VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
As vaias de ontem, recebidas por uma presidente Dilma com o semblante carregado,
talvez sirvam para que sua equipe reflita um pouco mais sobre o que
está ocorrendo no país e pare de simplesmente acusar a oposição de criar
uma "situação irreal" da economia brasileira.
DE BRASÍLIA
Vaiada três vezes na abertura da Copa das Confederações, Dilma encerrou uma semana na qual não escondeu sua irritação com as críticas de que o Brasil passa por um momento ruim, com inflação alta, dólar pressionado e crescimento fraco.
Em público e reservadamente, ela e sua equipe acusavam seus opositores de "vendedores do caos" e de "velhos do Restelo", personagem do poeta português Luís de Camões que simboliza o pessimismo.
Copa das Confederações - Brasil x Japã
A presidente Dilma Rousseff observa o presidente da Fifa, Joseph Blatter, na abertura da Copa das Confederações
As vaias de ontem, porém, só reforçam os sinais de insatisfação em alguns setores do país emitidos e captados ao longo de toda a semana, mas que o governo se recusava a admitir ou procurava diminuir sua importância.
O Datafolha mostrou no domingo, por exemplo, queda de oito pontos na popularidade presidencial. Recuo generalizado diante do pessimismo do brasileiro em relação ao futuro da economia.
Durante a semana, manifestações em São Paulo e no Rio tornaram-se cenário de depredação e de confronto entre policiais e manifestantes, revelando um sentimento difuso nas principais cidades do país, propício para novos protestos.
Ontem, antes mesmo das vaias, o clima ruim já reinava fora do estádio. Jovens e militantes de grupos como sem teto, indígenas e defesa dos direitos das mulheres entravam em confronto com a polícia do Distrito Federal.
É fato que o país não está uma tragédia. Se a inflação não sair do controle e continuar recuando, Dilma seguirá favorita na eleição presidencial do ano que vem.
Mas o clima no país já indica que a campanha de 2014 não será um passeio como imaginavam os petistas. E que parte dos eleitores estão, sim, insatisfeitos com os rumos do governo Dilma.
Sem falar que o cenário mundial pode jogar contra, pressionar ainda mais o dólar, gerar inflação e azedar o humor de mais brasileiros.
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