MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Espanha dá visto a quem comprar casa


Governo decide dar visto de residência a estrangeiro que gastar mínimo de 500 mil em imóvel no país; preços equivalem aos de dez anos atrás


JAMIL CHADE , ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA - O Estado de S.Paulo
Vende-se apartamento com vista para o mar em zona nobre de Barcelona. Três dormitórios e amplo espaço. Preço com desconto de 30% em comparação ao início da crise. Entrega imediata das chaves, assim como um presente: um visto de residência na Espanha.
Esse bem que poderia ser um anúncio de venda de imóveis hoje na Espanha. Diante do colapso do mercado imobiliário no país e da pior crise em 30 anos, o governo espanhol decidiu reverter sua política de imigração e oferecer a quem comprar casas na Espanha um visto de residência, com a condição de que gaste 500 mil no país.
Não se trata de um choque de generosidade. A medida tem como meta ajudar bancos e construtoras a vender milhares de casas e apartamentos que hoje na Espanha estão encalhados e vazios por causa de uma população que enfrenta 26% de desemprego e queda de renda.
A cada 15 minutos, uma família é desalojada de suas casas por não ter como pagar as hipotecas. O problema agora é que bancos se deram conta de que estão acumulando apartamentos, casas e terrenos e não têm a quem vender. Na prática, estão acumulando "ativos tóxicos".
Para a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, a medida é uma forma de atrair investimentos e coloca a Espanha em pé de igualdade com outros países, como Portugal e Irlanda, que nos últimos anos passaram a oferecer esses vistos.
Quem também comemorava a medida era a prefeita de Marbella, Ángeles Muñoz. "É uma lei que aposta na criação de riqueza", insistiu. Sua cidade tem sido uma das mais afetadas pela crise e pela explosão da bolha imobiliária. Entre 2000 e 2007, construiu-se mais casas na Espanha que na França, Alemanha e Itália juntas.
Na agência imobiliária Homesearch Barcelona, vendedores insistem que este é o momento de comprar. "Esta é a época perfeita. Os preços estão 35% abaixo do que eram." Os dados oficiais apontam que os preços médios se equiparam aos de uma década atrás, em 2003. Na imobiliária Monika Rusch, também em Barcelona, um dos destaques da empresa é atender clientes em sete línguas diferentes.
Mas nem todos estão de acordo com a medida. Para associações de imigrantes, o governo está sendo "hipócrita". Afinal, milhares de famílias de equatorianos, bolivianos, brasileiros e marroquinos já vivem de forma irregular na Espanha. Mas, como não têm 500 mil para gastar numa casa, ficaram de fora do pacote.
Ele lembra que governos anteriores chegaram a propor pacotes de expulsão de imigrantes. Pagava-se a passagem e era dado um certo valor em dinheiro à família que se comprometesse a não voltar para a Espanha em cinco anos.
Inicialmente, a ideia do governo era dar visto de residência a todos que tivessem 150 mil para comprar uma casa. A medida que entra em vigor no dia 1.º de janeiro de 2014, porém, foi revista e terá validade para compras acima de 500 mil.
"Não estamos falando de resolver a questão dos imigrantes. A meta é resolver o problema dos bancos", protestou Jaime Carmelo, um dos líderes da Associação de Imigrantes Equatorianos em Barcelona.
Invasão. Os dados oficiais mostram que, na realidade, a chegada de estrangeiros no mercado imobiliário espanhol está batendo todos os recordes, mesmo antes do anúncio da lei de vistos. O primeiro trimestre de 2013 registrou o maior número de vendas de imóveis a estrangeiros nos últimos 30 anos.
Segundo o Ministério do Fomento, 15% das casas vendidas nesse período foram parar nas mãos de estrangeiros, mais de 8,4 mil imóveis. Só em Barcelona foram 652 casas. Os principais compradores são britânicos, russos, noruegueses e chineses. O principal motivo é o preço. Sem ter a quem vender na Espanha, imobiliárias reduziram os preços em até um terço. "O porcentual de compradores estrangeiros está aumentando a cada mês", disse Manuel Gandarias, diretor do escritório Pisos.com.
Em várias regiões, uma cada quatro casas vendidas em 2013 já foi para estrangeiros. Em Canárias ou na Comunidade Valenciana, bancos como o BBVA admitem que 50% dos imóveis vendidos no ano foram para estrangeiros. No caso do Banco Popular, uma a cada três casas vendidas tem como destino um comprador estrangeiro.
Em 2012, o Banco da Espanha informou que 5,5 bilhões foram gastos por estrangeiros na compra de imóveis no país, acima do valor de 2007, quando muitos acreditavam que a economia espanhola estava em seu auge. Enquanto as compras por estrangeiros continuam em alta, as vendas a espanhóis continuam em queda. No primeiro trimestre de 2012, 54 mil operações foram registradas no país, 22% menos que em 2012.

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