MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 20 de março de 2012

PECADO ORIGINAL

DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Se o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, foi fiel às palavras de Lula, se não pretendeu só apresentar uma versão mais bem acabada do que lhe teria dito o ex-presidente sobre a necessidade de alterar os "paradigmas" da coalizão governamental, estamos diante de um profundo exercício de autocrítica.
Ou da materialização do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Braga foi visitar o ex-presidente na sexta-feira e diz ter ouvido dele o seguinte raciocínio: "O País vive uma nova realidade política e social, por isso é fundamental a renovação e a instituição de novos métodos e práticas políticas".
Nova realidade, conforme o explicado, em relação à época em que o PT assumiu a Presidência. Nove anos atrás, imbuído da disposição de reinventar o Brasil.
Entre as novidades, introduziu no cenário a legitimação do aprofundamento de velhos vícios sob a justificativa de que seria essa a única maneira de se governar o País.
De lá para cá muita coisa mudou. O uso do caixa dois em campanhas eleitorais, por exemplo, virou argumento de defesa e comportamentos tidos como desviantes passaram a ser vistos explícita e assumidamente como imperativos indispensáveis ao bom andamento dos trabalhos governamentais.
Nos dois casos, alterações decorrentes da interpretação do próprio Lula sobre a vida e suas circunstâncias no poder. Quanto ao caixa dois, o "todo mundo faz" foi adotado pelo então presidente como baliza de conduta na inesquecível entrevista dada em Paris com o fito de enquadrar os crimes contidos na rubrica "mensalão" na moldura das infrações de caráter eleitoral.
A respeito dos meios e modos de funcionamento de uma base de sustentação partidária no Congresso, ele falou claro à Folha de S.Paulo em outubro de 2009.
A pergunta era sobre as críticas de Ciro Gomes à tolerância de Lula e Fernando Henrique ao uso de bens públicos como instrumentos privados na prática do fisiologismo.
Resposta do presidente: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do Oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação (sic) num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão".
Naquela altura já haviam transcorrido quase oito anos da posse de Lula e o que se via era a aceitação não o inconformismo com a situação posta. Desde então, passaram-se menos de três anos e o que se fala agora é na chegada de um "momento de transformação" imposto por uma "nova realidade".
É de se perguntar qual realidade nova. As únicas mudanças visíveis são as decorrentes do acúmulo de deformações resultantes dos termos do contrato desde lá atrás firmado com os partidos, e renovado não faz muito tempo pelo próprio Lula.

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