sexta-feira, 30 de novembro de 2018
Em jantar secreto, Paulo Guedes se aproxima de Renan
Futuro superministro da Economia disse a amigos que aprovou o encontro
Redação
BAHIA.BA
O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, começou a se aproximar de Renan Calheiros, informa a Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo.
A convite de Guedes, os dois jantaram na terça-feira em Brasília. Um amigo em comum intermediou o petit comité, mantido até então sob sigilo pelos dois protagonistas. Renan disse a interlocutores que saiu impressionado. E brincou que a partir de agora será liberal com relação a Chicago, em referência à escola de Guedes, e conservador em relação a Curitiba, terra de Sérgio Moro. O futuro ministro também disse a amigos que aprovou o encontro.
‘Essa bomba vai explodir’, diz Neto sobre situação fiscal do Estado
Democrata não economizou nas críticas a Rui Costa (PT) sobre a suplementação da Alba e atribuiu crise à má gestão petista: "Estão aí há 12 anos, vão culpar quem?"
Luiz Felipe Fernandez / Matheus Morais
BAHIA.BA
O prefeito ACM Neto não economizou nas críticas a respeito do governador Rui Costa (PT), que anunciou veto na suplementação para a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e para o Tribunal de Justiça (TJ-BA). O democrata atribuiu o problema à má gestão petista no estado e se mostrou indignado com a “postura” de Rui.
“Está claro que o governador encobriu tudo isso ao longo da campanha política. O momento que ele deveria ter colocado com clareza toda a dificuldade, era na campanha política. Não colocou”, afirmou o presidente nacional do DEM em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (30).
Para ele, Rui omitiu a situação fiscal da Bahia. “Pelo contrário, ele se gabava, dizia que tava tudo muito bem, enquanto os outros estados estavam em dificuldade”. O prefeito afirmou que as consequências estão sendo percebidas só agora e, que um dos sinais do desespero do governador, é cogitar privatização da Embasa. O “maior objeto de luta política do PT” na época em que fazia oposição ao extinto PFL.
Neto disse que já se reuniu com “alguns deputados estaduais” para discutir o assunto e pretende tomar uma “decisão conjunta” com a bancada da oposição. Ele prometeu ficar atento à situação e profetizou: “Essa bomba vai explodir”. De acordo com o Democrata, a população vai passar a ter a “exata noção do estrago” causado pelo mandato do PT.
“Toda situação fiscal na Bahia foram eles que fizeram. Eles estão aí há 12 anos, eles vão culpar quem? Vão transferir essa responsabilidade para quem? Quero saber. Vou cobrar e vou cobrar muito essa postura do governador Rui Costa”, disparou.
ACM Neto: ‘Rui Costa de 2018 é a Dilma 2014’
"Há um estelionato eleitoral cometido na Bahia pelo governador e o tempo vai se incumbir de mostrar isso"
Milena Teixeira / Matheus Morais
BAHIA.BA
O prefeito ACM Neto (DEM) voltou a comparar governo de Rui Costa com o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014. “Eu sinto o Rui Costa de 2014 como a Dilma de 2018. Estou sentindo a mesma coisa. A Dilma se reelegeu e depois teve que adotar uma prática completamente diferente”, disse o presidente do DEM durante coletiva, na manhã desta sexta-feira (30).
O democrata disse que um vídeo divulgado pelo petista sobre o aumento da contribuição da Previdência estadual é “constrangedor”.
“Na campanha, ele não disse que ia fazer uma reforma na Previdência […] Eu vi ele criticar os deputados que votaram na reforma. Ele vai ser perverso com os servidores. Nem tomou uma posse e já está fazendo diferente do que falou”, afirmou ACM Neto.
Sobre declaração de Rui, afirmando que a oposição não deveria ser ouvida pela base governista na Assembleia em relação à escolha da nova presidência da Casa, o prefeito declarou: “A pior coisa na vida é você achar que esta acima do bem e do mal. A oposição é fundamental para democracia[…] A eleição da Assembleia segue seu próprio ritmo. Já escolhemos nosso candidato, que vai ser divulgado pela liderança. Eu espero que tenha desfecho”.
Heineken inaugura linha de produção de cervejas na Bahia
São empregadas 636 pessoas diretamente e outras 300 indiretamente
Redação
BAHIA.BA
O Grupo Heineken no Brasil inaugurou, nesta sexta-feira (30), a 1ª linha de produção da marca Heineken na região Nordeste, na cidade de Alagoinhas. A unidade será a quarta do grupo a produzir a cerveja Heineken no Brasil.
O investimento de R$ 135 milhões para implantação da fábrica é parceria da empresa com o governo estadual e a prefeitura da cidade. São empregadas 636 pessoas diretamente e outras 300 indiretamente.
A obra incluiu a montagem de quatro tanques horizontais usados exclusivamente para o processo de fermentação de Heineken; ampliação da linha de vidro – a maior do grupo no Brasil em flexibilidade de produção para diferentes tipos de embalagens; nova embaladora para a linha de latas, permitindo a fabricação de diferentes produtos e embalagens e uma nova e moderna linha de chope.
A cervejaria de Alagoinhas está entre as maiores do grupo e os investimentos recebidos são parte de um projeto que se estenderá até 2019.
Presente na inauguração, o governador Rui Costa disse que que “mais investimento significa mais emprego, principalmente quando está agregando a imagem de uma cerveja reconhecida mundialmente pela qualidade, que agora passa a ser produzida na nossa Bahia”.
De acordo com Marcelo Jorge de Araujo, diretor da cervejaria, a nova linha acompanha o crescimento do mercado de cervejas premium, liderado pela Heineken. “O Grupo Heineken no Brasil tem o compromisso de atender o mercado brasileiro com cervejas de alta qualidade e sua estratégia de operação acompanha o crescimento do mercado e favorece a logística, em especial na região Nordeste”, afirma.
Programa de estágio – A cervejaria também tem vagas abertas para o programa de estágio em vários estados, incluindo a Bahia. Os interessados devem se inscrever neste site até dia 20 de dezembro.
Substitutas de cubanos são recebidas na segunda para atuar no Mais Médicos
Em Salvador, um médico do país caribenho segue trabalhando por força de decisão judicial
Redação
BAHIA.BA
As duas médicas brasileiras substitutas dos cubanos no programa Mais Médicos serão recebidas pela prefeitura na segunda-feira (3).
Após o governo de Cuba anunciar a saída do programa de cooperação, a médica Kenia Garcia, que atuava na capital baiana, foi desligada do cargo no dia 20 de novembro.
Já o outro profissional cubano, Yosvany Sol Ramos, permanece atuando na USF Canabrava por conta de uma decisão judicial proferida em junho deste ano que determinou a renovação do contrato por três anos – equiparando as condições com os demais médicos intercambistas de outros países, inclusive quanto à integral remuneração.
Palocci escancara os segredos de Lula & Dilma
A delação de Antonio Palocci é a mais volumosa contra Lula e Dilma, escreve Merval Pereira no jornal O Globo:
Quem desdenhava da delação premiada que o ex-ministro da Fazenda
Antonio Palocci fez à Polícia Federal, inclusive os procuradores de
Curitiba, que consideraram incipientes as denúncias, agora não tem mais
dúvidas de que o depoimento dele é o mais cheio de informações sobre os
ex-presidentes Lula e Dilma.
Hoje Palocci deve ir para casa, de tornozeleira eletrônica, mas em
prisão domiciliar em regime semiaberto, o que lhe permitirá trabalhar
durante o dia. O TRF-4 considerou, por maioria, que a delação premiada
foi efetiva para as investigações.
A 8ª Turma ainda reduziu sua pena para nove anos e 10 dias, por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele que fora condenado pelo
juiz Sérgio Moro a 12 anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime
fechado.
Palocci admitiu que administrou o caixa 2 que a Odebrecht colocou à
disposição do PT, e também que era o "Italiano" ou "Itália" das
planilhas da Odebrecht. Um dos dois principais ministros do primeiro
governo Lula – o outro foi José Dirceu, que ontem teve sua pena
confirmada em segunda instância – Palocci incriminou os ex-presidentes
Lula e Dilma, de cuja campanha presidencial foi coordenador.
Segundo seu depoimento, parte do dinheiro da empreiteira Odebrecht
seria destinada a gastos pessoais do ex-presidente, inclusive a compra
de um imóvel para o Instituto Lula, que nunca foi usado para isso. Essas
denúncias corroboram outras, que fizeram de Lula réu em processo da
Juíza Gabriela Hardt sobre o Instituto Lula, e o do chamado quadrilhão
do PT, pelo juiz Vallisney de Souza, em que Lula e Dilma estão
denunciados como réus, além do próprio Palocci, entre outros.
