao longo do ano, algumas drogas se mostraram úteis para reduzir os danos da doença, aliviar os sintomas e principalmente reduzir tempo de internação dos casos mais graves, mas ainda não existe um tratamento de fato para a covid-19. Muito menos um que seja precoce.

Não foram poucos os remédios já conhecidos que acabaram noticiados como promissores após se mostrarem eficazes in vitro contra o vírus ou em experimentos iniciais com poucas pessoas. Mas quando submetidos a estudos clínicos robustos, randomizados e com muitos voluntários, a maioria acabou descartada. Talvez o exemplo mais marcante disso foi o da hidroxicloroquina.

Existem agora muitas evidências de que a hidroxicloroquina e a cloroquina não funcionam contra a covid. Mas ainda há 179 ensaios clínicos nos Estados Unidos com 169.370 pacientes que estão recebendo o medicamento, segundo o Covid Registry of Off-Label & New Agentes, na Universidade da Pensilvânia. No Brasil, de acordo com o último balanço da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), do Ministério da Saúde, ainda há 27 estudos com as drogas em andamento.

Atualmente entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) indicam como diretriz de tratamento o uso de remédios como o remdesivir, anticorpos monoclonais e corticoides – como a dexametasona –, que têm um papel importante principalmente nos casos mais graves, hospitalizados e entubados. Eles ajudaram a reduzir o tempo de internação e as mortes.

Mas, como ressaltou reportagem do The New York Times de meados de fevereiro sobre a falta de tratamentos, essas drogas não são “um santo remédio” nem servem para todos.

A OMS alerta que a dexametasona, por exemplo, é recomendada somente para pacientes severos e criticamente doentes com covid-19 sob supervisão médica. Estudo randomizado feito com 7 mil pacientes mostrou que houve redução da mortalidade no grupo que tomou o remédio, na comparação com o grupo que tomou placebo. Mas não é recomendado para pacientes leves e moderados porque o medicamento pode aumentar o risco de complicações ou efeitos adversos – lembrando que este corticoide não ataca o vírus em si, mas o efeito inflamatório que ele causa no corpo, a chamada tempestade de citocinas.

Já o remdesivir, que impede o vírus de se replicar dentro das células, consegue reduzir modestamente o tempo que o paciente precisa para se recuperar, mas não tem nenhum efeito sobre a mortalidade. Outro problema é que ele é injetável e muito caro – tanto que nem está disponível no Brasil. Os anticorpos monoclonais, que impedem o vírus de entrar nas células, podem ser muito potentes, mas apenas quando administrados antes das pessoas adoecerem a ponto de serem hospitalizadas.

Especialistas ouvidos pelo Estadão explicam que, por um lado, a falta de avanço no tratamento não é inesperada. Primeiramente porque os maiores esforços científicos foram para as vacinas – o que faz sentido seguindo o princípio mais básico do “é melhor prevenir do que remediar”. Por outro lado, os vírus, em geral, são mais difíceis de lidar com medicamentos do que bactérias, por exemplo.

“A nossa história contra vírus é feita de derrotas há anos. Todo mundo fala da covid-19, mas também lutamos contra ebola, dengue, hepatite, rubéola, febre amarela. São todos vírus, mas para quais deles temos tratamento eficaz? Para alguns temos vacina, outros a gente controla, como a aids. Agora temos um remédio que erradica a hepatite C do organismo. Mas, em geral, perdemos feio, não só contra a covid”, disse ao Estadão a pesquisadora Flávia Machado, professora de Medicina Intensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Flávia faz parte da Coalizão Covid-19 Brasil, aliança formada pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

O grupo vem realizando ensaios clínicos para avaliar a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com covid-19. “Infelizmente o que mais vimos até agora é o que não funciona”, diz.

A pesquisadora explica o desafio: “Vírus não é bactéria. As bactérias são organismos com parede celular. Um mesmo antibiótico pode servir para combater várias bactérias, porque a parede celular (por onde o remédio entra) são parecidas. Já o vírus é uma partícula, quase não é um ser vivo. Ele só vive dentro das nossas células. Só ali conseguem se reproduzir, mas isso também os deixa mais protegidos”.

A coalizão começou agora em fevereiro uma nova linha de pesquisa que deve alcançar mil pacientes. O estudo Revolution vai avaliar se drogas antivirais isoladas e/ou em combinação entre si são efetivas para tratar casos de covid-19 hospitalizados com doença moderada. Serão testados os remédios atazanavir, daclatasvir e daclatasvir associados a sofosbuvir.

A falta de avanço em relação aos tratamentos contra a covid-19 até o momento pode estar relacionada ao fato de que a abordagem usada no início da pandemia foi buscar o reposicionamento de fármacos – pegar remédios que já existiam para outras doenças e testá-los, in vitro, contra o coronavírus. É o que afirma o químico Adriano Andricopulo, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), câmpus São Carlos, que trabalha com química medicinal, planejamento de fármacos e medicamentos para combater a covid-19.

A estratégia fazia sentido porque, sendo promissores nesta primeira etapa, eles poderiam já passar aos testes com humanos, visto que já eram sabidos como substâncias seguras. Isso poderia ganhar tempo, se dessem certo. Mas isso não ocorreu. Cerca de 250 substâncias foram registradas como tentativas para tratamento de covid-19.

“Acredito que não houve sucesso até o momento porque não se procurou inovação, um espaço químico novo para cobrir proteínas alvo do Sars-CoV-2”, disse o pesquisador ao Estadão.

Essa busca por desenvolver um medicamento específico para uma proteína alvo está começando agora, mas é um processo que pode levar bastante tempo, já que terá de cumprir todas as etapas de testes.

Andricopulo cita como exemplo uma droga experimental ingerível, a EIDD-2801, que, em camundongos, se mostrou capaz de interromper a proliferação do vírus e prevenir sua entrada em células humanas.

Os pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte relataram os resultados na revista Nature no início de fevereiro. Eles administraram o remédio em camundongos modificados com tecido de pulmão humano de 48 horas a 24 horas antes de eles serem expostos ao vírus.

“Descobrimos que o EIDD-2801 teve um efeito notável na replicação do vírus após apenas dois dias de tratamento – uma redução dramática de mais de 25.000 vezes no número de partículas infecciosas no tecido pulmonar humano quando o tratamento foi iniciado 24 horas após a exposição”, afirmou em comunicado à imprensa o autor principal do trabalho, Victor Garcia. “Os títulos do vírus foram significativamente reduzidos em 96% quando o tratamento foi iniciado 48 horas após a exposição”, acrescentou.

O medicamento começou a ser testado já em humanos em ensaios de fases 2 e 3. “São resultados muito positivos porque conseguiram tratar os pacientes, controlando a infecção, e também em bloquear a transmissão, que é o que se procura loucamente”, comentou Andricopulo.

Nos Estados Unidos, somente agora os NIH criaram uma importante iniciativa para desenvolver os antivirais, o que significa que não deverão estar em uso a tempo para combater a atual pandemia. “Esta iniciativa provavelmente não oferecerá nenhum tratamento em 2021”, afirmou Francis Collins, diretor dos NIH ao New York Times. “Se houver uma covid-24 ou covid-30, no futuro, queremos estar preparados”.

Estadão Conteúdo

Combate rigoroso à pandemia pode melhorar economia, sugerem dados

 

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A eclosão da pandemia do coronavírus nos primeiros meses de 2020 levou especialistas a traçar dois prognósticos sombrios: o mundo viveria uma catástrofe humanitária e um colapso econômico. Ambas as expectativas se confirmaram.

Desde o início da crise, mais de 2,5 milhões de mortes foram registradas até sexta-feira (26), segundo a Universidade Johns Hopkins.

A projeção mais recente do Banco Mundial indica uma queda de 4,3% no PIB (Produto Interno Bruto) global no ano passado. O resultado só não é pior do que os computados durante as duas guerras mundiais e a Grande Depressão, entre 1930 e 1932.

Por trás desse cenário negativo, no entanto, há nuances tanto nos números da saúde quanto da atividade produtiva.

Noruega, Coreia do Sul e China, que têm taxas de morte pelo coronavírus por 100 mil habitantes de, respectivamente, 11,4; 3,1 e 0,4, registraram crescimento de suas produções industriais de 7,3%, 0,3% e 2,8% em 2020, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Bélgica, Itália e Brasil, com taxas de mortalidade pela Covid-19 de, respectivamente, 192,2; 182,8 e 118,7, computaram contrações de 3,6%, 8,4% e 4,4% no mesmo indicador.

