POLITICA LIVRE
Adversários na disputa para presidência da
Câmara, os deputados Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) são
alvos de ações penais e investigações do Ministério Público. Candidato
apoiado pelo Palácio do Planalto, Lira foi denunciado no STF (Supremo
Tribunal Federal) por corrupção passiva e organização criminosa.
Já o Ministério Público de Alagoas apresentou denúncia por suspeita
de participação do parlamentar em um esquema de desvio de dinheiro da
Assembleia Legislativa de Alagoas.
Ele ainda é acusado de violência doméstica por sua ex-mulher,
Jullyene Lins, que pediu medidas protetivas na Justiça de Alagoas contra
o parlamentar.
O nome do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) apareceu em documentos
compartilhados pelo Ministério Público de São Paulo com a PGR
(Procuradoria-Geral da República), na Operação Sevandija, que investiga
fraudes em licitações da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
O candidato apoiado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), foi citado também na Operação Alba Branca, ação da Promotoria
paulista no início de 2016 contra a máfia da merenda no estado de São
Paulo.
As acusações contra Arthur Lira (PP-AL)
No STF, Lira foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da
República) por suspeitas de ter recebido R$ 106 mil do então presidente
da CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos), Francisco
Colombo, em 2012. Em troca, teria prometido apoio político para se
manter no cargo.
Segundo a denúncia, o valor foi apreendido no aeroporto de Congonhas,
em São Paulo, com um assessor parlamentar de Lira, que tentava embarcar
para Brasília com o valor escondido nas roupas. Em novembro, a Primeira
Turma do STF rejeitou um recurso do parlamentar e decidiu mantê-lo como
réu.
O deputado também responde na corte ao inquérito chamado “quadrilhão
do PP”, por suposta participação em esquema de desvios da Petrobras. De
acordo com a acusação, um desdobramento da Lava Jato, integrantes da
cúpula do PP integrariam uma organização criminosa, com ascendência
sobre a diretoria da Petrobras, e que desviava verbas em contratos da
estatal.
A denúncia foi aceita pela Segunda Turma do Supremo, em junho de 2019, mas a ação penal ainda não começou a tramitar.
Em junho do ano passado, a PGR denunciou Lira por corrupção passiva
por supostamente ter recebido R$ 1,6 milhão de propina da empreiteira
Queiroz Galvão em troca de apoio do PP para a permanência de Paulo
Roberto Costa como diretor da Petrobras. Porém, três meses depois, a PGR
voltou atrás na denúncia e disse que havia fragilidade nas provas
produzidas por ela própria.
Também tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça) um recurso
movido por Lira para tentar liberar bens que foram bloqueados em uma
ação da Lava Jato há quatro anos. Ele e seu pai, Benedito de Lira (PP),
ex-senador e atual prefeito de Barra de São Miguel (AL), tiveram bens
bloqueados no valor de até R$ 10,4 milhões.
O pedido decorreu de uma ação da 11ª Vara Federal do Paraná de
improbidade administrativa em que os dois são acusados de se beneficiar
de R$ 2,6 milhões desviados da Petrobras.
O parlamentar também foi denunciado pelo MP de Alagoas por suspeita
de participação em um esquema de desvio de dinheiro da Assembleia
Legislativa daquele estado, no que foi chamado de Operação Taturana.
De acordo com a denúncia, a fraude se dava a partir da apropriação de
parte dos salários de funcionários e uso destes valores para pedidos de
empréstimos. Ele foi condenado por improbidade administrativa na esfera
cível, mas recorreu da decisão. Já na parte criminal foi absolvido, mas
o MP recorreu da decisão no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Lira também foi acusado por sua ex-mulher por injúria e difamação, em
processo que corre no STF. Ela afirma que “o medo a segue 24 horas por
dia, pois sabe bem o que o querelado [Lira] é capaz de fazer por
dinheiro”.
Cita o “enquadramento do querelado na Lei Maria da Penha e
necessidade de proteção urgente” para ela e o seu atual companheiro. Por
outro lado, Lira diz que, ao longo do tempo, as denúncias da ex-mulher
“mostraram-se infundadas”.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu em outubro que o
caso fosse encaminhado para um dos Juizados de Violência Doméstica “do
local dos fatos”. O parecer foi aceito pelo ministro relator do caso no
Supremo, Luís Roberto Barroso, que encaminhou a um Juizado de Violência
Doméstica de Brasília. Lira, porém, apresentou recurso contra a decisão,
que deve ser julgado pelo STF em fevereiro.
Em entrevista à Folha neste mês, Jullyene reafirmou uma denúncia que
havia feito em 2006 por lesão corporal e disse que o candidato à
presidência da Câmara a agrediu fisicamente e depois a ameaçou para que
mudasse um depoimento sobre acusações que ela havia feito contra ele.