Palocci, nas várias denúncias, contou que o então presidente Lula
envolvia-se diretamente em alguns pedidos de propinas. Citou um fato que
ocorreu antes mesmo de Lula ser eleito presidente, em 2002, envolvendo o
delegado do PT no fundo de pensão da Petrobras, o Petros.
Já naquela época, Emilio, o presidente da Odebrecht, pediu ajuda a
Lula, pois estava encontrando dificuldades com esse representante
petista na Brasken, que tinha sociedade com os fundos.
Outro momento da delação de Palocci que atinge diretamente Lula foi a
revelação de que o ex-presidente Lula mandou que o então presidente da
Petrobras, José Sérgio Gabrielli, encomendasse a construção de 40
sondas de exploração de petróleo para arrecadar propina para campanha de
Dilma Rousseff à Presidência naquele ano.
Pallocci relatou uma reunião em 2010 na biblioteca do Palácio do
Alvorada, com a presença também de Lula, Dilma, e José Sérgio Gabrielli,
em que foram acertadas as compras que serviriam para financiar a
campanha de Dilma naquele ano. Gabrielli, por sinal, está indiciado em
outro processo, em que se investiga a construção de uma sede da
Petrobras em Salvador, onde atuava politicamente.
Ao confirmarem a validade da delação de Palocci, os juízes do TRF-4
denotaram que a base das denuncias está sendo confirmada, ou que Palocci
deu indicações firmes que poderão gerar novas investigações.
Indulto
Pelo andar dos votos e comentários paralelos de alguns juízes, é
possível prever que o resultado final do julgamento do indulto do
presidente Temer de 2017, que deve se encerrar hoje, será favorável à
liberdade completa dos presidentes de concederem indulto a quem
quiserem, na base que bem entenderem.
Isso vai dar a Temer a condição de aumentar as benesses no indulto
deste ano. Uma questão ficou clara, no entanto, nas discussões
paralelas. O ministro Celso de Mello, que deve votar a favor do
presidente, contou que o então presidente Sarney o consultou sobre a
amplitude do indulto, pois queria retirar dele os crimes contra a
economia popular.
O decano comentou que era uma época em que a hiperinflação sangrava a
economia e o Plano Cruzado tentava contê-la. Uma situação daquele
momento, que Sarney levou em conta na hora do indulto.
Agora, vê-se pela generosidade do indulto do presidente Temer, que
ele não se incomoda com o momento atual, em que a sociedade exige um
combate forte à corrupção e aos crimes de colarinho branco.
Com a permissão do Supremo, Temer poderá favorecer, mesmo que o
indulto seja genérico e não pessoal, vários políticos, como Eduardo
Cunha, a se livrarem da cadeia.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Só 4% dos navios negreiros saíram de Portugal. A maioria partiu do Brasil.
Nos séculos XVI a XIX, 37% das viagens de navios negreiros iniciaram-se
no Brasil, 31% na Grã-Bretanha, 13% em França, 5% na Holanda, outros 5%
nas Caraíbas e menos de 4% partiram de Portugal. Artigo do historiador
João Pedro Marques, publicado pelo Observador:
Pedro Lains escreveu recentemente
sobre o antigo tráfico transatlântico de escravos, concebendo-o como
trágica parte de uma rede de comércio global — o que é correcto — e
sugerindo que Portugal e os países ocidentais em geral terão de pedir
oficialmente desculpa por terem estado envolvidos nele, e prevendo, até,
que esse pedido acabará por surgir futuramente. Já por diversas vezes contestei a exigência do pedido de desculpas
e não vou repetir-me aqui. No âmbito de um debate que já dura há ano e
meio parece-me mais útil insistir nos aspectos em que Pedro Lains tem
razão, e trazer à superfície outros que ele não focou e que são, a meu
ver, muito importantes.
O texto de Pedro Lains tem a grande vantagem de apontar o carácter
multinacional do tráfico negreiro. O autor fala-nos em “navios saídos de
Lisboa, carregados de panos vindos da Índia, usados para pagamento dos
escravos na costa africana, depois traficados para o Brasil, onde os
negociantes locais os pagavam com prata, adquirida a troco de ouro no
Rio da Prata, na actual Argentina, prata essa que era depois remetida
para Lisboa, usada para pagar os panos comprados na Índia e assim fechar
o círculo”. Diz-nos que “os capitais deste comércio podiam ser
portugueses, brasileiros, indianos, espanhóis, ingleses ou holandeses,
seguindo os fluxos financeiros de então, cada vez mais globais”. E logo
acrescenta que “nesta história, entram os comerciantes e traficantes de
Lisboa e do Brasil, os traficantes africanos, os colonos espanhóis do
Rio da Prata, os comerciantes indianos, e os capitalistas de várias
origens. Toda uma rede global em que os africanos escravizados se viram
envolvidos, enquanto elo mais fraco. Esta visão alargada do tráfico de
escravos mostra a complexidade da operação e a multiplicidade das
responsabilidades”.
Pedro Lains tem toda a razão quando acentua “a multiplicidade de responsabilidades”, algo que também tentei explicitar num artigo no Observador.
E tem igualmente razão quando lembra que o tráfico de escravos terminou
“quando era ainda negócio rentável e por deliberada acção política,
guiada pelo iluminismo e pela incipiente opinião pública de então”. Há,
todavia, um aspecto em que não tem razão, ou antes, em que teria sido
possível e desejável esclarecer melhor o que efectivamente se passou. A
visão que Lains nos transmite não é suficientemente representativa
porque é concebida em termos de tráfico triangular, um conceito que só
se aplica marginalmente ao caso português. A ideia, ainda muito comum
entre nós — e que Pedro Lains sugere e difunde no seu artigo —, de que
os navios saíam de um porto europeu, aportavam às costas africanas,
viajando daí para as Américas carregados de escravos, para depois
regressarem à Europa com produtos coloniais, adequa-se aos casos inglês
ou francês, por exemplo, mas ajusta-se muito mal ao caso português. Quem
consultar o Atlas of the Transatlantic Slave Trade(2010), da autoria de
David Eltis e David Richardson, os responsáveis pela muito citada
Trans-Atlantic Slave Trade Database, verificará que, dos séculos XVI a
XIX, 37% das viagens de navios negreiros se iniciaram no Brasil, 31% na
Grã-Bretanha, 13% em França, 5% na Holanda, outros 5% nas Caraíbas e que
só menos de 4% partiram de Portugal — 3,8%, para ser mais exacto. Os
restantes navios partiram dos Estados Unidos, de Espanha, do Uruguai,
dos estados bálticos e, até, da própria África.
Pedro Lains não tem esses factos em devida conta. Foca-se
exclusivamente nos números brutos da Trans-Atlantic Slave Trade Database
para concluir, em tom de recomendação ou de exigência, que “a
participação de Portugal e do Brasil, enquanto colónia, nesta gigantesca
operação tem de ser entendida”. Deve, de facto, ser bem entendida, mas
uma das primeiras coisas que devemos entender é que o envolvimento
directo de Portugal continental nos 5,5 milhões de escravos embarcados
em África com destino ao Brasil foi limitado. O tráfico no âmbito do
império português fez-se quase sempre da América para África e retorno à
América, sem passar por Lisboa. Quase não houve tráfico triangular no
sentido literal da expressão e, para adquirir escravos na costa
africana, os negreiros recorreram muitas vezes a produtos americanos,
como a aguardente de cana, por exemplo. O problema do comércio de
escravos é, como não me canso de repetir, um problema afro-brasileiro, no qual Portugal riscou menos do que se julga.
Claro que poderá sempre alegar-se que no período colonial, até 1825, o
Brasil foi uma possessão da Coroa Portuguesa e que, por isso, fazia
tudo parte do mesmo bolo, sendo indiferente o local de onde partiam os
navios negreiros. Mas é preciso perceber as circunstâncias e as nuances —
e é também e sobretudo para isso que serve a História. De facto, outra
das coisas que tem de ser entendida é que parte do tráfico de escravos
foi feito à revelia dos interesses e directivas de Lisboa. Pense-se,
desde logo, naquele que foi feito de 1825 em diante para um Brasil já
independente (1,25 milhões de pessoas). Mas mesmo o que se fez
anteriormente correu, por vezes, fora dos canais estipulados e
desejados.
