MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 1 de setembro de 2012

Ocupação irregular e assoreamento ameaça espécies no Rio Araguaia, GO


Cada vez mais homem contribui para o desgaste da região, diz especialista.
Rio também é ameaçado pelas tentativas do uso da água para gerar energia.

Do G1 GO, com informações da TV Anhanguera

A ocupação irregular e o assoreamento ameaça a sobrevivência das espécies naturais no Rio Araguaia, no estado de Goiás. Sobrevoando a região é possível ver o Rio Formoso cobrindo calmo a planície, mas a imagem aérea esconde um fenômeno que representa uma grave ameaça para o rio. Mais de perto, e possível ver, em muitos pontos, o barranco desmoronado.
"Esse paredão, de certo modo de uma areia muito fina, vai consequentemente causar, cada vez mais, o assoreamento desse rio”, explica o policial ambiental Joel Cândido Junqueira.
O policial do meio ambiente descreve o que é comum em todo o percurso do Araguaia. O desenho do rio muda muito porque as margens cedem facilmente, arrastando toneladas de resíduo para o leito.
O chamado assoreamento pode ser natural, mas tem ocorrido cada vez mais por ação do homem, que desmata o cinturão verde perto do manancial. “O que ocorre aqui, ocorre de uma forma geral no Rio Araguaia. Quando a gente retira a vegetação natural, ela perde não só o equilíbrio das raízes que permeam esta parte, mas perde as gramíneas, que são parte muito influente, como a gente vê aqui não existe nenhuma gramínea porque aquela parte que está lá em cima da árvore está muito alta e não faz o "sabureamento" necessário para contenção dessa área. Então, quer dizer, isso aqui é muito comum. Ela vai continuar sendo assoreada por muito tempo”, diz Joel.
Tanto a agricultura quanto a pecuária agravam o problema, mas o produtor rural não e o único que destrói a vegetação perto do rio. O assoreamento das margens do Araguaia sempre existiu porque ora esta cheio, ora vazio e a areia acaba se acumulando nas margens.
A agropecuária pouco tem contribuído para isso na opinião dos especialistas. O que mais preocupa, segundo eles, é a exploração imobiliária irregular nas margens do rio.
Muitas casas foram construídas próximo ao rio ao longo dos tempos e quando foram erguidas boa parte da vegetação acabou retirada. Hoje, novas edificações são proibidas e a maioria das que já existem não tem sequer licença ambiental. O fiscal explica que o Ibama já recorreu à Justiça pedindo a demolição das casas que ameaçam a sobrevivência do rio.
“Já temos algumas decisões que, logicamente, entraram com recurso, mas no sentido de demolir mesmo as construções. Isso é muito preocupante porque acaba descaracterizando toda a área de APP, que nós chamamos de Área de Preservação Permanente e altera logicamente o comportamento daquele trecho do rio, onde essas construções são edificadas, acabando por interferir, inclusive, na relação do rio com algumas espécies de fauna que utilizam do rio para o seu ciclo natural”, explica o coordenador de fiscalização da Área de Proteção Ambiental (APA) Meandos do Araguaia.
Projetos
E o Araguaia também vem sendo ameaçado pelas tentativas do uso da água para produzir energia e servir à navegação. Apesar de ser longo, com mais de dois mil quilômetros, o Araguaia é um rio raso e esse e um dos motivos que dificultam a navegação de grandes embarcações. Por isso, o projeto de transformá-lo em hidrovia não saiu do papel.
Segundo o gestor ambiental, Marcos Cabral, a proposta esbarra nas condições naturais do leito do rio, onde se concentra grande quantidade de areia.
“Se torna onerosa a manutenção do rio no que eles falam de dragar areia. Se você tira a areia do meio do rio, da calha, que acontece, você vai tirar o que está na lateral. A própria água vai devolver os sedimentos para a calha dele e as laterais também. E um trabalho constante, desgastante, tanto financeiros como humanos. Os equipamentos são caros e não são equipamentos que vão conseguir resolver a situação”, explica.
No Araguaia, também não foi para frente outro projeto: o da hidrelétrica Couto de Magalhães. O risco para as espécies seria enorme, sem a garantia de funcionamento adequado da usina. “Em virtude, em primeiro lugar, da comunidade biológica, ou seja, fauna e flora porque vai está interferindo diretamente na criação e implantação dos corredores ecológicos. O que nós poderíamos dizer e que se trata de uma área fragmentada”, diz Marcos Cabral.
Turismo
O turismo também é motivo de preocupação para ambientalistas. Por isso, equipes do Ibama redobram os cuidados com os acampamentos durante a temporada de ferias. Nesta época, os fiscais tentam conseguir a adesão dos visitantes para diminuir o impacto da presença humana nas praias. Um trabalho de conscientização que já surte efeito.
“Hoje, você não vai encontrar nenhum acampamento com madeira da mata ciliar. Antes, as pessoas largavam tudo aqui, acampamento, lixo, tudo aqui. Hoje, as pessoas estão correspondendo àquela norma de convivência que foi construída com os chefes de acampamento e os órgãos ambientais”, afirma o especialista em educação ambiental Antônio Alencar Sampaio.
Com a mudança de comportamento, o que se espera é que homem e natureza convivam em harmonia. “Para gente ter a preservação do Araguaia e ter essa beleza natural preservada por muitos anos, e para os nossos netos, os nossos filhos, todos que frequentam o Araguaia têm que ter consciência dessa preservação”, ressalta o agropecuarista Ronaldo Simiema.
O cacique da tribo Carajá, Raul KawaKati, que chegou muito antes do homem branco no Araguaia, tem uma mensagem para os visitantes na língua dele. Traduzindo para o português, o recado e o seguinte: “Se a gente quiser que o Araguaia seja visto no futuro como era no passado cabe a cada um o dever de preservá-lo”.

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