Haverá por trás desses poucos exemplos o que cientistas chamam de causalidade, sendo o bom resultado econômico em um ano de colapso mundial resultado da habilidade dos países de conter a pandemia?

Ainda é cedo para responder a essa pergunta por uma série de motivos, como a própria duração —mais longa do que o esperado— da pandemia e a falta de indicadores econômicos mais completos. Muitos países, como o Brasil, ainda nem divulgaram o PIB de 2020.

Mas especialistas dizem que evidências anedóticas indicam que pode existir uma relação causal entre os dois fatos.

A revista britânica The Economist publicou em janeiro reportagem sobre o crescimento de 2,3% do PIB chinês em 2020. Embora esse tenha sido o pior desempenho do país desde 1976, o número positivo, definitivamente, não era esperado por analistas no início da crise e deverá ser um dos poucos crescimentos registrados no mundo em 2020.

Como ressalta a The Economist, a indústria chinesa se beneficiou de consequências da pandemia em si, como a disparada na demanda global por máscaras e telas.

Mas é difícil não atribuir pelo menos parte do desempenho à menor incerteza associada à contenção do contágio, graças a ações rápidas tomadas pelo governo chinês, como duras políticas de distanciamento social e um planejamento rigoroso de como ele seria gradualmente flexibilizado.

Especialistas também têm notado a diferença de desempenho entre a economia alemã e a de outros europeus.

Embora esteja longe das menores taxas de mortalidade pelo coronavírus, a Alemanha tampouco se aproxima dos piores casos. Com 83 mortes por 100 mil habitantes, o indicador da nação é inferior à metade dos 192,2 óbitos por 100 mil pessoas na Bélgica.

A produção industrial da Alemanha despencou 9,9% em 2020. Além disso, o PIB do país (maior economia europeia) recuou 5%. Mas, segundo estimativas oficiais, a contração alemã deverá ser a metade da amargada por França e Itália, que têm taxas de mortalidade pela Covid-19 bem mais elevadas.

Em entrevista recente à Folha, o economista Branko Milanovic, um dos maiores especialistas do mundo em desigualdade de renda, ressaltou que ainda faltam explicações para a enorme diferença entre as taxas de mortalidade pela Covid-19 ao redor do mundo.

“Se você olha a taxa de morte por milhão de pessoas, não estamos falando de diferenças que são 1 para 2 ou 1 para três, mas 1 para 200. Então, há muita explicação necessária”, diz ele.

Na avaliação de Milanovic, os países que foram capazes de convencer suas populações a seguir o distanciamento social nos inícios dos ciclos de piora da epidemia e combinaram essa política com medidas como ampla testagem e mapeamento dos contatos dos infectados são os que têm preservado mais vidas.

E evidências crescentes indicam que, embora tenham custos elevados, essas medidas não condenam as economias a um colapso e que seu efeito pode ser até um desempenho relativo melhor em relação a nações com dificuldade em conter a disseminação do vírus, como o Brasil.

Um temor bastante disseminado no início da pandemia era que políticas rigorosas de distanciamento destruiriam a atividade produtiva. Naquele momento, um grupo de pesquisadores publicou estudo que indicava que esse medo era infundado.

Ao fazer uma comparação rigorosa das diferentes reações de políticas públicas à disseminação da gripe espanhola em 1918, os economistas mostraram que as localidades que reagiram mais prontamente tiveram uma retomada econômica mais vigorosa.

Um trabalho recém-publicado com foco no Brasil buscou investigar a mesma questão, mas usou a atual pandemia como estudo de caso.

As variáveis econômicas analisadas foram a evolução do saldo de vagas formais e arrecadação de ICMS, entre março e junho de 2020, para 104 municípios de São Paulo.

Para medir o nível de distanciamento social, os autores construíram um índice baseado em dados da Fundação Seade de localização dos usuários de telefones celulares.

A pesquisa —fruto de parceria da Unicamp com a Universidade do Texas— concluiu que distanciamento social mais rígido não piora o desempenho dos municípios.

“É possível que o resultado generalizado pior da economia tenha sido provocado pela pandemia em si, mas não foi pelo distanciamento social”, diz o economista Luiz Gustavo Sereno, da Unicamp.

