Aline Setenta | alinesetenta@gmail.com
Não tem muito tempo iniciei minhas reflexões feministas e conheci a palavra sororidade. Um google básico na palavra e encontramos vários significados que refletem o movimento de reaproximação das mulheres um dia separadas por uma cultura patriarcal que nos coloca umas contra as outras e estabelece uma competição entre nós.
Sem a pretensão de um incurso teórico sobre o tema, quero falar de experiência vivida. Pra mim, foi muito fácil entender a necessidade de nós, mulheres, termos empatia uma com as outras, de nos apoiarmos e respeitarmos cada uma na sua condição, escolha e lugar. Até porque, pra nós não é muito difícil identificar o machismo arraigado nas nossas crenças e ideias sobre ser mulher e conviver com outras mulheres. Um pouco de boa vontade e autorreflexão basta pra nos reconhecermos machistas umas com as outras, a maioria das vezes de forma automática e inconsciente.
Pois bem. A experiência da sororidade virtual começa com minha gravidez, em condições e consequências semelhantes a de muitas mulheres que se veem sozinhas e mães a desbravar o patriarcado. Eu bem sei que cada uma tem suas experiências e elas são individuais, mas negar que as dificuldades nos aproximam é alimentar uma cultura que nos oprime. O primeiro passo foi olhar em volta e ver que o machismo atinge a todas, ainda que de forma interseccional, e a algumas de forma bem mais severa.
Quando vivi o machismo na carne, reconheci na pele a necessidade do feminismo para refletir a forma como a sociedade trata as mulheres, mas principalmente como nós mesmas nos tratamos. Pois bem, tudo começou quando minha filha ia nascer, e criamos um grupo de Whatsapp pra acompanhar a sua chegada com amigos, familiares e muita expectativa. Foi uma espécie de acolhimento comigo e com ela, onde eu podia compartilhar aquele momento de ansiedade, expectativa e principalmente medo. Quando Sarah nasceu estavam lá, os amigos Festeiros na recepção do quarto, estourando champagne e fazendo festa, a sua especialidade, não sabem eles o significado disso pra mim.
Passado esse momento, o grupo meio que sofreu uma “transmutação” que eu nem sei explicar direito. Saíram uns entraram outras, todas mamães como eu, a maioria delas com bebês em idade semelhante a da milha filha. Foi assim que surgiu o Tricô da Mamãe em 2015. A partir daí, o espaço ganhou vida própria. Tornou-se um local de encontro de mães de uma mesma geração vivendo a maternidade nos dias de hoje, tentando se equilibrar entre a carreira e as dores e delicias de ser mãe, algumas mãe e pai.
Passamos a compartilhar as dúvidas, as incertezas, o desafio da amamentação, a decisão de quando tirar o bico, colocar ou não de castigo, a experiência com o pediatra, os resfriados, a febre, as noites mal dormidas. As culpas de quando estamos cansadas demais pra sermos pacientes, de quando queremos ver um filme ao invés de assistir à galinha pintadinha pela vigésima vez, de quando perdemos a fome porque tivemos que limpar cocô, coisas que só uma mãe pode viver e sentir….. ficamos amigas, nos tornamos irmãs, companheiras, confidentes.
A maternidade nos uniu de uma forma linda, mulheres diversas, algumas nem se conheciam fora do grupo, deu-se a mágica da sororidade. Passamos a nos encontrar de vez em quando pra brincar, fazer piquenique, da última vez sem as crianças para um vinho e um papo de mulheres mesmo. Percebi a necessidade de estarmos juntas de verdade, nos acolhendo e nos apoiando, porque nós mais do que ninguém sabemos das dificuldades de viver a maternidade real, responsável e amorosa sem perder o rumo das nossas próprias vidas, quando a sociedade nos cobra o preço de tudo que já conquistamos e ainda queremos conquistar.
Foi assim que a sororidade aconteceu de forma virtual. Mesmo que saibamos a importância do encontro, e no grupo sempre rola uma discussão sobre a próxima data em que a maioria pode estar presente, pra nós o whatsapp foi e tem sido uma oportunidade maravilhosa de estarmos juntas, afinal somos mães do século vinte um e não há mal nenhum em nos aproveitarmos um pouco dessa tecnologia que para nós foi maravilhosa.
Enfim, sororidade pode ser uma palavra nova, mas esse sentimento de irmandade certamente não é. Estivemos distantes, nos afastamos uma das outras, existem forças que agem nesse sentido, não falarei disso nesse momento, o que sei é que é hora de retornarmos umas às outras. Quando estamos juntas somos mais fortes, amorosas e pacíficas, somos mães melhores e nossos filhos igualmente serão cidadãos melhores também.
O texto não fala do papel dos homens na criação dos filhos, essa é uma outra questão e merece textão, não foi meu objetivo aqui. O feminismo é, antes de tudo um espaço de reflexão, necessário e rico de histórias e lutas de dores e amores. A sociedade precisa compreender e viver essa oportunidade histórica de refletir o mundo a partir do olhar das mulheres. E nós somos fortes e doces, guerreiras e mães e precisamos nos reconhecer na nossa diversidade e beleza. A sororidade é um bálsamo, um descanso, um alento, um colo de mãe mesmo. Vale muito a pena! Vamos confiar, respeitar e acolher umas às outras, sem julgamentos! A sororidade é uma lição de vida e amor, não só para as mulheres, mas para o mundo.
Aline Setenta é docente da Uesc e doutoranda.
