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A Seagen tem quatro drogas de quimioterapia para câncer aprovadas pelo governo americano. Três delas são ADCs: Adcetris, Padcev e Tivdak. A quarta, Tukysa, é uma molécula menor aplicada em um tipo específico de câncer de mama. Eli Vieira para a Gazeta do Povo:
A
gigante dos medicamentos Pfizer anunciou na semana passada (13) a
aquisição da empresa Seagen, especializada no tratamento de câncer, pelo
valor de US$ 229 por ação, 32% mais que seu valor de mercado. O valor
total da compra é de 43 bilhões de dólares, o que equivale a 226,5
bilhões de reais na cotação atual. Desde então, o valor das ações da
Pfizer caiu levemente, 5,2%, enquanto a Seagen viu um aumento imediato
de 32,2%. Com a desaceleração das vendas de tratamento para Covid
(Comirnaty e Paxlovid), a Pfizer precisa de novas fontes de renda. A
compra representa uma vitória sobre a farmacêutica Merck, que também
tinha interesse de comprar a Seagen.
Mas
a principal razão do interesse da Pfizer na Seagen, empresa de
biotecnologia fundada em 1998 em Seattle, EUA, é que a última
desenvolveu um novo método de combate ao câncer que o diretor executivo
da Pfizer, Albert Bourla, compara a um “míssil guiado”. O nome oficial
da tecnologia é “conjugados anticorpo-droga” (ADCs, na sigla em inglês).
Na quimioterapia normal, todo o corpo sofre para combater o câncer. As
células cancerosas agem como um parasita sobre o organismo,
reproduzindo-se de forma “egoísta” até afetar de forma irreversível
órgãos e provocar a morte. Os ADCs, simplificando, atuam diretamente
contra o tumor, sem que o resto do organismo precise “pagar o pato”.
“A
Pfizer está empregando seus recursos financeiros para avançar na
batalha contra o câncer, uma das principais causas de morte no mundo
todo”, disse Bourla em nota à imprensa. Em entrevista ao canal CNBC, ele
estimou que uma a cada três pessoas tem câncer em algum momento da
vida, e opinou que os ADCs podem ser tão importantes para o câncer
quanto a tecnologia de mRNA foi para as vacinas.
Como funcionam os ADCs
A
primeira fase na produção dos conjugados anticorpo-droga é a
identificação de proteínas que são específicas da superfície das células
cancerosas. Essas proteínas são apresentadas para o organismo de
animais de laboratório, cujos sistemas de defesa produzem anticorpos
monoclonais contra elas, como é normal que aconteça quando o organismo é
exposto a uma nova ameaça.
Cada
anticorpo específico contra câncer é então ligado — e aqui está a
inovação mais importante da Seagen — a uma droga que atingirá
especificamente as células cancerígenas, em vez de ser aplicada em
grandes doses para o organismo inteiro.
A
aplicação dos anticorpos no tratamento do câncer não é novidade. No
livro “Malignant” (2020, sem tradução para o português), o especialista
Vinayak “Vinay” Prasad estimou que até 2016 havia 20 drogas diferentes
baseadas em anticorpos em 803 ensaios clínicos, com um total de mais de
150 mil pacientes. Uma dessas drogas é o Bevacizumab, que tem como alvo
uma molécula que estimula o crescimento de vasos sanguíneos para os
tumores, dando a eles nutrição e oxigênio. O medicamento já foi
submetido a 48 estudos randomizados (em que pacientes são distribuídos
ao acaso entre o grupo que recebe e o que não recebe). Desses, 64%
relataram progressão sem piora e 15% relataram melhoria na sobrevivência
geral dos pacientes. Contudo, levando todos em conta, e considerando
que “alguns desses podem ter sido significativos por puro acaso”, Prasad
estima que somente 45% realmente valem para progressão sem piora e só
2% (um único estudo) vale para melhoria na sobrevivência em geral.
A
mensagem do livro, embora ele não cubra os ADCs, é de cautela. Outro
imunoterápico usado para câncer de pulmão, Nivolumab, foi julgado mais
pela capacidade de encolhimento de tumores do que pela sobrevivência e
qualidade de vida dos pacientes, concluiu o autor. Para Prasad, muitas
drogas contra o câncer são aprovadas e vendidas com base em “hype”,
interesses econômicos e viés, em vez de evidências e real benefício. A
dura realidade é que muitos pacientes com câncer são expostos a falsas
promessas. O tempo dirá se os ADCs são diferentes.
Impacto financeiro
A
Seagen estima que conseguirá faturar cerca de US$ 2,2 bilhões (R$ 11,59
bilhões) este ano, o que representaria um crescimento de 12% em relação
ao ano anterior. Ainda não chega perto dos US$ 12,1 (R$ 63,75) bilhões
que a Pfizer ganhou no ano passado com seus atuais tratamentos para
câncer, mas a compradora estima que a Seagen contribuirá com US$ 10
bilhões (R$ 52,65 bilhões) anuais a partir de 2030.
A
Seagen tem quatro drogas de quimioterapia para câncer aprovadas pelo
governo americano. Três delas são ADCs: Adcetris, Padcev e Tivdak. A
quarta, Tukysa, é uma molécula menor aplicada em um tipo específico de
câncer de mama. Segundo a empresa, o Adcetris foi aprovado para quatro
indicações em mais de 70 países para tratar linfomas, que são cânceres
que afetam o sistema linfático, parte do sistema imunológico. O Padcev
foi aprovado para câncer de bexiga avançado e já em metástase. O
terceiro ADC aprovado, o Tivdak, também é para câncer avançado e em
metástase, mas que afeta o colo do útero. Os três ADCs geraram um
faturamento de US$ 1,3 bilhão (R$ 6,84 bilhões) em 2022 para a Seagen,
mas ela fechou um ano no vermelho, com perda de US$ 674,5 milhões (R$
3,5 bilhões).
Segundo
o site de notícias científicas Stat News, a Seagen no momento tem 11
linhas de pesquisa diferentes com alvo em doenças como câncer de pulmão e
de mama — o foco principal são os cânceres que formam tumores sólidos. A
estratégia de mercado da Pfizer, que espera ver uma queda do
faturamento pós-pandemia, tem sido comprar empresas menores do setor,
como fez a Disney no entretenimento. No ano passado, a farmacêutica
comprou a Global Blood Therapeutics, com interesse no mercado de
tratamento de anemia falciforme, e a Biohaven Pharmaceuticals, que atua
no tratamento de enxaqueca. Em 2022, a Pfizer faturou US$ 100,33 bilhões
e lucrou US$ 31,4 bilhões. Em 2019, antes da pandemia, faturara US$
40,9 bilhões e lucrara US$ 9,2 bilhões.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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