Jullyene foi casada por dez anos e tem dois filhos com Lira. “Me
agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou”, disse. “Ele me
disse que onde não há corpo, não há crime, que ‘eu posso fazer qualquer
coisa com você’”, afirmou. “Aquilo era o machismo puro, o sentimento de
posse.” Ela afirmou ainda ter sido usada como laranja. “Ele abriu uma
empresa com meu nome e até hoje não tenho vida fiscal.”
Lira também tem nomeado em seu gabinete o sócio do advogado que o
defende na maior parte destes casos, Fábio Ferrario. Milton Gonçalves
Ferreira Netto também já atuou na defesa de Lira em ações penais, cíveis
e eleitorais, mesmo nomeado no gabinete, onde está desde 2014.
Ferrario e Ferreira Netto também aparecem com o mesmo endereço de
trabalho no cadastro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em
Pajuçara, bairro de Maceió.Em outra decisão do STF, de 2018, o deputado
perdeu o registro de sua arma, uma pistola de marca Glock calibre 380,
por decisão do ministro Edson Fachin do STF, e teve que entregá-la à
Polícia Federal para destruição.
Procurado pela reportagem, Lira respondeu por meio de sua assessoria
que “os processos que, de fato, vieram a julgamento contra o deputado
foram arquivados e os próximos devem ter o mesmo desfecho devido a suas
inconsistências. No STF, em relação à Lava Jato, três foram arquivados”.
“A própria Procuradoria-Geral da República pede o encerramento de um
quarto e a acusação nem sequer possui amparo legal válido para o período
questionado no quinto processo. Com as ações anuladas ou seguindo para
esse desfecho é natural a solicitação do desbloqueio de bens. O caso da
CBTU não há conexão temporal entre os supostos fatos”.
No caso da Operação Taturana, disse que a decisão que absolveu o
deputado indica que a acusação, mesmo advertida pelo STF e Receita
Federal, manteve irregularidades e ilegalidades na apuração e condução
do processo.
Sobre as deúncias de sua ex-mulher, disse que “a própria Folha de S.
Paulo conhece os resultados em favor do deputado e persiste em acusações
requentadas, agredindo e desrespeitando sua família”. Disse que a
nomeação de sua equipe é transparente e pode ser consultada inclusive
pela internet. Sobre a posse de arma, “trata-se de renovação de registro
da arma, que seria destinada a um terceiro”, respondeu.
As acusações contra Baleia Rossi (MDB-SP)
A investigação na Operação Sevandija mirou fraudes em licitações da
Prefeitura de Ribeirão Preto, São Paulo, em desvios de mais de R$ 200
milhões.As informações sobre o deputado foram anexadas a um inquérito do
STF (Supremo Tribunal Federal) que tramita sigilosamente na corte desde
2018, sob a relatoria do ministro Kassio Nunes Marques.
As investigações começaram a partir de suspeitas de direcionamento de
contrato para o fornecimento de catracas a serem instaladas em escolas.
Entre a papelada encaminhada à PGR pelos promotores de Justiça Marcel
Bombardi e Luciano Romanelli, estava uma planilha apreendida em poder de
um dos alvos da operação, o empresário Marcelo Plastino, que já morreu.
Plastino era o dono de empresa que firmou contratos com o município. O
nome de Baleia consta no documento relacionado a valores que totalizam
R$ 760 mil, sendo R$ 660 mil supostamente repassados em parcelas mensais
de R$ 20 mil por um período de 33 meses, além de R$ 100 mil nas
eleições de 2014.
Outros políticos de Ribeirão Preto também tiveram os nomes listados
no tópico “Baleia”, com supostas transferências no total de R$ 600 mil.
As investigações do Ministério Público indicaram a suspeita de que a
prefeitura usava a Coderp (Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão
Preto) para contratar uma empresa, por meio de licitações fraudadas,
para abrigar funcionários terceirizados indicados por políticos.
Baleia foi apontado, ao lado de “Cícero”, como padrinho de algumas
indicações. Cícero, de acordo com investigadores, seria o ex-vereador
Cícero Gomes (MDB). Após as menções a seu nome nos autos da Sevandija,
Baleia recorreu ao STF para que a documentação da operação fosse enviada
à corte em 2017, levantando a tese de que a competência do tribunal
estaria sendo usurpada pela Justiça de São Paulo.
Em decisão de junho de 2017, o ministro Gilmar Mendes determinou ao
juiz responsável pelo caso que prestasse informações sobre as
investigações. Aliados do emedebista atribuem menções ao nome dele em
operações policiais realizadas em 2016 às eleições daquele ano, quando
Duarte Nogueira (PSDB) venceu a disputa. Baleia era aliado de Dárcy Vera
(PSD), então prefeita e adversária de Nogueira.
