Manoel disse que índios colocaram abelhas no corpo dele para picá-lo.
Índios reivindicam demarcação da aldeia e retirada de pousadas da região.
Manoel afirma que não quer mais voltar à aldeia
dos caiapós (Foto: TV Norte Araguaia)
O servidor Manoel Aparecido de Mello Nunes, de 42 anos, da Fundação Nacional do Índio (Funai), relatou que viveu os quatro piores dias da vida dele nas mãos dos índios da etnia Caiapó, na aldeia Kapot-nhinore, região de Colíder, a 648 km de Cuiabá. Manoel foi mantido refém por índios que reivindicam ações do governo para melhorias na região. “Os índios são aterrorizadores”, contou o servidor, que ainda vai prestar depoimento no inquérito aberto pela Polícia Federal.dos caiapós (Foto: TV Norte Araguaia)
Manoel Nunes afirmou que sofreu tortura e que passou fome durante o cárcere na aldeia Kapot-nhinore. Além disso, chegou a ficar despido e sofrendo picadas de insetos. “Fiquei todos esses dias sem comer, só bebia água da chuva. Durante o dia eles me deixavam amarrado pelas mãos ao lado do rádio, e à noite eu dormia em uma oca”, descreveu ao G1. Ele foi feito refém no último dia 13 de fevereiro quando foi acionado para vistoriar um caminhão que, na visão dos índios, foi explodido por ação criminosa. Dos três funcionários da Funai de Colíder que chegaram à aldeia de avião, após mais de duas horas de voo, apenas Manoel Nunes ficou refém por ser o único não-índio.
Os índios chegaram a deixar o servidor amarrado, só de cueca, a uma placa na Funai e o obrigaram a gravar um depoimento em vídeo narrando as reivindicações. “Eu estou aqui, segundo eles, pela má administração da Funai”, contou o servidor.
Reivindicações
Os indígenas disseram que o sequestro foi necessário para reivindicar a retirada de pousadas construídas ao longo do Rio Xingu, a demarcação oficial da aldeia e a abertura de uma investigação para saber se a caminhonete da aldeia foi explodida por retaliação de fazendeiros da região. Segundo os índios, a prática da pesca predatória e também esportiva tornou-se frequente nas terras indígenas.
A aldeia Kapot-nhinore está localizada na divisa de Mato Grosso com o Pará. Ela fica próxima ao local da queda do Boeing da Gol, que colidiu em 2006 com o jato Legacy matando 154 pessoas. O coordenador local da Funai, Sebastião Martins, afirmou que as demandas dos índios já foram enviadas para a sede do órgão em Brasília. Em 2011, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito civil para fiscalizar o processo de demarcação e a regularização fundiária daquela terra indígena. Atualmente cerca de 130 índios vivem na aldeia.
Ferroadas de abelhas
O servidor Manoel Nunes disse que um dos piores dias foi quando os índios colocaram abelhas no seu corpo. “Os índios colocaram abelhas no meu braço, que ficou todo inchado. Eles fizeram isso uma vez só”, lembrou o servidor. Além do fato envolvendo as abelhas, ele destacou que não chegou a ser agredido fisicamente. Porém, disse que, o tempo todo, foi ameaçado pelos índios com instrumentos tradicionais como arco e flecha e borduna (arma indígena). Mas o problema maior foi a falta de comida durante os quatro dias. “Eles comiam macaco na minha frente, mas nem macaco eles me ofereceram. Na minha situação, eu comeria”, disse.
Resgate e volta ao trabalho
Uma equipe de policiais da Polícia Federal, juntamente com representantes da Funai, teve que ser enviada no último dia 16 de fevereiro até a aldeia para resgatar o servidor. No local, eles negociaram com os índios a liberação sem confronto. A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o caso. Manoel Nunes afirmou que já passou por exame de corpo de delito e que já foi comunicado que será convocado para prestar depoimento formalmente.
“A aldeia é um lugar que nunca mais eu quero ir”, afirmou Manoel Nunes, que há um ano trabalha como servidor concursado. Ele adiantou ainda que não quer mais trabalhar na região e que vai pedir remoção para a sede da Funai na capital de Mato Grosso. Caso o pedido não seja aceito, disse Manoel Nunes, a saída vai ser pedir exoneração e voltar a trabalhar como segurança. O servidor retornou às atividades no órgão na última sexta-feira, antes do carnaval, e contou que, certa vez, viu alguns dos índios que o “aterrorizaram” na aldeia. “Agora eu tenho medo deles, porque eu os considero violentos”, concluiu.
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