“A criminalização e a proibição da maconha são um instrumento de políticas racistas e colonialistas”, tuitou a tresloucada deputada esquerdista Ocasio-Cortez. Vilma Gryzinski:
Antes
que você aprenda a dizer direito o original nome dela (Chaquéri), a
prodigiosa Sha’Carri Richardson já teria completado os cem metros na
pista de corrida, na qualidade de uma das mulheres mais velozes da
história, com o tempo mínimo de 10,64 segundos (menos de um segundo a
mais do que Usain Bolt).
Punida
com um mês de suspensão por uso de maconha, a corredora americana não
poderá competir em Tóquio, acrescentando mais uma “deserção” a uma
competição estranha, cercada de problemas, sem espectadores estrangeiros
e rejeitada pela maioria dos japoneses.
O
caso de Sha’Carri poderia provocar tristeza por mostrar mais um atleta
de ponta que tomba no doping e comiseração. A corredora, criada pela avó
e uma tia, disse que recorreu à droga depois de saber através de um
repórter que sua mãe biológica, com quem não tinha contato, havia
morrido.
“Eu
sou humana”, disse a corredora, conhecida pelo cabelo colorido e unhas e
cílios postiços do maior tamanho existente no mercado.
Ao
contrário do que geralmente acontece nesses casos, Sha’Carri recebeu
reações positivas e, como tudo mais no mundo atual, politizadas.
Uma das mais bizarras foi da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, estrela da esquerda americana.
“A
criminalização e a proibição da maconha são um instrumento de políticas
racistas e colonialistas”, tuitou a deputada, conhecida como AOC.
Referindo-se
a outra sigla famosa, COI, ela disse que o Comitê Olímpico
Internacional deveria reconsiderar a suspensão de Sha’Carri e de
qualquer outro atleta flagrado com THC, o princípio ativo da maconha.
Outra
deputada, Barbara Lee, foi na mesma linha, afirmando que a cannabis não
aumenta o desempenho esportivo e que as leis que proíbem a maconha,
derrubadas em vários estados americanos, são “superadas e
discriminatórias”.
Mais
uma questão esportiva que foi politizada: a FINA (Federação
Internacional de Natação, que atua em conjunto com o COI) proibiu a
“touca afro”, usada por nadadores negros que têm cabelos mais volumosos
ou dreadlocks, porque “altera o formato natural da cabeça” – qualquer
mínima mudança nas condições de competição é vigiada, embora a
participação de uma mulher trans competindo no levantamento de peso com
mulheres biológicas tenha sido autorizada.
Diante
das reações negativas, a FINA disse que estava reavaliando o uso da
touca afro, um caso que parece justo porque cabelos mais cheios e até
pelos corporais aumentam o atrito com a água e, consequentemente, as
desvantagens competitivas, não o contrário.
Sem
possibilidade de um novo adiamento, depois do estrago causado no ano
passado pela pandemia, as Olimpíadas de Tóquio enfrentam problemas novos
e antigos.
Entre
os antigos: custaram muito mais do que o governo havia dito (15 bilhões
de dólares), houve dúvidas sobre o sistema de concessões para as
construtoras envolvidas e se discute o próprio gigantismo das
instalações esportivas, um conceito cada vez mais contestado em termos
de urbanismo e desenvolvimento das cidades, mesmo quando os jogos são em
países ricos como o Japão.
Os
novos envolvem situações politicamente incorretas, como a do presidente
do Comitê Olímpico Japonês obrigado a renunciar depois de reclamar que
as mulheres falam demais e estavam prolongando as reuniões de trabalho –
sempre longuíssimas pela tradição japonesa. Ou o risco de que aconteça
algo parecido com a situação criada no time inglês de críquete: todos os
jogadores e equipe técnica entraram em quarentena, depois de sete casos
de Covid-19 entre eles. Está sendo montado um time inteiramente novo
para disputar um jogo marcado com o Paquistão válido pelo campeonato do
esporte.
Mas
o pior, nos Jogos de Tóquio, é a rejeição da opinião pública, assustada
com a possibilidade de que as Olimpíadas se transformem num foco de
propagação de Covid-19 de proporções gigantescas.
Nem
a proibição de espectadores estrangeiros e os controles rígidos sobre a
movimentação de atletas, comitivas e jornalistas mudaram o quadro.
Muito
dessa rejeição é causada pela indignação com o baixíssimo índice de
imunização antivírus no país – apenas 8% dos japoneses tomaram as duas
doses da vacina, menos do que no Brasil.
O
Japão teve um número bem baixo de mortes, menos de 15 mil, e os óbitos
diários estão estabilizados em dois dígitos, mas o medo da pandemia fez
com que até 80% dos japoneses fossem contra a realização das Olimpíadas.
Com
um público local desanimado, e limitado a 10 mil pessoas (se não for
proibido de vez), sem o colorido e a sinergia das torcidas estrangeiras,
os Jogos Olímpicos perdem uma de suas colunas de sustentação. Tenistas
campeões como Rafael Nadal e Serena Williams já caíram fora.
A
suspensão de uma atleta como Sha’Carri também tira um pouco da força do
jogos. É claro que, quando começar a competição entre os melhores do
mundo, muita coisa será simplesmente esquecida.
É simplesmente irresistível assistir os que correm mais rápido, pulam mais alto e são os mais fortes. E sem cannabis.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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