-
Detalhes
- VERDADE SUFOCADA
-
Escrito por jo.ustra
INCOERÊNCIAS E JEITINHOS DE UM STF QUE SE DESMORALIZA
General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva
Enquanto
o PT estava no poder, maioria significativa dos ministros do STF
decidiam constantemente contra os pleitos apresentados pelo partido em
favor de seus membros investigados na Operação Lava-Jato. Essa maioria
se dizia engajada com a moralizadora operação e foram do STF a liminar
para Lula não assumir a Casa Civil no governo Dilma e tantas outras
decisões em respaldo às investigações.
Após o impeachment, alguns
ministros da Corte passaram a dificultar o andamento da Lava-Jato,
particularmente quando as investigações chegaram a membros do MDB e do
PSDB, aliando-se a outros cujas relações com o PT são perfeitamente
conhecidas. Além dessas ilegítimas ligações partidárias, há fortes
indícios de relações pessoais com investigados na Lava-Jato, aos quais
são concedidos muitos dos pleitos de suas defesas.
A justiça só vem sendo eficaz contra lideranças políticas
corruptas nos escalões abaixo do STF. A Corte Suprema é um cofre forte a
proteger os brasileiros mais iguais que os demais perante a lei, pois
mantém praticamente paralisados os processos dos privilegiados com o
vergonhoso foro especial.
Os eventos que culminaram na sessão de
22 de março da Corte Suprema mostraram que o sonho de um Brasil
respeitável só se concretizará se alijarmos as lideranças moralmente
enfermas, cujos tentáculos empolgaram altos escalões nos três Poderes da
União. Foi um golpe que deixou a nação perplexa e apequenada pela falta
de recursos legais para reverter a infame manobra de proteção a um
também infame criminoso condenado. Foi a nação e não o STF, como temia a
ministra Cármem Lúcia, que se apequenou, o que é muito mais triste.
O
tal jeitinho brasileiro mostrou suas danosas consequências quando usado
para viabilizar decisões ilegítimas em prol de condenados de colarinho
branco. O STF e alguns dos seus ministros têm sido protagonistas do uso e
abuso deste mal costume.
O jeitinho foi admitido, também, pelo
ministro Lewandowski quando, à revelia da Constituição Federal, aceitou a
manobra de senadores para manter os direitos políticos da ex presidente
Dilma, após ser cassada no processo de impeachment em 2016.
Outro
jeitinho foi o patrocinado pela maioria dos ministros, na decisão que
impediu Renan Calheiros de permanecer na linha sucessória da presidência
da República, por ser réu, mas lhe permitiu continuar presidente do
Senado, cargo previsto, por lei, na citada linha sucessória.
Ora,
se o réu Renan Callheiros não pode exercer a presidência da República,
nem por alguns dias, não há coerência em autorizar a candidatura de
Lula, condenado em 2ª Instância (Ficha Suja) e réu em vários outros
processos. Como gostam das luzes da ribalta, aos juristas supremos
agrada o debate sobre essa e outras incoerências, pois parecem não se
preocupar com a perda de confiança da nação e a insegurança jurídica
resultante.
O último jeitinho foi a concessão da liminar para
Lula não ser preso até a decisão sobre seu habeas corpus, adiada para 4
de abril. A estranha liminar e o citado adiamento, atendendo a
interesses pessoais de alguns ministros, a despeito de seus deveres e
dos anseios da nação, foram repudiados pela sociedade e por juristas de
renome. Por quê a sessão foi suspensa, se havia quórum para continuá-la?
Entretanto, não deveríamos nos surpreender com decisões como essas que
blindaram o poderoso chefão, pois somos o país do jeitinho, que já
deveria ser coisa do passado, mormente na justiça.
A sociedade
não pode mais aceitar ficar à mercê da corrupção e de ilegítimas
lideranças de colarinho branco, capa preta ou do que for. O cenário
vivido pelo país é o conflito entre essas lideranças, que não merecem o
menor respeito e não têm a mínima confiança da nação, e uma sociedade
trabalhadora, sacrificada e ainda sonhadora com um Brasil do qual se
orgulhe. A organização criminosa refestelada na cúpula do poder vai
fazer o possível, usando de sórdidos artifícios, para se ali se manter e
continuar usurpando ilegalmente os recursos nacionais.
Os sonhos
não caem do céu. Ou a sociedade reage com a firmeza exigida para
enobrecer o Brasil, se for necessário, empregando a desobediência civil,
resistência passiva e enormes manifestações de rua, ou é melhor parar
de sonhar. É a nação que tem que se salvar a si mesma e sem a tutela das
Forças Armadas, que só tomarão a iniciativa diante de um quadro de
grave violência, caos social, falência e perda de autoridade dos Poderes
da União, isto é, um cenário de anomia a colocar em risco a paz
interna, a unidade política, os próprios Poderes Constitucionais e a
soberania do Estado no território nacional.
Querem esperar que o
sangue escorra pelas ruas? Então mãos à obra. Os doutos ministros do
STF têm saber jurídico tanto para aceitar quanto para recusar o habeas
corpus de Lula na sessão de 4 de abril. Portanto, o comprometimento com o
futuro do Brasil é que deve nortear a decisão de cada um.
Cidadãos
e cidadãs. Pressionem com força de vontade, exijam senso de
responsabilidade e patriotismo do STF e, assim, escrevam com suas
honradas mãos essa passagem relevante da História do Brasil. Nossos
descendentes terão orgulho de ser brasileiros e nós não teremos vivido
em vão.