MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A COPA DO MUNDO ( 2014 ) NÃO SERÁ NOSSA!

Frei Betto
Para bem funcionar, um país precisa de regras.
Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia. O
Brasil possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas
pode contrariar a lei maior – a Constituição. Só em princípio.
Na prática, e na Copa, a teoria é outra.
Diante do megaevento da bola, tudo se enrola.
A legislação corre o risco de ser escanteada e, se acontecer,
empresas associadas à Fifa ficarão isentas de pagar impostos.
A lei da responsabilidade fiscal, que limita o endividamento, será
flexibilizada para facilitar as obras destinadas à Copa e às
Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista em
planejamento urbano, um município poderá se endividar para
construir um estádio. Não para efetuar obras de saneamento...
A Fifa é um cassino. Num cassino, muitos jogam, poucos ganham.
Quem jamais perde é o dono do cassino.
Assim funciona a Fifa, que se interessa mais por lucro que por
esporte. Por isso desembarcou no Brasil com a sua tropa de choque
para obrigar o governo a esquecer leis e costumes.
A Fifa quer proibir, durante a Copa, a comercialização de
qualquer produto num raio de 2 km em torno dos estádios. Excetos
mercadorias vendidas pelas empresas associadas ela. Fica entendido:
comércio local, portas fechadas. Camelôs e ambulantes, polícia
neles!
Abram alas à Fifa! Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de
suas moradias para que se construam os estádios.
E quem garante que serão devidamente indenizadas?
A Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se contente em
acompanhá-la pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da
elite, dos estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar
ingressos em mãos de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos
será vendida antecipadamente na Europa.
A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada. Estudantes e idosos,
fora! E nada de entrar nos estádios com as empadas da vovó ou a
merenda dietética recomendada por seu médico. Até água será
proibido.
Todos serão revistados na entrada.
Só uma empresa de fast food poderá vender seus produtos nos
estádios. E a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que
vigora hoje no Brasil, será quebrada em prol da marca de uma
cerveja made in usa.
Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: “A recepção
de um megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação
de direitos, megaendividamento público e megairregularidades.”
A Fifa quer, simplesmente, suspender, durante a Copa,
a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do Idoso
e do Código de Defesa do Consumidor.
Todas essas propostas ilegais estão contidas no Projeto de lei
2.330/2011, que se encontra no Congresso.
Caso não seja aprovado, o Planalto poderá efetivá-las
via medidas provisórias.
Se você fizer uma camiseta com os dizeres “Copa 2014”, cuidado.
A Fifa já solicitou ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade
Industrial) o registro de mais de mil itens, entre os quais o
numeral “2014”.
(Não) durmam com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais
de exceção durante a Copa. Sanções relacionadas
à venda de produtos, uso de ingressos e publicidade.
No projeto de lei acima citado, o artigo 37 permite criar juizados
especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para causas
vinculadas aos eventos. Uma Justiça paralela!
Na África do Sul, foram criados 56 Tribunais Especiais da Copa. O
furto de uma máquina fotográfica mereceu 15 anos de prisão! E
mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa e o ônus são da
União. Ou seja, o Estado brasileiro passa
a ser o fiador da FIFA em seus negócios particulares.
É hora de as torcidas organizadas e os movimentos sociais porem a
bola no chão e chutar em gol. Pressionar
o Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa
a legislação brasileira no banco de reservas. Caso contrário,
o torcedor brasileiro vai ter que se resignar a torcer pela TV.
Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas”
(Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/[1]>
twitter:@freibetto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário