Estudantes de Jundiaí pintaram rosto e escreveram 'C-O-T-A-S' no peito.
Ação foi vista como ato de racismo e motivou críticas na internet.
Torcedores pintaram rosto e escreveram C-O-T-A-S no peito (Foto: Reprodução/Pragmatismo Político)
Uma troca de ofensas entre torcidas de faculdades em um torneio
universitário gerou polêmica nas redes sociais sobre cotas raciais em
universidades do país. Uma foto publicada em redes sociais e blogs
mostra estudantes da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) com os
rostos pintados de verde escuro e as letras que formam a palavra "cotas"
na barriga, em uma suposta provocação para jogadores da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).Conforme o relato feito em redes sociais, a mensagem com as letras C-O-T-A-S seria uma provocação para os estudantes da Unicamp, que – neste ano – teve mais da metade dos ingressantes vindos de escolas públicas. Destes, 43% se declaram como pretos, pardos ou indígenas.
A foto - que não teve a autoria divulgada - mostra ainda outros torcedores também com o rosto pintado de verde e roxo, cores do time de Jundiaí.
Já integrantes da torcida da Unicamp escreveram "B-U-R-R-O" na barriga. A escrita seria uma provacação para os estudantes da FMJ que não teriam conseguido entrar na universidade pública.
Torcida da Unicamp escreveu B-U-R-R-O na barriga (Foto: Reprodução/Facebook)
PolêmicaA foto dividiu opinião de usuários nas redes sociais e blogs, que comentaram no dia 24 março, as postagens sobre o assunto. Em um dos textos, por exemplo, o médico Eduardo Bhaltasar afirmou que o ato era uma tentativa de "desmoralizar a torcida adversária" e que as pinturas no rosto seriam uma referência ao Blackface, quando atores brancos pintavam o rosto de preto para interpretar personagens negros. O ato teatral ganhou popularidade durante o século 19 e contribuiu para a proliferação de estereótipos em relação aos afro-americanos.
"Pelo que parece, para esses alunos, uma universidade que tem cotas étnicas como política institucional é algo desmoralizante, algo que diminui sua qualidade. (...) O preconceito racial existe, sim, entre alguns alunos de medicina e eu vivi isso. Piadas racistas eram contadas com frequência, como também racismos escancarados. (...). É uma pena ter que ver esse tipo de imagem em pleno século XXI, vindo de uma classe de alunos que serão formadores de opinião em um futuro próximo."
No Facebook, alguns usuários defenderam os torcedores, afirmando que a ação se tratava de uma "brincadeira entre torcidas" e que a foto teria sido "mal interpretada fora de um contexto". "Isso é uma competição. Uma torcida provoca a outra. Hoje em dia, não se pode falar nada porque sempre tem alguém que se acha ofendido e começa a bolar teorias loucas, este mundo está muito chato", comenta outro usuário.
Notas de repúdio
O fato gerou uma nota de repúdio da Comissão da Marcha da Consciência Negra de Jundiaí classificando como "cena lamentável de preconceito". O grupo também pediu providências para a reitoria da FMJ, com as "respectivas sanções, a fim de evitar novos casos".
O Centro Acadêmico Adolfo Lutz (CAAL), que representa os estudantes do curso de medicina da Unicamp, emitiu uma nota repudiando a atitude da torcida da FMJ. A nota afirma que o clima das competições esportivas tem, nos últimos tempos, estimulado a violência. "Isso se dá na medida em que torcidas extrapolam a busca pela defesa de seu time e passam a inferiorizar o adversário a qualquer custo, utilizando-se de ofensas diversas. Esses ambientes tornam-se, então, apropriados à violência, à humilhação e à opressão dos estudantes."
Faculdades
Em nota, a FMJ afirma que abriu apuração interna para analisar o comportamento dos estudantes. Já a diretoria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp informou que não irá se pronunciar sobre o assunto.
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