Sereno teve como coautores no estudo —financiado por CNPq e Ministério da Saúde— os pesquisadores Alexandre Gori Maia, também da Unicamp, Letícia Marteleto, da Universidade do Texas, e Cristina Guimarães, da Fipe/USP. O grupo trabalha agora na ampliação da análise para 3.500 municípios do país.

Segundo Sereno, a ideia é avaliar se o isolamento garante melhor desempenho.

“A tendência é que, a longo prazo, o distanciamento contribua para um melhor desempenho da economia, mas ainda não temos confirmação disso.”

Outro achado relevante dos pesquisadores foi que cada ponto percentual de aumento no distanciamento social teria salvado 215 vidas nos municípios analisados.

Para garantir que estavam capturando de fato o impacto do distanciamento sobre contágios e mortes, os autores usaram mudanças nas condições climáticas como instrumento que os permitiu isolar os efeitos de reduções espontâneas na mobilidade.

Outros estudos internacionais têm usado esse mecanismo e chegado a conclusões parecidas. Ou seja, que o isolamento social, de fato, causa a redução do contágio e da mortalidade pelo coronavírus.

Mas a pesquisa com foco em São Paulo indica que os efeitos positivos em uma localidade diminuem se cidades vizinhas adotam medidas menos rigorosas de distanciamento. Por isso, os autores concluem que a falta de coordenação de políticas no Brasil tem imposto “limitações críticas” no combate à Covid-19.

O estudo também separou o efeito do distanciamento segundo o nível sócio econômico da localidade analisada. Os resultados indicam que, quanto menor o patamar de renda da população, mais vidas são salvas pelo isolamento social.

O trabalho ressalta que pessoas que vivem em localidades mais pobres têm dificuldades consideráveis na implementação do distanciamento.

Outro estudo recente indica que essas dificuldades têm se traduzido em mais óbitos em áreas com concentração populacional alta e desordenada.

Com base em dados de telefones celulares no Rio de Janeiro, os pesquisadores Luiz Brotherhood, Tiago Cavalcanti, Daniel Da Mata e Cezar Santos mostram que o distanciamento social, nas favelas, tem sido muito menor.

Seu modelo indica que, embora os habitantes das favelas somem 22% da população, eles representam 30% das mortes pelo coronavírus.

“Muitos estudos têm mostrado que essa crise agrava as diversas desigualdades já existentes nos países”, diz Santos, que é professor da FGV/EPGE e pesquisador do banco central de Portugal.

A questão, ressalta, é como lidar com a dificuldade de moradores de áreas mais pobres em fazer distanciamento social. “Eles dependem muito mais de trabalhos com interação social, que não podem ser feitos de forma remota.”

No início da pandemia, muitos especialistas construíram modelos de previsão que esperavam que o pior cenário —em termos de mortalidade— seria o de baixíssimo isolamento social. Mas, em contrapartida, segundo essas projeções, a imunidade de rebanho seria alcançada rapidamente nesses contextos, abrindo o caminho para a recuperação da economia.

“Isso se mostrou um equívoco. A realidade tem mostrado que a imunidade de rebanho é retardada por fatores como o distanciamento espontâneo de grupos que podem reduzir sua mobilidade”, diz Santos.

Nesse contexto, sem medidas adicionais eficazes para a contenção da pandemia, tanto a crise sanitária quanto a econômica tendem a se prolongar.

Folhapress

Falta de produtos em supermercados retoma o maior nível de 2020

 

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O índice que mede a falta de variedade de produtos nas prateleiras dos supermercados subiu em janeiro, voltando aos maiores níveis registrados na pandemia, segundo a Neogrid, empresa de software para o varejo que faz o monitoramento.

O indicador, que é conhecido como ruptura, ficou em torno de 12,5% em janeiro, acima dos 12,1% do mês anterior. Desde o início da pandemia, os maiores números foram registrado em maio e junho, com 12,6% e 12,5% respectivamente.

Segundo a Neogrid, a ruptura em alta é resultado da escassez de itens para embalagem na indústria, como papel e alumínio. Outro fator é a queda do poder de compra após o fim do auxílio emergencial, que leva os consumidores a se concentrarem nas marcas mais baratas, esgotando esse tipo de produto antes da reposição.

