MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

 Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz ""Há duas palavras que abrem muitas portas: Puxe e empurre.""

Com moeda comum, o brasileiro assumirá risco de calote argentino.

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

É fácil perceber que o Estado brasileiro estaria, com essa ideia, assumindo o risco de conversibilidade para fomentar as trocas com um parceiro regional afundado em problemas econômicos e com grande risco de inadimplência. Reportagem de Rodrigo Oliveira para a Crusoé:


A primeira viagem internacional do presidente Lula no ano levantou uma polêmica antiga sobre a integração dos países sul-americanos: a criação de uma moeda, agora comum, e, anteriormente, única. A ideia defendida pelo brasileiro em artigo assinado no jornal Perfil em conjunto com o presidente argentino Alberto Fernandez ressuscitou uma discussão que se julgava esquecida. Ainda quando ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, defendeu ideia ainda mais abrangente, de criação de uma espécie de “euro” da América Latina. Agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sob a tutela sempre atenta do presidente, defende algo mais modesto: uma moeda comum — específica e limitada para trocas comerciais entre os países que aderirem à novidade.

É bem verdade que, até agora, o que se tem é a intenção de estudar o assunto, mas com países vivendo situações tão distintas economicamente é improvável que as normas necessárias para a concretização da ideia consigam avançar na próxima legislatura do Congresso Nacional. A mudança precisaria de um consenso razoável para permitir possíveis adequações tributárias e fiscais entre os dois países. E o Legislativo brasileiro tem contratado para este ano embates bastante complicados no que diz respeito à economia, considerando-se somente a discussão sobre a reforma tributária interna.

Além disso, antes mesmo de ser uma proposta concreta, a simples menção à possibilidade de uma moeda comum entre Brasil e Argentina já é motivo de preocupação para economistas brasileiros. De acordo com o secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, em entrevista a uma emissora de televisão nesta semana, a iniciativa objetiva dinamizar o comércio entre os vizinhos. “O que estamos tentando fazer é superar o risco de conversibilidade do peso para o real, de início, solicitando garantias para esse crédito para exportação brasileira/importação argentina, posteriormente, pensando em sistemas de compensação entre esse comércio (…) que precisa de uma unidade de conta e de um meio de troca”, explicou.

E o problema está justamente nesse risco de conversibilidade, que ocorre quando um país não consegue trocar a moeda local por uma estrangeira. No caso atual da Argentina, se refere à dificuldade em acessar dólares para concluir transações comerciais internacionais. A moeda compartilhada atenderia, portanto, a essa necessidade. Dessa forma, o Brasil facilitaria as trocas entre os dois países e ampliaria o comércio internacional. Mas será que vale a pena?

De acordo com dados do governo federal, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 15,35 bilhões em 2022 — praticamente 30% do resultado do ano anterior. Além disso, o comércio com o vizinho internacional é historicamente superavitário em favor do Brasil. No entanto, isso representa apenas 4,5% do total de exportações brasileiras, que ultrapassaram os US$ 334 bilhões no ano passado

Com isso em mente, é fácil perceber que o Estado brasileiro estaria, então, assumindo o risco de conversibilidade para fomentar as trocas com um parceiro regional afundado em problemas econômicos e com grande risco de inadimplência para ganhos possíveis pouco atraentes. “Iria um pouco mais longe, parafraseando o Armínio (Fraga): o meu, o seu, o nosso dinheiro está bancando o risco Argentina e sem cobrar por isso. Não é o Estado: é o contribuinte”, alerta o economista e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman.

Para ele, a criação de uma moeda comum entre os dois países é uma ideia que faz pouco sentido do ponto de vista do exportador brasileiro. “(O exportador) acabaria com uma moeda com demanda limitada (brasileiros importadores da Argentina), restringida precisamente pela importação — historicamente abaixo das exportações”, explica Schwartsman.

A crítica é compartilhada pelo também economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, que destaca ainda a estratégia equivocada do governo na discussão sobre o comércio internacional. “O problema do Brasil agora não é o Mercosul. É o relacionamento com a China, que é nosso maior parceiro; com a União Europeia, que é segundo maior; e com os EUA, terceiro. A agenda está errada”, aponta Dumas.

Seja como for, a criação da moeda única ainda terá de enfrentar obstáculos importantes para avançar e se tornar uma realidade. Não só em âmbito Legislativo nacional, mas também para tentar equalizar as diferenças gritantes entre as economias dos dois países. “Tenho esperança que essas dificuldades deem tempo para ambos os países evitarem mais este erro na política econômica”, conclui Schwartsman.
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Quem aparelhou a filosofia no Brasil?

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI


O não reconhecimento de programas laicos sobre filosofia brasileira não é uma explicação razoável para o declínio do conservadorismo, como pretendia Flávio Gordon. Esta causa, como já argumentei, deve ser buscada dentro da Igreja. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:


O melhor documento para averiguar a censura perpetrada pelos pupilos do Pe. Vaz não é o artigo de Vélez, mas sim a coletânea Liberdade acadêmica e opção totalitária, organizado por Paim. Ocorreu o seguinte: em março de 1979, uma professora de filosofia da PUC-Rio pediu demissão porque o chefe de departamento, Raul Landim, havia vetado a impressão de um texto de Miguel Reale no material institucional do Departamento “face ao caráter polêmico e controvertido das [suas] atividades políticas”. Miguel Reale havia sido um notório teórico integralista, além de reitor da USP em suas ocasiões (49-50 e 69-73). Raul Landim era um pupilo do Pe. Vaz e, hoje, notório estudioso da obra de São Tomás. Paim, então professor da PUC-Rio, pediu demissão em solidariedade à colega e jogou a história no ventilador. Resultado: editoriais do Jornal do Brasil, d’O Globo e do Estadão contra o episódio de censura na PUC-Rio, mais uma chuva de artigos de opinião. Quase todos ficaram contra Landim. Exceções foram o Pe. Vaz, o Pe. Olinto e o sociólogo Simon Schwartzman (também parte da entourage do Pe. Vaz, mas que fez um texto isento apontando para a necessidade de parâmetros acadêmicos na seleção de textos institucionais, que devem se preocupar com o assédio da política sobre a academia). Um desfecho do qual o leitor da coletânea não se inteira é que a celeuma foi seguida pela demissão de Landim.

“A intelectualidade estará dividida entre liberais e totalitários”, diz Paim na apresentação da coletânea. Vale frisar, porém, que o seu amigo Reale não era nenhum santo.

Acuse-os do que faz?

Em seu segundo reitorado, Reale criou um órgão secreto de inteligência chamado AESI (Assessoria Especial de Segurança e Informações) cujo fito era investigar as ideologias dos alunos e professores que fossem ou quisessem ser parte da USP e denunciá-los à Repressão. Segundo relata o Estadão na matéria “SNI barrou expurgos” (23/3/2018), “a assessoria [AESI] produziu 2.895 documentos entre 1973 e 1979 enviados ao Departamento de Ordem Pública e Social (Dops), ao 2.º Exército e ao SNI.” Os professores bem relacionados com a reitoria passaram a denunciar os colegas a fim de promover expurgos e açambarcar a verba da pesquisa. Assim o SNI parou de dar credibilidade às denúncias. Como diz a matéria sobre um caso (o relatório da AESI contra o físico Oscar Sala), “para o SNI, o documento da AESI ‘insere-se num contexto de luta pelo controle administrativo da Fapesp e do manejo de suas vultosas verbas’. Por fim, os agentes concluíam: ‘Não é, em essência, documento válido e merecedor de crédito’.”

