Em
última análise, a escolha entre liberalismo e socialismo depende da
visão que se tenha do Homem, de que tipo de bicho seja. Via Observador, o divertido texto de André Alvim e José Miguel Pinto dos Santos:
O
que é o liberalismo? É o sistema político que defende que, sendo as
pessoas responsáveis pelos seus atos e omissões, pensamentos e palavras,
podem, e devem, fazer o que lhes parece bem. O que quer dizer
‘responsável’? Significa aceitar e sofrer as consequências e auferir os
benefícios da sua conduta.
E
o que é o socialismo? É o contrário do liberalismo: é o sistema segundo
o qual as pessoas não são responsáveis pelos seus atos e omissões e,
também, devem ser protegidas das consequências destas. Protegidas como?
De três modos: protegidas de fazerem o que querem, protegidas das
consequências de fazerem o que querem, e protegidas das consequências de
não fazerem o que querem. Curiosamente, no socialismo as pessoas podem
ser, e são, responsabilizadas pelos atos e omissões dos outros.
Assim,
numa sociedade liberal, quem goste de comida bem salgada é livre de
abusar do sal (1). É possível que familiares e amigos, e outras
entidades públicas ou privadas, na sua filantropia (2), lhe deem
informação & conselhos sobre os riscos que o consumo em excesso de
sal tem para a saúde, mas ninguém lhe vai tirar o saleiro da mão (3).
Caso
insista em salgar bem a sua comida, pode acontecer que venha a sofrer
de hipertensão. Embora não tenha posto sal para ficar hipertenso, esta é
uma patologia que pode surgir naturalmente a quem livremente escolhe
ingerir muito sal (4). Para evitar as consequências deletérias da
hipertensão, o amante do sal tem duas soluções: ou modera o seu consumo,
ou paga o seu tratamento. Ou desenvolve o autocontrolo, ou paga o preço
da sua imoderação.
Numa
sociedade liberal, aquela em que as pessoas são responsáveis pelo seu
próprio comportamento, não passará pela cabeça de ninguém exigir que os
outros, seja a sociedade, seja o estado, assumam e paguem pelas
consequências, desejadas ou não, da sua gulodice. Muito menos passará
pela cabeça de alguém exigir privilégios, seja rendimentos sociais de
reinserção para os hipertensos, atendimento preferencial nas repartições
públicas para obesos ou outros privilégios especiais para ambos. Neste
tipo de ordenamento político, a lei é igual para todos, e nele não cabem
descriminações positivas ou negativas para nenhuma categoria de
humanos, nem sequer para os gulosos.
E
no socialismo? No socialismo o estado procura proteger as pessoas de
ingerir sal. Como? Através de publicidade, quer a paga, quer a não paga
pelo orçamento do estado, a alertar para os efeitos maléficos do consumo
do sal, incluindo a obrigatoriedade de os pacotes de sal exibirem imagens chocantes
ilustrando esses efeitos em 65% da sua superfície. Mas também cria
impostos especiais sobre o consumo desta droga para desincentivar as
pessoas de tocarem no saleiro. E, em fases mais avançadas no caminho
para o socialismo, através do racionamento do sal e da proibição da sua
venda (exceto para os funcionários do partido).
Procura,
também, proteger aqueles que, apesar de tudo, ingerem sal em excesso,
das consequências não pretendidas desse consumo imoderado. Como? Através
do SNS, sistema que cobre, a taxas moderadoras muito moderadas, todo o
tipo de tratamentos necessários para minorar e tratar todas as
patologias associadas a este mau costume culinário.
No
entanto, num estado socialista, as pessoas não são só protegidas das
consequências deletérias das suas opções. Quem, pela irresponsabilidade
das suas escolhas, as sofre, aufere de vantagens especiais sobre os
outros cidadãos. Como por exemplo? Sendo permitido, e incentivando, que
os hipertensos (5), possam saltar à frente dos outros cidadãos no
processo de vacinação em curso contra o Covid-19.
