Nas condições atuais os profissionais da política admitem que as chances de Bolsonaro se reeleger são remotas. William Waack via Estadão:
Jair Bolsonaro é no momento o fator imponderável das próximas eleições. O comportamento de Lula,
seu principal adversário, é o que se esperava e previa. Idem para os
demais concorrentes, nenhum deles até aqui uma formidável surpresa –
mesmo considerando o “efeito Moro”, em parte já dissipado.
O
imponderável associado ao presidente tem menos a ver com a
possibilidade de uma “ruptura” institucional, como a pantomima ensaiada
no último 7 de setembro. E muito mais com seu notório desequilíbrio
pessoal, pautado em grande medida pelo medo de ele ou de seus filhos
acabarem presos em caso de derrota eleitoral. Temer foi preso quando deixou a Presidência, e Bolsonaro acha que corre o mesmo risco.
Nas
condições atuais os profissionais da política admitem que as chances de
Bolsonaro se reeleger são remotas. Seus “aliados” do Centrão o apoiam
sobretudo como nome para ajudar na formação de bancadas – o principal
foco dos caciques dos partidos, convencidos de que não importa o
vencedor, o jogo de governabilidade para valer será na Câmara dos Deputados.
Bolsonaro percebe a iminência da derrota e vem daí a possibilidade que alguns de seus adversários, como Ciro Gomes,
do PDT, tratam já abertamente como probabilidade: a de que o “mito” não
tente a reeleição. A questão seria, então, negociar algum tipo de
“proteção” no caso de perda da prerrogativa por função.
Para
concorrer a deputado ou senador, eleições que venceria facilmente,
Bolsonaro precisa se desincompatibilizar (os prazos são motivo de
diferentes interpretações). O problema está aí: saindo do cargo para
concorrer a eleições corre o risco de ser preso.
“Aqui
não há nada contra ele”, diz veterano integrante do STF. Mas,
incentivada ou não por Bolsonaro, chegou a ministros da Corte a demanda
por saber qual seria o regime jurídico que permitiria ao presidente, por
exemplo, ocupar uma embaixada e permanecer “protegido” podendo disputar
eleições.
“Ler”
o comportamento de Bolsonaro para tentar antecipar suas decisões tem
sido atividade com baixa taxa de sucesso, tal o desequilíbrio com o qual
age em questões como a vacinação de crianças, que se empenhou em
atrapalhar (difícil de entender até pela “racionalidade cínica” do
cálculo político-eleitoreiro). Quem tratou com ele recentemente relata
certo desinteresse em participar de grandes articulações eleitorais.
“Nunca
exclua aquilo que não se sabe”, diz o mantra da antiga KGB – que foi,
antes de mais nada, uma escola de especialistas em informação. O
problema, no caso de Bolsonaro, é que talvez nem ele mesmo saiba.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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