Painel SA/Folhapress

Bahia registra 90 óbitos em 24h; governo abre 17 leitos de UTI

 



Na Bahia, nas últimas 24 horas, foram registrados 90 óbitos, 3.133 casos de Covid-19 (taxa de crescimento de +0,5%) e 3.119 recuperados (+0,5%). Dos 684.037 casos confirmados desde o início da pandemia, 651.712 já são considerados recuperados, 20.506 encontram-se ativos e 11.819 tiveram óbito confirmado. Para reduzir a pressão na rede assistencial que atende pacientes graves com o diagnóstico de coronavírus (Covid-19), o Governo da Bahia abriu 27 novos leitos neste final de semana, sendo 17 de UTI nos hospitais estaduais em Santo Antônio de Jesus e Seabra. O boletim epidemiológico contabiliza ainda 1.035.483 casos descartados e 158.727 em investigação. Estes dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA), em conjunto com as vigilâncias municipais e as bases de dados do Ministério da Saúde até as 17 horas deste domingo (28). Na Bahia, 42.954 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19. Hoje foram registradas 90 mortes e o número total de óbitos por Covid-19 na Bahia desde o início da pandemia é de 11.819 representando uma letalidade de 1,73%. Dentre os óbitos, 56,52% ocorreram no sexo masculino e 43,48% no sexo feminino. Em relação ao quesito raça e cor, 55,03% corresponderam a parda, seguidos por branca com 20,60%, preta com 14,72%, amarela com 0,55%, indígena com 0,14% e não há informação em 8,95% dos óbitos. O percentual de casos com comorbidade foi de 70,35%, com maior percentual de doenças cardíacas e crônicas (74,24%). A existência de registros tardios e/ou acúmulo de casos deve-se a sobrecarga das equipes de investigação, pois há doenças de notificação compulsória para além da Covid-19. Outro motivo é o aprofundamento das investigações epidemiológicas por parte das vigilâncias municipais e estadual a fim de evitar distorções ou equívocos, como desconsiderar a causa do óbito um traumatismo craniano ou um câncer em estágio terminal, ainda que a pessoa esteja infectada pelo coronavírus. Com 433.274 vacinados contra o coronavírus (Covid-19), dos quais 98.673 receberam também a segunda dose, até as 15 horas deste domingo, a Bahia é um dos estados do País com o maior número de imunizados. Tem se observado volume excedente de doses nos frascos das vacinas contra a Covid-19, o que possibilita a utilização de 11 e até 12 doses em apenas um frasco, assim como acontece com outras vacinas multidoses. O Ministério da Saúde emitiu uma nota que autoriza a utilização do volume excedente, desde que seja possível aspirar uma dose completa de 0,5ml de um único frasco-ampola. Desta forma, poderá ser observado que alguns municípios possuem taxa de vacinação superior a 100%.

Pesquisa brasileira avalia estresse em pacientes com Covid-19

 


Estudo foi realizado pela PUC do Paraná

Agência Brasil
BAHIA.BA 
Foto: Paula Fróes/GOVBA
Foto: Paula Fróes/GOVBA

 

Pesquisadores da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) realizaram uma pesquisa para avaliar os efeitos do estresse oxidativo em pacientes com quadro grave de Covid-19. Após analisarem 77 pessoas, o estudo concluiu que a gravidade da doença não é fator determinante para provocar mudanças no sistema de defesa antioxidante.

Segundo a PUC, a pesquisa é a primeira a apontar para essa conclusão. No entanto, o posicionamento não é definitivo, pois outras pesquisas sugerem que o estresse oxidativo pode sim agravar várias doenças.

Durante a pesquisa, os pacientes, que estavam internados em um hospital em Curitiba, foram divididos entre os grupos com quadro de saúde moderado e com situação grave. No período avaliado concluiu-se que as pessoas com alta contagem de leucócitos e altos índices de PCR (Proteína C-reativa) permaneceram internados por mais tempo. Contudo, não foi encontrada relação entre a gravidade do quadro e o nível de estresse oxidativo.

O estresse oxidativo ocorre a partir do desequilíbrio entre a formação de radicais livres, moléculas responsáveis por enfermidades, e a capacidade antioxidante (proteção) das células. Dessa forma, são formados mais radicais do que antioxidantes, causado danos às células e provocando o desenvolvimento e o agravamento de várias doenças.

Os radicais livres também são necessários para as células e são produzidos naturalmente pelo organismo. No entanto, infecções podem aumentar a produção dos radicais. O estudo foi publicado revista científica internacional Free Radical Biology & Medicine.