Baleia também é investigado pela Operação Lava Jato em um inquérito
em tramitação na 1ª Zona Eleitoral da capital paulista, que apura se o
parlamentar foi beneficiário de recursos ilícitos nas campanhas de 2010 e
2014, quando concorreu, respectivamente, aos mandatos de deputado
estadual e federal.
As suspeitas estão relacionadas às delações premiadas de dois grupos
empresariais: J&F (holding controladora da JBS, dos irmãos Joesley e
Wesley Batista) e Odebrecht.
Os dois casos foram reunidos no ano passado em um único inquérito,
que integra um conjunto de investigações sob a responsabilidade do que
se convencionou chamar Lava Jato Eleitoral. A apuração é sigilosa.
Baleia foi citado também na Operação Alba Branca, ação da Promotoria
paulista no início de 2016 contra a máfia da merenda no estado de São
Paulo. A Alba Branca mirou grupo acusado de se instalar em dezenas de
prefeituras paulistas e na Secretaria de Educação do estado para fraudar
compras de merendas escolares
Pessoas ligadas à Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar)
envolveram políticos nas irregularidades, acusados de receber propina
para facilitar a concretização de negócios. O ex-vice-presidente da
entidade, Carlos Alberto Santana, e dois ex-funcionários citaram Baleia.
Porém o delator Cássio Chebabi, ex-presidente da Coaf, negou
envolvimento do emedebista.
A exemplo da Sevandija, a PGR também recebeu informações sobre a Alba
Branca do Ministério Público de São Paulo. No entanto, pediu ao STF o
arquivamento do inquérito. “Trata-se, portanto, de arquivamento por
insuficiência de provas”, afirmou o ministro Gilmar Mendes.
Baleia é filho de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura nos
governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma
Rousseff, ambos do PT. Ele pediu demissão em meio a uma série de
irregularidades na pasta revelada pela imprensa.
Em 2018, Rossi foi preso por determinação do ministro Luís Roberto
Barroso, do STF, no inquérito que investigou suspeita de que o
ex-presidente Michel Temer (MDB), por meio de decreto, beneficiou
empresas do setor portuário em troca de propina.O aliado de Temer
presidiu a Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), estatal
administradora do porto de Santos entre 1999 e 2000.
A investigação foi um dos desdobramentos da delação premiada do
empresário Joesley Batista e de outros executivos do grupo J&F.
Joesley entregou à PGR uma planilha contendo nomes de políticos e
empresas, além de valores que o empresário diz se tratar de caixa dois
nas eleições de 2010.
De acordo com o relato inicial do empresário, foi feita doação não
contabilizada para a campanha de Baleia por intermédio da Ilha
Produções, pertencente a Paulo Luciano Rossi, conhecido como Palu e
irmão do deputado. O documento listou três repasses para a empresa, em
um total de R$ 240 mil, entre os meses de agosto e setembro de 2010.
A Ilha também foi mencionada no acordo de delação premiada que o
marqueteiro Duda Mendonça firmou com a Polícia Federal. Duda disse que a
produtora recebeu R$ 4 milhões em “recursos não contabilizados”
referente à campanha de Paulo Skaf (MDB), presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo) e candidato ao Governo de São
Paulo em 2014. Segundo Duda, o dinheiro foi pago pela Odebrecht.
Procurado, o deputado afirmou por meio de sua assessoria que sobre a
denúncia relacionada à Prefeitura de Ribeirão Preto “o deputado sequer
foi intimado, portanto desconhece os autos, e ressalta que ele não
recebeu nenhum recurso ilícito” e acrescenta que “o MDB de Ribeirão
Preto apoiou a administração na época, mas o deputado não fez nenhuma
indicação em seu nome”.
Já na Operação Alba Branca, a assessoria disse que o delator do caso,
o presidente da Coaf, Cássio Chebabi, “afirmou que o deputado não
participou dos fatos”. “A Procuradoria Geral da República solicitou o
arquivamento, e o STF acatou o pedido”.Afirmou também que Wagner Rossi é
inocente, “pois na denúncia formal da Procuradoria Geral da República
sobre o caso dos Portos sequer consta o nome dele”. “A prisão dele foi
flagrantemente arbitrária, e desnecessária”.
Além disso, disse que “nenhum dos 77 delatores da Odebrecht citou o
deputado ou qualquer familiar dele”. “A Ilha foi prestadora de serviços
da campanha de marketing de Paulo Skaf, cujo responsável era Duda
Mendonça. Sócio da empresa, Paulo Luciano Rossi confia na sua
absolvição. Joesley Batista deu três versões distintas sobre temas
relacionadas à família Rossi. Segundo a advogada Elizabeth Queijo, em
nenhuma delas o empresário apresentou provas quanto a ilícitos”.
Folhapress