Pois bem: a acusação de Vélez aos pupilos do Pe. Vaz da APML é a de que teriam feito a mesma coisa que os anticomunistas da USP, só que em plano federal. Em vez de FAPESP, seriam a CAPES e o CNPq. Para explicar como “marxistas-leninistas”, em vez de anticomunistas, se aliariam aos militares, insere-se a teoria de que foi uma negociação para que a APML abandonasse a luta armada. Os militares estariam preocupados porque a APML não ingressara na vida partidária e isso seria um indício de que iriam pegar em armas. A negociata (trocar o controle das verbas pela desistência da luta armada) teria ocorrido entre 80 e 82.

Alguns apontamentos: 1) Na década de 70, a APML era ateia e não tinha mais deferência ideológica pelo Pe. Vaz, de modo que ser pupilo do Pe. Vaz e ser da APML são coisas mutuamente excludentes. 2) A APML ingressara na vida partidária, pois se fundira com o PCdoB. 3) Não há uma relação necessária entre virar partido e sair do terrorismo, como mostra o próprio PCdoB no Araguaia. 4) O ciclo que vai da JUC radicalizada à APML compreendeu três décadas (50, 60 e 70), de modo que não faz sentido presumir coesão entre o Prof. Landim (um pupilo do Pe. Vaz) e os estudantes maoístas da APML.

Tudo isso torna a história de Vélez muito implausível, para dizer o mínimo.

Quem seriam os aparelhadores?

Se estivesse vivo, o Pe. Vaz teria 101 anos. Seus pupilos, se vivos, estão na casa dos 80 anos. Já os ativistas estudantis da fase maoísta estão hoje na casa dos 60 anos. Em 1980, não tinham idade para tomar a direção da filosofia da CAPES. Se alguém aparelhou a CAPES, foi da primeira leva.

O pivô da briga de papel, Raul Landim, de fato foi importante na institucionalização da pesquisa em filosofia. Ele não foi o único da AP: o artigo da Unicamp cita uma ampla influência do “militantismo católico” sobre a filosofia no Brasil. Os nomes citados são o do fluminense Raul Landim, mais os mineiros Guido Antonio de Almeida, Walter José Evangelista, José de Anchieta Corrêa e Hugo César Tavares. Os dois primeiros compõem a linha analítica da UFRJ e os demais últimos ficaram na UFMG. Os dois primeiros eu conheço de nome; dos demais eu nunca tinha ouvido falar. Walter Evangelista em 75 havia se convertido ao marxismo e estava na Bélgica terminando o doutorado sobre Althusser. A crermos no seu Lattes, orientou apenas quatro doutores. Parece provável, então, que ele tenha sido o membro da AP que levou a influência de Althusser nos final dos anos 60. Dos demais, não encontro informações detalhadas. Seja como for, o fato apontado no artigo da Unicamp é que essa turma se doutorava em Louvain, na Bélgica.

Se há aparelhadores da filosofia pupilos do Pe. Vaz, hão de ser estes, que têm idade e estão nas raízes da criação da ANPOF. Creio que seja ônus de Vélez e seus partidários explicar como qualquer deles teria condições de adotar táticas de guerrilha, e como conseguiam manter vínculos com a APML nos anos 70 estando na Bélgica.

Quando a nomeação de Vélez trouxe esse episódio de volta à tona, a extinta revista Época procurou Landim. Cito-a: “Disse [Landim] que a exclusão do curso de filosofia brasileira estava relacionada a uma modernização do departamento para adequá-lo à realidade de outros cursos de filosofia no mundo. Da mesma forma, a antologia de textos distribuída aos alunos passou a incluir apenas filósofos considerados clássicos. ‘Fui da AP, mas não sou marxista, como também não era o padre Vaz. Estávamos preocupados em melhorar a competência dos alunos, mas o Paim transformou tudo em questão ideológica’, disse a ÉPOCA Landim […]. A querela não terminou bem para ele. Seis meses depois, Landim e outros professores perderam seu emprego na PUC. Ele acha que a polêmica teve um efeito indireto em sua saída.”

Hipérbole falsa

A Época também ouviu Paim: “A USP é hostil ao pensamento brasileiro. A Capes está na mão dos comunas, dos marxistas. O MEC só dá passagem e bolsa para quem está na chave gramsciana. Se você não estudar Gramsci, você perde o emprego. É exatamente isso.” Dois apontamentos aqui: Paim aponta, corretamente ao meu ver, que a USP ditou as normas da institucionalização da filosofia no Brasil. Na verdade, isso é senso comum na filosofia acadêmica brasileira, e eu mesma sou fruto desse modelo uspiano de formação. Nele, o aluno escolhe um filósofo “clássico” (sempre estrangeiro) para estudar e se torna um “historiador da filosofia” que escreve obras de “comentário” seguindo o método estruturalista expresso por Victor Goldschmit (pupilo do católico Étienne Gilson) em “Tempo histórico e tempo lógico na interpretação dos sistemas filosóficos”. É uma coisa muito específica e fácil de reconhecer. Eu sou especialista em Hume; Chauí, em Espinosa. O próprio trabalho de Paim é o de um historiador da filosofia que faz análises estruturais de textos. Ele só diferencia do estilo uspiano por causa da amplidão do seu escopo e por formar um cânone (brasileiro) por conta própria.

O predomínio de São Paulo pôs o Rio de Janeiro e Minas Gerais em segundo plano. Minas tem notas da Capes excelentes, mas não impôs um “modelo UFMG” de fazer filosofia, nem lotou departamentos com seus egressos Brasil afora. Quem fez isso foi a USP, que a seu turno era um “departamento francês ultramar”.

Quanto à outra afirmação de Paim, é simplesmente falsa. O próprio Landim é um especialista em São Tomás que não chega perto de Gramsci ou Marx. Eu, que estudei num departamento paulista da Bahia, só tive um professor especialista em Marx. Era um peixe fora d’água: mais velho do que os colegas egressos de São Paulo (foi o único que se aposentou enquanto eu estudava), tinha se formado no México.

Last, but not least, os dois egressos da AP que ficaram na UFRJ eram opositores do modelo USP. Muitas das diatribes contrárias ao estruturalismo uspiano vêm dos ditos analíticos, que às vezes até se especializam num filósofo, mas preferem pensar a história da filosofia focando em problemas a serem tratados diacronicamente pela lógica, em vez de sistemas fechados a serem estudados somente em seus próprios termos por um historiador. Raul Landim e Guido Almeida, embora “famosos”, são de uma corrente minoritária. Aliás, a filosofia analítica da PUC-Rio também sofreu bastante com a hegemonia paulista. Vide (vou deixar o leitor pesquisar, para não me alongar) Oswaldo Chateaubriand, ou ainda a filosofia do paranaense Newton da Costa, de reconhecimento internacional.

