A variante faz Estados Unidos retrocederem no relaxamento das medidas de contenção e aumentarem a pressão pela vacinação. Vilma Gryzinski:
Quer ganhar 100 dólares
fácil, fácil? Bill de Blasio tem a resposta: basta passar num posto de
vacinação e receber a primeira dose do imunizante contra a Covid-19.
“Acho
que vai ser muito atraente para os nova-iorquinos”, apostou o prefeito
ao anunciar que os vacinados ganharão um cartão de débito com o
“Benjamin”, como é chamada a nota de 100 dólares, por causa da efígie de
Benjamin Franklin, ou um depósito pela internet.
O
bônus vale para moradores ou pessoas que trabalham em Nova York. O
afago veio acompanhado de um aperto: todos os funcionários municipais
têm que se vacinar ou fazer testes uma vez por semana.
O presidente Joe Biden está indo pela mesma linha. Os funcionários públicos federais também serão submetidos ao mesmo sistema.
Por
causa da tradição libertária e da saudável desconfiança pelo
intervencionismo do governo, qualquer que seja ele, estabelecer
exigências nos Estados Unidos assim não é uma canetada fácil.
O
fato de que esteja se propagando no nível federal e por estados que têm
governadores democratas indica como a variante delta, vinda da Índia,
está causando preocupação.
A
variante, mais contagiosa, já é responsável por mais de 80% dos novos
casos de Covid-19. O aumento da incidência chega a 63% dos municípios
americanos.
Por
causa dessa nova onda, o Centro de Controle de Doenças voltou a
recomendar o uso de máscaras em espaços públicos fechados mesmo por quem
já foi vacinado.
Com
vacinas a rodo, o problema é convencer os 100 milhões de americanos que
poderiam ter sido imunizados, mas preferem ficar fora da fila por
motivos que vão desde teorias conspiratórias absurdas até a pura
desconfiança em imunizantes com histórico muito recente.
Por
causa de retrocessos no processo de abertura, os Estados Unidos
perderam a primeira posição no Ranking de Resiliência à Covid criado
pela Bloomberg. Os indicadores incluem índice de vacinação,
flexibilização do lockdown, reabertura de fronteiras e outros elementos
que apontam para a retomada econômica.
A
Noruega ocupa a primeira posição agora e os Estados Unidos caíram para o
quinto lugar (entre um e outro estão Suíça, Nova Zelândia e França. O
índice abarca 53 países; o Brasil está em 35º lugar).
A
variante delta está azedando a vida de Joe Biden justamente num momento
em que ele alcançou uma notável vitória política, com dezessete
senadores republicanos votando por abrir o debate sobre seu principal
projeto de governo, um ambicioso plano de investimentos em
infraestrutura.
O
governo lida com modelos que prognosticam até 200 mil novos casos de
infecção por dia dentro de poucos meses. A média de 250 mortes diárias
poderia triplicar.
Quanto
mais a Covid-19 voltar a ocupar o centro das atenções, menos Biden pode
ser dedicar a vender seus projetos, tanto para a opinião pública quanto
para políticos recalcitrantes de cujos votos ele precisa.
O
aumento dos casos de Covid-19, mesmo que não cheguem aos níveis
altíssimos do começo do ano, também prejudica Biden justamente no
quesito em que ele recebe o índice mais alto de aprovação, o de
administração da epidemia, com dois terços de avaliação positiva.
No
geral, ele está com 51% de popularidade, um índice bom, mas longe de
garantir que os democratas mantenham a maioria na Câmara na eleição do
ano que vem, vital para a os projetos do governo.
Os prognósticos de um aumento radical das infecções podem simplesmente não se realizar, como está acontecendo no Reino Unido.
Na
dúvida, Bill de Blasio está soltando os 100 dólares para os relutantes
numa cidade onde 54% da população já está duplamente inoculada. Como
Nova York tem 8,5 milhões de habitantes, a conta será salgada, mas se
torna irrisória diante das vantagens de dar um baile na mutação delta e
mostrar que não vai conseguir se dar bem na cidade que nunca dorme.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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