Protesto pacífico no DF é reprimido com bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha. Cadê José Eduardo Cardozo? Ou repressão promovida por petista é poesia de resistência?
Um grupo
de 500 pessoas decidiu organizar um protesto — ATENÇÃO, PACÍFICO!!! — em
frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília, que abriga o jogo de
abertura da Copa das Confederações. A Polícia do Distrito Federal,
governado pelo petista Agnelo Queiroz, desceu o sarrafo: cassetete,
bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha, spray de pimenta e 25
pessoas presas. Regra de três simples: se 500 rendem 25 presos, quantos
teriam sido se houvesse 5 mil, como em São Paulo? Resposta: 250! Ou por
outra: a PM do Distrito Federal prendeu mais gente, proporcionalmente,
do que a de São Paulo no protesto de quinta, quando 230 foram detidos.
Diferença fundamental: o protesto de Brasília era realmente pacífico. Os
manifestantes não portavam lança-chamas, paus, pedras, nada disso. Só
palavra. Foram duramente reprimidos. Um dele foi atropelado por uma
motocicleta da polícia e preso em seguida. José Eduardo Cardozo, cadê
você?
Estão
começando a pipocar país afora manifestações contra o uso de dinheiro
público na Copa do Mundo. O mote é mais ou menos este: “Da Copa eu abro
mão, quero dinheiro para saúde e educação”. Essa relação não é assim tão
direta, mas é um jeito de ver o mundo. Seria esse protesto uma variante
de um mesmo e difuso mal-estar, que incluiria em seu repertório o
protesto contra a elevação das tarifas de ônibus? Tenho dificuldades de
lidar com esferas de sensações a conduzir a história. Parece-me que são
protestos com origens distintas e, fica evidente, com formas igualmente
distintas de expressão. A Avenida Paulista abrigou manifestação com
conteúdo idêntico: pacífica e serena. Ninguém portava armas ou buscava
confronto com a polícia.
Muito bem!
Movimentos organizados, que usam com destreza as redes sociais, se
encarregaram de transformar os episódios de São Paulo num caso de lesa
democracia, como se não coubesse à polícia reprimir quem vai para as
ruas para o tudo ou nada. A repercussão cresceu exponencialmente quando a
militância petista entrou na parada, como se o protesto, originalmente,
não tivesse como alvo, principalmente, a política de transportes do
prefeito Fernando Haddad, que é do partido.
Os
episódios do Distrito Federal — e também há pessoas feridas com balas de
borracha —certamente terão repercussão bem menor. O petismo se
encarregará de tentar abafá-los nas redes sociais, embora, reitero, as
ações sejam incomparáveis. Até agora, os que protestam contra o uso de
recursos públicos na Copa do Mundo não apelaram à linguagem da
violência. E espero que não o façam.
PS – Vamos ver que tratamento as TVs darão à questão.Dilma leva três sonoras vaias no Mané Garrincha, na abertura da Copa das Confederações
Joseph
Blatter, presidente da Fifa, discursou na abertura da Copa das
Confederações, no estádio Mané Garricha, em Brasília. O jogo de estreia é
Brasil contra o Japão. Estava ao lado de Dilma Rousseff. Tão logo citou
o nome da presidente, explodiu uma sonora vaia no estádio. As
autoridades brasileiras, definitivamente, se arriscam em situações
assim. Lula, que é Lula — transformado no demiurgo nacional —, foi
vaiado em pleno Maracanã, na abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007.
Dilma, diga-se, já tinha sido vaiada quando teve o nome anunciado pelo
sistema de som e voltou a ouvir a manifestação de descontentamento
quando ela própria falou.
Os
petistas podem tentar citar Nelson Rodrigues — “Brasileiro vaia até
minuto de silêncio” — ou podem achar que está em curso algum desconforto
com o governo. E olhem que o jogo se dá em Brasília, não é?, que tem a
renda per capita mais alta do país.
A vaia
quer dizer alguma coisa e aponta para 2014? Não dá para saber. As
pesquisas indicam que a popularidade da presidente é alta, mas está em
queda. Lula, como lembrei, foi vaiado em 2007 e, como se sabe, elegeu
sua sucessora. Vamos ver.
Ah, sim: Neymar abriu o placar aos três minutos do primeiro tempo.
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