Reino Unido identifica seis casos da variante de Manaus do coronavírus

 


Três casos foram encontrados na Inglaterra e outros três, na Escócia

Tribuna da Bahia, Salvador
28/02/2021 18:07 | Atualizado há 13 minutos

   
Foto: Reuters / John Sibley / Direitos reservados

Seis casos da variante do novo coronavírus identificada na cidade de Manaus, no Amazonas, foram detectados pela primeira vez no Reino Unido, disseram autoridades de saúde inglesas neste domingo (28).

Três casos foram identificados na Inglaterra e outros três, na Escócia.

O risco para a comunidade em geral é considerado baixo, mas, como precaução, as autoridades que investigam os casos ingleses estão agindo rapidamente para implantar testes em massa e aumentar o sequenciamento de amostras positivas de coronavírus da área, disse a Public Health England (PHE), agência do Departamento de Saúde do Reino Unido.

Dois dos três casos encontrados na Inglaterra eram de uma família na área de South Gloucestershire que tinha um histórico de viagens ao Brasil. Há um terceiro caso, atualmente não vinculado, disse a PHE.

Os casos escoceses não estavam ligados aos da Inglaterra.

Variante

A variante P.1 detectada em Manaus compartilha algumas mutações com uma cepa identificada pela primeira vez na África do Sul e é possível que responda menos às vacinas atuais, mas é necessário mais trabalho para entender isso, disse a agência.

Susan Hopkins, diretora de resposta estratégica da PHE para a covid-19, disse que os avançados recursos de sequenciamento de genes no Reino Unido explicam por que o país está identificando mais variantes e mutações do que muitas outras nações.

No final do ano passado, o Reino Unido detectou uma variante mais transmissível do coronavírus, que acredita-se ter se originado perto de Londres e levou a um aumento acentuado de casos no país e em outras nações.

"O importante a ser lembrado é que a covid-19, não importa qual variante, se espalha da mesma maneira. Isso significa que as medidas para impedir sua propagação não mudam", disse Susan.

A agência PHE e o sistema oficial de teste e rastreamento estavam acompanhando todos os passageiros do voo LX318 da Swiss Air de São Paulo para Londres via Zurique, que pousou no aeroporto londrino de Heathrow em 10 de fevereiro, para testá-los, bem como seus familiares.

Fonte: Agência  Brasil

Por que esses picaretas espirituais não dizem "não vá porque fulano está com Covid"?

 



O segredo desse povo que diz saber sobre você e seu futuro é falar coisas com grandes chances de ocorrer. Luiz Felipe Pondé para a FSP:


O astrônomo Carl Sagan (1934-1996) escreveu um livro que recomendo se você é uma daquelas pessoas que acredita que existem pessoas com o dom de prever seu futuro —“O Mundo Assombrado pelos Demônios”, editado pela Companhia das Letras. Uma pérola de ceticismo para iniciantes.

Queira dar atenção, por favor, a um detalhe em especial do ensinamento de Carl Sagan. Esse detalhe está ligado ao que ele dizia ser o método do Scooby-Doo: toda vez que você achar que tem algo de sobrenatural agindo em sua vida, no final, arranque a máscara desse agente e você verá um ser humano picareta por detrás dela.

O segredo desse povo que diz saber sobre você e seu futuro é falar coisas com grandes chances de ocorrer e que tornam impossível provar que ele errou. Queria ver um desses picaretas dizer para alguém agora, no meio da pandemia, “vai rolar uma viagem para o exterior”. Frases como “cuidado, tem alguém querendo prejudicar no trabalho” é afirmar que o círculo é redondo. Mas tem tonto que acredita.

A verdade é que esses picaretas nunca predizem o que pode ser provado como falso. Sagan dizia que nenhum dos grandes xamãs espirituais nos ensina nada que não saibamos. Em resumo: o mundo dos espíritos está contido no nosso mundo cultural. Só repete o que já sabemos.

Eles se mantêm numa esfera de afirmações vagas e possíveis, fora da aérea de falseamento, como se fala em epistemologia (teoria da ciência), segundo Karl Popper (1902–1994). Por exemplo, se eu disser daqui de onde escrevo que do seu lado tem uma pessoa que vai pedir um copo de água em dois minutos, você poderá facilmente falsear ou confirmar minha previsão “espiritual”. Meu enunciado é falseável, logo, para Popper e Sagan, tá valendo.

Mas, se eu disser que tem um espírito, que você não vê, de uma criança ao seu lado, facilmente você poderá ficar impressionado e começar a buscar coleguinhas que tenham, por acaso, morrido durante a sua infância, o que acontece com alguma frequência.

Se você for uma pessoa fácil de ser influenciada, acabará vasculhando sua memória a fim de encontrar algum fato que, mesmo de longe, comprove meu chute.

Uma dúvida me corrói o estômago. Qual? Por que esses picaretas não avisam a você algo assim: “Não vá àquela reuniãozinha de amigos porque fulano —ele deve dizer o nome preciso da pessoa— está positivo para Covid 19, apesar de ele não saber”?

Imagine a revolução epidemiológica que isso causaria? Você já pensou quantas vidas seriam salvas? Como alguém, em sã consciência, ainda pode crer que essas pessoas estejam sendo honestas com elas?

Ou será que alguns desses superdotados seres espirituais não poderiam ter avisado a todos: “Olhe, pessoal, vai rolar um vírus em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, em tal lugar, em tais pessoas, vão lá e impeçam a pandemia”.

Ou não poderiam ter avisado para pessoas que morreram em acidentes de avião “não deixem esse avião decolar porque vai cair!”. Ou dizer para uma menina jovem “cuidado, esse cara que você está saindo vai engravidar você e sumir do mapa”. Ou “não vá por aquela rua porque você será assaltado no farol X”.

São tantos os exemplos que me cansam. E, imagino, cansam você também. Mas não. Esses picaretas do espírito falam coisas como “melhor fazer exames”, principalmente se a pessoa tiver mais de 50 anos, não? Para uma menina de 18, ele dirá “tem um colega na sua escola interessado em você”. Bom, se não tiver pelo menos um, você está ruim mesmo.

Ou “uma oportunidade de trabalho vai aparecer”. Claro, essa adivinhação vai dos 20 aos 60 anos do cliente. Ou “alguém está com problema de saúde na sua família”. Quem não tem alguém com problema de saúde na família?

Ficamos xingando governos e a OMS, mas ninguém toma satisfação desses farsantes que tiram dinheiro das pessoas dizendo que “seu filho perdoa” ou “mamãe, estou bem” —estando já morto.

Aqui vai uma proposta: exijamos de todos esses picaretas espirituais, já que não nos salvaram da pandemia de Covid-19, que nos digam algo de útil: que dia teremos vacinado toda a população do Brasil? #EuQueroaData.

2021 será um longo ano

 



Chegando a 2022, é bem possível que Bolsonaro tenha ventos a favor na economia e na política para sua reeleição. Mas a travessia de 2021 se torna cada vez mais difícil. Fernando Dantas para o Estadão:


Em recente entrevista neste espaço, Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro, indicou como 2021 é o ano crítico da travessia de Jair Bolsonaro na tentativa de garantir um segundo mandato presidencial.

Na seara fiscal, o teto de gastos está apertadíssimo este ano, devendo levar as despesas discricionárias para seu mais baixo nível desde que o indicador é calculado. O risco de atrasos de pagamentos e paralisação de áreas específicas da administração federal é real. Investimentos no mínimo histórico vão acelerar a deterioração da infraestrutura a cargo da União.

Em 2022, porém, por causa de uma combinação favorável entre indicador/periodicidade dos indexadores do teto e das despesas obrigatórias, o governo vai poder gastar e investir mais do que em qualquer outro ano do governo Bolsonaro.

E tem mais, obviamente. Mesmo na hipótese mais pessimista sobre a campanha de vacinação no Brasil em 2021, o cenário de todo mundo é que, ano que vem, a pandemia esteja superada. É possível que isso leve a economia a andar com força em 2022.

O cientista político Jairo Nicolau, em seu livro “O Brasil Dobrou à Direita” e em pesquisas recentes, vem mostrando como a base de apoio de Bolsonaro é muito mais robusta do que apenas os extremistas de direita.

A união do presidente com o Centrão, no âmbito da Legislatura mais à direita em muitas décadas, faz de Bolsonaro, na visão do pesquisador, um líder conservador com grande capacidade de comunicação com a massa do eleitorado. Em alguns segmentos, como o dos evangélicos, essa vantagem do atual presidente é massacrante.

