Lucas Cunha A TARDE
"Salvador precisa de um choque de civilidade", decreta o sociólogo e professor da Ufba Geraldo Ramos Soares, que atualmente coordena na universidade os projetos de extensão "Educando Educadores" e "Sociologia da Solidariedade ".
Para Geraldo, o exercício da civilidade é o resultante entre as relações entre as pessoas e também como o poder público organiza o interesse da sociedade. "Veja o transito de Salvador. É horrível. As pessoas buzinam sem necessidade. É uma ausência de limite. O melhor indicador de civilidade de uma cidade é ver como as pessoas se comportam no trânsito. Mas vale também para o pedestre".
"Ninguém dá aquilo que não tem. Você não pode respeitar o outro se você não se respeita. É preciso aprender a se cuidar para, então, cuidar da cidade. Tudo isso começa no indivíduo, em assumir a responsabilidade de deixar o seu quarto arrumado, não deixar lixo na praia. Não que eu esteja menosprezando as ações coletivas. Elas podem e devem acontecer simultaneamente".
Segundo o sociólogo, o fato de Salvador ter sido malcuidada nas últimas administrações acaba deixando a população da cidade sem autoestima, agravando a situação. "Se o governo não dá o exemplo, acaba entrando a lógica que se ninguém cuida, não sou eu que vou cuidar. Precisamos transformar esse ciclo vicioso em um ciclo virtuoso. O estado e a prefeitura precisam quebrar essa lógica autodestrutiva. Se eu fosse o novo prefeito, minha primeira medida seria promover esse choque de civilidade, fazer entender que a população também tem que ter essa responsabilidade".
Para Geraldo, uma das medidas poderia ser, em um primeiro momento, endurecer algumas normas de convivência coletiva, além de incentivar ações exemplares.
"Por exemplo: ser mais rigoroso com quem não respeita a faixa de pedestre e a faixa de ônibus, fazer cumprir normas básicas que não são cumpridas. Estabelecer melhor quais são os limites e as funções de cada um. As coisas estão bagunçadas, precisamos entender que compartilhamos um passado que é um patrimônio comum, respeitar nossos ídolos. Mas pregações não bastam. O que importa é o que cada um de nós faz, cuidar de si e de onde você circula. Nisso, a nova prefeitura pode desenvolver campanhas com os bons exemplos. Essas coisas contaminam".
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