O que deve ter acontecido

O certo é que o modelo USP tratorou iniciativas de outros cantos do país. Paim estudava um tema fora do escopo tido como legítimo pela USP. (Vale apontar que tampouco o Pe. Vaz é conhecido ou estudado – ele estava junto com Reale na apostila vetada.) Além disso, Paim pediu demissão da PUC e foi para a Gama Filho, uma instituição privada que sequer tem o amparo da Igreja. Ora, na institucionalização levada adiante pelos militares, as universidades públicas foram de longe as que mais cresceram. Com qualidade e dinheiro, passou a atrair o resto do alunado de elite que ainda escolhia universidades privadas. As federais só declinaram após a gestão Haddad em Lula II. Paim teria chances de resistir ao modelo USP – como Landim resistiu – se ao menos tivesse escolhido uma universidade pública para trabalhar.

Há uma diferença entre estudar as escolas de pensamento que moldaram a política brasileira e estudar polemistas vivos (como Reale e o Pe. Vaz à época). É uma pena que a polêmica tenha transformado “estudar filosofia brasileira” em “estudar Reale e outros anticomunistas”. Foi uma injustiça grosseira e imperdoável com a obra de Paim. Isso o levou a uma revolta justificada, e o sentimento de revolta conduz a hipérboles.

Em sua entrevista à Época, ele se sentia especialmente traído porque ajudara os comunistas: “Excluíram o Miguel Reale porque ele tinha sido integralista, o que é um absurdo. Eu tinha arrumado bolsas para os marxistas, em pleno governo militar, porque achava um absurdo a discriminação a eles, mas a convivência é difícil. Você não deve dar cargo de poder a eles, porque eles vão liquidar os outros. É da alma deles.” O próprio Miguel Reale, porém, institucionalizou um macartismo dentro da USP às escondidas. A AESI só foi descoberta em 2018, e só podemos crer que Paim não fazia ideia das presepadas do amigo ex-integralista. Por outro lado, a esquerda devia saber muito bem. E por isso deve ter ganhado uma aversão indelével por Paim, que expôs os esquerdistas no jornal em plena ditadura enquanto retratou o Inquisidor Mor da USP como mártir da liberdade de expressão.

A influência da turma da AP não deve ter servido para muita coisa além de jogar para cima a avaliação da Kriterion. O não reconhecimento de programas laicos sobre filosofia brasileira não é uma explicação razoável para o declínio do conservadorismo, como pretendia Flávio Gordon. Esta causa, como já argumentei, deve ser buscada dentro da Igreja.

Quanto à tréplica

Por fim, devo dizer que sua última tréplica ficou aquém do que eu esperava. 1) Desconheço comunista e nazista que tenham sido virtuosos por causa de sua ideologia, e não apesar ou a despeito dela. 2) Paim usa "progressista" de um frouxo, sem ser uma definição. Afinal, o positivismo no Brasil teria um papel progressista, ao passo que na Europa era visto como algo atrasado. Paim não se interessa pela Nova Esquerda, que tem afinidade com a ideologia racista e neomalthusiana surgida no mundo de língua inglesa conhecida como progressismo. Sua experiência de militar brasileiro e bolchevique soviético fizeram dele um grande estudioso do positivismo e do marxismo ortodoxo e suas ramificações. Mesmo com as ciências sociais da USP tomadas pelos intelectuais bancados pela Fundação Ford (entre os quais se contam Florestan Fernandes e Abdias do Nascimento), Paim não deu muita bola para a corrente. Pode ter sido porque ela só chegou aos departamentos de filosofia brasileiros no século XXI...
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Jeff Bezos: a incrível história de sucesso em que os experts não acreditavam.

 

BLOG ORLANDO  TAMBOSI

Laureano Turienzo analisa a carreira do empresário, que perdeu muito dinheiro no início de sua carreira. Carlos Rodríguez Braun para El Cultural:


Jeff Bezos (Albuquerque, Nuevo México, 1964), fundador de Amazon, es una de las personas más ricas del mundo, pero cometió muchos fallos y perdió muchísimo dinero. Este libro tiene la virtud de subrayar esa característica fundamental del empresario: el riesgo.


En 1994, Bezos era un programador estrella en Wall Street, pero lo dejó todo y se marchó a Seattle a montar una empresa de venta de libros por internet. Vendió muchos libros y no ganó dinero. En 1997, con un millón de clientes, y aún sin beneficios, se le ocurrió que si vendía libros podía vender algo diferente. Le preguntó a mil de esos clientes qué pensaban ellos que era posible vender a través de la red: “Las respuestas fueron tan diversas, que se dio cuenta de que en amazon.com se podría vender casi cualquier cosa”.

Así lo hizo, empezando por música y vídeos. Sesudos analistas aseguraron que no iba a funcionar. Bezos estaba haciendo lo mismo que los grandes de la distribución, que rápidamente comprendieron que la apuesta por internet era ganadora y se lanzaron a hacer lo mismo. Era cuestión de tiempo para que le borraran la sonrisa a un Amazon que cuanto más se expandía, más perdía: “desde su fundación hasta finales de 2001 el negocio tuvo pérdidas acumuladas de casi 3.000 millones de dólares, y no hubo un trimestre rentable hasta el cuarto trimestre de ese año”.

Para colmo de males, se pinchó la burbuja de las punto.com, las empresas tecnológicas se hundieron, y la acción de Amazon cayó de 116 dólares a 6. Miles de trabajadores quedaron en la calle. Los agoreros parecían acertar. ¿Qué hizo Bezos? Continuó creciendo. En 2006 inauguró el negocio en la nube, y en 2007 empezó a vender el Kindle, su lector portátil de libros electrónicos.

Cuatro años después, Amazon vendía más libros en Kindle que ejemplares de tapa dura. Y siguió comprando firmas, que se multiplicaron como los afluentes del gran río cuyo nombre adoptó. Bezos podía comprar igual una empresa de zapatos que una de videojuegos. En 2021 compró MGM, el gigante del cine y la televisión, cuyo célebre león había empezado a rugir un siglo antes.

En ese proceso empezó por fin a obtener beneficios, pequeños al principio, pero enormes más tarde. ¿Cuál fue su secreto? El de todos los empresarios: valores, perseverancia, aprender de los errores, y que los aciertos y las buenas ideas prevalezcan.

Amazon acometió iniciativas ruinosas, y Turienzo les dedica todo un capítulo. La empresa tiene defectos como los problemas ecológicos que plantea su modelo de negocio. Bezos fue elegido en 2014 por la Confederación Sindical Internacional como “el peor jefe del mundo”. Pero también tuvo grandes aciertos, desde instalarse en Seattle por sus bajos impuestos y la cercanía a los distribuidores de libros, hasta su política de expansión y, por supuesto, su confianza permanente en las posibilidades de internet.

El valor principal de la compañía ha sido siempre el consumidor, y por eso Bezos tituló así una conferencia que pronunció en el M.I.T. en 2022: “La empresa más centrada en el cliente de la Tierra: diferenciarse con la tecnología”. Dando buenos servicios a buenos precios se ganó el favor de la gente, y, aunque los sindicatos lo detestan, sus trabajadores cobran los mejores salarios del sector.

El libro de Laureano Turienzo adolece de algunos errores y simplificaciones. La edición podría haber sido mejor cuidada, aunque acierta al incluir referencias en códigos QR. Pero cuenta bien la historia de la empresa y la aventura que siempre representa ser empresario. Un visionario como Jeff Bezos, ¿a dónde va a querer ir ahora? A la luna, claro.
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O perigo de ter um narcoestado bem ao nosso lado

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI


O país vizinho escapou de várias crises, mas as denúncias de envolvimento de estamentos oficiais com o tráfico criam uma ameaça próxima. Vilma Gryzinski:


“O narcotráfico está tomando importantes áreas estratégicas de nosso país. A proteção ao narcotráfico está apunhalando as instituições. Está gerando as condições para desestabilizar não um governo, mas o Estado plurinacional. Por isso, quero alertar sobre a desinstitucionalização da polícia”.