O caso mais elucidativo é o da chamada Costa da Mina, que corresponde
aproximadamente à faixa litoral que vai do Gana à Nigéria. Em meados do
século XVII, com Angola ainda em mãos holandesas, D. João IV autorizou
os comerciantes brasileiros a irem transitoriamente à Costa da Mina
adquirir escravos. Sucedeu, porém, que os baianos encontraram aí
compradores para o seu tabaco de refugo, que não tinha qualquer outro
aproveitamento económico. Abriram, desse modo, um escoadouro comercial
importante que, para além de permitir a colocação de um subproduto da
produção tabaqueira, servia de pretexto para o contrabando com
holandeses, ingleses e franceses que frequentavam os mesmos pontos,
nomeadamente Ajudá. Quando, nas primeiras décadas do século XVIII, a
Coroa Portuguesa tentou que os brasileiros deixassem o mercado de Ajudá e
voltassem ao trato em Angola, eles resistiram, alegando que em Luanda e
Benguela o tabaco de refugo não teria procura e que, não podendo
vendê-lo na Costa da Mina, deixariam de ter interesse em cultivar a
planta, com o que todos perderiam. A Coroa teve de ceder.
É verdade que os governos e interesses de Lisboa tentaram imiscuir-se
no negócio e na administração dessa nova rede escravista, mas sem
grande sucesso. E sempre que procuravam impor regras e restrições àquele
trato, os comerciantes da Bahia e de Pernambuco passavam a frequentar
outros locais, como Porto Novo ou Onim. Assim, o poder central
resignou-se à impossibilidade de quebrar esse laço e a Costa da Mina
revelar-se-ia uma das mais importantes áreas do comércio negreiro, como
tal permanecendo até meados do século XIX.
São todas estas coisas que devemos compreender se quisermos ter uma
visão informada e equilibrada sobre o envolvimento de Portugal no
tráfico de escravos. Não basta dizer, sem apresentar termos de
comparação, que se embarcaram 5,5 milhões de escravos em África para os
levar para o Brasil. É preciso ir além desse número bombástico, ir mais
longe e mais fundo — como, aliás, Pedro Lains foi — para tentar
perceber, entre muitas outras coisas, quem, como e por que razão os
vendeu, e quem, como e por que razão os levou. E perceber também que, ao
contrário do que por aí se diz, Lisboa não foi uma das grandes capitais
do tráfico negreiro — muito longe disso.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Dilma pode até se livrar da cadeia, mas não do hospício.
Agora que a ex-presidente virou ré, como fará a Justiça para decifrar depoimentos em dilmês?, pergunta Augusto Nunes:
Só Dilma Rousseff
fala dilmês ─ um estranhíssimo subdialeto que não faz sentido por ser
uma procissão de falatórios sem pé nem cabeça. Algumas frases começam
mas não terminam. Outras terminam sem ter começado. Muitas são
interrompidas por pausas bêbadas que precedem mudanças de assunto, de
tom, de direção. Nenhuma frase diz coisa com coisa. Só Dilma, ou nem
ela, sabe o que quis dizer, mas não foi dito, porque alguma coisa
acontece entre a ordem dada pelo cérebro deserto de neurônios e o que
sai pela boca.
Como esse assombro
linguístico é falado apenas por quem o inventou, o dilmês não tem
tradutores nem intérpretes. Não pode ser traduzido o que ninguém
entende. Feita a constatação, vem a pergunta inevitável: agora que Dilma
virou ré, como fará a Justiça para decifrar depoimentos em dilmês? Se o
juiz quiser, por exemplo, pedir-lhe explicações sobre contratos da
Petrobras superfaturados em 30%, poderá ouvir uma preciosidade que há
muito tempo faz sucesso na internet.
“A Petrobras tem o
direito a 30% de uma parcela de 25% a 30%. É isso que é o pré-sal. Tirar
a Petrobras de 30% não é tirar de 30%, é tirar de 7,5% ou 12,5%. E, com
isso, é um desconhecimento porque poucas empresas do mundo a Petrobras é
uma”. Parece mentira, mas é isso o que Dilma aparece dizendo no vídeo
antológico.
Com declarações desse teor, ela pode até livrar-se da cadeia. Mas não vai escapar de uma longa temporada em algum hospício.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Em desmanche
O presidente eleito Jair Bolsonaro disse que "o importante não é o que
vamos fazer, mas o que vamos desfazer". De fato, há muito para
desmanchar no país: "a verdade, para simplificar a história, é que o
país se prejudica muito mais com as coisas que o governo faz do que com
as coisas que não faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não
fizesse nada do que não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano
Quinquenal. Não precisa de “obras estruturantes” nem de “políticas
públicas”. Coluna de J. R. Guzzo, na próxima edição de Veja:
Circulou no noticiário um pensamento muito interessante que o novo
presidente, Jair Bolsonaro, expressou durante uma conversa com a também
nova deputada Janaina Paschoal. “O importante não é o que vamos fazer”,
disse ele, “mas o que vamos desfazer.” O Brasil será um país a caminho
da felicidade se Bolsonaro estiver mesmo pensando assim — e,
principalmente, se conseguir até o fim do seu mandato desmanchar metade
do que imagina que precisa ser desmanchado. O país, caso essa visão se
transforme em realidade, fará mais progresso em seu governo do que fez
nos últimos cinquenta anos. Já aconteceu com o Mais Médicos, que sumiu
antes mesmo de o novo governo começar. Continuará a acontecer? É claro
que muita gente pode perguntar: como assim, se há tanta coisa que
precisa ser feita, e com tanta urgência? Simples: isso tudo deverá vir
naturalmente, no espaço deixado pela monstruosa montanha de entulho que
foi jogada em cima da sociedade brasileira nos últimos quinze anos.
Pense um minuto, por exemplo, no “trem-bala” dos presidentes Lula e
Dilma. Não existe trem-bala nenhum. Nunca existiu. Nunca vai existir. A
única coisa que existiu, aí, foi a transferência de dinheiro do seu
bolso para o bolso dos empresários do “campo progressista”. Mas até hoje
continua existindo a empresa estatal legalmente constituída para cuidar
do “projeto”. Chama-se EPL, tem diretoria, 140 funcionários, orçamento
de 70 milhões de reais e por aí afora. Nenhum país no sistema solar pode
dar certo desse jeito.
A escolha é clara: ou o Brasil progride, cria riquezas, cria
empregos, gera e distribui renda com o desenvolvimento da atividade
econômica produtiva, ou tem o trem-bala de Lula e Dilma. É uma coisa ou a
outra: não dá para ter as duas ao mesmo tempo. Também não dá para
melhorar a vida de um único pobre, um só que seja, doando 1,3 milhão de
reais de dinheiro público à cantora Maria Bethânia, para que ela declame
poemas num blog pessoal, em clipes produzidos pelo diretor Andrucha
Waddington. Não será possível ir a nenhum lugar enquanto continuar
existindo a TV Brasil, invenção de Lula que custa 1 bilhão de reais por
ano, emprega mais de 2 000 amigos do PT e tem zero de audiência. Que
mais? Mais de mil coisas, ou seja lá quantas forem, que a segunda parte
do governo Dilma — este que está aí, com o nome de “governo golpista” de
Michel Temer — deixou intactas para você pagar. Tirem esse lixo todo
daí e o Brasil dará um salto.
A verdade, para simplificar a história, é que o país se prejudica
muito mais com as coisas que o governo faz do que com as coisas que não
faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não fizesse nada do
que não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano Quinquenal. Não
precisa de “obras estruturantes” nem de “políticas públicas”. Não
precisa da Refinaria Abreu e Lima, pela qual você está pagando 20
bilhões de dólares desde o início do governo Lula — dez vezes mais do
que estava orçado — e que até agora não ficou pronta. (Essa era a tal em
que fizeram a Petrobras ficar sócia da Venezuela de Hugo Chávez, que
nunca colocou um único tostão na obra.) Não precisa de PAC — um
monumento mundial à roubalheira, à incompetência e à mentira. Não
precisa de pirâmides como a Copa do Mundo, ou a Olimpíada, com estádios e
uma Vila Olímpica inteira hoje afundando no chão, porque roubaram no
material, no projeto e em tudo o que foi humanamente possível roubar —
sem que nenhuma alma em todo o majestoso Estado brasileiro ficasse
sabendo de nada. O teste mesmo é o seguinte: o Brasil estaria melhor ou
pior se não tivesse feito nada disso?
Num país em que uma empresa pode gastar 2 000 horas por ano só
lidando com as exigências que o governo inventa para arrecadar impostos —
e quando se vê que essas 2 000 horas significam 83 dias de 24 horas,
inteiramente perdidos, sem que se produza um único alfinete —, dá para
se ter uma ideia da ruína em que colocaram o Brasil. Se o governo
desfizer isso, simplesmente desfizer, será melhor ou pior? Fala-se aqui,
singelamente, das aberrações mais estúpidas. Espere até chegarem os
problemas realmente classe AAA, gold-platinum-plus — como a constatação
de que 50% de todos os gastos federais vão unicamente para a
Previdência Social, e que o grosso disso é engolido com o pagamento das
aposentadorias dos funcionários públicos — sobretudo da elite de gatos
gordos. (Esses são os “direitos” que não podem ser tocados.) Será
inútil, simplesmente, querer montar alguma coisa de útil no Brasil
enquanto não se desmontar esse ambiente de demência.
Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Olavo de Carvalho, capa de Veja: "sou o segundo governo".
A revista Veja
que estará nas bancas neste final de semana traz reportagem de capa com
o filósofo Olavo de Carvalho, que conseguiu colocar dois nomes no
governo eleito e é assim apresentado: "quem é o guru da direita que
conquista fiéis com cursos on-line e vocabulário obsceno, ensinará
filosofia a parlamentares e indica ministros para Bolsonaro":
Em 2014, de sua casa de dois andares na cidade de Carson, no estado
americano da Virgínia, Olavo de Carvalho, hoje aos 71 anos, gastava
parte de seu tempo tentando insuflar, nas redes sociais, a candidatura à
Presidência da advogada Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional
de Aviação Civil que ganhou fama ao dar declarações incendiárias durante
o caos aéreo entre 2006 e 2007. A empreitada presidencial de Denise
naufragou, mas o apoio de Olavo de Carvalho não esmoreceu: persistiu
quando ela decidiu, no mesmo ano, sair candidata a deputada federal —
outra tentativa fracassada. Quatro anos depois, o ex-astrólogo,
jornalista e filósofo, autor de 27 livros e pai de oito filhos, fez a
aposta política mais certeira. Apoiou, pediu votos, forneceu o lastro
ideológico para a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência e, após a
vitória, emplacou dois ministros no governo: Ernesto Araújo, diplomata, e
Ricardo Vélez Rodriguez, professor. Dispor de tamanha influência em um
governo eleito com mais de 57 milhões de votos alça o filósofo — que
jamais cursou ensino superior em filosofia — a uma posição singular no
governo de Bolsonaro, apesar de nunca ter encontrado o presidente eleito
ao vivo. Conhece pessoalmente só seus filhos Eduardo e Flavio, deputado
federal e senador eleitos.
“Professor Olavo”, como o guru é conhecido nas redes, não desmerece o
poderio recém-alcançado. A VEJA, explica a importância de sua
contribuição intelectual, recorrendo a Alexander Soljenítsin
(1918-2008), autor de Arquipélago Gulag, radiografia dos campos de
concentração comunistas na Rússia soviética: “Essa influência que eu
exerci está explicada em uma frase do Soljenítsin: ‘O grande escritor é
como se fosse um segundo governo’. Entende por que eu não quero nenhum
cargo público? Porque eu já sou esse segundo governo. A influência
intelectual é uma coisa, assim, que transcende e engloba a política. E
eu já estou neste posto e estou muito contente com ele. Era o que eu
queria ser quando crescesse. Já cresci e já sou”.
O professor diz que, para chegar lá, não fez muito esforço. Segundo
ele, a admiração por Bolsonaro veio a partir de seus discursos na
Câmara, que circulavam no início dos anos 2010 em seletos rincões da
internet. “Engraçado” e “sincero” são alguns dos adjetivos usados pelo
filósofo para se referir ao presidente eleito. A aproximação com o clã
só se deu em 2012, quando Flavio, entusiasta da produção literária do
professor Olavo, foi até a Virgínia entregar-lhe a Medalha Tiradentes,
honraria do governo do Rio de Janeiro a personalidades que prestaram
serviços ao estado — onde o filósofo morou de 1991 a 1999. Daí por
diante, os laços se estreitaram. Para convencer Eduardo a lançar-se pela
primeira vez candidato a deputado, em 2014, Bolsonaro presenteou o
filho com O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota,
best-seller de Olavo, lançado em 2013, que vendeu mais de 300 000
exemplares (veja o quadro na pág. 52). Eduardo gostou tanto do que leu
que se matriculou no curso on-line de Olavo, cujas aulas em formato
livesão ministradas por ele semanalmente da biblioteca de sua casa em
Petersburg, cidade onde vive hoje, também na Virgínia. Nesse período, a
prole organizou dois hangouts com Olavo com a presença do próprio Jair.
“Bolsonaro teve a prudência de se apegar a mim porque sou um bom
conselheiro”, diz o professor ao discorrer sobre seus méritos.
Das conversas virtuais à indicação de ministros, um imenso rio
transcorreu. Um dos alunos mais devotos de Olavo e seu principal
escudeiro nas redes sociais, Filipe Garcia Martins, de 30 anos,
aproximou-se de Eduardo ainda em 2014 e desde então tornou-se não só
amigo do deputado mas também o principal interlocutor do professor
dentro do clã. Bacharel em relações internacionais pela Universidade de
Brasília (UnB), Martins entrou oficialmente na campanha em 2018 para
cuidar da área “internacional” do PSL, partido do presidente eleito. Uma
de suas atribuições era colocar a campanha em contato com Steve Bannon,
ex-estrategista de Donald Trump e idealizador do grupo nacionalista
Movimento, que tem se referido a Bolsonaro como “o tipo de líder que só
aparece a cada duas gerações”. Martins também foi responsável por
apresentar o diplomata Araújo e o professor Vélez Rodriguez aos
Bolsonaro. Enquanto vivia em Washington, Araújo visitou Olavo, a quem
mostrou textos de sua autoria. “Vi que é um homem de intelecto gigante,
capaz de analisar as coisas da política externa em um nível filosófico
que ninguém na mídia brasileira consegue”, diz Olavo. Araújo, pouco a
pouco, vem revelando nuances da genialidade que o filósofo diz ver em
seus escritos. Em artigo no jornal Gazeta do Povo, publicado no dia 26,
escreveu que trabalhará contra o “alarmismo climático” — o nome que dá
ao aquecimento global — e a adesão a “pautas abortistas e anticristãs”.
Já Vélez, de quem Olavo conhece teses acadêmicas, mas com quem se
encontrou poucas vezes no Brasil, é alguém que “vai colocar os
interesses da nação acima de suas ideias”, avalia o guru.
As duas indicações foram formuladas, segundo Olavo, depois que ele
ouviu rumores de que “um cidadão ligado a um governo globalista e ao
George Soros (investidor húngaro radicado nos Estados Unidos)” chefiaria
o Ministério da Educação. “Se entrasse um cara desses, estaria tudo
acabado”, afirmou. Aproveitou a deixa para sugerir não só Vélez, mas
também Araújo. As apresentações dos ministros aos Bolsonaro ficaram a
cargo de Martins, que também cuidará para que cerca de vinte deputados
do PSL viajem para a Virgínia para ter aulas de filosofia com o
professor.
Olavo com o poeta Bruno Tolentino e o maestro João Carlos Martins. |
Até tornar-se conselheiro presidencial, Olavo teve uma vida
irrequieta. Filho de um advogado e uma operária da indústria gráfica que
se divorciaram quando ele ainda era criança, saiu de casa e da escola
aos 15 anos para ganhar a vida. Diz ter desistido do ensino formal
quando uma professora de português pediu que lesse Joaquim Manuel de
Macedo e ele se recusou, afirmando estar muito ocupado lendo obras do
escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Tornou-se um leitor voraz,
embora seja um crítico de qualquer método de educação convencional —
tanto que a primogênita de seus oito filhos, Heloisa, se envolveu em uma
briga pública com o pai ao alegar não ter sido escolarizada durante a
infância. Sem aptidão para os esportes e inclinado a paixões platônicas,
Olavo era conhecido por ser “bom de papo”. Na adolescência, tinha
fascinação pela obra de Karl Marx e Antonio Gramsci, autores contra os
quais hoje destila repulsa. “O Olavo era comunista. Tinha uma turminha
de comunistas no colégio, e ele fazia parte. Ficava buzinando na minha
orelha para eu virar comunista, mas eu só queria jogar bola”, lembra o
amigo Valentino Bergamo Filho.
Depois de deixar a escola, Olavo recorreu ao jornalismo para
sobreviver — primeiro trabalhou no jornal Notícias Populares,
entrevistando “p… e delegado”, em suas palavras, e depois no Jornal da
Tarde, no qual revisava textos dos repórteres. Desse período, colegas se
recordam dele como alguém discreto e reservado, mas Olavo carrega
lembranças de ter sido humilhado, como na ocasião em que, escalado para
fazer a cobertura do palácio do governo de São Paulo, foi ignorado pelos
setoristas mais experientes: quando havia entrevistas coletivas, ele
não era avisado. Incomodava-o ainda o fato de, como copidesque do
Jornal da Tarde, ter de corrigir textos de repórteres com diploma na
profissão que eram considerados por ele intelectualmente inferiores.
