MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sorvetes e picolés fazem sucesso na capital mais fria do Brasil


Curitibano toma sorvete até se estiver nevando, diz dona de sorveteria.
G1 visitou sorveterias e mostra novidades e tradição em sabores.

Ariane Ducati Do G1 PR
Picolés e sorvetes (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Picolés e sorvetes atraem crianças e adultos. Em Curitiba, há sorveterias que funcionam há mais de 50 anos  (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)


Sorvetes e picolés são muito procurados para refrescar o calor persistente nos meses de verão. Mas em Curitiba, a capital mais fria do Brasil, onde as temperaturas mais baixas estão presentes na maior parte do ano, contraditoriamente, esses produtos fazem sucesso durante o ano todo. “Curitibano é assim, pode estar nevando, estar embaixo das cobertas, mas está chupando sorvete”, comenta a comerciante Ruth Ferreira dos Reis, que saiu de Itaiópolis (SC) para assumir o comando de uma sorveteria na capital paranaense.
Mariema é frenquentadora assídua da Paleteria (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Mariema é frenquentadora assídua da Paleteria
(Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Sabendo da clientela fiel, as sorveterias da cidade investem em novidades e na tradição de sabores. A última inovação do mercado, em Curitiba e no país, são os picolés artesanais feitos à moda mexicana. Chamados de paleta, os picolés mexicanos têm tamanho maior que os convencionais, muitos pedaços de fruta e podem ser recheados. “É picolé com gosto de fruta mesmo, diferente dos outros. Olha o tamanho! A qualidade é ótima”, diz a aposentada Mariema Kalluf.

A curitibana Elysa Barranco Mendoza, casada com um mexicano, é a idealizadora da Paleteria. Ela contou ao G1 que a ideia do empreendimento surgiu em um comentário ‘a toa’ quando morava em Guadalajara. “Digo que os picolés lá no México são como os brigadeiros de padaria aqui, têm em toda a esquina. Um dia passei por uma paleteria e falei pro meu marido: Isso ia dar muito certo no Brasil. E ele me apoiou”.
Depois disso, levou um ano para o empreendimento ser inaugurado, em abril de 2011. “A abertura foi bem em um mês que já estava frio. As pessoas pensavam que eu era louca de abrir uma loja de picolés mexicanos em Curitiba e chegando o inverno. Mas depois que provaram nosso produto, a aceitação foi outra”, conta Mendoza.
Paleteria (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Ambiente da Paleteria é colorido e lembram a
cultura mexicana (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
A receita importada agradou a todas as idades. A proprietária estima que são vendidas três mil paletas nos fins de semana mais quentes. Ciente de que a aposta no mercado de picolés com um produto original certamente renderia bons frutos, Elysa se antecipou. “Registramos as receitas, a logomarca, a ideia e não encontramos ninguém com proposta parecida”.

No ambiente colorido e agradável, a decoração, as músicas e até o atendente são mexicanos. Ali, o cliente pode escolher entre 17 sabores de picolés de frutas (feitos de fruta natural), entre 19 sabores de picolés de creme, quatro opções de picolés recheados (os mais procurados) e três sabores com bebidas alcoólicas. As paletas de fruta custam R$ 5 e as demais R$ 6.
Segundo a proprietária, o carro chefe é o de morango recheado com leite condensado. Os de tamarindo, pistache e damasco são preferência daqueles que gostam de experimentar. Já as de amarula, caipirinha e tequila tem boa saída pela curiosidade. “Só fiquei triste porque hoje não tinha a de tequila”, riu e comentou Celso, que provou duas paletas em uma visita depois do almoço.
Ele e duas colegas de trabalho aproveitam o intervalo para provar a delícia mexicana. “Não dá pra ficar em uma só”, conta a psicóloga Karina que aprovou a de baunilha com brigadeiro e a de morango com leite condensado.
Para a empreendedora, a variedade de sabores e recheios atrai a clientela a voltar, sempre trazendo mais alguém para conhecer o produto. “Ficamos muito conhecidos pelo boca a boca. Temos diferencial”, relata Mendoza.
As amigas Melissa e Silvana que trouxeram os filhos para a paleteria são prova. “Meu irmão me indicou e agora sempre trago alguém comigo”, disse Melissa.