As palavras de Carlos Romero, ex-ministro do Interior no governo Evo Morales, continuam repercutindo por ajudarem a montar o quadro de um país vizinho, importante para o Brasil, tomado pelo crime.

Desconte-se as rivalidades políticas: Romero dirige as críticas a seu sucessor, Eduardo Del Castillo.

Mas é na hora das rivalidades que as verdades afloram.

“Existe uma proteção grosseira ao narcotráfico na Bolívia e esta proteção opera fundamentalmente no Ministério do Interior e em algumas promotorias distritais”, acusou Romero.

Os narcotraficantes têm até pistas que operam livremente, inclusive com iluminação noturna, segundo ele.

A rivalidade nada oculta entre o presidente atual, Luis Arce, e seu ex-patrono, Evo Morales, cria uma situação complexa. Escrevendo no Infobae, Humberto Vacaflor Ganam disse o seguinte:

“Luis Arce decidiu levar sua rivalidade com Morales à luta contra o narcotráfico, começando pelas campanhas do governo para destruir as plantações ilegais de coca, que se concentram no Chapare, território dominado por seu mentor, que agora é seu inimigo”.

As campanhas, segundo o ex-ministro Romero, são uma fachada para “proteger narcos amigos do governo”.

“Ou seja, nesse momento haveria grupos rivais de narcos de Morales e narcos de Arce, sem contar os cartéis brasileiros, colombianos, mexicanos e peruanos que operam na Bolivia”, afirmou Vacaflor Ganam.

É um quadro de arrepiar os cabelos. Obviamente, ultrapassa as fronteiras nacionais e repercute no Brasil, rota do valorizado pó branco extraído da coca boliviana.

Também envolve um país em situação de extrema volatilidade, o Peru, onde o autogolpe grotesco que Pedro Castillo tentou dar acabou aumentando a instabilidade – com uma nada disfarçada colaboração boliviana que vai muito além da identidade entre as populações indígenas.

A vice de Castillo, Dina Boluarte, assumiu depois da deposição legal do presidente, mas a situação descambou para violentos confrontos entre manifestantes indígenas e forças policiais, com mais de 60 mortos até agora e nenhuma solução à vista.

“O governo peruano suspeita que Morales está por trás dos envios de armas e agitadores provenientes da Bolívia, motivo pelo qual iniciou uma ação para julgar o ex-presidente boliviano no Peru, acusando-o de manipular os movimentos separatistas que surgiram em Puno”, afirmou Vacaflor Ganam.

Alta instabilidade política e infiltração das já precárias instituições pelo poder arrasador da droga são uma combinação explosiva.

Luis Arce, um economista que dava aulas na Inglaterra e foi ministro das Finanças de Evo Morales, tinha um alto nível de aprovação, inclusive pelo controle da inflação – 3,19% no ano passado -, mas o confronto com o ex-protetor o prejudica. Evo age como presidente, comparecendo a reuniões internacionais, com a infeliz cúpula da Celac em Buenos Aires, onde pretende abrir um “escritório”.

Ideologicamente, ambos se equiparam e são inimigos mortais da oposição concentrada em Santa Cruz de la Sierra, cujo governador, Luis Fernando Camacho, foi preso em dezembro.

A eleição presidencial será em 2025 e a rivalidade entre Arce e Morales só vai aumentar. Paralelamente, o narcotráfico vai estendendo seu poder e tornando cada vez menos desimportante quem é ou deixa de ser presidente. O importante é colaborar.
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Bernard Henri-Lévy: "O fascismo não morreu - e às vezes está a ponto de vencer"

 

BLOG ORLANDO  TAMBOSI


O filósofo francês estreia "Slava Ukraini", um documentário sobre a resistência da Ucrânia à invasão russa. Entrevista a Marc Bassets, do El País:


Bernard-Henri Lévy (Béni Saf, Argelia, 74 años), tantos años después, sigue igual: la eterna camisa blanca, el verbo ágil, y un inagotable motor interno que le sigue llevando los lugares en conflicto para denunciar las injusticias y la realidad. Ahora el autor de La barbarie de rostro humano y decenas de ensayos prepara el estreno de Slava Ukraini, un documental sobre la invasión rusa de Ucrania, país en el que ha pasado buena parte del último año. El veterano nuevo filósofo, el más mediático de los intelectuales franceses, no cuelga la camisa.

Pregunta. ¿Qué le lleva, a su edad, a seguir yendo a las guerras? ¿No está cansado?

Respuesta. Ni cansado ni desanimado.

P. ¿Qué le mueve?

R. Creo que solo se piensa bien en aquello que se ha visto. Quizá también tengo accesos y posibilidades de hacer cosas que otros no tienen, y sería vergonzoso no aprovecharlo.

P. Escribió usted hace un tiempo que siente “el gusto por las lejanas aventuras”. ¿No lo ha perdido?

R. No. Me gustan las tierras desconocidas, salir de mi zona de confort, respirar de modo distinto.

P. ¿De dónde viene este gusto?

R. No lo sé.

P. ¿Nunca ha pensado en ello?

R. Quizá sea porque no me parece demasiado interesante ser quien uno es. Es más interesante ser otro. Una manera de serlo es leer libros que te transportan a otro lugar. Otra es transportarse uno mismo a otro lugar.

P. ¿Qué ha encontrado en Ucrania? ¿Qué le ha atrapado?

R. El increíble coraje de esta gente. En el frío, en la oscuridad, bajo las bombas. La dignidad de estas mujeres y estos hombres. Su capacidad de resistir.

P. ¿Esto lo había visto en otros países?

R. Lo había visto con los kurdos, en Bosnia y en Sarajevo. Lo que no es frecuente es tener enfrente al segundo ejército del mundo y ser más fuerte que él. Esto no es habitual. Supone cualidades militares y morales excepcionales y admirables.

P. ¿Qué nos dice este coraje a los europeos de Barcelona, París o Madrid?

R. Que nos equivocamos al estar cansados de Europa. Ellos no lo están. Demuestran que Europa es una idea todavía viva y que se puede vivir por ella y arriesgarse a morir por ella. Para nosotros, con frecuencia, Europa es una idea abstracta, casi muerta. Ellos nos dicen lo contrario, porque luchan por Europa. Por su patria y por Europa.

P. ¿Se ha preguntado qué haríamos nosotros, europeos occidentales, si estuviésemos ante el segundo ejército del mundo?

R. Los españoles lucharon en 1936, 1937, 1938. Los franceses... fue más complicado, como sabe. Pero me hago esta pregunta cada día. No lo sé.

P. Conoce a los franceses y su estado de ánimo, ¿qué harían?

R. Me parece que Francia más bien ha aprendido las lecciones de 1940. La debacle, la cobardía, el colaboracionismo han sido pensados por Francia, finalmente, así que espero que nos comportaríamos bien. También veo que hay un partido putiniano en Francia, en la extrema derecha y la extrema izquierda, que es muy fuerte.

