MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 27 de junho de 2013

'Outono Brasileiro'

Ranulfo Bocayuva  A TARDE

  • Carapia l Editoria de Arte
    'Outono Brasileiro', a grave falta de comunicação entre sociedade e poder
Imprevisibilidade, perplexidade e falta de representatividade caracterizam a bem-vinda maré de manifestações decorrentes de insatisfações populares latentes e, surpreendentemente, da falta de comunicação entre atores políticos e povo. Faltou claramente percepção, tanto por parte dos governantes, dos partidos, como da imprensa, das universidades e dos movimentos sociais de que existia um grito sufocado pronto para explodir.
Sem intermediação e representatividade, o diálogo legítimo não podia existir. Tampouco se previu a eclosão da "Primavera Árabe" na Tunísia, Egito, Líbia e, mais recentemente na Turquia, apesar das marcantes diferenças políticas internas de cada país e de graus específicos de reduzidas liberdades. É relativamente fácil destacar pontos comuns inerentes às manifestações populares no mundo de hoje: o acesso à informação online mobiliza e amplifica a defesa pela liberdade.
Nenhuma sociedade suporta mais corrupção, privatização de espaços públicos, serviços de transporte, educação e saúde de baixa qualidade. Será muito cobrar ciclovias e praças com jardins e segurança?
Entende-se que democracia não é só consumo, mas sobretudo acesso à qualidade de vida e respeito à ética pública e privada. Só belos estádios e futebol alegre não bastam.
Independentemente de quais e como serão as próximas reações dos poderes instituídos democraticamente em relação à imprescindível reforma política e outras reivindicações, toda a sociedade deve repudiar energicamente não somente as inaceitáveis depredações ao patrimônio público e privado, mas também as intoleráveis agressões físicas contra os profissionais de imprensa, tanto por parte dos policiais, como dos manifestantes. É a sociedade que perde quando não é informada.
Se a imprensa não puder cobrir as manifestações, vai vigorar então a censura popular, comparável à censura policial, típica das ditaduras militares?
Como se estabelece a veracidade das informações?
Como disse a jornalista Suzana Singer, "jornalismo colaborativo é um excelente instrumento, mas não substitui o tradicional. Não dá para fazer jornalismo com base apenas no voluntarismo" (Observatório da Imprensa).
Graças à propagação acelerada, as redes sociais (já se falou muito sobre mentiras na internet) catalizaram o "grito" e o amplificaram, inclusive contra a imprensa em geral.
Nos protestos do Campo Grande ao Dique do Tororó, na quinta última, deparei-me, por exemplo, com grupo de jovens coletando assinaturas para projeto de lei de iniciativa popular da comunicação social eletrônica.
É evidente que a discussão deverá ser efetivamente travada pela sociedade para regular questões cruciais, como direito autoral, participação de rádios comunitárias, concentração de monopólios e oligopólios e regras de concessão para emissoras de rádio e televisão nos novos tempos de "revolução digital".
No "grito", estão embutidas reivindicações subjacentes que podem ser resumidas: qual é o modelo de sociedade democrática desejada no âmbito das relações entre público e privado e como funcionarão as instituições políticas e sua comunicação com a sociedade? Os exemplos autoritários de controle da informação, na Venezuela, Argentina e Equador, inspiram atenção. Nos Estados Unidos, também são preocupantes os modelos de vigilância online.
Mas não seria complementariedade indispensável a sociedade dispor de coberturas, análises e interpretações de jornalistas e especialistas, assim como das opiniões e protestos das redes sociais para a construção de democracia plural, aberta e participativa?
Como nos relembram Didier Heiderich e Natalie Maroun, especialistas do Observatoire International des Crises, a imprensa tem papel político e social fundamental na construção e renovação da democracia: alertar a opinião pública para questões de seu próprio interesse.
Ou será que já nos esquecemos das Diretas Já, do impeachment de Collor, da "revolta do buzu" e do mensalão?
Seria injustificável confundir o papel da imprensa no "outono brasileiro" mirando os "falsos inimigos".

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