A gamer Gabi Catuzzo, que mais parece uma boneca inflável. |
Sim, há ódio contra homens pelo simples fato de serem homens,
notadamente heterossexuais. Esse ódio "existe desde os primórdios do
feminismo, ainda no fim do século XIX, mas recentemente tem se tornado
política defendida por algumas feministas mais radicais", escreve Paulo
Polzonoff Jr. na Gazeta do Povo:
Na última sexta (21), a gamer e streamer (pessoa que transmite o jogo
sendo jogado) Gabi Catuzzo viveu uma reviravolta em sua curta e
bem-sucedida carreira: depois de escrever um tuíte mal-educado, ela teve
seu contrato com uma multinacional, a Razer, sumariamente rescindido.
Catuzzo foi acusada de praticar a misandria – o ódio explícito contra
homens.
No tuíte, Catuzzo reclamava, usando alguns palavrões aqui
irreproduzíveis, do fato de alguns homens sexualizarem sua profissão.
Ela respondia a um comentário masculino sobre atributos alheios à sua
atividade – e que Catuzzo considerou assédio. No fim do tuíte, a
principal jogadora brasileira de Clash Royale concluía: “É por isso que
homem é lixo”.
A reação do mundo gamer foi a pior possível. Catuzzo foi ofendida por
homens que se sentiram ofendidos. E a Razer, uma importante fabricante
de produtos para jogadores de vídeo game, que tinha a YouTuber como
influenciadora contratada, rescindiu o contrato com ela. Em nota, a
empresa disse que “como gamers, enfrentamos todo tipo de preconceito e
estereótipo e continuaremos lutando para que este tipo de situação não
se repita. (...) [A empresa] é totalmente contrária a qualquer tipo de
discriminação, seja ela de sexo, religião, partido político ou qualquer
tipo de intolerância e extremismo”.
Catuzzo pediu desculpas públicas pelo comentário.
Misandria x orgulho masculino
A misandria é o discurso de ódio contra os homens. Algo que existe
desde os primórdios do feminismo, ainda no fim do século XIX, mas que
recentemente tem se tornado política defendida por algumas feministas
mais radicais.
Um dos primeiros a notar a prevalência do discurso misândrico no
ideário feminista foi o educador norte-americano Warren Farrell, que
ganhou notoriedade nos anos 1970 como ativista da chamada “segunda onda
feminista” para, logo depois, defender o “orgulho masculino”.
Em Por que os Homens São Como São (Editora Rosa dos Tempos), Farrell
questiona a ideia de que homens são privilegiados nas sociedades
patriarcais, ressaltando que no mundo todo homens têm expectativas de
vida menores do que as mulheres e também estão mais sujeitos à depressão
e sobretudo ao suicídio.
A ideia é reforçada no livro I Don’t Want to Talk About It:
Overcoming the Secret Legacy of Male Depression, do psicólogo Terrence
Real. Para ele, diante das pressões de um mundo cada vez mais hostil à
masculinidade, “homens e meninos recebem privilégios (...) mas somente
se ignorarem sua vulnerabilidade”.
Homens: seres inferiores
Em Sanctifying Misandry: Goddess Ideology and the Fall of Man
[Santificando a misandria: ideologia ateia e a queda do homem], os
professores Paul Nathanson e Katherine K. Young ressaltam a diferença
entre o feminismo igualitário e o feminismo ideológico, que teria
criado, nas últimas décadas, uma cultura de aversão aos homens e ao
universo masculino.
Para os autores, a própria ideia de que crimes cometidos contra
mulheres são mais graves do que os crimes contra os homens, isto é, a
criação do feminicídio, é expressão da misandria, que usa a ideia
marxista do patriarcado opressor para transformar homens em “cidadãos de
segunda classe”.
Em Spreading Misandry: The Teaching of Contempt for Men in Popular
Culture [Espalhando misandria: o ensino do desprezo aos homens na
cultura popular], os professores citam como exemplo os muitos cursos
“sobre gênero” existentes nas universidades norte-americanas, todos
voltados para as mulheres e dedicados a mostrar os homens como “os
responsáveis por todo o mal, incluindo os perpetrados pelas mulheres que
eles enganaram ou intimidaram”, que “as mulheres são as vítimas
oficiais da sociedade e responsáveis por todo o bem” e que “homens devem
ser punidos, mesmo que individualmente inocentes, pela culpa coletiva
dos homens ao longo da história”.
Um dos exemplos mencionados pelos professores no livro é o de Valerie
Solanas, feminista radical que acreditava que os homens eram
biologicamente inferiores às mulheres. No filme Um Tiro para Andy Warhol
(1996), ela é glorificada por sua defesa da violência como uma forma de
luta feminista legítima. Sonalas atirou de fato em Warhol, supostamente
porque ele se recusou a produzir um roteiro que ela tinha escrito.
Algumas feministas foram além, defendendo o extermínio dos homens – o
chamado “generocídio”. A filósofa Mary Daly, por exemplo, não
acreditava que a igualdade entre homens e mulheres fosse possível,
porque, para ela, as mulheres eram moralmente superiores aos homens.
Defensora do determinismo biológico aplicado ao feminismo, Daly caiu em
desgraça por se recusar a permitir que homens frequentassem suas aulas
sobre “estudos femininos”.
Crime de ódio
No Reino Unido, a misandria já é uma preocupação governamental. A
Inglaterra e o País de Gales têm propostas para tornar manifestações
contra homens crimes de ódio semelhantes ao racismo. A proposta,
contudo, enfrenta resistência. A deputada trabalhista Stella Creasy, por
exemplo, defende a criminalização da misoginia (ódio contra as
mulheres), mas não da misandria.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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