P. Usted ha escrito: “Ucrania ganará”. ¿Está convencido?

R. Desde el primer día. Hay una ley en la Historia: cuando, de un lado, hay un ejército y un pueblo que sabe por qué lucha, y del otro lado un ejército y un pueblo que no entiende por qué lucha, el primero gana. Cuando uno combate por una causa noble, por una idea, uno tiene más valor que cuando sabe que es carne de cañón para un tirano que le envía a que le maten por su capricho.


P. ¿Hay que hacer más por Ucrania?

R. No solo por Ucrania, sino para que la guerra termine rápido. Por ahora hay una equivalencia de las armas, pero no basta. Si queremos que la guerra termine, uno de los dos campos tiene que ser claramente más fuerte que el otro. Por tanto, hay que suministrar más armas para que esta guerra termine cuanto antes, porque esta guerra es abominable.

P. ¿Hasta dónde ir en el suministro de armas a Ucrania? Es el debate.

R. No, no hay debate. Este tipo de guerra, guerra de agresión, guerra total, la única manera de pararla es con la capitulación del agresor. Las guerras de Napoleón, la guerra de 1914, la guerra de 1939-1945, la única manera de pararlas no era un compromiso en una mesa, sino la capitulación. Sin esto, dejaremos las condiciones para un reinicio de la guerra muy rápido. La conclusión es que hacen falta tanques Leopard, Abrams y Leclerc. Y si Zelenski pide aviones, hay que suministrarle aviones.

P. ¿Qué responde cuando se le reprochan que se crea el escritor André Malraux en la guerra de España?

R. Admiro a Malraux en la guerra de España. No diré lo contrario porque nuestra época sea pequeña y cínica. Todavía soy lo bastante juvenil como para ser capaz de admirar. Pero no significa que me crea Malraux ni que lo imite.

P. Es consciente de las críticas que le hacen, cuando, por ejemplo, se habla de la egolatría de Bernard-Henri Lévy. Va a Ucrania y hay quien se pregunta: “¿La película es sobre Ucrania o sobre Bernard-Henri Lévy?”.

R. Miren la película y el público verá que, cuando voy a Ucrania, muestro a los ucranios.

P. Pero también se le ve a usted en Ucrania: se pone en escena.

R. Muestro las condiciones del rodaje. Y, en efecto, estoy ahí. Y suscito situaciones. La honestidad impone que lo diga y lo muestre. Pero este no es el foco. Haga el cálculo de las escenas o minutos en las que se me ve. No es gran cosa. Es lo mínimo necesario para que las cartas estén encima de la mesa, para que se sepa quién está ahí, por qué, con qué compromiso, con qué subjetividad. Y soy yo. No soy un espejo objetivo. No soy periodista. Es formidable el periodismo, pero no soy yo. Yo soy un escritor, un intelectual, un filósofo.

P. ¿Lamenta haber mediado en Libia en 2011 en favor de la intervención occidental, visto el resultado?

R. No, claro que no. Visto el resultado de la no mediación en Siria, es decir el “viva la muerte” triunfante, no lo lamento. Si nosotros, los occidentales, y los árabes, no hubiésemos hecho en Libia lo que hicimos, habría dos Sirias. El resultado de la no intervención es Siria. El resultado de la intervención es Libia hoy. Compare ambas situaciones. Siria hoy y Libia hoy, y sea honesto. Aunque no sea el paraíso, es mejor ser libio que sirio, ¿eh?

P. ¿Valió la pena convencer al presidente francés Nicolas Sarkozy de intervenir?

R. Sin duda. Aunque se habría podido hacer mejor y, además, continuar, pero esto es otra cosa.

P. Usted escribió, cuando no tenía ni 30 años: “Hitler no murió en Berlín. Ganó la guerra”. ¿Lo cree aún?

R. Era un poco provocador, pero en todo caso el fascismo no ha muerto, esto es seguro, y a veces está a punto de ganar. En Francia fue por poco. Quizá era un poco enfática la frase, pero el fascismo sigue ahí. Es increíble. Tras aquella derrota histórica, esta gente debería estar cubierta de vergüenza y deshacerse en excusas hasta el fin de los tiempos. Pero no: desfilan, triunfan.
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Norman Mailer, o verso livre da contracultura: 100 anos de provocações.

 

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Polêmico, violento e misógino feroz, o escritor e diretor norte-americano retratou como ninguém as contradições, assombros e fracassos do sonho americano. José Antonio Gurpegui para El Cultural:


En 1959 publicaba Norman Mailer Advertisement for Myself (Publicidad para mí mismo), una recopilación de escritos previos en el que intentaba, según confesó años más tarde, “separar mi bilis espiritual de mi autocompasión y tal vez fuera aquella la tarea continua más difícil que me he propuesto hasta ahora”.

Manifestaba en una de las piezas de ese mismo volumen que “el fin último del arte es intensificar, incluso, si es necesario, exacerbar la conciencia moral de las personas” llegando a calificar al género novelístico como el “más moral de las formas de arte porque es el más inmediato, el más autoritario, por así decirlo.”


Al revisitar ahora el impresionante corpus literario de Mailer —trece novelas, dos obras teatrales y otros tantos poemarios, más de una decena de biografías, centenares de artículos y ensayos, y unas cuarenta mil cartas— en el centenario de su nacimiento, me planteo si las dos aseveraciones recuperadas sintetizan no solo su obra, sino también su vida. Siendo la nómina de autores norteamericanos que vivieron vidas tan turbulentas como novelescas —nunca mejor dicho— impresionante, la de Norman Mailer ocupará un lugar distinguido en el pelotón de cabeza.

Parte de guerra

Para empezar, el escritor no solo apuñaló a su segunda esposa, sino que se presentó a la alcaldía de Nueva York —también se planteó presentarse a la presidencia de la nación—; le puso un ojo morado a Gore Vidal; fue arrestado por conducta indecente y por manifestarse contra la guerra de Vietnam; se casó en seis ocasiones —tuvo nueve hijos—, aunque en algún caso su matrimonio apenas si duró unos días y boxeó con John Updike en plena calle.

Sí, Norman Mailer fue, sin duda, el indiscutible verso libre de la contracultura norteamericana tanto por el ácido contenido de sus ensayos como por la extravagancia de sus manifestaciones, como cuando confesó a Robert Lowell que “algunos días se consideraba el mejor escritor norteamericano” avivando su imagen de ególatra —lo cierto es que se trataba de una ironía más, en respuesta a la apreciación de Lowell con motivo de la presentación de Los ejércitos de la noche, en la que calificó a Mailer como “el más aventajado periodista norteamericano”.

En cualquier caso, se trató de un autor siempre listo para llevar a cabo actuaciones próximas al esperpento. Justificó su decisión de presentarse a las primarias demócratas para la alcaldía de Nueva York —quedó el cuarto de cinco aspirantes— porque Gore Vidal se había presentado al Congreso de los Estados Unidos.

El provocador

Reputado polemista, no perdía ocasión de enfrentarse al feminismo de la denominada “segunda ola” en la década de los 60, publicando obras como Prisionero del sexo (1971) en respuesta a Sexual Politics (1970), de Kate Millett. En este ámbito, su más controvertida frase la pronunció en una televisiva conversación con Orson Welles al afirmar, no sin cierta ironía, que “todas las mujeres deberían estar enjauladas”, dilatando su establecida reputación de escritor misógino y machista.

