Agência France Presse
Dois genes que conferem às plantas de trigo uma resistência a uma nova cepa devastadora da ferrugem negra, fungo surgido na África e que ameaça as colheitas do cereal em várias partes do mundo, foram descobertos nos Estados Unidos, informaram cientistas nesta sexta-feira, 28.
Este avanço poderá ajudar os cientistas a desenvolver novas variedades de trigo resistentes à ferrugem negra denominada Ug99, detectada em 1999 em Uganda, antes de se propagar para o restante da África e para a Ásia, assim como para a Rússia, onde provoca perdas importantes nas colheitas.
O trigo é a fonte de 20% da alimentação mundial e a cepa Ug99 poderá afetar até 80% das colheitas do planeta, com graves consequências socioeconômicas.
A "epidemia" anterior de ferrugem negra do trigo ocorreu nos anos 1940 e provocou fome no México, e foi contida graças à introdução de plantas híbridas resistentes de alto rendimento nos anos 1950. Estas plantas tinham sido desenvolvidas inicialmente por Norman Borlaug, um fitopatologista ganhador do Prêmio Nobel da Paz, que é apontado o pai da Revolução Verde.
Os dois novos genes identificados, "Sr35" e "Sr33", permitem que as plantas de trigo sejam resistentes à cepa Ug99 do fungo, ao 'dopar' seu sistema imunológico.
"O gene Sr35 funciona como um componente chave do sistema imunológico do trigo, ao reconhecer o patógeno invasor e desencadear uma defesa contra o parasita", explicou Eduard Akhunov, professor de Patologia das Plantas na Universidade do Kansas e principal autor da descoberta do gene Sr35.
A segunda pesquisa, realizada por um grupo de cientistas australianos, identificou o gene Sr33, que permite também às plantas de trigo se proteger contra o Ug99. "É um avanço muito significativo", avaliou Ronnie Coffman, professor da Universidade de Cornell (nordeste), que não participou dos estudos publicados na edição desta sexta-feira da revista americana Science. "Isto poderia produzir uma resistência duradoura contra a cepa patogênica", avaliou.
A pesquisa sobre estes dois genes resistentes à Ug99 levou vários anos em virtude da complexidade do genoma do trigo, que contém cerca de duas vezes mais genes que o DNA humano, destacaram os cientistas.
"Foi preciso extrair cada gene candidato até encontrar um capaz de dopar o sistema imunológico da planta contra o patógeno Ug99", destacou o professor Akhunov.
"Foi um processo trabalhoso, que levou muito tempo, mas valeu a pena", destacou. Após terem identificado o gene Sr35, os pesquisadores recorreram à biotecnologia para desenvolver plantas de trigo transgênicas portadoras do mesmo gene para serem resistentes à cepa patogênica Ug99 do fungo da ferrugem negra.
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