MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 5 de março de 2012

Antiga capital, cidade de Goiás atrai pelas construções históricas


Município tem título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade.
Casa em que viveu Cora Coralina abriga museu sobre a poetisa.

Carolina Simiema Do G1 GO
Cidade é o cenário perfeito para quem quer unir descanso e conhecimento. (Foto: Carolina Simiema)Ruas e ladeiras da cidade de Goiás, que tornou-se Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade
(Foto: Carolina Simiema/G1)
Quer fazer uma viagem no tempo? Na cidade de Goiás, cada pedra mostra um detalhe histórico e cultural. Por entre as vielas, becos e ladeiras, o lugar revela porque é considerado o berço da cultura goiana. Há dez anos, "Goiás Velho", como o município ainda costuma ser chamado por moradores e visitantes, tornou-se Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, título que lhe foi conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A cidade foi por mais de 200 anos a capital do estado de Goiás, posição transferida para Goiânia na década de 1930. Fundada por bandeirantes que buscavam índios e ouro, Goiás cresceu às margens do Rio Vermelho, que corta o município - um dos primeiros fundados no Brasil colonial.
Toda a cidade possui características coloniais. A paisagem urbana é marcada por um conjunto arquitetônico dos séculos XVIII e XIX e por saberes e fazeres culturais diversos. As pedras desalinhadamente colocadas nas ruas do Centro Histórico e as casas ainda feitas de pau a pique chamam a atenção de quem está acostumado com asfalto e arranha-céus.
"Levando em consideração toda a história da cidade, que as ruas foram construídas por escravos, é muito interessante vê-las formadas por paralelepípedos. Mas confesso que tive até dificuldades para andar", brinca o corretor Márcio Cézar de Almeida Júnior. Ele mora em Goiânia e é apaixonado por Goiás.
É comum na pequena e pacata cidade os moradores deixarem as portas de suas casas abertas durante todo o dia. É uma forma de mostrar a receptividade da população. “O curioso é que ficam todas as casas abertas. Se você entrar, é bem provável que o morador, mesmo sem te conhecer, o convide para um café com biscoito de queijo,” ressalta o corretor.
Casas com artesanatos ficam espalhadas por toda a cidade. (Foto: Carolina Simiema)Lojas de artesanato ficam espalhadas por toda
a cidade (Foto: Carolina Simiema/G1)
É impossível andar dois quarteirões em Goiás e não observar a suntuosidade dos casarões, unidos uns aos outros e entrelaçados em cores radiantes. Casas transformadas em lojas de artesanato estão espalhadas por toda a cidade, e os moradores ficam à beira das janelas ou à porta de suas casas com o cair da noite. Esse clima bucólico é o cenário perfeito para quem quer unir descanso e conhecimento.
A aposentada Zilda de Araújo há mais de 60 anos mora na cidade de Goiás. Foi lá que ela criou os oito filhos, 14 netos e nove bisnetos. Doceira por décadas, Zilda vendeu doces cristalizados para muita “gente famosa” e não perde a oportunidade de indicar a cidade: “Aqui é muito bonito. Eu não troco por nenhuma outra. Acho também que todo mundo que gosta de cultura popular deveria conhecê-la”, aconselha.
A paisagem que contorna a cidade de Goiás revela a originalidade do cerrado goiano. Goiás Velho é abraçado pelo verde dos morros, com destaque para a imponente Serra Dourada.
“Desde pequeno eu moro aqui. E todo esse conjunto faz da cidade uma das mais bonitas, na minha opinião. A cultura em Goiás é muito abrangente, vai desde artesanato e saber popular, passando pelo turismo religioso até grandes eventos de cinema, por exemplo. Faz parte do roteiro também os rios e atrativos naturais. A cidade de Goiás é bastante representativa para o Brasil e para o mundo”, diz o turismólogo e morador do município há 32 anos Thiago de Araújo.
Na cidade de Goiás, o turista encontra diversas opções de hospedagem que vão de hotéis mais requintados a pousadas com características mais rústicas. O preço da diária varia de R$ 30 a R$ 150 por pessoa. A maioria inclui serviço de refeição.
Comidas típicasQuando bater a fome, o visitante pode experimentar as comidas regionais como o empadão goiano, a pamonha ou o bolo de arroz, que são encontrados na maioria dos estabelecimentos locais. O Mercado Central pode ser uma opção. Lá, o turista encontra desde comida típica a lojinhas de artesanatos.
Os restaurantes chamam a atenção por suas características físicas. Boa parte são casas que funcionam como restaurantes. As mesas são colocadas nos cômodos e até mesmo no quintal. Para comer em Goiás, cada turista tem de desembolsar entre R$ 18 e R$ 25.
Outra boa pedida para quem visita a cidade é conhecer a Praça do Coreto, no Centro de Goiás. No local, o turista pode experimentar os mais variados picolés e sorvetes produzidos em grande parte com frutas do cerrado goiano. Entre as opções, são oferecidos os sabores de murici, cajá, graviola, jabuticaba, cagaita e pitanga. O preço é R$ 1,25 cada unidade. “Não tem como estar em Goiás e não sentar-se na Praça do Coreto com um picolé nas mãos”, sugere Thiago de Araújo.
É nesta praça onde acontece a maioria dos eventos em Goiás. Rodeada de casarões e bares, o local é bastante conhecido por abrigar um dos mais famosos festivais de cinema ambiental do país, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), que atrai turistas e cineastas de todo o mundo. Em 2012, o evento ocorre de 26 de junho a 1º de julho.
Na última edição, 30 produções de um total de 414 foram selecionadas por um júri criterioso. Além dos filmes sobre a questão da preservação ambiental, o evento conta com palestras, debates e oficinas ligadas ao tema.
O Fica mantém ainda uma mostra itinerante. Após o término do festival, os filmes premiados são escalados para percorrer o país e integrados ao acervo público do Museu da Imagem e Som de Goiânia (MIS).
Na Praça do Coreto turista pode experimentar picolés e sorvetes produzidos com frutas do cerrado. (Foto: Carolina Simiema)Na Praça do Coreto, o turista pode experimentar picolés de frutas do cerrado. (Foto: Carolina Simiema/ G1)
Casa Velha da PonteO Museu Casa de Cora Coralina, conhecido como Casa Velha da Ponte, é um dos principais cartões postais da cidade de Goiás. O local é a antiga casa da poetisa Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a Cora Coralina. Conhecida pelos seus inúmeros versos sobre a cidade de Goiás, Cora nasceu em 1889 e morreu em 1985. Após a morte da poetisa, amigos e parentes se reuniram e criaram, em 1989, o museu em sua homenagem.