Su familia materna, judía de origen lituano, llegó a Estados Unidos a finales del siglo XIX y se asentó en Nueva York. Las mafias irlandesas hostigaron el negocio de prensa que adquirió y se mudaron a New Jersey para regentar un pequeño hotel, en el que Fanny, la madre, se enamoró del joven contable, también judío y de origen sudafricano, Barney Mailer.

El futuro doble ganador del Pulitzer nació el 31 de enero de 1923 en Long Branch, Nueva Jersey, pero, como el padre no había solicitado la ciudadanía norteamericana al casarse —la obtuvo en 1926—, el recién nacido era legalmente ciudadano británico y no estadounidense. Escogieron el nombre de Nachem Malech en recuerdo de un hermano de la abuela.

La inteligencia del muchacho era tal que con tan solo dieciséis años ingresó en la Universidad de Harvard, donde obtendría el título de ingeniero aeronáutico, aunque su interés por la literatura ya resultaba patente en aquella época, al escoger un curso de “literatura creativa” como asignatura opcional. Siendo estudiante universitario participó y ganó el concurso literario auspiciado por una incipiente y reconocida publicación de relatos, Story, donde también publicarían sus primeros cuentos autores como J. D. Salinger, Carson McCullers o Charles Bukowski.

Su precocidad traspasó el terreno intelectual y también afectó al ámbito amoroso. Ante la negativa de su familia y de la de su amor juvenil, Bea, la joven pareja decidió fugarse y casarse cuando Mailer ni siquiera había cumplido veinte años, pero sus continuas infidelidades, recurrentes en su vida, desembocaron en el divorcio y posterior matrimonio con su amante, Adele Morales. Fue precisamente Adele la protagonista del episodio más escabroso de la vida de Mailer.

En la fiesta donde comunicó su intención de presentarse a la alcaldía de Nueva York, el aspirante reunió a un nutrido y variopinto grupo de invitados, desde Allen Ginsberg hasta vagabundos “sin techo” que recogió de la calle (el Aga Khan declinó la invitación). La fiesta derivó en peleas y altercados de todo tipo y Mailer, con bastante más alcohol del recomendable, apuñaló a su esposa con un abrecartas.

Adele salvó milagrosamente la vida y no cursó denuncia alguna, pensando en los dos hijos del matrimonio. Diagnosticado con tendencias suicidas y homicidas, el escritor estuvo a punto de ser internado en un centro psiquiátrico, lo que para él hubiese supuesto la condena más inmisericorde, pues si así sucedía, su producción artística sería considerada como la de un trastornado. Finalmente la sentencia fue de tres años en libertad condicional.

Objetor fracasado y escritor

Tras divorciarse de Adele, llegarían a su vida Jeanne, Beverly, y Carol, con quienes contrajo matrimonios de efímera duración, como ya se ha comentado, hasta que en una firma de libros conoció a la también novelista Barbara Davis, con quien contrajo su sexto matrimonio y con quien compartió el resto de vida hasta la muerte.

Regresemos a su primera esposa, Bea. Estar casado no fue motivo suficiente para librarse del enrolamiento bélico para la II Guerra Mundial, como tampoco lo fue “estar escribiendo la gran novela americana”, como argumentó en su solicitud de objeción de conciencia. Fue destinado al Pacífico y participó en misiones de fuego real. Finalizada la guerra, formó parte de las tropas acantonadas en Japón.

Tras licenciarse, regresó a Estados Unidos para escribir una novela narrando sus experiencias bélicas, obligándose a escribir veinticinco páginas semanales. Para un joven de veinticinco años como él, el París de posguerra era el lugar donde se habían refugiado, huyendo de todo tipo de convencionalismos, quienes eran sus referentes literarios: Ernest Hemingway, John Dos Passos, Francis Scott Fitzgerald, Stephen Crane… todos ellos autores a los que admiraba, como James Joyce, a quien había leído y estudiado en Harvard, así que se mudó a París tras terminar y entregar al editor su novela.

Heredero de Tolstói

The Naked and the Dead, Los desnudos y los muertos, en referencia a que los soldados se enfrentan desnudos a la muerte, fue un inmediato éxito editorial, llegando a permanecer durante sesenta y dos semanas en la lista de The New York Times de novelas más vendidas. La crítica ha considerado de forma unánime esta obra como la más lograda en toda su creación artística.

En ella se narra la historia de un pelotón de soldados americanos que deben expulsar a los japoneses de Anopopei, ficticia isla del Pacífico. Mailer, según confesó, se inspiró en Ana Karenina, de Tolstói (“Un Tolstói vale más que 10.000 buenos autores”, afirmó); la trama surgía de forma tan natural y fluida que al concluir estaba convencido de haber escrito la mejor novela de contenido bélico desde Guerra y Paz.

Más allá de tratar temas variopintos, desde la deshumanización de la guerra hasta los significados del poder pasando por la solidaridad o la homosexualidad, en Mailer es especialmente interesante la creación de tipos singulares como el despiadado Sam Croft, personaje literario a la altura de Yossarian en Trampa 22, de Joseph Heller; Zizendorf en El caníbal, de John Hawkes, o Billy en Matadero Cinco de Vonnegut.

Cuando, poco después de publicar la novela, Mailer regresó a los Estados Unidos era uno de los escritores más populares y conocidos pese a ser autor de una única novela. En ocasiones, y esta fue una de ellas, los jóvenes encajan el éxito con no pocas dificultades. Los Mailer se asentaron en Hollywood y las drogas y el alcohol comenzaron a formar parte de su rutina diaria. Será tras la publicación de su polémico The White Negro (1957), cuestionando el liberalismo de Eisenhower y respondido tanto por Allen Ginsberg como por James Baldwin, cuando se establece definitivamente su reputación de enfant terrible en la intelectualidad norteamericana.


El escritor Norman Mailer en un cameo de la serie 'Las chicas de Gilmore', donde se interpreta a sí mismo

Su corpus literario nos ha legado mucho más que las ya mencionadas Los desnudos y los muertos o Los ejércitos de la noche, esta última merecedora del Pulitzer en 1968 en la categoría de No Ficción. Títulos como Un sueño americano (1965); ¿Por qué fuimos a Vietnam? (1967); o La canción del verdugo (1980), que le supuso su segundo Pulitzer, ahora en la categoría de ficción –se impuso a Philip Roth con La visita al maestro–.

Son auténticas delicias literarias en las que el compromiso social de su autor se expone con la crueldad propia de los temas tratados: en la primera, el protagonista Stephen Rojack, epítome del sueño americano, sufre una profunda crisis existencial; la segunda narra las peripecias de un padre y su joven hijo tratando de cazar un oso en Alaska como metáfora de las acciones americanas en Vietnam; en la última se plantea la (in)moralidad de la pena de muerte. También fue autor de numerosas biografías entre las que destacan las de Marilyn Monroe, Mohamed Alí, Lee Harvey Oswald, y Pablo Picasso.