Quando jornalista iniciante, também foi um militante de esquerda. Foi
membro de um grupo de guerrilha urbana organizado nos tempos da
ditadura militar. Na época, Olavo chegou a dividir o teto com os hoje
petistas José Dirceu e Rui Falcão na Casa do Estudante, que abrigava
alunos do curso de direito da USP. Mas decepcionou-se com a esquerda no
início dos anos 1970. Diz ter se assustado quando integrantes da
organização lhe pediram que ajudasse a colocar em cárcere privado um
membro do grupo cuja namorada era suspeita de ser agente do Dops, o
braço da ditadura que zelava pela “ordem política e social”. Olavo
afastou-se do grupo, mas antes cumpriu a missão.
Olavo com a mulher e os dois filhos caçulas. |
Nos anos 1970, ainda jornalista, interessou-se por astrologia,
alquimia e esoterismo. Dedicou-se a esses assuntos anos a fio. Ministrou
cursos sobre os temas em uma sala nos Jardins, em São Paulo, à qual deu
o nome de Escola Júpiter. Nesse período, Olavo não costumava escrever
suas opiniões na imprensa. Isso só passou a ocorrer em meados dos anos
1990, depois que publicou seu primeiro livro de repercussão, O Imbecil
Coletivo, em que ataca uma obsessão: a classe intelectual “dominada pelo
marxismo”. Jornalistas e acadêmicos, justamente aquelas categorias
profissionais que não o acolheram como esperava, tornaram-se seu
principal alvo. Sua tese era que, fracassado o socialismo, a esquerda
teria adotado a estratégia gramsciana de “povoar a cultura” para depois
infiltrar-se na política. Por isso, diz ele, “comunistas” começaram a
ocupar espaços nas universidades, na imprensa e em todas as áreas do
conhecimento. Quando O Imbecil Coletivo foi lançado, Olavo já havia
publicado dez livros (de Aristóteles a astrologia), mas todos passaram
em branco. Com O Imbecil, ganhou certa fama de polemista e começou a
integrar o panteão dos escritores “de direita”. Colaborou com as
revistas Bravo!, República,Primeira Leitura e Época e teve uma coluna no
jornal O Globo, do qual foi demitido em 2005, ano em que se mudou para
os Estados Unidos como correspondente do Diário do Comércio. Desde
então, jamais voltou a pisar no Brasil.
Teve três mulheres: aos 21 anos, Eugênia, mãe de seus quatro
primeiros filhos; Silvana, com quem teve dois; e Roxane, mãe dos dois
mais jovens e com quem é casado até hoje. Católico praticante depois de
passear pelo misticismo e pelo sufismo, Olavo é crítico fervoroso do
aborto e não se diz entusiasta de métodos contraceptivos. Seu passatempo
preferido é “dar uns tiros” no jardim de sua casa com uma
Steyr-Mannlicher calibre .375 H&H, sua arma de caça favorita. Nutre
aversão visceral aos filósofos brasileiros da USP, que ele classifica
de “imbecis”, e é plenamente correspondido. Elogia poucos intelectuais,
entre eles o poeta Bruno Tolentino, de quem foi amigo, o economista
Roberto Campos e o escritor Ariano Suassuna — todos falecidos. Na
Virgínia, criou um curso on-line de filosofia que até hoje, segundo
suas contas, já lhe garantiu 20 000 alunos, que pagam até 640 reais por
ano para baixar suas aulas. Olavo não diz quanto ganha com os cursos e a
venda dos livros, mas afirma receber “mais que professor universitário e
que a maioria dos jornalistas, exceto os que sobem na vida puxando o
saco do patrão”. Recluso, não tira férias e só sai de casa se é
estritamente necessário. O cineasta pernambucano Josias Teófilo,
expelido do meio intelectual depois de tornar-se admirador de Olavo e
lançar um documentário sobre sua vida, intitulado O Jardim das Aflições,
conta que o filósofo carrega sempre um livro para onde vai e é capaz de
sacá-lo no meio de um jantar e começar a ler enquanto os demais
conversam.
Sua relação com os alunos mais devotos tende a ser mercurial. Quando
obedecem a seus ensinamentos e lhe dão o devido crédito, são gênios.
Quando os contestam, são expulsos dos grupos de estudo e, não raro,
atacados nas redes sociais pelos fiéis, também chamados de “olavetes”. O
economista Rodrigo Constantino, que não chegou a fazer o curso mas já
foi alvo da fúria de Olavo na internet, afirma que a dificuldade do
professor em lidar com o contraditório vem do medo de ser “ofuscado”.
“Ele briga com qualquer pessoa que se destaca nesse meio liberal
conservador e que represente algum risco de dividir a atenção. Só não
briga com aqueles que se mantêm submissos e prestam referência de que
ele é o seu guru”, diz Constantino, que, apesar de tudo, afirma
respeitar a obra do filósofo. A persona de Olavo nas redes faz uso
constante de termos vulgares, sob o pretexto de que “qualquer palavrão”
dito por ele “é mais decente do que oração em latim recitada por padre
comunista”. Mais do que as ideias persistentes de Olavo de Carvalho, foi
o inimigo em comum com Bolsonaro que o aproximou do hoje presidente
eleito. Será curioso ver de que lado Olavo ficará quando o novo
mandatário sentir as dores reais do poder, muito mais nocivas que os
fantasmas da Guerra Fria.
O governo de Jair Bolsonaro, antes mesmo da posse, está vivendo um
intenso love affair com a Casa Branca. Na quinta-feira 29, o conselheiro
para assuntos de segurança dos Estados Unidos, John Bolton, a caminho
da reunião do G20 em Buenos Aires, aproveitou para se reunir com Jair
Bolsonaro em sua casa no Rio de Janeiro. O presidente eleito disse que a
conversa foi “producente e grata”. O assessor da Casa Branca informou
apenas que foram discutidos “interesses bilaterais” — e transmitiu ao
presidente eleito um convite de Donald Trump para visitar Washington.
Tão conhecido pelas posições radicais e um tanto belicistas quanto pelo
seu farto bigode de morsa, Bolton defende um ataque militar à Coreia do
Norte e duras sanções contra a Venezuela. Em uma entrevista recente,
disse que vai propor ao Brasil parceria para combater o terrorismo.
Enquanto Bolton estava no Brasil, o deputado Eduardo Bolsonaro, o
terceiro filho do presidente eleito, visitava os Estados Unidos. Foi
recebido na Casa Branca por Jared Kushner, genro de Trump e um de seus
principais conselheiros (veja em Radar, na pág. 40). Na saída, posou
para fotos usando o boné da reeleição de Trump em 2020. O motivo da
visita é tentar “resgatar a credibilidade brasileira no país”, segundo
ele. Também houve um encontro com senadores do Partido Republicano,
conversas com investidores e visita ao presidente da Organização dos
Estados Americanos, Luis Almagro.
Na terça-feira, o deputado foi um dos convidados para o jantar de
aniversário de Steve Bannon, o ex-estrategista da campanha de Trump e
líder de um movimento direitista internacional. Depois do encontro, o
deputado postou nas redes sociais uma foto dos dois e classificou Bannon
como “um ícone no combate ao marxismo cultural”. Ao postar a imagem em
seu perfil no Twitter, Eduardo divulgou uma conta falsa de Bannon. Foi
uma gafe com reciprocidade, digamos assim. Em recente entrevista ao
jornal inglês The Guardian, Bannon chamou o presidente Bolsonaro de
“Botolini”.
A próxima missão “diplomática” de Eduardo é impedir que a Cúpula
Conservadora das Américas, um evento que pretende reunir na próxima
semana em Foz do Iguaçu os expoentes da direita latino-americana, se
transforme num fiasco. A ideia dos organizadores é fazer um contraponto
ao Foro de São Paulo, entidade que agrega os partidos e organizações de
esquerda da região. Até agora nenhum chefe de Estado confirmou
participação. O próprio Jair Bolsonaro não sabe se comparecerá. Olavo de
Carvalho, um dos palestrantes da Cúpula, também já disse que não estará
fisicamente presente. Participará por videoconferência.
Ao fazer uma transmissão ao vivo após a vitória, em 28 de outubro,
Jair Bolsonaro exibiu duas obras de não ficção na mesa de sua casa: o
livro O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota, reunião de
artigos de Olavo de Carvalho organizados por Felipe Moura Brasil, e o
segundo volume das memórias de Winston Churchill. A exposição alçou
ambos às listas de mais vendidos, o que significa que pelo menos 1 000
unidades foram comercializadas em uma semana. Foi a primeira vez que o
livro de Churchill atingiu tal patamar no país.