A previsão é de que a primeira filial da Paleteria seja aberta ainda este mês em Morretes, no litoral do Paraná, e a venda de franquias já é estudada.
Melissa, Maria Luiza, Silvania, Vinícius e Laura saboreiam os picolés mexicanos (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Melissa, Maria Luiza, Silvania, Vinícius e Laura saboreiam os picolés mexicanos (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Picolé de carrinhoComum nos bairros e cidades pequenas, os carrinhos de picolés também atraem clientes pelas ruas onde passam. João Ribeiro Paulo, de 53 anos, vende sorvetes e picolés no carrinho há 15 anos. “Mas quando tá frio, aí faço outro ‘bico’. De pedreiro, de carregador de fruta do Ceasa...”, entrega o homem que assumiu a profissão do pai.
Seu Roberto  (Foto: Ariane Ducati/ G1 PR)Seu Roberto vende picolé todos os dias no
Zoológico de Curitiba (Foto: Ariane Ducati/ G1 PR)
Sem folga, ele trabalha todos os dias. Enche o carrinho com cerca de 360 picolés e sorvetes e segue para o Zoológico de Curitiba, onde passa o dia todo. “Tem que trabalhar no verão pra garantir o inverno. No verão não tem folga, sábado e domingo, é direto”, conta o vendedor.
Seu João vende o picolé de frutas, que direto na loja custa R$ 0,50, por R$ 1,50. Mesmo cobrando mais de 100% do valor de compra, ele divide o lucro pela metade (R$ 0,75 para cada um). O dinheiro das vendas é repartido todos os dias. “Ao invés do patrão pagar a gente, a gente que paga o patrão”, diz o vendedor.
Mas não se engane, a venda de picolés dia a dia é árdua. “Nos meses de verão, de boas vendas, consigo tirar um salário mínimo”, conta João.
Dona Ruth (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Ruth deixou a profissão de cabeleireira para
assumir o comando de uma sorveteria. Ela
apresenta o Roll Cake, especialidade da casa
(Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
A sorveteria que abastece o carrinho de João, além da fábrica própria, também atende clientes na sede que fica em uma esquina do bairro Sítio Cercado. Negócio de família. Há um ano, Ruth Ferreira dos Reis e os irmãos, cansados de trabalhar como cabeleireiros, saíram do interior de Santa Catarina e assumiram o comércio e, Curitiba.

“Estamos aprendendo. Mas é muito bom, o cliente vem, experimenta os sabores, leva se quiser. Não tem reclamação”, diz Ruth.

A Sorvebel vende picolés de frutas, de creme, cobertos de chocolate (chamados Skimo), copinhos de Sundae e sorvetes de mais de 30 sabores. Na loja, o cliente pode se servir em um buffet ou pedir os sorvetes preparados em taças. O valor varia de R$ 1 a casquinha com uma bola até R$ 6 o elaborado Roll Cake, especialidade da casa.