Murió el 10 de noviembre de 2007, a los ochenta y cuatro años, a causa de un fallo renal, y fue enterrado en el cementerio de Provincetown, Massachusetts. The New York Times destacó en su necrológica que “pertenecía a la vieja escuela literaria para quienes escribir novelas era una tarea heroica realizada por personajes heroicos con egos al mismo nivel”.
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A galáxia do gênero

 

BLOG ORLANDO  TAMBOSI


De Simone de Beauvoir à teoria queer, passando pelos estudos feministas e a liberação sexual, a história das últimas décadas é também um relato polifônico sobre a identidade e o gênero. Élisabeth Roudinesco para Letras Libres:


PARÍS 1949: NO SE NACE MUJER

“No se nace mujer: se llega a serlo”. Cuando, en 1949, Simone de Beauvoir escribió esta frase en El segundo sexo, no sospechaba que esta importante obra daría lugar, al otro lado del Atlántico, a todos los trabajos literarios, sociológicos y psicoanalíticos de los años setenta que distinguían entre el sexo, o el cuerpo sexuado, y el género (gender) como construcción de identidad. Desde Robert Stoller hasta Judith Butler, pasando por Heinz Kohut, desde el estudio de la transexualidad hasta el del self narcisista y más tarde del transgénero o del queer, por todos lados encontramos, aunque no siempre citada, la gran cuestión de Beauvoir que permitió, por primera vez, tener una visión distinta de todas las condiciones rechazadas por la historia oficial y, entre ellas, la más escandalosa, la de “devenir mujer”. Cuando en 1949 se publicó El segundo sexo se armó un escándalo, como si el libro hubiera salido del mismísimo infierno de la Biblioteca Nacional. Y eso que no era nada parecido a un relato del marqués de Sade, ni a un texto pornográfico, ni a un tratado de erotismo. Beauvoir estudiaba la sexualidad como lo habrían hecho un investigador, un historiador, un sociólogo, un antropólogo, un filósofo, basándose en el trabajo de Alfred Kinsey y en las obras de un número impresionante de psicoanalistas, tomando en consideración no solo la realidad biológica, social y psíquica de la sexualidad femenina, sino también los mitos fundadores de la diferencia de los sexos, ideados por los hombres y por las mujeres, sin olvidar el ámbito de la vida privada. Es decir, hablaba de sexualidad, y concretamente de la sexualidad femenina, en todas sus formas y con todo detalle. De repente, el sexo femenino irrumpía de un modo nuevo y paradigmático en el ámbito del pensamiento: en adelante se hablaría de El segundo sexo como se hablaba de El discurso del método, de Las confesiones o de La interpretación de los sueños. Y este libro magnífico dio pie a una renovación profunda del pensamiento feminista. A partir de entonces ya no bastaría con luchar por la igualdad social y política. También habría que tener en cuenta, como objeto antropológico y vivencia existencial, la sexualidad femenina.

Simone de Beauvoir no conceptualizaba la noción de género y pasaba por alto que, desde siempre, las sociedades habían hecho clasificaciones distintas de la sexualidad con arreglo a la anatomía y a la construcción de la identidad. Como bien señala Thomas Laqueur, en todos los planteamientos sobre la sexualidad estas dos nociones nunca son coincidentes. O bien se afirma, de Aristóteles a Galeno, que el género domina al sexo, de modo que las mujeres y los hombres pueden situarse, según su grado de perfección metafísica, a lo largo de un eje en el que el hombre ocupa el lugar soberano, o bien, como en el siglo XIX, se sostiene, por el contrario, que el sexo en el sentido biológico y anatómico define al género: monismo por un lado (el sexo único), dualismo por el otro (diferencia anatómica). En ambos casos, siempre se considera que la masculinidad es superior a la feminidad: es lo que llamamos “falocentrismo”. La teoría freudiana de la sexualidad es una síntesis de ambos modelos. En efecto, Freud se inspira a un tiempo en Galeno y en la biología del siglo XIX, que establece una diferencia radical entre ambos sexos partiendo de la anatomía. Según él, existe una sola libido –o instinto sexual– de esencia viril, que definiría tanto la sexualidad masculina como la femenina. Lo cual no excluye la existencia de la bisexualidad. A este respecto, Freud desempolva el mito platónico de la androginia, según el cual habría tres géneros: macho, hembra y andrógino. Aquellos andróginos, ancestros de los humanos, eran seres orbiculares, semejantes a huevos o esferas. Cada uno era doble y tenía cuatro pies, cuatro manos, dos rostros opuestos y dos sexos en su parte posterior. Movidos por su orgullo desmesurado se lanzaron al asalto del cielo, en vista de lo cual Zeus los partió por la mitad. Después de esta división punitiva –de esta castración–, cada mitad siempre deseó unirse a la otra.


VIENA 1912: LA ANATOMÍA ES EL DESTINO

De este mito y de varios trabajos de la época –como los de Wilhelm Fliess–, Freud conserva la idea de que la bisexualidad psíquica es crucial en la génesis de la sexualidad humana, sobre todo en la de la homosexualidad y la de la sexualidad femenina, lo que le lleva a afirmar que cada sexo rechaza lo que concierne al sexo contrario: envidia del pene en la mujer, deseo de feminidad en el hombre. Por el mismo motivo sostiene que el clítoris es una suerte de pene atrofiado y que la mujer, para acceder a la condición de feminidad consumada, debe renunciar al goce clitoriano en pro del goce vaginal. Los herederos de Freud, incluso dentro de su movimiento, y, por supuesto, Beauvoir criticaron acertadamente todas estas tesis. Aun así, Freud elaboró en su tiempo una de las teorías más completas jamás planteadas. En el fondo, rompía con la idea de las especies y las razas, y en general con cualquier noción de identidad fija. A su juicio no existía ni “instinto maternal” ni “raza” femenina alguna, salvo en las fantasías y los mitos construidos por los hombres y las mujeres. En otras palabras, según esta perspectiva, cada ser humano posee en sí mismo varias identidades sexuales, y a nadie puede colgársele una única etiqueta. La construcción social o psíquica de la identidad sexual, desde su punto de vista, era tan importante como la organización anatómica de la diferencia entre los sexos. Es así como debe entenderse su famosa frase, tan célebre como la de Beauvoir: “La anatomía es el destino”. Contrariamente a lo que haya podido decirse, Freud nunca sostuvo que la anatomía fuese el único destino posible de la condición humana. La prueba, si esta fuera necesaria, es que tomaba esta frase de Napoleón, quien había querido inscribir la historia de los pueblos futuros en la política, dejando a un lado la referencia constante a viejos mitos. Con esta máxima, Freud, pese a revalorizar las tragedias antiguas, transformaba el gran asunto de la diferencia sexual en una dramaturgia moderna y casi política. A partir de entonces, con él y después de él, y por el propio hecho de la descomposición de la familia occidental, telón de fondo del surgimiento del psicoanálisis, cada hombre y cada mujer estaría condenado a idealizar o a rebajar al otro, sin alcanzar nunca una plenitud real. El panorama sexual que describía Freud se inspiraba, por lo tanto, en el panorama del mundo y de la guerra entre los pueblos –visto por el emperador–, preludiando una nueva guerra entre los sexos que se centraría en los órganos de la reproducción para introducir en ellos el lenguaje del deseo y el goce. En suma, podemos decir que, si bien para Freud la anatomía forma parte del destino humano, esta no puede ser un horizonte insuperable para cada ser humano. En esto consiste la teoría de la libertad en el psicoanálisis: reconocer la existencia de un destino para poder emanciparse de él.