A produção literária de Olavo de Carvalho tem sentido mais
intensamente as delícias de contar com um leitor como Bolsonaro. Ao ser
relançado pela Editora Record no Brasil às vésperas da eleição, O
Imbecil Coletivo foi comprado por 40 000 leitores — Homo Deus,
best-seller de Yuval Harari, vendeu 49 000 cópias no país em 2018. Já O
Mínimo, cuja primeira edição é de 2013, teve saída de mais de 18 000
unidades após a “live da vitória” — e mais de 300 000 no total, quase o
mesmo patamar da autobiografia de Rita Lee, lançada em novembro de 2016
pela Globo Livros e que até o momento vendeu 350 000 exemplares.
A influência de Bolsonaro e a redescoberta da direita têm favorecido
não só as obras de Olavo, mas também as de outros autores que abordam
temas similares. Deputado eleito pelo mesmo partido do presidente, o
príncipe Luiz Philippe Orleans e Bragança, em sua obra inaugural, Por
que o Brasil É um País Atrasado?,lançada pela Novo Conceito,
comercializou mais de 10 000 unidades apenas em 2018. Para a Câmara
Brasileira do Livro, um título que vende um total de 15 000 exemplares
pode ser chamado de best-seller.
Segundo dados da Record, que hoje edita os livros de Olavo no Brasil,
independentemente do boom editorial atrelado a Bolsonaro, o filósofo é
considerado um dos autores mais populares do selo, com vendas mensais de
2 000 unidades, em média. É um dos raros autores brasileiros capazes de
viver de direitos autorais — ele recebe, em média, 10% do valor de
capa. Nada mau para um escritor autodidata que nem concluiu o ensino
médio.
Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2018, edição nº 2611.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
O liberalismo e o poder
Diretor do Instituto Juan de Mariana (Espanha), Juan Ramón Rallo afirma, em artigo publicado pelo Instituto Cato,
que a resposta liberal às más opções que uma pessoa faz para existir
não pode passar pela limitação das liberdades de alguém, mas pela
eliminação das múltiplas barreiras que ainda hoje obstaculizam o
surgimento de boas alternativas:
Afirma mi compañero Esteban Hernández
que servidor es liberal en todos los aspectos salvo en uno crucial: “el
poder”. A su juicio, muchos liberales nos hemos vuelto los aliados de
los poderes fácticos (“los tontos útiles”, imagino que preferiría haber
escrito) y, al hacerlo, hemos traicionado la esencia propia del liberalismo: luchar contra la interferencia del poder (en este caso, la del “poder económico”) sobre nuestras vidas.
Empecemos por el principio: ¿cuál debería ser la postura liberal
frente al poder? Hernández presume que la postura liberal ha de ser la
de impedir que cualquier poder ejerza influencia alguna sobre vidas
ajenas, pero para llegar a una conclusión tan fuerte habría que empezar
por demostrarlo. A la postre, poder simplemente significa “facultad o
potencia de hacer algo”: por ejemplo, poder leer simplemente significa
poseer la capacidad para leer (a saber, disponer de aquellos medios
humanos y materiales que permiten alcanzar el objetivo de leer); poder
escalar el Everest significa poseer la capacidad de coronar la cima.
Eliminar el poder, pues, sería tanto como eliminar la capacidad de
obrar: suprimir las capacidades de cada persona para alcanzar sus
correspondientes fines.
Sin embargo, es dudoso que Hernández se vea perturbado por los
poderes/capacidades que ejerce un individuo aislado. Lo que —entiendo—
le preocupa enormemente es lo que podríamos denominar 'poder social': a
saber, nuestra capacidad para influir sobre la vida de otras personas.
Desde esta perspectiva, lo que deberíamos hacer los liberales es
criticar toda forma de poder social: toda capacidad que posea cualquier
individuo para influir en la vida de los demás.
Pero esta exigencia resulta enormemente problemática por dos motivos:
por un lado, porque las personas interactúan entre sí y, al hacerlo,
cada una de ellas ha de contar con plena autonomía para determinar los
términos de esa interacción, algo que inevitablemente influirá sobre la
vida de los demás; por otro, porque, en muchos casos, los fines vitales
de una persona pueden consistir en influir a los demás.
Primero, desde un punto de vista liberal, toda relación entre dos
personas ha de ser de mutuo acuerdo. Si un individuo puede ser forzado a
relacionarse con otro, entonces estamos recortando sus libertades.
Imaginemos una persona a la que se obliga a casarse con otra; o a
trabajar profesionalmente con otra; o a escribir en un determinado medio
de comunicación; o a vender su casa a un comprador; o a unirse a una
determinada confesión religiosa, etc. El liberalismo evidentemente
defenderá la libertad de cada individuo para rechazar asociarse con
aquellos con los que no desea asociarse. Pero en tanto en cuanto le
reconocemos a cada persona el derecho a decir que no, también le estamos
reconociendo el derecho a decir un 'sí condicionado': “si me prometes
fidelidad, me casaré contigo”; “si nos repartimos las tareas de esta
manera, cooperaré profesionalmente contigo”; “si me garantizas la
autonomía para escribir lo que quiera, publicaré en tu medio”; “si me
pagas tanto por la casa, te la venderé”; “si me permites compatibilizar
tu religión con el culto a mis dioses familiares, entonces me uniré”,
etc. La libertad para negociar los términos de la interacción es, en el
fondo, la libertad para tratar de influir sobre los demás: “Si quieres
relacionarte conmigo, adapta tus planes vitales a satisfacer mis
peticiones”. Pero eso, la capacidad de condicionar los términos de mis
relaciones con los demás, es poder social.
¿Debe el liberalismo obligar a una persona a que se relacione con las
demás? No: sería un incuestionable ataque a su libertad. ¿Debe el
liberalismo impedir que una persona establezca condiciones a sus
relaciones con los demás? Sería absurdo, dado que entonces muchas
interacciones potencialmente beneficiosas dejarían de desarrollarse (y,
además, le estaríamos dando todo el poder a la contraparte: esta podría
exigirnos interactuar con ella sin darnos nada a cambio). Entonces,
¿puede el liberalismo oponerse 'per se' a toda manifestación de poder
social? Desde luego que no.
Pero, como decíamos, existe un segundo motivo por el cual el
liberalismo no debe oponerse a toda manifestación del poder social: los
planes vitales de muchas personas consisten, precisamente, en influir
sobre los demás. Pensemos en lo que sucede con filósofos, predicadores,
'influencers', opinólogos, publicistas y también empresarios: todos
ellos dedican sus vidas a tratar de persuadir a los demás de que
deberían abrazar determinadas ideas, determinado estilo o determinado
producto. Y algunos de ellos, en la medida en que gocen de mejores
tribunas, de mejores argumentos o de mejor habilidad divulgadora, serán
más eficaces a la hora de lograr su objetivo: es decir, tendrán un mayor
poder social sobre los demás. El propio Esteban Hernández posee mayor
poder social para persuadir al resto de ciudadanos que un jubilado o un
estudiante de periodismo (escribe en uno de los periódicos más leídos de
España; posee una prosa convincente, y es una persona con un buen
bagaje de lecturas): ¿deberíamos restringir su libertad para anular ese
poder social de persuasión? No parece que en sí mismo sea algo negativo o
reprobable, por mucho que Hernández termine influyendo poderosamente
sobre la vida de sus lectores.
La postura liberal ante el poder,
pues, no puede ser la de oponerse sin más a cualquier capacidad de
obrar o de ejercer algún tipo de influencia sobre los demás sino, en
esencia, la de oponerse al poder ilegítimo, ya sea ilegítimo en su
origen o en su (ab)uso. Es decir, cuando una persona posee poder por
haber violado derechos ajenos (“soy rico porque me he apropiado
violentamente de los bienes de otros”; “tengo una enorme capacidad de
influencia porque soy la única editorial autorizada a publicar libros”) o
cuando ejerce ese poder para conculcar derechos ajenos (“uso mi
verborrea para manipularte y que cometas un crimen”; “te contrato para
que extorsiones a mi vecino”), entonces el liberal se opondrá
radicalmente a esas formas de poder. 'A contrario sensu', si una persona
ejerce sus capacidades dentro de su esfera de derechos individuales
(libertad, propiedad, contratos), entonces 'prima facie' no habrá nada
que reprocharle.
Por ejemplo, Hernández se queja de que, actualmente, el poder se
concentra en el sector financiero: dejando de lado la conspiranoia que
en demasiadas ocasiones existe al respecto, los liberales sí nos
oponemos frontalmente a los privilegios que alimentan ese poder financiero en la actualidad, a saber, su acceso (cuasi) ilimitado a la liquidez del banco central y su promesa de rescate a costa del contribuyente.
