Foto: Rafael Arbex/Estadão
O deputado federal Aécio Neves (PSDB)
A negociação de cargos para a nova direção nacional do PSDB,
que assumiu nesta sexta-feira (31), atravessou a madrugada. Isso porque a
bancada mineira dos tucanos, a qual inclui Aécio Neves (MG), queria uma
posição de destaque. Chegou-se a cogitar a tesouraria, posto que o
governador de São Paulo, João Doria, fazia questão de entregar a um de
seus aliados. No fim das contas, Minas obteve a primeira
vice-presidência, segundo cargo mais importante do organograma da
legenda, o que acomodou as correntes do partido e evitou uma
predominância de Doria e seu grupo paulista na comissão executiva
nacional do PSDB. Os mineiros terminaram satisfeitos. O comando da
máquina do partido, principalmente da tesouraria, cargo que lida com
financiamento, é importante para que Doria consolide seu projeto de
concorrer à Presidência da República em 2022. Por outro lado, os
mineiros exigiam uma posição à altura da bancada, composta por aliados
de Aécio, outrora nome forte do PSDB. Mesmo combalido pela delação da
JBS e por acusações de corrupção, Aécio, ex-governador e ex-senador que
hoje é deputado federal, demonstrou força política ao ser ovacionado na
convenção tucana de Minas Gerais. No evento nacional desta sexta, ele
não apareceu. Ali a cena era dominada por Doria, que já chegou a pedir
que aqueles enrolados na Justiça “tenham dignidade e respeito” para
fazerem sua defesa fora do partido. Já eram 4h da manhã, seis horas
antes do evento da convenção nacional que aclamou o ex-deputado federal
Bruno Araújo (PE) presidente dos tucanos, quando a pendência entre Minas
e São Paulo foi resolvida. O nome indicado pela bancada mineira para a
executiva era o do deputado federal Domingos Sávio, que terminou com a
primeira vice. Prevaleceu a vontade de Doria, que já havia sido
combinada com Araújo, de colocar Cesar Gontijo, ex-secretário-geral do
PSDB paulista, na tesouraria. Durante o impasse, ao mesmo tempo em que
Doria não aceitava abrir mão de sua escolha, a bancada mineira também
firmou posição, num movimento capitaneado pelo presidente da sigla no
estado, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, mas acompanhado por Aécio.
Os mineiros argumentavam que seria preciso balancear as forças
políticas. No desenho de Doria, São Paulo seria protagonista com a
indicação da tesouraria e da primeira vice-presidência, que ficaria com a
senadora Mara Gabrilli (SP), para além do próprio Araújo, que se elegeu
sem concorrência numa articulação costurada pelo governador paulista.
Na executiva anterior, cujo presidente era Geraldo Alckmin (PSDB), Minas
ocupava a secretaria-geral, cargo também importante, com o ex-deputado
federal Marcus Pestana (PSDB-MG). Segundo Domingos Sávio, não houve
traumas na substituição de Mara Gabrilli. Outros deputados mineiros
ouvidos pela reportagem também disseram que a negociação ocorreu sem
tensões -já os paulistas relataram um embate mais forte. “Isso durou até
tarde porque houve o cuidado de conversar com um e com outro. Acho que
Bruno [Araújo] conseguiu compor, equilibrando forças e contemplando
todas as unidades da federação na executiva. Era preciso que o partido
saísse unido e acho que houve esse ambiente de união na convenção”,
disse Sávio à reportagem. O deputado disse ainda que o pleito dos
mineiros era que todos os estados tivessem espaço e que Minas tivesse um
cargo de destaque que representasse sua dimensão. A bancada mineira é a
segunda maior entre os tucanos, perde apenas para São Paulo. Mas,
segundo Sávio, não havia diferença entre a tesouraria e a primeira vice.
“Eu mesmo deixei claro que não me importaria com uma mudança, não faz
diferença para mim pessoalmente”, ressaltou. O embate entre Aécio e
Doria por cargos na executiva não foi o primeiro entre os caciques
tucanos, mas foi o mais explícito. Antes disso, havia uma discussão em
torno do primeiro código de ética do partido, aprovado também na
convenção desta sexta. Enquanto o grupo de Doria pregava rigor contra os
enrolados em corrupção, a comissão que escreveu as normas de conduta e
punições, nomeada por Alckmin, evitou uma caça às bruxas. Por isso mesmo
o governador paulista passou a pregar que os réus saiam por conta
própria, discurso que atinge Aécio e outros ex-governadores como Beto
Richa (PR) e Marconi Perillo (GO). O caso de Aécio pode vir a ser
analisado pelo conselho de ética do partido, mas a punição definida no
texto para réus é advertência verbal ou escrita e suspensão do exercício
de cargo partidário por um ano. A expulsão só cabe após condenação em
trânsito em julgado, o que deu sobrevida ao mineiro entre os tucanos.
Folhapress
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