Texto publicado por Dora
Kramer (edição impressa de Veja da próxima semana) afirma que, ao
contrário do que muitos pensam, juízes e promotores de peso "não
trocariam vocação pela política". É bom que assim seja. Não há
salvadores da Pátria:
A POLÍTICA anda tão
desqualificada que uma das armas mais utilizadas por aqueles a quem a
aplicação da lei desconforta é espalhar boatos de que investigadores e
juízes querem mesmo é ser políticos. A ideia é colocá-los sob suspeição,
insinuar que fazem o que fazem no intuito de obter vantagem pessoal.
Qual seja, tentar eleger-se deputado, senador, governador ou presidente.
Essa versão carrega
um ato falho e um paradoxo. Seus autores, políticos na maioria, admitem
que a atividade a que se dedicam oferece meios e modos para a obtenção
de benefícios distantes do interesse público. Ao mesmo tempo cometem uma
incongruência.
A suspeita sobre os
reais objetivos desse ou daquele promotor ou juiz em geral é acompanhada
da acusação de que a atuação desses agentes é extremamente prejudicial
ao funcionamento do país e danosa para a democracia, pois visaria à
desmoralização da política. Ora, se de fato têm a intenção de entrar
para a política, por que seriam ativistas de seu aniquilamento? Outra:
se pretendem mesmo trocar a estabilidade de sua profissão pela vida
incerta da busca constante de votos, qual o interesse deles em tornar
ainda mais difícil a vida dos eleitores de quem passariam a depender?
Não havendo lógica no
raciocínio nem ingenuidade nos argumentos, resta como explicação a
má-fé. Tão nefasta que se vale da boa-fé de um contingente de cidadãos,
estes, sim, ingênuos, que consideram iguais atributos, formação, vocação
e circunstâncias necessárias ao exercício de atividades absolutamente
diferentes. Julgar, investigar e eventualmente acusar nada tem a ver com
governar, legislar, construir consensos e/ou administrar dissensos
mediante negociações, composições, concessões (no bom sentido,
considerando um cenário próximo do ideal).
Mas o deserto anda
tão árido no tocante à correção de condutas que, quando o público (ou
parte dele) vê alguém atuando em consonância com seu interesse, a
tendência é imaginar que essa mesma pessoa possa encarnar a salvação.
Daí os índices elevados de “intenção de voto” no juiz Sergio Moro quando
o nome dele é incluído nas pesquisas de opinião.
O mesmo aconteceu, e
ainda acontece, com o ministro do Supremo Tribunal aposentado Joaquim
Barbosa. O primeiro atende às expectativas na condução do que lhe chega
em relação à Lava-Jato e o segundo fez o mesmo na época do julgamento do
mensalão.
Naquela ocasião,
passados já cinco anos, dizia-se sobre Joaquim o que se diz hoje sobre o
procurador-geral da República em fim de mandato, Rodrigo Janot.
Candidatos, sem dúvida. Joaquim não foi, a despeito de “informações de
cocheira” difundidas por advogados de defesa, Moro não será nem Janot.
Primeiro, porque não é essa a natureza de nenhum dos três. Segundo,
porque em termos populares a vida já lhes sorri de onde estão.
Por último, mas não
menos importante, porque os partidos têm oligarcas que não pretendem
substituir tão cedo, e certas normas que não estão dispostos a submeter
ao rigor de ninguém. Muito menos a rigorosos juízes e promotores que
tanto apoio recebem da população.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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