quinta-feira, 31 de março de 2016

Os esbirros do golpe estão nas ruas hoje, e grito de guerra parte do Palácio do Planalto: é mais um crime de responsabilidade


O PT nunca passou por estresse como esse. E está sendo reprovado com mérito. Nem mesmo sob o risco de impeachment é aceitável que um presidente da República convoque suas milícias para gritos de guerra na sede do governo. E foi o que Dilma fez, sob a inspiração do PT e de Lula, que é hoje o timoneiro.

Por: Reinaldo Azevedo
Os ditos movimentos sociais anunciam a realização de manifestações contra o impeachment em 25 estados. Depois a gente vê o balanço. Até aí, tudo bem. A democracia existe, entre outras razões, para que as pessoas ocupem as praças públicas com suas demandas — desde que o façam segundo as regras da… própria democracia. Ou, então, não vale, e é preciso chamar a Polícia porque vira coisa de bandido.
O que há a lamentar nos eventos desta quinta-feira é que não se trata, por definição, de uma manifestação popular. Quando se convocam os ditos “movimentos sociais”, quem está indo às ruas são franjas de um partido político — no caso, o PT —, que falam em defesa do próprio interesse.

Ora, mas o que digo eu? Todos nós, é evidente, defendemos aqueles que são nossos “interesses”, tenham esses a natureza que for. Se a minha restrição a um determinado governo ou partido é de natureza, vamos dizer, ideológica — acho que ele faz escolhas que se chocam com a minha visão de mundo —, ainda que eu não vá haurir nenhum benefício material com a minha militância, ela pode me trazer satisfação intelectual. A sociedade do interesse, que pode se organizar livremente, é um bom lugar para se viver.
Então por que a restrição à patuscada desta quinta? Porque o interesse partidário está sendo travestido de interesse público. Há um mau-caratismo essencial nesses protestos oficialistas que, felizmente, não se verifica nos atos em favor do impeachment, quando, de fato, a rua é tomada por pessoas comuns, não por pessoas diluídas e consubstanciadas em coletividades, que servem a um ente. Não por acaso, dois dos organizadores dos protestos desta quinta estavam ontem, com Dilma, no palácio: são cortesões do regime. Refiro-me a Guilherme Boulos e João Pedro Stedile.
Há outra diferença essencial, esta de pauta mesmo. Os que ocupam o espaço público nesta quinta passam dois recados: a) aceitam que um governo cometa crimes desde que eles próprios possam ser sócios do poder; b) anunciam ao país que não aceitam o triunfo da Constituição e das leis. Ou os parlamentares decidem de acordo com a sua vontade, ou eles não reconhecem a sua legitimidade.
Ora, a adesão de determinados partidos e de determinados grupos aos valores da democracia se testa justamente em situações-limite. Em tempos de normalidade, em que as convicções não precisam ser postas à prova, quase nunca se pode vislumbrar a real natureza desses atores sociais.
O PT nunca passou por estresse como esse. E está sendo reprovado com mérito. Nem mesmo sob o risco de impeachment é aceitável que um presidente da República convoque suas milícias para gritos de guerra na sede do governo. E foi o que Dilma fez, sob a inspiração do PT e de Lula, que é hoje o timoneiro.
Que Dilma tenha rompido os limites do decoro ao permitir uma patuscada como aquela no Palácio, isso está claro; que tenha atravessado a fronteira do bom senso ao entregar a Lula a tarefa de negociar no varejo com os partidos, também não resta dúvida; que mergulhe na irresponsabilidade quando chama golpe o que sabe ser exercício pleno da constitucionalidade e da legalidade, eis outra evidência.
Ocorre que essas transgressões todas se fazem acompanhar de ameaças explícitas à ordem democrática. Alma golpista têm os que ameaçam de forma explícita apelar à violência para impedir o pleno exercício do Estado de Direito.
E, hoje, esse grito de guerra parte, de forma velada, do Palácio do Planalto, o que caracteriza, é evidente, mais um crime de responsabilidade.

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