Enquanto os idiotas da pandemia discutem se acreditam ou não na imunização, as farmacêuticas, como sempre, nos salvaram. Luiz Felipe Pondé via FSP:
Assim como sabíamos, o Brasil mergulha numa certa “normalização” —as aspas aqui são essenciais— em meio à peste. Com o avanço caótico da vacinação,
a situação se torna menos apocalíptica, ainda que não menos
catastrófica. A morte continua reclamando sua paga em cadáveres. Mas, o
grosso da população não está nem aí pois precisa tocar a vida e pagar as contas, como sempre foi. O Brasil continua sendo um país canalha.
A citação acima abre o capítulo 6, “Psicologia da Incompetência Política”, do novo livro do historiador Niall Ferguson “Doom, The Politics of Catastrophe”,
pela Penguin Press, 2021 —a ser publicado no Brasil com o título
“Catástrofe” pela Planeta em setembro. Segundo ele, grandes tragédias
naturais são também criações humanas. Não há tragédia natural pura. E a
incompetência política é um clássico que se repete.
Ferguson é um historiador anti-hegeliano. O que isso quer dizer? G.W.F. Hegel (1770-1831),
um dos maiores filósofos da história da filosofia, acreditava que a
história tem uma racionalidade que se materializa ao longo do tempo.
Isso quer dizer que a história tem um sentido e que podemos
compreendê-lo.
Ser
anti-hegeliano quer dizer que a história não tem sentido algum, que não
está indo para lugar nenhum, que andamos em círculos, que a
contingência cega reina ao longo do tempo, e que, portanto, como se diz
na Dinamarca “só se pode prever o passado”. E, olhe lá, talvez os russos
é que tenham razão, “não se pode prever nem o passado”. Quem vence
narra a história.
Mas,
dizer que a contingência cega reina ao longo do tempo não significa
dizer que esse reino seja um reino absoluto. Fazer história é,
justamente, identificar uma certa casuística dos acontecimentos e daí
aprender o que é possível aprender. O que, por sua vez, não significa
que aprendamos. Vale dizer que o livro não é um livro sobre, apenas, a
pandemia atual, apesar de, evidentemente, tratar dela. Trata-se de uma
pesquisa sobre catástrofes.
A
obra é uma bela peça de análise de como a história mostra o
entrelaçamento que une a natureza e o comportamento humano (social e
político) em meio as catástrofes. Dito de outra forma: no caso
específico de pestes, elas só se espalham graças ao movimento dos
homens. Elas pioram ou não, graças ao modo como os homens reagem a ela,
individualmente, coletivamente, politicamente e burocraticamente.
A
epidemiologia é uma ciência médica com uma face voltada para as
biológicas e outra para as humanas. Quando se pensa apenas na face
biológica se esquece que o homem habita a sociologia em grande parte,
logo, a lida com a epidemia depende de como as sociedades se organizam. O
Brasil é uma catástrofe histórica, logo, aqui, a pandemia é pior, como
todo mundo já sabia.
A
humanidade já teve várias pestes e nunca estamos, de fato, preparados
para elas. Logo, não aprendemos muita coisa com os eventos passados.
Um
dos pontos altos do livro é quando Ferguson mostra como a burocracia
médica dos Estados estava despreparada para lidar com a pandemia. Mas
aqueles países mais ricos e mais organizados, é claro, se saem melhor
pelas razões de sempre.
Enquanto em Davos em janeiro de 2020,
os ricos discutiam o aquecimento global, o coronavírus estava na Europa
e se espalhando pelo mundo a jato. E é muito provável que continuemos
despreparados para eventos como esses. E os ricos se sairão sempre
melhor e os pobres continuarão a morrer do mesmo jeito, enquanto melosos
juram amor a solidariedade global.
Vale
apontar que Ferguson sabe se colocar muito bem diante das obsessões e
do senso comum da intelligentsia mundial: apesar de todo mundo chique
xingar Donald Trump e Boris Johnson,
foram eles que deram o pontapé inicial para o que, de fato, tende a
debelar a pandemia, as vacinas. Enquanto os idiotas da pandemia discutem
se “acreditam” ou não nas vacinas, as farmacêuticas, como sempre, é que nos salvaram.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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