¿Cuántas entidades financieras sobrevivirían si cerráramos los bancos
centrales (o los sometiéramos a los mismos principios jurídicos a los
que se somete el resto del sector privado) y si impidiéramos el rescate
estatal de la banca? Con su modelo de negocio presente, probablemente
ninguna: difícil concluir que semejante discurso beneficia a sus
principales perjudicados, esto es, al poder financiero. En cambio,
Inditex se dedica a diseñar, producir y distribuir textil sin violar los
derechos de ninguna persona: para arruinarla deberíamos restringir muy
seriamente la libertad de las personas de relacionarse con ella. El
poder (económico y social) de unos es ilegítimo, mientras que el de la
otra no lo es.
Con todo, puede que limitar la crítica liberal al poder ilegítimo no
satisfaga plenamente a quienes, desde la izquierda, se preocupan, no sin
cierto motivo, de que las diferencias de poder, incluso legítimas,
puedan conducir a situaciones de opresión o dominación: a saber, que uno
se convierta, en contra de su voluntad, en un títere dentro de los
planes de otra persona. Y, al respecto, permítanme efectuar dos
comentarios.
Primero, cuando se afirma que una persona se relaciona (por ejemplo,
laboralmente) con otra “en contra de su voluntad”, lo que en realidad
estamos queriendo decir es que “esa persona no querría relacionarse con
la otra, pero sus restantes alternativas son tanto peores que no le
queda otro remedio menos malo”. ¿Y por qué todas sus alternativas son
tan malas? En ocasiones, porque se están violando sus libertades (por
ejemplo, un esclavista que amenace con ejercer la violencia contra su
esclavo si este le desobedece); en otras, por mala suerte, malas
decisiones vitales, mala situación de partida, mal entorno, etc. (por
ejemplo, si me hipoteco para comprarme una casa y esta se destruye en un
terremoto sin haberla asegurado, mi situación personal se volverá muy
precaria sin necesidad de que nadie haya violado mis libertades en esa
triste sucesión de acontecimientos). Cualquier ser humano mínimamente
empático lamentará que otras personas se hallen en posiciones precarias
desde las que tomar decisiones: algunos de ellos decidirán ayudarlos,
otros se mostrarán indiferentes y aun otros tratarán de aprovecharse. La
cuestión, empero, es si un ordenamiento jurídico liberal puede
imponernos a todos algún tipo de obligación para con esas personas: ya
sea limitar nuestra libertad de relacionarnos con ellas (“no es
aceptable que os relacionéis de este modo”) o ya sea el disfrute pleno
de nuestra libertad o propiedad (“tenéis que destinar parte de vuestro
tiempo o de vuestros recursos a ayudarles forzadamente”).
Y, en demasiadas ocasiones, esta cuestión se formula únicamente en
relación con el derecho de propiedad: como si la propiedad, por alguna
extraña razón no bien expresada, fuera menos importante que otras de
nuestras libertades. Así que traslademos esa misma cuestión a otros
ámbitos: imaginemos que Pablo Iglesias tiene mayor capacidad de persuasión que Santiago Abascal
(Iglesias tiene un enorme poder social sobre los votantes y Abascal
no). ¿Cuál debería ser la respuesta del ordenamiento jurídico ante esta
situación? ¿Deberíamos impedir que Iglesias desmonte discursivamente las
propuestas de Abascal para que los votantes no huyan del segundo y se
echen en brazos del primero? (es decir, impedirle que ejerza su poder
social de influencia sobre el votante en perjuicio de Abascal), ¿O
deberíamos obligar a los ciudadanos a que regalen parte de su tiempo y
recursos a Abascal para que este pueda competir en términos más
equitativos con el persuasivo Iglesias? (por ejemplo, asistencia
obligatoria a sus mítines o transferencias de recursos a su plataforma
política). Planteado de este modo, creo que a todos nos chirriará que,
en nombre de la libertad, puedan llegar a plantearse semejantes
limitaciones de la libertad de expresión, de la libertad de asociación o
de la propiedad privada.
No, la respuesta liberal ante la precariedad de las opciones vitales
de una persona (y su consecuente desventaja negociadora en los tratos
con terceros) no puede pasar esencialmente por limitar las libertades de
nadie, sino por suprimir las muchas barreras regulatorias que a día de
hoy todavía siguen obstaculizando la aparición de buenas alternativas
(verbigracia, restricciones a la competencia que instituyen monopolios y
monopsonios), por minimizar la pobreza, por incrementar el poder
negociador de muchas personas vía asociacionismo (mutualidades,
sindicatos, asociaciones de consumidores, etc.) y por promover
comportamientos voluntarios de carácter virtuoso (responsabilidad para
con uno mismo y para con los demás). No hace falta cercenar las
libertades de nadie para mejorar las alternativas existenciales de
muchísimas personas: basta con no perjudicarlas de un modo ilegítimo.
Pero además, y en segundo lugar, ¿cuál es la alternativa, dizque
liberal, que nos ofrece Hernández para liberar a los ciudadanos de
cualquier situación de dominación social? ¡Someterlos todavía más al
demos! Es decir, aumentar la capacidad de interferencia de las mayorías
políticamente organizadas sobre la esfera de derechos de cada ciudadano
(ya sea controlando su libertad de acción, sus propiedades o su libertad
de asociación). ¿En qué sentido aumentamos la libertad de las personas
cuando las sometemos, 'de iure' y 'de facto', a la arbitrariedad de las
mayorías? En ninguno: si una persona quiere asociarse voluntariamente
con otras para ganar poder de negociación frente a un tercero, es muy
libre de hacerlo; lo que no debería poder hacer es utilizar la violencia
contra ese tercero.
En definitiva, el liberalismo no está en contra de la capacidad de
obrar de las personas, pues es esa capacidad de obrar lo que les permite
perseguir sus proyectos vitales. Tampoco se opone 'per se' a que una
persona trate de influir al resto, siempre y cuando lo haga dentro del
ejercicio de sus libertades. A lo que sí se opone es a violar la esfera
de derechos de una persona: es decir, al poder ejercido y perpetuado
sobre la premisa de la desigualdad jurídica entre los seres humanos.
Este artículo fue publicado originalmente en el blog Laissez Faire de El Economista (España) el 26 de noviembre de 2018.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Como os autoritários usam o capitalismo para fortalecer seus regimes opressivos
Artigo de Álvaro Vargas Llosa, publicado pelo Instituto Independiente,
aborda os péssimas exemplos da Rússia, China, Turquia e Arábia Saudita:
Mientras viajaba recientemente de ciudad en ciudad en Rusia bajo el
hechizo de la Copa del Mundo, me acosaba una pregunta: ¿Son la Rusia de
Vladimir Putin, la China de Xi Jinping, la Turquía de Recep Tayyip
Erdogan y la Arabia Saudí de Mohammed Bin Salman modelos políticos para
otros?
Los cuatro son "exitosos" a su manera. Si bien hablan mal de Putin en
las grandes ciudades de Rusia, lo idolatran en las más pequeñas y en el
campo, y el sistema le ha permitido hasta ahora mantener el poder y
ampliar su huella global. Él es lo que deseaba ser: un zar. Su
popularidad personal duplica a la del gobierno ruso: El Primer Ministro
Dmitri Medvédev y compañía son culpados de todo lo que está mal, jamás
él. Tal vez eso es lo que el presidente Donald Trump encuentra tan
atractivo.
En China, Xi ha inscrito su nombre, su doctrina y su marca personal
en la constitución, algo que nadie, excepto el presidente Mao, había
intentado antes. Lo que China tiene en común con el régimen de Rusia es
el uso del nacionalismo como aglutinante social, y del capitalismo de
Estado y de amigos como generadores de suficiente prosperidad como para
evitar que se abran grandes grietas en el monolito del poder.
En Turquía, Erdogan también ha utilizado el nacionalismo (y, como
Putin, la lucha contra el terrorismo o los separatistas ampliamente
acusados de terrorismo) para crear cohesión. En su caso, otro factor es
el islam. Erdogan utiliza con frecuencia la religión musulmana para
justificar los ataques contra algunos de sus oponentes secularistas.
Pero no la ha utilizado -aún no- para librar una guerra contra el
laicismo popular con el que Ataturk, el fundador de la moderna Turquía,
marcó su país y que muchos turcos siguen abrazando. Bajo Putin la
religión es un factor sólo en la medida en que la Iglesia Ortodoxa ayuda
a sostener el establishment; en Turquía, Erdogan se ha convertido en la
voz del islam.
En Arabia Saudita, la fuerza impulsora del nuevo autoritarismo
es la modernización. Parece paradójico que alguien que, como Bin
Salman, intenta modernizar el país -incluyendo la expansión del papel de
la mujer y el fin de la dependencia económica del petróleo- utilice
métodos brutales para hacerlo. Pero no es la primera vez en la historia
moderna. Ataturk de manera similar empleó métodos de mano dura para
modernizar Turquía en las décadas de 1920 y 1930.