Conhecida como Casa Velha da Ponte, local recebe cerca de 25 mil turistas.  (Foto: Carolina Simiema)Museu Casa de Cora Coralina, em Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)

O acervo foi doado pela família e é constituído de objetos pessoais, fotos, utensílios domésticos, livros e imóveis. Dizem os moradores da cidade que tudo está praticamente como a escritora deixou antes de morrer.
A casa, de fácil acesso, fica bem no centro da cidade, próximo à Praça do Coreto e ao Teatro São Joaquim. O museu é a primeira casa da rua, ao lado da ponte e banhada pelo Rio Vermelho. São 16 cômodos, um amplo jardim e uma bica d’água potável, totalizando uma área de 3 mil metros quadrados. O museu recebe centenas de turistas todos os dias e é conhecido internacionalmente. A entrada custa R$ 4.
Procissão do Fogaréu
Há mais de 250 anos, na quarta-feira Santa, as luzes de toda a cidade se apagam à meia-noite em ponto. É nesse momento que tem início uma das maiores manifestações religiosas e culturais de todo o país. É a Procissão do Fogaréu, espetáculo que retrata a prisão de Cristo pelos homens de Pilatos.
A encenação da perseguição do filho de Deus é feita por 40 homens encapuzados com tochas nas mãos e que percorrem, em ritmo alucinante, as ladeiras da cidade iluminando os becos escuros de Goiás. Todo o percurso é feito ao som de tambores tocados por 16 músicos, o que torna o espetáculo ainda mais impactante. A população pode participar acompanhando os farricocos, como são chamados, e levando tochas de fogo menores.
“É fenomenal ver a multidão de fiéis revivendo a passagem bíblica. É uma maneira de enriquecer a fé”, diz a aposentada Vilma de Abreu, que é de São Paulo e já visitou a cidade na Semana Santa.
O espetáculo tem início na Igreja da Boa Morte, segue em direção à Igreja do Rosário, onde os perseguidores encontram a Ceia do Senhor desfeita e quando percebem que Jesus havia passado por ali. A perseguição continua até a Igreja de São Francisco que simboliza o Monte das Oliveiras. Lá, os homens de Pilatos encontram Jesus e o prendem. Este é o ponto mais forte de todo o ritual. A cidade em silêncio, iluminada apenas pelas chamas das tochas, escuta o som triste de um clarim que ecoa por entre as pessoas e anuncia a prisão de Cristo.

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