Charge do Alpíno (Yahoo)
Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso
Estadão
Um relatório da Polícia Federal na investigação que tem como alvo o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destaca viagens feitas por
familiares e amigos ao Panamá. Principal escala para as paradisíacas
praias caribenhas, como as da República Dominicana, o país é também um
dos destinos de investigados pela Operação Lava Jato para a abertura de
empresas offshores – que foram usadas para movimentação de propina em
contas secretas no exterior. O Relatório de Análise 769, da PF,
apresenta dados dos familiares de Lula, seus irmãos José Ferreira da
Silva, o Frei Chico, e Genival Ignácio da Silva, o Vavá, e do sobrinho
Taiguara Rodrigues dos Santos. O documento inclui “os vínculos
societários dos mesmos e seus familiares, bem como, outras informações
relevantes”.
Uma das viagens ao Panamá destacadas pela PF é a de Fábio Luis Lula
da Silva, o Lulinha, em novembro de 2014. No mesmo voo estavam Fernando
Bittar, sócio e dono, na escritura, do papel do Sítio Santa Bárbara, em
Atibaia (SP), que a força-tarefa diz ser do ex-presidente, e o primo
Taiguara.
Fernado Bittar é sócio, junto com o irmão Khalil Bittar, de Lulinha
na G4 Entretenimento e Tecnologia Digital, Gamecorp e BR4 Participações.
O relatório não imputa crimes aos investigados, mas a Lava Jato
suspeita que a família Bittar e até mesmo familiares possam ter servido
para ocultar bens e patrimônio do ex-presidente.
LULA SE DEFENDE…
A defesa do ex-presidente Lula nega que ele seja dono do sítio em
Atibaia. Segundo ele, o imóvel foi comprado em 2010 pelo amigo Jacó
Bittar, ex-prefeito de Campinas do PT, e colocado em nome do filho
Fernando. A propriedade serviria para propiciar o “convívio entre as
duas famílias”. Ontem, por meio da assessoria de imprensa do Instituto
Lula, ele atacou o relatório que analisou viagens internacionais da
família.
“Esse relatório, e seu vazamento para a imprensa, é só mais uma
amostra do grau de obsessão da Operação Lava Jato em perseguir o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo sem haver nenhum indício
de qualquer crime cometido pelo ex-presidente ou de qualquer relação
destas pretensas investigações sobre sua família com os desvios da
Petrobras que são a razão de ser da Operação”, informa o instituto. “Não
faz nenhum sentido a perda de tempo de funcionários do estado e de
recursos públicos listando viagens ao exterior de familiares do
ex-presidente que não exercem cargos públicos nem estão sendo acusados
de qualquer crime.”
ABERTURA DE OFFSHORES
Fernando Bittar viajou para fora do País seis vezes com Lulinha,
segundo o documento da PF. O relatório não aponta o destino final das
viagens. O levantamento foi feito, no entanto, porque alguns dos alvos
da Lava Jato usaram o Panamá para abertura de offshores. Alguns nomes
ligados ao PT, como o ex-ministro José Dirceu e a cunhada do
ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto apareceram com elos no país.
No caso de Lulinha, a PF analisou suas viagens entre 23 de setembro
de 2007 e 7 de novembro de 2014. O documento, assinado pelo delegado
Márcio Anselmo, registra que considerando o “período e voos “foi
realizada pesquisa visando identificar as pessoas que, com maior
frequência viajaram nos mesmos voos tomados por Fábio Luis Lula da
Silva, desconsiderando-se aqueles com uma única viagem (trecho) em
comum”.
UM OUTRO FILHO
Envolvido na operação Zelotes, outro filho de Lula, Luis Claudio Lula
da Silva, também teve suas viagens internacionais analisadas. Ele foi
ao Panamá em janeiro de 2015.
“Cabe observar que no voo CM0700, da Copa Airlines, saindo de São
Paulo/SP em 2 de janeiro de 2015 com destino a Cidade do Panamá/Panamá e
com retorno através do voo CM 0795, em 13 de janeiro de 2015,
transportou em comum Luis Claudio Lula da Silva, seu cônjuge Fátima Rega
Cassaro, Lilina Rega Cassaro e Marcos Gomes Cassaro”, registra o
relatório. “Estes últimos, pais de Fátima e, à época, sócios de Luis
Claudio na empresa Silva e Cassaro Corretora de Seguros Ltda.”
Luis Claudio é investigado pelo Ministério Público Federal e pela
Polícia Federal em outra frente: ele é alvo da Operação Zelotes. Por
meio de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo e a Touchdown Promoção e
Eventos Esportivos, ele é suspeito de recebimentos de empresas em um
esquema milionário de suposta venda de medidas provisórias no governo.
SOBRINHO DE LULA
A PF destacou que Taiguara, sobrinho de Lula, viajou três vezes para o
Panamá no ano de 2014 – uma delas com Lulinha e Fernando Bittar, o dono
do sítio.
Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, conhecido como
Lambari, irmão da primeira mulher de Lula, Maria de Lourdes da Silva –
já falecida. Seu nome é conhecido em Brasília, como o “sobrinho de
Lula”. A PF anexou uma reportagem da revista Veja, no relatório, sobre a
ascensão de negócios a partir de 2009, com citação a contratos em
Angola e com a Odebrecht – alvo da Lava Jato. Ele é dono da Exergia
Brasil Projetos de Engenharia.
“Taiguara, no ano de 2014, viajou três vezes para a Cidade do
Panamá/Panamá, primeiramente, utilizou o voo de saída CM0702 em 26 de
março de 2014 e retorno pelo voo CM0725 em 3 de abril de 2014”, aponta a
PF. Há ainda registro de voo no dia 7 de setembro do mesmo ano e
retorno no dia 11. E um terceiro, em novembro, tendo o primo Lulinha e o
dono do sítio Fernando Bittar como passageiros comuns. Um dos
acompanhantes das viagens trabalha na Exergia.
No mesmo ano, a PF destaca que o sobrinho de Lula viajou para a Lisboa, em Portugal, duas vezes para Angola e uma para Paris.
ATÉ O IRMÃO FREI CHICO…
Há ainda o destaque para viagem feita por Frei Chico, com familiares.
Consta uma saída do Brasil com destino ao Panamá no dia 12 de dezembro
de 2012 com retorno no dia 28. Há ainda um retorno no dia 11 de março de
2015 do Panamá, “não constando no sistema a data de sua saída do
Brasil”. Estavam no voo sua mulher, dois filhos e uma neta.
“Apesar de não constar a saída do território brasileiro de José
Ferreira da Silva, em relação ao voo de retorno (CM0709) da Cidade do
Panamá em 11 de março de 2015, pode-se afirmar que trata de voo CM0702
de 28 de fevereiro de 2015, tendo em vista o registro de saída de sua
esposa Ivene e filha Larissa, as quais também consta do voo de retorno”,
registra a PF.