Foi assim que surgiu o Tricô da Mamãe em 2015. A partir daí, o espaço ganhou vida própria. Tornou-se um local de encontro de mães de uma mesma geração vivendo a maternidade nos dias de hoje, tentando se equilibrar entre a carreira e as dores e delicias de ser mãe, algumas mãe e pai.
Não tem muito tempo iniciei minhas reflexões feministas e conheci a palavra sororidade. Um google básico na palavra e encontramos vários significados que refletem o movimento de reaproximação das mulheres um dia separadas por uma cultura patriarcal que nos coloca umas contra as outras e estabelece uma competição entre nós.
Sem a pretensão de um incurso teórico sobre o tema, quero falar de experiência vivida. Pra mim, foi muito fácil entender a necessidade de nós, mulheres, termos empatia uma com as outras, de nos apoiarmos e respeitarmos cada uma na sua condição, escolha e lugar. Até porque, pra nós não é muito difícil identificar o machismo arraigado nas nossas crenças e ideias sobre ser mulher e conviver com outras mulheres. Um pouco de boa vontade e autorreflexão basta pra nos reconhecermos machistas umas com as outras, a maioria das vezes de forma automática e inconsciente.
Pois bem. A experiência da sororidade virtual começa com minha gravidez, em condições e consequências semelhantes a de muitas mulheres que se veem sozinhas e mães a desbravar o patriarcado. Eu bem sei que cada uma tem suas experiências e elas são individuais, mas negar que as dificuldades nos aproximam é alimentar uma cultura que nos oprime. O primeiro passo foi olhar em volta e ver que o machismo atinge a todas, ainda que de forma interseccional, e a algumas de forma bem mais severa.
Quando vivi o machismo na carne, reconheci na pele a necessidade do feminismo para refletir a forma como a sociedade trata as mulheres, mas principalmente como nós mesmas nos tratamos. Pois bem, tudo começou quando minha filha ia nascer, e criamos um grupo de Whatsapp pra acompanhar a sua chegada com amigos, familiares e muita expectativa. Foi uma espécie de acolhimento comigo e com ela, onde eu podia compartilhar aquele momento de ansiedade, expectativa e principalmente medo. Quando Sarah nasceu estavam lá, os amigos Festeiros na recepção do quarto, estourando champagne e fazendo festa, a sua especialidade, não sabem eles o significado disso pra mim.
Passado esse momento, o grupo meio que sofreu uma “transmutação” que eu nem sei explicar direito. Saíram uns entraram outras, todas mamães como eu, a maioria delas com bebês em idade semelhante a da milha filha. Foi assim que surgiu o Tricô da Mamãe em 2015. A partir daí, o espaço ganhou vida própria. Tornou-se um local de encontro de mães de uma mesma geração vivendo a maternidade nos dias de hoje, tentando se equilibrar entre a carreira e as dores e delicias de ser mãe, algumas mãe e pai.
Passamos a compartilhar as dúvidas, as incertezas, o desafio da amamentação, a decisão de quando tirar o bico, colocar ou não de castigo, a experiência com o pediatra, os resfriados, a febre, as noites mal dormidas. As culpas de quando estamos cansadas demais pra sermos pacientes, de quando queremos ver um filme ao invés de assistir à galinha pintadinha pela vigésima vez, de quando perdemos a fome porque tivemos que limpar cocô, coisas que só uma mãe pode viver e sentir….. ficamos amigas, nos tornamos irmãs, companheiras, confidentes.
A maternidade nos uniu de uma forma linda, mulheres diversas, algumas nem se conheciam fora do grupo, deu-se a mágica da sororidade. Passamos a nos encontrar de vez em quando pra brincar, fazer piquenique, da última vez sem as crianças para um vinho e um papo de mulheres mesmo. Percebi a necessidade de estarmos juntas de verdade, nos acolhendo e nos apoiando, porque nós mais do que ninguém sabemos das dificuldades de viver a maternidade real, responsável e amorosa sem perder o rumo das nossas próprias vidas, quando a sociedade nos cobra o preço de tudo que já conquistamos e ainda queremos conquistar.
Foi assim que a sororidade aconteceu de forma virtual. Mesmo que saibamos a importância do encontro, e no grupo sempre rola uma discussão sobre a próxima data em que a maioria pode estar presente, pra nós o whatsapp foi e tem sido uma oportunidade maravilhosa de estarmos juntas, afinal somos mães do século vinte um e não há mal nenhum em nos aproveitarmos um pouco dessa tecnologia que para nós foi maravilhosa.
Enfim, sororidade pode ser uma palavra nova, mas esse sentimento de irmandade certamente não é. Estivemos distantes, nos afastamos uma das outras, existem forças que agem nesse sentido, não falarei disso nesse momento, o que sei é que é hora de retornarmos umas às outras. Quando estamos juntas somos mais fortes, amorosas e pacíficas, somos mães melhores e nossos filhos igualmente serão cidadãos melhores também.
O texto não fala do papel dos homens na criação dos filhos, essa é uma outra questão e merece textão, não foi meu objetivo aqui. O feminismo é, antes de tudo um espaço de reflexão, necessário e rico de histórias e lutas de dores e amores. A sociedade precisa compreender e viver essa oportunidade histórica de refletir o mundo a partir do olhar das mulheres. E nós somos fortes e doces, guerreiras e mães e precisamos nos reconhecer na nossa diversidade e beleza. A sororidade é um bálsamo, um descanso, um alento, um colo de mãe mesmo. Vale muito a pena! Vamos confiar, respeitar e acolher umas às outras, sem julgamentos! A sororidade é uma lição de vida e amor, não só para as mulheres, mas para o mundo.
Aline Setenta é docente da Uesc e doutoranda.
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