O jornalista Luis Nassif defende a demissão do
ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça. Segundo ele, Cardozo não tem “um
pingo de responsabilidade pública”. Vocação pública é algo raro, mesmo entre
homens públicos. “Trata-se do sentimento de servir ao público, de modificar a
realidade, de assumir para si a responsabilidade pela solução de problemas que
afetem o público, a comunidade, especialmente os mais vulneráveis. O grande
homem público busca a solução de problemas, mesmo que não estejam sob sua
responsabilidade. Por todos esses prismas, falta ao Ministro da Justiça José
Eduardo Cardozo as condições mínimas de vocação pública. Povo, para ele, parece
apenas uma entidade vaga, um mote para discursos verborrágicos, a desculpa para
o momento de brilho retórico. Não um conjunto de cidadãos com interesses
difusos, com vulnerabilidades que só podem ser atendidas pelo poder público. Nos
últimos anos, impulsionado pela Internet, o fenômeno das pirâmides tornou-se uma
praga nacional. Montaram-se quadrilhas de estelionatários, distribuídas por todo
o país, valendo-se das facilidades das redes sociais. Cria-se uma fumaça
qualquer, monta-se o marketing virtual, juntam-se os estelionatários e armam o
golpe até que a corrente estoure. Aí saltam para uma nova corrente, usando as
mesmas práticas.
No ano passado, ganhou corpo a corrente chamada
da TelexFree. Trata-se de um estelionato claro, nítido, no qual o produto
vendido são anúncios em sites de anúncios. Ou seja, o sujeito paga uma luva para
entrar no grupo. Seu trabalho é publicar anúncios online. E vender o plano (ou
seja, o direito de publicar anúncios online) para outros incautos. A única fonte
de faturamento é a venda do plano para terceiros. Os primeiros que entram são
bancados pelos que entram depois – um caso clássico de pirâmide. No final do
ano, a TelexFree gabava-se de ter captado 700 mil vendedores. No primeiro
trimestre deste ano, chegou a um milhão. O caso bateu no Ministério da Justiça.
Para não ter que perder tempo com esses milhares de anônimos, o Ministro
encaminhou para a Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE) do Ministério da
Fazenda atestar se era pirâmide ou não. Depois de três meses, pressionado pelas
redes, a SAE concluiu que se tinha cheiro de pirâmide, gosto de pirâmide, miava
feito pirâmide…. era pirâmide. O parecer da SAE caracterizou claramente um
estelionato gigante, porque afetando – em apenas um dos golpes – quase um milhão
de pessoas. O caso voltou para o Ministério da Justiça. E nada foi feito. O
espaço para esse estelionato reside na falta de definições mais precisas sobre a
quem compete combate-lo. A Polícia Federal diz que cabe às polícias civis; o
Ministério Público Federal diz que é crime estadual; o estadual diz que, por
abranger todo o país e significar a remessa de recursos para o exterior, é crime
federa. Aos Procons, resta registrar os danos e nada poder fazer. Caberia ao
Ministério da Justiça juntar todos os órgãos e definir a estratégia de combate a
esse golpe. Mas até agora não rendeu Jornal Nacional nem manchete nos jornais do
Rio e São Paulo. Com a inação de José Eduardo, outros grupos de pirâmides
surgiram, a própria TelexFree retomou suas vendas. E, a cada dia que passa,
milhares de novas vítimas se juntarão às atuais. Definitivamente, falta um
Ministro na Justiça com um pingo de responsabilidade pública.
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