Ruth conta que a produção é conforme a saída dos sorvetes e picolés, mas nos meses de verão é quase sempre de segunda a sexta-feira. “Nesses dias chegamos a fazer 1,2 mil picolés”, estima. Além do Seu João, outros nove carrinheiros trabalham em pontos fixos ou pelas ruas vendendo os sorvetes da Sorvebel.
Dariane, Ysadora e Samuel experimentam Rool Cake (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Dariane, Ysadora e Samuel experimentam Rool Cake (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Do palito à casquinhaNa contramão das novidades, duas sorveterias de Curitiba apostam em receitas tradicionais e ‘sabores da infância’. Há 56 anos instalada no mesmo local, na Praça do Redentor, em frente a uma pista de skate e ao lado do Cemitério Municipal, o Sorvetes Gaúcho produz sorvetes sem conservantes ou gordura hidrogenada. São feitos artesanalmente, em conservadas máquinas italianas de décadas passadas. “Nosso sorvete é barato. Falam que é bom e a gente não tem frescura”, conta um dos sócios Airton Luiz Sersur dos Santos.
Sorvetes Gaúcho (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Sorvetes Gaúcho fica no bairro São Francisco
(Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Na também conhecida como sorveteira do Gaúcho, uma bola do sorvete custa R$ 2,25. “Meu pai ensinou que a bola de sorvete deve ser o preço de um litro de leite. Mas hoje o leite está tão barato...”, entrega Airton.
A sorveteria, hoje tocada por três irmãos, foi inaugurada como bar-mercearia-sorveteria pelo o pai, natural de Itaqui (RS). Por isso o nome do comércio. “Todos chamavam ele de gaúcho e ficou”, disse o filho.
O local que tem mesas e cadeiras de alumínio, também mantém o antigo letreiro de sabores, a caixa registradora e até o porta-casquinhas. Coisa rara de se encontrar, que agrada a adultos e crianças.
Elizabeth prova sorvete de morango no Sorvetes Gaúcho (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Elizabeth prova o sorvete de morango no Sorvetes
Gaúcho (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Para João Gonçalves, de 60 anos, a ida a sorveteria é costume de longa data. “Comecei a vir aqui com meu pai. Eu era bem novinho, mas mantive a tradição e trago meu filho. Pra ele saber qual é o bom sorvete”, relata.
Um grupo de adolescentes que marcou encontro na sorveteria diz que a escolha também é pela “tranquilidade”. “O lugar é conhecido, tradicional”, conta o estudante do Ensino Médio Leandro Vilas Boas. Já para Elizabeth, de quatro anos, a resposta é mais simples. “Eu gosto daqui sabe por quê? Por causa do sorvete”, conta com sorriso no rosto e uma casquinha de sorvete de morango na mão.
No bairro Água Verde também há uma sorveteria que preza pelo sabor do passado. Desde 1951, A Formiga recebe os clientes no balcão à moda antiga, “procuramos manter as características de antigamente”, relata Evani Frischmann, que comprou o estabelecimento em 1988 em não fez alterações no local e receitas.
Evani comanda A Formiga desde 1988 (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Evani comanda A Formiga desde 1988
(Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
Por isso, a maioria dos sabores vendidos é o mesmo de décadas passadas. “Os mais procurados são os sabores da infância. As pessoas vêm e buscam os sabores: cereja, abacaxi, passas ao rum, flocos, ameixa...”, conta a proprietária. Além disso, o sorvete é leve, também não tem gordura hidrogenada e nem conservantes, "é puro leite, fruta e pouco açúcar". A bola de sorvete é vendida a R$ 3.
Maria de Lurdes e Tâmara Fernandes, mãe e filha, são a prova. Aproveitaram a tarde de calor para se refrescar e revisitar sabores. Frequentadora da sorveteria há mais de 30 anos, Maria de Lurdes, de 53 anos, sempre trouxe a filha.
Tâmara lembra da infância tomando sorvete na escadinha d'A Formiga (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)Tâmara lembra da infância tomando sorvete na
escadinha d'a Formiga (Foto: Ariane Ducati/G1 PR)
“Tenho lembrança da infância. Lembro que ficava sentada na escadinha de pedra ali da frente tomando o sorvete. A gente brincava e corria. Agora é mais comum ir ao shopping, aqui é diferente”, conta a Tâmara, de 27 anos. Aliás, a escolha da escadinha da sorveteria não é incomum, este é o local preferido dos clientes para desfrutar da sobremesa. Não há fim de semana de sol em Curitiba, que A Formiga não atraia um ‘formigueiro de gente’.
Para Rosa Batista Teixeira, de 64 anos, que há 35 trabalha na produção dos produtos desta sorveteria não há segredos e excesso de açúcar. “Tem que ter amor, fazer o gosta... a receita é a mesma e sempre que termino, provo um pouquinho”, relata com autoridade.
Ao todo, são 30 sabores e mais os sabores de frutas da época, como manga e araçá. Na Formiga há sorvete de guabiroba, queijo com goiabada, banana passa, milho verde, nozes, côco queimado, castanha do pará, pêssego, entre outros. "Tem gente que volta a Curitiba, vem aqui e diz: ainda bem que vocês ainda fazem esse meu sabor favorito, gosto de infância", comenta Evani.

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