MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 4 de março de 2012

Açúcar da beterraba envolve 26 mil famílias de agricultores na França


Na Europa o açúcar é extraído da beterraba.
Norte da França é o principal pólo de produção do produto no continente.

Do Globo Rural
O açúcar consumido pelos brasileiros é, em geral, um derivado da cana-de-açúcar. Mas, na Europa, o açúcar fabricado é extraído de outra planta: a beterraba.
Na França, a cultura do produto ocupa 380 mil hectares. A beterraba açucareira é cultivada principalmente nas planícies do entorno de Paris e nas regiões mais ao norte – perto do Canal da Mancha e de países como Bélgica, Luxemburgo e Alemanha.
A beterraba açucareira não é avermelhada, como no Brasil. Michel Cariolle, agrônomo do Instituto Técnico da Beterraba, entidade de pesquisa mantida pelo setor, dá mais detalhes sobre o produto: “a beterraba açucareira que cultivamos na Europa também é conhecida como beterraba branca. Ela tem folhas compridas e uma raiz bem grande. É uma planta de crescimento rápido e bem adaptada ao nosso clima temperado”.
Segunda Cariolle, a beterraba branca é da mesma espécie da vermelha. A diferença entre as plantas é o resultado de um lento processo de seleção. Ao longo do tempo, as variedades de mesa foram ficando mais vistosas e com paladar mais agradável. As variedades açucareiras se tornaram mais claras e doces.
A história da beterraba na França é também a história de guerras, de política e de um imperador. O cultivo de beterraba em larga escala começou a decolar no início do século XIX, quando uma guerra marítima entre França e Inglaterra travou a importação de açúcar-de-cana, que vinha sobretudo das ilhas do Caribe, na América Central.
O estímulo à produção partiu de Napoleão, imperador dos franceses. Ele financiou a construção de usinas, o plantio de lavouras e até centros de pesquisa dedicados ao produto. Ao longo do século XIX, a nova cadeia econômica se firmaria nos campos da França e em vários outros países do continente.
Hoje, os principais produtores de açúcar da Europa são a França, a Alemanha e a Polônia. Só em território Francês, a beterraba envolve 25 usinas em atividade e 26 mil famílias de agricultores.
No município de Guise, na parte leste da Picardia, Marie Audile e Denis Lequeux cuidam de uma propriedade de 234 hectares. Além de plantar beterraba, cultivam trigo, cevada e fava. Hoje, os principais produtores de açúcar da Europa são a França, a Alemanha e a Polônia. Só em território Francês, a beterraba envolve 25 usinas em atividade e 26 mil famílias de agricultores.
No município de Guise, na parte leste da Picardia, Marie Audile e Denis Lequeux cuidam de uma propriedade de 234 hectares. Além de plantar beterraba, cultivam trigo, cevada e fava. “Nossas famílias trabalham no campo desde sempre. Nós temos a nossa casa e uma série de outras construções. As paredes são de tijolo aparente, as janelas e portas são brancas e o telhado é feito de pedra ardósia. No centro, fica um grande pátio, que na prática é o coração da fazenda”, explica o casal Lequeux.
Atualmente, o produto ocupa 86 hectares da propriedade. Segundo Denis Lequeux, a beterraba precisa ser replantada todos os anos, entre março e abril. Para isso, ele compra sementes produzidas por empresas especializadas.
De acordo com o agricultor, a maior dificuldade da cultura é o ataque de pragas e doenças. Para combater tantos inimigos, Denis adota variedades resistentes e faz aplicações de inseticidas e fungicidas. “A beterraba dá mais trabalho do que as outras plantações da região. Ela exige muito mais atenção ao longo do cultivo”, afirma.
Em certas regiões, o uso intensivo de produtos químicos já provocou problemas de contaminação do solo e do lençol freático. Por isso, nos últimos anos, autoridades e agricultores vêm lutando para reduzir a aplicação de veneno e de adubos nitrogenados nos cultivos.
Na França e em vários países da Europa, a colheita da beterraba é feita por equipamentos modernos, que foram sendo desenvolvidos ao longo do tempo. O objetivo é retirar a beterraba da terra de maneira rápida e cuidadosa.
À medida que avança, a máquina realiza uma série de operações. Primeiro, uma lâmina corta as folhas da planta. Logo atrás, discos de metal retiram as raízes do solo. O produto segue, então, por uma série de esteiras e no final, é despejado em uma carreta, puxada por um trator.
Os países da União Europeia definem em conjunto a quantidade de açúcar que deve ser produzida em cada usina do continente. É uma divisão oficial de cotas, que tem o objetivo de evitar a produção em excesso. O plano de produção também determina a quantidade de beterraba que cada agricultor deverá fornecer ao longo da safra.
O valor pago pelas raízes também é o resultado de um acordo. Em 2010, os beterrabeiros tiveram a garantia de um preço mínimo, equivalente a R$ 60 a tonelada. A produção da família Lequeux abastece uma empresa que fica a 20 quilômetros da fazenda, no município de Origny Sainte-Benoîte.
O grupo Tereos, um dos maiores conglomerados agrícolas da França, tem nove indústrias em atividade e produz 45% de todo o açúcar consumido no país. A grande diferença em relação às usinas de cana do Brasil é que essa não é uma empresa privada, mas uma cooperativa.
“A ideia central é que todos os associados fossem ao mesmo tempo fornecedores e proprietários, acionistas da cooperativa. Dessa forma, eles teriam um comprador garantido para a matéria prima e ainda poderiam fazer a divisão dos lucros da atividade industrial”, explica Philippe Pelzer, diretor de comunicação do Tereos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário