Mais do que errar, Bolsonaro se tornou um especialista na arte de repetir o erro — o que mostra, infelizmente, que não erra por acaso. J. R. Guzzo para a Gazeta do Povo:
O
presidente Jair Bolsonaro, como se sabe desde que ele começou a assinar
nomeações de peixes gordos para o seu governo, já mostrou com clareza
que é muito ruim para escolher qualquer funcionário que tenha alguma
coisa a ver com justiça. Mais do que errar, ele se tornou um
especialista na arte de repetir o erro — o que mostra, infelizmente, que
não erra por acaso.
O
último chute no pau da barraca foi a renomeação do procurador-geral da
República, Augusto Aras, para mais um período no cargo que vem tratando
tão mal desde que foi nomeado a primeira vez. O problema desse Aras 2.0
não é, como se escandalizaram os crentes no estado de graça permanente
do Ministério Público, o fato de não fazer parte da “lista tríplice”
expedida pelos militantes sindicais do MP. O problema real está no fato
de que Aras é, na data de hoje, um dos instrumentos mais eficientes para
impedir o combate à corrupção que despacha dentro da máquina estatal
brasileira.
Aras
vem destruindo, em tudo o que faz, todo o trabalho do MP contra a
ladroagem que chegou a extremos inéditos nos governos Lula-Dilma — os 13
anos e meio em que a politicalha e seus vários senhores mais roubaram
na história do Brasil. Para não alongar um assunto sobre o qual até as
crianças com 10 anos de idade estão suficientemente informadas, o PGR
que Bolsonaro agora nomeia de novo mandou acabar, sem o menor
constrangimento, nada menos que a Operação Lava Jato — enfim desfeita,
de forma oficial e com toda a papelada de praxe, em fevereiro último.
Precisa
dizer mais alguma coisa? O PGR de Bolsonaro, na verdade, é hoje o herói
da classe política brasileira — não só de Lula e do PT, mas de todo
político enrolado com o Código Penal que dá expediente entre o Oiapoque e
o Chuí. Por isso mesmo, não vai se ver o senador Renan & cia.
propondo nenhuma CPI para “investigar” Augusto Aras, ou dar um pio sobre
o assunto. “Precisamos estancar a sangria”, disse o ex-senador Romero
Jucá, em momento realmente histórico da política brasileira, durante o
governo Michel Temer. Pois foi isso, exatamente, que Aras fez: estancou a
sangria.
Poucas
vezes um mandarim da política de Brasília resumiu tão bem, como Jucá,
os sentimentos verdadeiros dos seus pares. E poucas vezes um PGR fez com
tanta perfeição o trabalho que os políticos brasileiros realmente
esperavam dele. É por essa razão, e nenhuma outra, que os fugitivos da
lei penal ficam tão quietinhos quando o assunto é PGR. Os mais excitados
ativistas em favor da “democracia”, e contra o genocida de direita,
jamais deram um pio neste assunto. O genocida, aí, vira um grande homem.
Aras
piorou notavelmente o seu desastre ao congelar investigações sobre o
filho do presidente e calar-se sobre as violências grosseiras que o STF
fez em seu “inquérito contra os atos antidemocráticos” e as suas
agressivas intervenções nas áreas de competência dos outros poderes.
Cala-se, consente e está mantido no cargo. “Governabilidade” deve ser
isso aí.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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