MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Era só o que faltava! Palocci distribuía Rivotril e tinha jardim na carceragem

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Bela Megale
O Globo

No período de mais de dois anos em que ficou preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba , o ex-ministro  Antonio Palocci voltou a exercer o ofício que não colocava em prática desde os tempos da faculdade, a medicina. Quando algum preso se sentia mal no claustrofóbico conjunto de três celas que abrigam os envolvidos na Lava-Jato , o ministro era chamado pelos agentes para socorrer os companheiros. Calmo, Palocci conversava em tom pausado com o “paciente” e vez ou outra lhe dava um remédio. Um dia, foi questionado por um policial qual era o santo medicamento que tinha resultado garantido. Direto, como de costume, respondeu: “É Rivotril”.
Leitor voraz, ele também guardava entre as obras um livro de medicina que costumava consultar em momentos de emergência. A partir desta quinta-feira, porém, a Lava-Jato de Curitiba perderá seu médico.
SOB CONTROLE – Desde setembro de 2016, quando foi preso, até hoje, o ex-ministro nunca foi visto chorando ou fora de controle. Descrito como “inteligente e centrado” por ex-colegas de cela, Palocci transformou o hobby de cuidar de plantas em sua terapia nos tempos em que passou atrás das grades. Com autorização da Justiça para receber sementes e vasos, cultivou nos últimos meses um pequeno jardim na área de banho de sol.
Os grãos eram levados pela mulher dele, Margareth, que o visitava religiosamente todas as quartas-feiras, sempre com livros a tiracolo para entregar ao marido. No ano passado, num dia em que o ex-ministro plantava um pé de eucalipto, ele se tornou alvo de brincadeira dos demais detentos.
— Vai usar essa árvore para fugir da prisão quando ela crescer, é? — disse outro preso, aos risos.
EMAGRECEU – Àquela altura, o ex-ministro já tinha recebido a negativa do Ministério Público Federal (MPF) sobre sua proposta de delação premiada e não tinha previsão para deixar a prisão. Era no mesmo pátio que matinha sua pequena plantação que ele se exercitava, caminhando em ritmo acelerado. Todos os dias de manhã, Palocci vestia shorts, tênis e camiseta e andava em círculos pelo espaço. Preocupado em emagrecer, fez um círculo em torno do abdomên com barbante que serviu como sua régua para medir sua perda de peso. Segundo pessoas próximas, ele deixará a PF cerca de dez quilos mais magro do que entrou.
A luz no fim do túnel só apareceu há cerca de seis meses, quando ele firmou delação com a PF. A colaboração embasou o recurso de sua defesa junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Os advogados pediam que Palocci passasse a cumprir pena em regime domiciliar em razão da efetividade de seu acordo. Nesta quarta, a 8ª turma do TRF-4 autorizou que ele fique detido em casa com tornozeleira eletrônica.
ANSIEDADE – O julgamento do futuro de Palocci começou em 24 de outubro, mas teve resultado adiado por mais de um mês devido ao um pedido de vista. Nesse período, o sempre impávido Palocci passou a dar sinais de ansiedade. Tinha dificuldades para dormir, comia menos e com frequência era visto andando de um lado para o outro nas celas. O adiamento caiu como um banho de água fria para o ex-ministro, que via aquela como a maior chance que tinha de ir para casa.
Quando falava sobre o assunto com os demais presos, porém, mantinha o discurso comedido de que torcia para sair, mas que estava tentando manter a tranquilidade. Quando se encontrava com os advogados, o que acontecia ao menos três vezes por semana, soltava-se mais. Queria todos os detalhes — de estratégias da defesa a informações sobre as conversas com que os defensores tiveram com os desembargadores que definiriam seu futuro.
Ao receber a notícia de que iria para casa, Palocci abriu um discreto sorriso e continuou destoando dos companheiros de prisão como o único que não caiu aos prantos com a notícia.
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