Lei que criminaliza “violência psicológica” pode ter como consequência a criminalização de toda e qualquer crítica contundente ao trabalho de uma mulher. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Foi
aprovado por unanimidade no Senado um projeto de lei daqueles que visam
a tornar a prostituição e a pornografia as únicas profissões possíveis
para as mulheres. Exagero meu? Foi criminalizada a “violência
psicológica contra a mulher”, a qual consiste em “causar dano emocional à
mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que
vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir
ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e
autodeterminação” (itálicos meus).
Como
sabemos eu, você, Roberto Carlos e as baleias, as palavrinhas que pus
em itálico podem significar qualquer coisa, pois hoje um sujeito, se se
empenhar muito e chorar direitinho, pode dizer que é uma pessoa
não-binária e que exige ser tratado com pronome neutro ou do sexo
oposto.
Mulher,
se se portar como vítima e for feminista, pode tudo: até acusar, julgar
e condenar um homem como estuprador, porque a “palavra da vítima”
autodeclarada é incontestável. Com essa lei, então, duvidar da “palavra
da vítima” pode ser enquadrado como violência psicológica.
Olhando
em retrospecto, dá para dizer que Maria Masoqueeisso do Rosário sofreu
violência psicológica contra a mulher. Ora, toda mulher que escolha a
vida pública deve entender que será tratada com dureza, que engolirá
sapos, que sofrerá injustiças. Mas esse feminismo de matriz puritana
entende que a mulher é o sexo gênero frágil, que deve ser tratada como
bibelô. Não deixa de ser uma crença na inferioridade das mulheres. A
quem apoia esse projeto de lei, pergunto: por que apenas as mulheres
devem ser protegidas contra a “violência psicológica”? A resposta do
militante só vai funcionar se meter um patriarcado no meio, para tratar a
lei então como reparação. E se tudo é reparação, nada impede de haver
uma lei análoga para os LGBTQUIABO e os negros.
Um caso concreto de vitimização
Se
essa lei for sancionada, me contratar para escrever artigos num jornal é
um mau negócio. Afinal, se eu escrever uma besteira muito grande e
queimar a reputação da Gazeta do Povo, meus chefes não poderão nem botar
uma errata no que escrevi, sob a alegação de que meu desenvolvimento
pleno foi tolhido e de que minhas crenças foram controladas mediante
humilhação.
Vejam
o caso da dupla de jornalistas científicos da Folha de S. Paulo que
espalhou para o Brasil inteiro que estavam sendo usadas doses vencidas
de vacina AstraZeneca. Acontece que era um defeito previsível num
sistema de dados do SUS. Checar é obrigação jornalística, sobretudo num
assunto tão sensível como o da vacinação. Afinal, não é porque alguém
inseriu num sistema a informação de que nasceu em 01/01/1900 que o
jornalista vai noticiar a existência de uma considerável quantidade de
usuários da Internet com 121 anos de idade.
No
fim das contas, a prefeitura de Maringá (local com mais lotes
mencionados pela matéria) se manifestou com elucidações relativas ao
Sistema ConectSUS. Da dupla, a mulher, Sabine Righetti, foi a mais
estridente no Twitter. Em vez de escolher entre insistir na tese das
vacinas vencidas ou fazer uma errata, preferiu se gabar de ter sido
descoberta, graças a ela, uma grande falha no sistema do SUS.
Naturalmente,
Sabine foi esculachada por gente séria que lida com dados.
Especialistas com quilos botox se manifestaram em seu favor. Enquanto
isso, a checagem de fatos do Estadão estava muito ocupada verificando
memes, e vocês ficaram sabendo assim que não é verdade que Dilma falou
que a segunda dose tem que vir antes da primeira. Parabéns ao Estadão.
Sugiro que faça um dossiê sobre aqueles livretos infames, vendidos em
bancas de revistas, que falam umas inverdades sobre portugueses e
papagaios.
Não
satisfeita, a jornalista divulgou uma nota de uma tal Rede de Mulheres
Acadêmicas da Unicamp, da qual ela própria é membro. A nota manifesta
solidariedade a ela, “que tem sofrido ameaças […]. Ataques pessoais e
críticas visam minar a fundamentação, objetividade e validade do
levantamento por ela realizado, em co-autoria com seu colega Estêvão
Gamba. Lamentavelmente, trata-se de mais um grave episódio de
negacionismo científico, ao qual se acresce uma inaceitável tentativa de
deslegitimação do trabalho desenvolvido, centrado na cientista. Assim, a
Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp repudia com veemência as
agressões [sic] de que Sabine Righetti foi alvo e reitera a sua mais
alta estima e apreço pelo trabalho sempre qualificado da pesquisadora
cuja credibilidade, seriedade e competência são amplamente conhecidas e
indiscutíveis [sic!!!]”.
A
senhora afixou isso no Twitter dela, para atrair então mais fúria de
tuiteiras cientistas que não toleraram ver a cartada do machismo usada
de maneira tão frívola. Aí ela fechou o Twitter e ninguém mais pode ler
nada dela sem que ela deixe.
A
notinha não deixa de ser surpreendente. Em momento algum, cita o
machismo como causa das “agressões”, mas todos pegam o subtexto porque
as corporações parassindicais de mulheres usam o machismo como causa
universal de todo dissabor que porventura acometa uma mulher. De resto,
será preciso perder alguns neurônios para entender como negacionismo
científico e ataque pessoal podem ser tratados como a mesma coisa.
Aliás, como negacionismo científico tem a ver com qualquer coisa nesse
assunto. Vá lá que seitas antivacina mereçam ser chamadas de
negacionistas (termo criado para se referir ao Holocausto). Ainda assim,
os “negacionistas” afirmavam que os lotes não estavam vencidas e que,
portanto, as vacinas eram eficazes.
A
notinha revela com uma clareza cristalina a mentalidade que nos está
sendo empurrada goela abaixo por Renan Calheiros e seus admiradores: a
de que a ciência é uma panelinha de acadêmicos medíocres e não pode ser
questionada. Se Renan Calheiros der o microfone para uma mulher muito
bem tutelada, então, é que não deve ser questionada mesmo. É violência
psicológica!
Viver do corpo
Ao
passar alguns minutos entre quatro paredes com uma subordinada ou uma
profissional liberal, um homem dá a ela o poder de condená-lo por
estupro. Logo, é cada vez mais perigoso contratar uma mulher como
funcionária ou usar presencialmente os serviços de uma profissional
liberal. Mas existem trabalhos como a escrita, que nunca costumaram
exigir contato físico. Pois bem: graças a essa lei, as mulheres poderão
acusar os seus chefes e clientes de violência psicológica.
As
mulheres devem retornar ao lar como esposas? Mas antes do casamento há o
flerte – que também está sob o ataque do feminismo puritano, que tacha
tudo de assédio. Então, no que depender de feministas do quilate de
Sabina Righetti e sua Rede de Mulheres Acadêmicas da Unicamp, resta às
mulheres viverem do corpo: ou vendemos a nossa forma física para repetir
o que Renan Calheiros quer ouvir (um homem poderia ser contestado), ou
vendemos sexo, ou vendemos nudes. Tudo isso é empoderamento feminino.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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