Lo que estos regímenes entienden es algo que los comunistas y los
populistas extremos nunca hicieron: que el autoritarismo, acompañado de
suficientes dosis de empresa privada, torna viable el autoritarismo.
Si los “chavistas” en Venezuela
hubieran sido un poco más maquiavélicos, habrían aplastado a la
oposición, incluida la otrora vibrante prensa libre, sin nacionalizar la
economía ni ahuyentar a todo el capital extranjero, causando así el
infierno económico y social que ahora los pone en peligro.
Putin, Xi, Erdogan y Bin Salman nunca permitirían que el capitalismo
de libre empresa cree polos de poder independientes, pero tampoco
eliminarían a la empresa privada porque ésta alimenta sus regímenes.
Esto plantea un reto para aquellos de nosotros que apoyamos las sociedades libres.
La atracción fatal autoritaria
Con muchas democracias liberales experimentando crisis de liderazgo,
confundidas sobre sus creencias, identidades y roles en el mundo, y
menos comprometidas con los valores que las hicieron lo que actualmente
son, los modelos autoritarios de gobierno atraen a mucha gente. Parecen
funcionar. Pero, ¿lo hacen?
Los hechos apuntan a otra parte. Las democracias liberales del mundo, basadas en el estado de derecho y las economías de mercado, han sido mucho más exitosas que los regímenes autoritarios.
El autoritarismo no constituye un “modelo” porque no se descansa en
un conjunto de valores. Descansa en un conjunto de prácticas malignas
cuyo objetivo es mantener el poder en manos de unos pocos ungidos.
La Copa Mundial, debo decir, estuvo muy bien organizada por sus
anfitriones rusos, porque si hay una cosa que los autoritarios hacen
bien es organizar las vidas de los otros. Pero organización y libertad
no son lo mismo.
Si el autoritarismo es un modelo, es uno defectuoso. Aquellos que
actualmente se encuentran bajo su hechizo precisan entender el precio
que pagan.
Álvaro Vargas Llosa es Asociado
Senior en el Centro para la Prosperidad Global del Instituto
independiente. Es oriundo del Perú y recibió su Licenciatura en Historia
Internacional en la London School of Economics. Entre sus libros del
Instituto Independiente se incluyen Global Crossings: Immigration, Civilization, and America, Lessons From the Poor: Triumph of the Entrepreneurial Spirit, The Che Guevara Myth and the Future of Liberty y Liberty for Latin America.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Que vivam a MUDANÇA e o fim da IMPUNIDADE e da FALTA DE CARÁTER!
Caros amigos
A eleição de Jair Bolsonaro produzirá uma
completa mudança no Executivo, ao mesmo tempo em que, na próxima
legislatura, uma significativa renovação se processará nas fisionomias e
nas posturas do Congresso Nacional.
Comparando o fato com o perfil e as
atitudes do nosso Judiciário, me vem à lembrança um comercial de shampoo
dos anos 70 em que a protagonista dizia: “Você se lembra da minha voz?
Continua a mesma, mas os meus cabelos…”. Por analogia, no próximo ano, a
partir da mudança que haverá nos demais Poderes da República, poderemos
dizer: “Você se lembra da nossa Suprema Corte? Pois é, continua a
mesma…”
Se não, vejamos! A nossa Constituição
Federal – promulgada em 1988 para assegurar liberdade de ação ao crime
organizado – dá margem para que o “indiciado por organização criminosa,
corrupção e lavagem de dinheiro” que ainda ocupa a Presidência da
República conceda INDULTO NATALINO a seus camaradas presos e, ainda,
para que os advogados que aparelham o STF aprovem esta absurda
iniciativa! Não dão a impressão de que se trata de uma quadrilha com
estatuto?
Eu, como cidadão brasileiro, considero que
o Supremo Tribunal Federal, no momento em que aprova um decreto
presidencial que concede “Indulto Natalino” a criminosos em geral para
beneficiar, objetivamente, a quem cumpre pena por corrupção, está sendo
conivente com o crime!
É um direito meu, como cidadão, não concordar e não confiar no conjunto dos atuais ministros da nossa Suprema Corte!
Infelizmente, até o final deste MANDATO, o
Brasil estará sendo dirigido, de fato, por uma súcia dividida em três
poderes que, descaradamente e enquanto podem, se concedem indultos e
aumentos salariais!
Que vivam a MUDANÇA e o fim da IMPUNIDADE e da FALTA DE CARÁTER!
General Paulo Chagas
Brasil pode encerrar 2018 com recorde na exportação de soja
A projeção é a de atingir, no fechamento do ano, 80 milhões de
toneladas, número que ainda pode ser acrescido em mais dois milhões de
toneladas.
Foto: Tony Oliveira/CNA/Direitos Reservados
Os exportadores de soja em grãos têm bons motivos para
comemorar o desempenho do setor ao longo de 2018, mantendo-se na liderança do
ranking internacional, posição que tem-se alternado com os Estados Unidos. A
projeção é a de atingir, no fechamento do ano, 80 milhões de toneladas, número
que ainda pode ser acrescido em mais dois milhões de toneladas. Caso se
confirme, o Brasil terá exportado uma quantidade 19,4% superior à do ano
passado, de 67 milhões de toneladas).
Esse volume superou as expectativas do setor, que projetava
algo em torno de 70 milhões de toneladas, de acordo com Sergio Mendes,
diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Ele
disse que além do câmbio favorável, dos bons preços na cotação da commoditie,
esse resultado, sem dúvida, teve a influência do fato de os chineses terem
sobretaxado a soja americana.
Apesar disso, o executivo destacou que “o Brasil é
competitivo em qualquer situação e não precisa que os Estados Unidos tenham
problemas comerciais com a China”, se referindo às negociações com o grão.
Mendes informou que, sozinho, os chineses consomem 80% da soja exportada e os
20% restante seguem para outros países asiáticos e parte da Europa.
Para o próximo ano, o dirigente acredita que o setor
continuará obtendo bons resultados, mas avalia ser difícil fazer qualquer
projeção justificando que tudo vai depender do comportamento do mercado. “Vamos
crescer em 3% na produção, mas precisamos esperar um pouco mais para estimar se
as exportações poderão crescer também”.
Sergio Mendes manifestou a expectativa de que seja mantida a
política de desoneração do setor por meio da Lei Kandir, já que, uma eventual
revogação seria “uma burrice e uma verdadeira maldição” porque o Brasil só se
tornou competitivo nesse setor justamente pelos incentivos fiscais.
Mendes também queixou-se das desvantagens de custo com seu
maior competidor no mercado internacional, apontando que o país gasta por
tonelada US$ 40 a mais do que os Estados Unidos para embarcar a mercadoria.
Compras com cartões cresceram 14,7% no terceiro trimestre do ano
O levantamento mostra que os brasileiros movimentaram R$ 391,1
bilhões em transações, com maior peso para os cartões de crédito, que
registraram R$ 244,4 bilhões e crescimento de 14,8%. Os cartões de
débito somaram R$ 143,8 bilhões (13,7%) e os cartões pr
Foto: Divulgação
As compras com cartões de crédito, débito e pré-pagos
cresceram 14,7% no 3º trimestre de 2018 em comparação com o mesmo período do
ano passado. Segundo dados da Associação das Empresas Brasileiras de Cartão de
Crédito e Serviços (Abecs), o resultado é o maior desde o 2º trimestre de
2014, quando o setor avançou 15%.
O levantamento mostra que os brasileiros
movimentaram R$ 391,1 bilhões em transações, com maior peso para os
cartões de crédito, que registraram R$ 244,4 bilhões e crescimento
de 14,8%. Os cartões de débito somaram R$ 143,8 bilhões (13,7%)
e os cartões pré-pagos, R$ 2,9 bilhões (67%).
O estudo aponta ainda que a região Sudeste concentra a maior
quantidade de uso de cartões, que detém 60,4% de todo o volume movimentado. No
entanto, os crescimentos mais expressivos no período vieram das regiões Norte,
com alta de 16,4%, e Nordeste, com 15%. Em seguida estão Sudeste
(14,7%), Centro-Oeste (14,6%) e Sul (13,9%).
No acumulado do ano, o uso dos cartões chegou a R$ 1,11
trilhão, com crescimento de 14% em relação ao mesmo intervalo de
2017. A projeção da Abecs é que o valor transacionado supere R$ 1,5
trilhão em 2018.
As compras internacionais realizadas por brasileiros com
cartão de crédito somaram R$ 8 bilhões, avanço de 7% em relação
ao mesmo período do ano passado. Já os gastos de estrangeiros no Brasil com
cartões cresceram 20,4%, chegando a R$ 3,6 bilhões.
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