Não é por acaso que o Brasil não cresce nem consegue desenvolver boas políticas sociais. Capitalismo de compadres só gera riquezas particulares. Carlos Alberto Sardenberg para O Globo:
Mantidas
as atuais regras, os partidos políticos brasileiros receberão em 2022,
ano eleitoral, algo perto de R$ 9 bilhões. Dinheiro do contribuinte para
financiar o dia a dia dos partidos e suas campanhas eleitorais para
presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais.
É
muito mais do que jamais receberam. É muito mais do que o país que mais
gasta com financiamento público da política, a França (menos de R$ 300
milhões, feitas as devidas conversões de moeda — e conforme dados e
observações obtidos por José Paulo Cavalcanti Filho, escritor e
advogado).
Por
aqui, será assim: o fundo partidário distribuirá R$ 1 bilhão. O fundo
eleitoral, tal como aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias, prevê
R$ 5,7 bilhões para as campanhas. Os partidos terão ainda direito ao
horário “gratuito” no rádio e na TV. É gratuito para eles, mas custa
para o contribuinte, já que as empresas podem deduzir o custo do tempo
cedido dos impostos que pagam. Não se sabe exatamente o valor dessa
renúncia fiscal, mas não estará longe quem estimar algo entre R$ 1,5 e
R$ 2 bilhões.
Na França?
São
pouco mais de R$ 200 milhões de dinheiro público para partidos que
tenham tido pelo menos 5% dos votos. Há tetos: candidato a deputado não
pode gastar mais de R$ 200 mil. Para a campanha presidencial, o
candidato tem R$ 70 milhões no primeiro turno e R$ 90 milhões no
segundo.
Admite-se doação de pessoas físicas, limitadas a R$ 30 mil por CPF.
Sim,
a eleição na França é mais barata. Primeiro, porque a campanha é mais
curta. Segundo, porque o voto para os parlamentos é distrital, em
territórios pequenos. Aqui, o candidato a deputado tem de fazer campanha
no estado todo.
Mesmo
assim, a diferença é absurda. E não tem alívio mesmo para agremiações
tradicionais. Em baixa nas eleições, o Partido Socialista teve de vender
sua luxuosa sede para pagar dívidas.
Outro exemplo: na Alemanha, o governo financia na base de R$ 4 por voto, até o limite de R$ 4 milhões; depois disso, R$ 3.
Aqui,
um partido registrado na Justiça Eleitoral recebe um mínimo anual de R$
1,2 milhão, mesmo que não tenha um vereador sequer, como nota
Cavalcanti Filho.
Há
uma história recente por trás disso. A Lava-Jato exibiu a enorme
corrupção aperfeiçoada pelo PT para financiar partidos e campanhas com
dinheiro de empresas beneficiadas com contratos do governo.
Advogados
e os políticos da velha guarda reclamaram: não era corrupção, mas
“apenas” caixa dois, infração eleitoral (tese desmontada no julgamento
do mensalão); e a Lava-Jato estaria criminalizando a política.
Com
o tempo, a velha política conseguiu virar o jogo. Depois de liquidar a
Lava-Jato, o pessoal diz agora que o país está percebendo a necessidade
de “fazer política”.
Qual
política? A do Centrão, que é simples assim: qualquer governo é,
digamos, governo; quer dizer, tem verbas para gastar e postos para
preencher. Logo, você tem de estar dentro.
Foi
na sequência. Primeiro, aumentaram, na surdina, o dinheiro das emendas
parlamentares; depois, o dinheiro das campanhas, de R$ 2 bilhões da
última eleição para R$ 5,7 bilhões. Mas, como se viu nos exemplos, mesmo
que o presidente Bolsonaro aplique o veto, e a verba volte para os R$ 2
bi, ainda assim será um absurdo, muito mais que em democracias que
funcionam bastante bem.
Tem
mais. Há uma razoável suspeita de que o Centrão manobrou para colocar
os militares bolsonaristas numa situação pra lá de desconfortável.
Apareceram com um mal disfarçado jeitão de golpistas — posição repudiada
pela sociedade, pelo que sobra de boas instituições (algo no STF, por
exemplo) e talvez mesmo pela maioria dos militares.
Tudo
considerado e tudo mantido como está, a semana marcou o triunfo do
Centrão, não aquele da Constituinte, mas o posterior, que vem dos Anões
do Orçamento.
Não
é por acaso que o Brasil não cresce nem consegue desenvolver boas
políticas sociais. Capitalismo de compadres só gera riquezas
particulares.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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