BLOG ORLANDO TAMBOSI
Astrônomos encontram seis galáxias gigantescas surgidas logo após o Big Bang e colocam em xeque o que se sabia sobre o tema. Alessandro Giannini para a Veja:
O
lançamento do Telescópio Espacial Hubble, em abril de 1990, marcou uma
nova era na astronomia. Até aquela época, muitos cientistas acreditavam
que as galáxias só começaram a se formar bilhões de anos depois do Big
Bang, a explosão que criou toda a matéria e energia do universo e vem se
expandindo sem parar. As excitantes descobertas do então novo
observatório, contudo, derrubaram a teoria e a substituíram por outra.
Segundo a tese, prontamente aceita pela comunidade científica
internacional, as galáxias se desenvolveram lentamente e levaram muito
tempo para se tornar massivas, como se fossem bebês cósmicos passando
por extensos estágios de crescimento.
Há,
agora, um movimento extraordinário, que parece ir um tantinho na
contramão das ideias com as quais lidamos hoje, e é possível, sim, que
tudo tenha sido mais rápido. O Telescópio Espacial James Webb, que
estacionou no cosmos em dezembro de 2021 e abriu suas lentes em julho do
ano passado, tem entregado segredos. Astrônomos de universidades
americanas, australianas e europeias descobriram vários objetos
misteriosos escondidos em imagens do supertelescópio da Nasa, da Agência
Espacial Europeia e da Agência Espacial Canadense que desafiam mais uma
vez os conhecimentos acumulados. As revelações, publicadas na revista
Nature, causaram nova onda de entusiasmo.
Um
grupo de astrofísicos e astrofísicas dos Estados Unidos, Dinamarca e
Espanha, liderado por Ivo Labbé, professor da Universidade de Tecnologia
Swinburne, na Austrália, examinou um lugar um tanto desinteressante do
firmamento, próximo da constelação Ursa Maior — e descobriu por ali seis
galáxias gigantescas. Essas enormes coleções de gás, poeira e bilhões
de estrelas foram formadas, ao que tudo indica, logo depois da
singularidade, como é chamada a explosão primordial. É um passo,
portanto, no avesso da teoria cosmológica atual. É surpreendente. “A
partir da tese corrente e de observações anteriores com o Hubble,
acreditava-se que as galáxias tinham um outro modelo de desenvolvimento
ao longo do tempo astronômico”, disse Labbé a VEJA. “Parece haver um
canal diferente, uma via veloz, para formar galáxias monstruosas muito
rapidamente.”
Cosmos: galáxias atingiram tamanhos que pareciam improváveis logo após o Big Bang
Labbé
e seus colegas examinavam uma área com o tamanho de um selo postal de
uma imagem registrada pelo James Webb quando identificaram “pontos
difusos” vermelhos de luz que pareciam brilhantes demais para ser
verdadeiros. A cor significa que os corpos celestes que provavelmente
representavam estão muito longe no tempo e no espaço — objetos mais
próximos da Terra têm um tom mais azulado. É como se os pesquisadores
estivessem olhando por um gigantesco espelho retrovisor no firmamento,
mostrando o que aconteceu em um passado muito, muito longínquo. Depois
de alguns cálculos, eles determinaram que as galáxias encontradas têm
mais de 12 bilhões de anos, e foram formadas de 500 milhões a 700
milhões de anos após o Big Bang, com estrelas que atingiram tamanhos de
até 100 bilhões de vezes a massa do nosso Sol. De acordo com o que se
sabe até hoje, porém, não haveria gás suficiente naquele momento, após a
primeira de todas as explosões, para formar tantas estrelas assim.
O
que vem deixando os pesquisadores cismados é a suposta natureza dessas
galáxias. Muito antigas, elas têm uma enorme quantidade de estrelas, mas
são trinta vezes menores do que a Via Láctea, endereço da Terra no
universo. “Se fossem seres humanos, elas seriam como bebês de 1 ano,
muito menores do que o normal e com o peso de uma pessoa adulta”,
compara Labbé. “São realmente diferentes, criaturas verdadeiramente
bizarras. O universo primitivo é estranho.”
Eis
a beleza da astronomia, em busca de nossas origens, numa valsa infinita
de conhecimento. Há muito ainda a ser estudado e comprovado. Antes de
tudo, informam os especialistas da equipe de Labbé, é preciso colocar as
descobertas em uma base mais segura e confiável. O primeiro passo é
confirmar as distâncias com a espectroscopia, método em que cientistas
colocam a luz de cada uma dessas galáxias em uma espécie de prisma. Isso
dirá a distância delas até a Terra com precisão quase cirúrgica e
revelará o que está produzindo a luz, se são estrelas ou algo diferente —
como buracos negros em colisão, por exemplo. Graças ao James Webb, as
revelações sobre o universo são cada vez mais fascinantes.
Publicado em VEJA de 8 de março de 2023, edição nº 2831
Postado há 5 days ago por Orlando Tambosi
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