MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sul-africanos brancos esperam que legado de Mandela perdure

Agência France Presse

  • Agência Reuters
    Minoria teme que espírito de reconciliação possa desaparecer após morte de Mandela
Enquanto a África do Sul se prepara para um futuro sem Nelson Mandela, alguns membros da outrora dominante minoria branca temem que o atual espírito de reconciliação possa desaparecer após sua morte.
Quando o Apartheid terminou oficialmente há quase duas décadas, os brancos se preparavam para o pior. Condicionados pelos anos em que se protegeram da chamada "swart gevaar" (ameaça negra), eles temiam ser jogados ao mar.
Essa profecia nunca se materializou.
Quando se tornou o primeiro presidente negro sul-africano em 1994, Nelson Mandela pôs fim a um sombrio capítulo de sua vida na prisão e teve contato com seus antigos opressores - a ponto de beber chá com a viúva do arquiteto do Apartheid, Hendrik Verwoerd.
Com o pai da África do Sul democrática entre a vida e a morte no hospital, já circulam na internet boatos sobre como será um país sem Mandela para a população branca.
"A morte de Mandela pode ser um momento crucial que levará para o desastre", diz um texto postado na página do Facebook de um grupo autointitulado "Salvem o povo branco na África do Sul".
A AfriForum, uma organização sem fins lucrativos que representa os interesses dos africâners, recebeu telefonemas de pessoas que perguntam: "O que vai acontecer? Devemos ficar asustados?", contou seu diretor, Ernst Roets.
"Vemos pessoas, especialmente nas mídias sociais, que dizem coisas como 'se Mandela morrer, vão matar todos os brancos'", acrescentou, considerando esses temores pouco prováveis.
"Não achamos que haja qualquer razão para temer", disse Roets.
Para Esmi, uma africâner de 47 anos que está na frente do hospital de Pretória onde Mandela é atendido, o temor de que os negros se voltarão contra os brancos depois da morte de Mandela é a menor de suas preocupações.
"Isso não passou pela minha mente", afirmou.
"Todos estão muito concentrados em Mandela. Tive a mesma sensação durante o futebol em 2010 (Copa do Mundo), quando todos estávamos unidos. O clima agora é mais sombrio, mas todos estamos com Mandela, porque foi bom para o nosso país", explicou.
O dominante partido Congresso Nacional Africano conseguiu acalmar os temores, destacando que Mandela abandonou seu cargo há uma década, e o país não caiu em desordem.
"Não há nada que indique que os brancos serão jogados ao mar", disse o porta-voz do CNA, Jackson Mthembu, ao jornal "New Age".
Debilitado por sua idade e por 27 anos de prisão, Mandela não aparece em público há três anos, o que aumenta as esperanças de que sua ausência definitiva não deflagrará tensões raciais.
"Acho que não há nada a temer", disse o chefe de Desenvolvimento na South African Institute of Race Relations (SAIRR), Sherwin van Blerk. "Estamos em uma sociedade aberta. Somos uma grande democracia". Mas "um grande temor são as desigualdades", destacou.
A renda média de um lar branco é seis vezes a de uma família negra, segundo o último censo. Ambas as comunidades se misturam, mas de maneira limitada.
A criminalidade cria desconfiança mútua. Em sua grande maioria, os 43 assassinatos diários acontecem em localidades de maioria negra, e os brancos ficam chocados com os atos de violência em sua vizinhança e os homicídios ocasionais de fazendeiros brancos.
O analista político independente Olmo von Meijenfeldt disse que os temores podem ser alimentados "pela falta de uma voz conciliadora na esfera mais alta do sistema".
Embora o presidente Jacob Zuma tenha parado de cantar a popular canção "dê-me minha metralhadora" (em tradução livre), ele continua provocando polêmica, por exemplo, ao sugerir em dezembro passado que ter cachorros é parte da cultura branca.
Com Mandela em estado crítico, os apelos aumentam para que se conserve seu legado de paz e de tolerância para as futuras gerações.
"Não temo pela minha vida", diz Natalie, que vive no campo. "Mas temo por seu legado. A reconciliação não preocupa muito os que estão no poder", completou.

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