E,
neste caso, como é que no socialismo as pessoas são responsabilizadas
pelas ações das outras? Pagando tudo isto, através dos seus impostos.
(NB: noutras experiências com o socialismo real, em Cuba e na China, na
Rússia e Roménia, o pagamento pelas ações dos outros era—e é—feito, não
poucas vezes, com a própria vida—seja através de trabalhos forçados,
seja através da execução)
Se
o socialismo apenas desresponsabilizasse o abuso do sal, a coisa ainda
ia que não ia. Mas o socialismo desresponsabiliza todos de tudo.
Desresponsabiliza os preguiçosos da sua preguiça, pagando-lhes por não
fazerem nada, e desresponsabiliza os trabalhadores conscienciosos do seu
esforço, tributando-lhes o fruto do seu trabalho. De igual modo
desresponsabiliza os violentos e os pacíficos, os honestos e os
desonestos, debochados e os castos, os verazes e os mentirosos, os que
dizem ao motorista para conduzir com prudência e os que lhe dizem que se
despache…
Em
última análise, a escolha entre liberalismo e socialismo depende da
visão que se tenha do Homem, de que tipo de bicho seja. É um ser
racional & responsável? Então um ordenamento liberal será o
apropriado. É um ser não racional &, portanto, irresponsável? Então o
socialismo é necessário.
Portanto a pergunta essencial, na escolha de regime político, é: será que existe alguma diferença entre homens e bestas?
Us
avtores não segvem a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do
antygo. Escreuem coumu qveren & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam
[1]
Sal: discípulo de Cristo (Mt 5, 13), de onde se pode deduzir que a
tributação adicional deste produto dietético não seja mais que uma
medida jacobina de perseguição à Igreja, e se poderá argumentar que é
inconstitucional (cf. CRP, art.º 13º, n. 2 e art.º 41º); elemento tão
essencial à vida biológica como a água; elemento tão essencial à vida
social como a paz (6) (cf. Mc 9, 50); aquilo que falta ao eng. Costa; o
poder purificador e revigorante do sal era reconhecido pelos antigos
que, depois de cortarem o cordão umbilical ao recém nascido, o lavavam
em água e esfregavam com sal, como testemunha Ezequiel 16,4; produto
usado por vários povos antigos, incluindo os romanos, para pagar o
trabalho, de onde se pode inferir que a proposta de tributação especial
para o sal cai no vício da dupla tributação, e se poderá inferir que o
Estado consome sal a mais. Não será este mais um sinal de hipertensão
estatal?
[2]
Filantropia: filosofia de vida em que as pessoas deixam que a compaixão
lhes vá à carteira; socialismo unipessoal; difere radicalmente do
socialismo warxista, na medida que o agente, a motivação, o beneficiário
e a voluntariedade são totalmente diferentes: na filantropia o agente é
a compaixão, não a autoridade tributária, a motivação é o amor ao
próximo, ao bom, belo e verdadeiro, não o medo à coima ou à prisão, o
beneficiário é um nosso próximo que está de algum modo carenciado, não
um rato alimentado do erário público (políticos, empresários-conectados,
funcionários, tapes, e novos bancus), e a vontade é pessoal &
livre, não externa & imposta.
[3]
A não ser, talvez, a mãe ou a mulher. O que torna urgente a luta contra
o matriarcado europeu branco que continua a dominar a vida e a
restringir a liberdade a um vasto número de cidadãos na nossa repÚblica.
[4] Mas nem sempre: uma metade dos autores desta peça é hipotensa apesar de abusar no consumo de sal.
[5] Nos quais se incluem, a outra metade dos autores deste artigo.
[6]
Paz: período de equívocos e enganos entre dois de pancada; um dos sete
horrores sociais segundo warxismo dialético, sendo os outros a
prosperidade, o matrimónio, os bebés, a felicidade, a harmonia e a
alegria.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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