Assim, supondo que Bolsonaro “sobreviva” a 2021, pode chegar no ano eleitoral com a economia crescendo, dinheiro para gastar e uma base eleitoral segura a partir da qual buscará uma fatia majoritária do eleitorado.

O problema, porém (e aqui não é mais Nicolau que opina), é sobreviver a 2021. Nuvens de tempestade crescentemente pesadas estão se acumulando no horizonte.

A segunda onda da Covid-19 se mostra cada vez pior. A média semanal do número de mortes registradas (não ocorridas) a cada dia, na contagem do Ministério da Saúde, está em alta, e, acima de 1.100, já supera o recorde da primeira onda.

Relatos sobre superlotação, falta de vagas e episódios de colapso da rede hospitalar surgem simultaneamente de diversas partes do País. Crescem as indicações de que as novas cepas do coronavírus, mais transmissíveis, podem ser uma das explicações para a virulência da segunda onda.

A vacinação, por sua vez, parece cada vez mais uma arma cujo efeito acontecerá no médio, e não no curto prazo.

A experiência de países que estão avançados na imunização da população, como Israel e, em escala menor, Estados Unidos, indicam que a vacina de fato reduz contaminações e mortes e deve acabar com a pandemia.

O problema é que a maioria dos países, como o Brasil, ainda está muito longe de imunizar um percentual da população suficiente para que haja um efeito significativo na progressão da doença.

Dessa forma, tudo indica que a pandemia vai piorar antes de melhorar.

O efeito na economia é direto. O crucial setor de serviços, que vinha gradativamente se reabrindo, deve reverter a tendência (ou melhor, já está revertendo). Restaurantes que chegaram a encher em outubro voltaram a ficar vazios. Viagens são canceladas.

Dá-se muita atenção a aglomerações de jovens em bares e de pessoas nas praias, mas de forma mais discreta e pulverizada a oferta e demanda por serviços se contrai novamente, como já se refletiu em indicadores de dezembro.

Medidas oficiais de restrição de circulação também são implementadas por cidades e estados. Hoje, o Paraná decidiu fechar serviços não essenciais (a partir de meia noite) e ampliar o toque de recolher para o período das 20h às 5h.

Muitos analistas preveem que o PIB vai recuar neste primeiro trimestre. O mercado de trabalho, apesar de alguma recuperação desde o pior momento da pandemia, ainda se encontra no pior estado em muitas e muitas décadas.

A atividade rateando vai piorar as coisas, e o desemprego e a retração de renda devem bater com mais força.

Com a queda recente da popularidade de Bolsonaro, cresce a tentação de ser mais generoso na reedição do auxílio emergencial.

Correntes no Congresso acenam com a possibilidade de aprovar o auxílio agora, com orçamento em aberto, e deixar para depois as medidas (muito brandas, e 100% de médio prazo) de compensação fiscal.

Para piorar a incerteza, Bolsonaro interveio num rompante na Petrobrás, num gesto populista que coloca em xeque toda a agenda liberal de Guedes – inclusive na área fiscal.

Os termômetros do mercado já refletem a febre político-econômica. A bolsa cai forte, o dólar sobe mesmo com as intervenções do BC e a curva de juros está superempinada.

O Banco Central está no pior dos mundos: inflação e expectativas inflacionárias em alta, e atividade em baixa, em meio a forte incerteza sobre o regime fiscal.

O que salva é que o mundo ainda está relativamente favorável, com a retomada econômica na China e nos Estados Unidos e a alta das commodities que o Brasil exporta.

Mas há um risco pela frente. A “mãe” de todos os pacotes de impulso fiscal que Biden quer implementar, numa economia já previamente turbinada por impulsos monetários e fiscais, pode – para alguns analistas – provocar inflação nos Estados Unidos.

Se isso ocorrer e as taxas de juros americanas tiverem uma alta súbita e forte, pode ser o gatilho para crises macroeconômicas agudas em países emergentes vulneráveis como o Brasil. Seria o chamado “Deus nos acuda”.

Outra nuvem feia no horizonte é o destino de Paulo Guedes no governo, abordada hoje (sexta, 26/2) no Broadcast pelo meu colega Fábio Alves.

Será um longo 2021.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 26/2/2021, sexta-feira.
 
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