Há 20 anos, pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde desenvolvem um medicamento à base de uma planta muito comum no semiárido: a milona.
“Essa planta tem um mecanismo de ação muito interessante do ponto de vista imunológico para a terapêutica da asma e tem um mecanismo de ação diferenciado dos medicamentos já existentes no mercado", diz Maragareth Diniz, diretora do Centro de Ciências da Saúde da UFPB.
A curiosidade científica surgiu do uso popular. Os moradores do interior da Paraíba, há muitas e muitas gerações, utilizam a raiz da planta no tratamento da asma e de outras doenças respiratórias. Mas os pesquisadores descobriram que as folhas contêm os princípios ativos semelhantes. Melhor para a natureza, porque ao utilizar a raiz, os moradores acabavam matando a planta, e isso não vai ser mais necessário. Além disso, as folhas possuem outra vantagem.
São menos tóxicas do que a raiz, o que é um sinal animador para o tratamento de pacientes. Falta pouco para a milona virar remédio. Vários estudos foram realizados para comprovar a eficácia terapêutica. O extrato da planta já foi testado em animais, como determina a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O resultado foi surpreendente: os pesquisadores descobriram que a planta, além de tratar os pacientes com asma, também é eficaz no combate às úlceras gástricas.
Outra surpresa durante os testes: a milona apresentou atividade antidepressiva nos camundongos.
“Seria interessante, porque tem casos que tem pessoas que têm asma que também estão sofrendo de depressão, então seria até uma forma de utilizar o único tratamento com as duas finalidades", avalia o Reinaldo Nóbrega de Almeida, pesquisador do Centro de Ciências da Saúde.
Mas nada se compara ao poder da planta para o tratamento da asma. Os pesquisadores comprovaram que a milona tem duas poderosas ações: é anti-inflamatória e antialérgica - um alívio e tanto para os pacientes asmáticos, já que a asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas e, na maioria das vezes, é desencadeada por processos alérgicos.
"A planta diminui a produção de muco. Em um animal tratado com a planta a gente pôde ver claramente a diminuição na produção de muco", afirma Márcia Regina Piuvezam, pesquisadora do Centro de Ciências da Saúde.
Outra descoberta: o extrato de milona produziu resultados melhores do que o uso de corticóides. "Se a gente comparar, temos aqui uma melhor resposta com a planta do que com o próprio corticoide", acrescenta a pesquisadora. Isso significa que a planta foi mais eficaz do que os produtos químicos disponíveis no mercado.
Depois dos animais, os pesquisadores vão testar a milona nos pacientes com asma. Eles pretendem fabricar o remédio em forma de xarope para as crianças e em cápsulas para os adultos.
A fabricação de um medicamento a partir de uma planta medicinal pode levar vários anos e passa por uma série de etapas. Enquanto desenvolvem um produto que será vendido nas farmácias, os pesquisadores testaram um jeito mais simples de usar a milona para combater a asma: em forma de sachê, pronto para virar chá. Tomando o chá, duas vezes ao dia, os pacientes melhoraram e as crises de asma diminuíram.
Conhecedor das plantas medicinais e responsável pelo cultivo da milona nos canteiros que abastecem o centro de pesquisas, o jardineiro José Francisco dos Santos se impressionou com a milona e conhece um jeito mais simples de combater a asma.
"O correto é ferver a água, colocar em uma xícara cheinha, botar quatro folhinhas dentro e abafar. Quando tiver morno, é só entornar. É um santo remédio", conta.
Disso, nem os pesquisadores duvidam.
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