O PT nunca passou por estresse como esse. E está sendo reprovado com mérito. Nem mesmo sob o risco de impeachment é aceitável que um presidente da República convoque suas milícias para gritos de guerra na sede do governo. E foi o que Dilma fez, sob a inspiração do PT e de Lula, que é hoje o timoneiro.
O que há a lamentar nos eventos desta quinta-feira é que não se trata, por definição, de uma manifestação popular. Quando se convocam os ditos “movimentos sociais”, quem está indo às ruas são franjas de um partido político — no caso, o PT —, que falam em defesa do próprio interesse.
Ora, mas o
que digo eu? Todos nós, é evidente, defendemos aqueles que são nossos
“interesses”, tenham esses a natureza que for. Se a minha restrição a um
determinado governo ou partido é de natureza, vamos dizer, ideológica —
acho que ele faz escolhas que se chocam com a minha visão de mundo —,
ainda que eu não vá haurir nenhum benefício material com a minha
militância, ela pode me trazer satisfação intelectual. A sociedade do
interesse, que pode se organizar livremente, é um bom lugar para se
viver.
Então por
que a restrição à patuscada desta quinta? Porque o interesse partidário
está sendo travestido de interesse público. Há um mau-caratismo
essencial nesses protestos oficialistas que, felizmente, não se verifica
nos atos em favor do impeachment, quando, de fato, a rua é tomada por
pessoas comuns, não por pessoas diluídas e consubstanciadas em
coletividades, que servem a um ente. Não por acaso, dois dos
organizadores dos protestos desta quinta estavam ontem, com Dilma, no
palácio: são cortesões do regime. Refiro-me a Guilherme Boulos e João
Pedro Stedile.
Há outra
diferença essencial, esta de pauta mesmo. Os que ocupam o espaço público
nesta quinta passam dois recados: a) aceitam que um governo cometa
crimes desde que eles próprios possam ser sócios do poder; b) anunciam
ao país que não aceitam o triunfo da Constituição e das leis. Ou os
parlamentares decidem de acordo com a sua vontade, ou eles não
reconhecem a sua legitimidade.
Ora, a
adesão de determinados partidos e de determinados grupos aos valores da
democracia se testa justamente em situações-limite. Em tempos de
normalidade, em que as convicções não precisam ser postas à prova, quase
nunca se pode vislumbrar a real natureza desses atores sociais.
O PT nunca
passou por estresse como esse. E está sendo reprovado com mérito. Nem
mesmo sob o risco de impeachment é aceitável que um presidente da
República convoque suas milícias para gritos de guerra na sede do
governo. E foi o que Dilma fez, sob a inspiração do PT e de Lula, que é
hoje o timoneiro.
Que Dilma
tenha rompido os limites do decoro ao permitir uma patuscada como aquela
no Palácio, isso está claro; que tenha atravessado a fronteira do bom
senso ao entregar a Lula a tarefa de negociar no varejo com os partidos,
também não resta dúvida; que mergulhe na irresponsabilidade quando
chama golpe o que sabe ser exercício pleno da constitucionalidade e da
legalidade, eis outra evidência.
Ocorre que
essas transgressões todas se fazem acompanhar de ameaças explícitas à
ordem democrática. Alma golpista têm os que ameaçam de forma explícita
apelar à violência para impedir o pleno exercício do Estado de Direito.
E, hoje,
esse grito de guerra parte, de forma velada, do Palácio do Planalto, o
que caracteriza, é evidente, mais um crime de responsabilidade.
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