GRANDEZAS Y FIASCOS DE LOS ESTUDIOS DE GÉNERO

A partir de los años setenta fue cuando se desarrollaron estudios de género tan alejados de la perspectiva freudiana clásica como de la reflexión beauvoiriana. Primero, en el mundo universitario anglófono, luego, en todos los departamentos de ciencias humanas y, por último, en varias sociedades civiles. Al principio, dichos estudios se proponían comprender, por un lado, las formas de diferenciación que introduce la condición sexual en una sociedad determinada y, por otro, el modo en que la dominación de un poder patriarcal ha ocultado la existencia no solo del papel de las mujeres en la historia, sino también el de las minorías oprimidas a causa de su orientación sexual: los homosexuales, los “anormales”, los pervertidos, los bisexuales, etc. En este sentido, los estudios de género tuvieron –y siguen teniendo– una importancia crucial para la investigación tanto de los historiadores y sociólogos como de los filósofos y los especialistas en literatura. ¿Qué serían las obras de Michel Foucault sobre la sexualidad, de Jacques Derrida sobre la deconstrucción o de Michelle Perrot sobre la historia de las mujeres sin la referencia explícita a la cuestión del género? La meta de todos ellos fue descubrir la importancia de los papeles sexuales y del simbolismo en las distintas sociedades y en distintas épocas. Con todo, a medida que el mundo dejaba de ser bipolar y el fracaso de las políticas de emancipación basadas en la lucha de clases y las demandas sociales era cada vez más evidente, la implicación en una política identitaria (identity politics) fue sustituyendo a la militancia clásica, sobre todo en la izquierda estadounidense. En la misma época, gracias a los avances de la cirugía, pudo concebirse la cuestión del género en términos de intervención directa sobre el cuerpo, y no solo desde la subjetividad. Buena muestra son dos experiencias radicalmente distintas, pero reveladoras de esta transferencia: por un lado, el delirio que desemboca en la abolición del sexo y, por otro, una reflexión constructiva sobre la posibilidad de crear una nueva relación entre el sexo y el género. John Money, un psicólogo neozelandés procedente de una cofradía fundamentalista, que se especializó en el estudio del hermafroditismo, fue el primer divulgador de este término. Pero lejos de limitarse a ayudar a las familias y a las desdichadas criaturas que padecían esta rarísima anomalía, pretendía llevar a cabo, a partir de la observación directa del fenómeno, una vasta reflexión sobre la relación entre la naturaleza y la cultura, para demostrar que no había una distinción tajante entre los dos sexos, sino una suerte de continuidad. En 1955, afirmó que el sexo anatómico no significaba nada para la construcción del género: “Un rol de género nunca se establece en el momento de nacer, sino que se construye de forma acumulativa a través de las experiencias vividas.” A su juicio, lo único que contaba era el rol social: el género sin el sexo. De modo que, según él, bastaría con criar a un niño como una niña, y viceversa, para que cada uno adquiriese una identidad distinta de su anatomía. En 1966, encontró un conejillo de Indias para validar su tesis en la persona de David Reimer, de dieciocho meses, que tenía el pene carbonizado a raíz de una fimosis mal operada. Sus padres, aconsejados por Money, autorizaron una ablación de los testículos y un cambio de nombre de pila. Pero al llegar a la adolescencia David se sentía hombre. Se sometió a operaciones para recuperar un pene, aunque no pudo soportar estos traumatismos quirúrgicos y acabó suicidándose. La experiencia de Money era escandalosa, porque todos los estudios científicos muestran que es casi imposible criar como una niña a un niño programado genéticamente para ser varón. Ante los ataques, Money pretendió ser víctima de un complot de extrema derecha. Él mismo padecía trastornos mentales y se proclamaba partidario de la pedofilia y de las relaciones incestuosas. Robert Stoller, psiquiatra y psicoanalista, enfocó la cuestión del género con una orientación bien distinta. En 1954, fundó la Gender Identity Research Clinic en la Universidad de California en Los Ángeles (ucla). Apasionado por la antropología, la literatura y la historia, y convencido de que las teorías psicoanalíticas clásicas no bastaban para explicar la verdadera relación entre el género y el sexo (sobre todo en el ámbito de las perversiones sexuales), se interesó por la diversidad de las identidades sexuales y especialmente por la transexualidad, estudiada un año antes por Harry Benjamin, un endocrinólogo estadounidense.

El deseo de cambiar de sexo se observa en todas las sociedades. En la Antigüedad se hicieron muchas observaciones de este fenómeno, tanto sobre el travestismo como sobre la bisexualidad. Pero lo nuevo, a mediados del siglo XX, era que el deseo por fin podía traducirse en transformaciones anatómicas radicales logradas mediante operaciones quirúrgicas, toma de medicamentos, etc. Entonces la transexualidad se definió como algo muy distinto del travestismo, el hermafroditismo y la androginia. Era un trastorno de la identidad meramente psíquico de un sujeto, hombre o mujer, caracterizado por la convicción inquebrantable –pero no delirante– de pertenecer al sexo opuesto. A lo largo de numerosos estudios, Stoller demostró que las intervenciones quirúrgicas –muy en boga en su tiempo– solo eran beneficiosas cuando el sujeto era incapaz de aceptar su anatomía real, que no correspondía nunca al género (o gender) que sentía como propio. La transexualidad suscitó un inmenso debate a partir de los años setenta entre las feministas y en el seno del movimiento homosexual. Por fin podía considerarse que la división entre polo masculino y femenino no era algo tan simple, dado que ciertas mujeres y ciertos hombres podían estar convencidos de que su género no correspondía en absoluto a su sexo anatómico, y además, gracias a los progresos de la medicina, estas personas podían acceder a la identidad elegida por ellos o, más bien, a la que obedecía a una certeza absoluta impuesta por su organización subjetiva: el psiquismo adquiría así una influencia importante sobre la realidad biológica, tanto es así que parecía capaz de eliminarla. No obstante, las operaciones fueron un desastre, precisamente porque la realidad biológica nunca podía erradicarse para dar paso a una mera construcción psíquica o social.

Hoy en día, antes de iniciar una reasignación hormonal-quirúrgica, el transexual debe someterse durante dos años a una evaluación permanente. También debe someterse a un examen psiquiátrico que demuestre que no es esquizofrénico ni padece amputomanía, es decir, una voluntad delirante de proceder a la ablación de una parte sana de su cuerpo (pierna, brazo, pene). Además, durante dos años deberá hacer la vida diaria de una persona del sexo contrario y el equipo médico supervisará los encuentros con su familia, en especial con sus hijos, que deberán afrontar la “transición”: ver cómo su madre se convierte en un hombre o su padre en una mujer. Terminada esta prueba, se autorizará al paciente a seguir un tratamiento hormonal, antiandrogénico para el hombre, con depilación eléctrica, y progestativo para la mujer. Entonces le llegará el turno a la intervención quirúrgica: castración bilateral y creación de una neovagina en el hombre, ablación de los ovarios y del útero en la mujer acompañada de una faloplastia. Sabiendo que el tratamiento hormonal tiene que mantenerse toda la vida y que el transexual operado no volverá a sentir, provisto de esos órganos, ningún placer sexual, no es aventurado pensar que el goce experimentado al acceder así a un cuerpo totalmente mutilado es de la misma naturaleza que el que sintieron los grandes místicos al ofrecer a Dios el suplicio de sus carnes mortificadas. Tal es, al menos, la hipótesis que he planteado yo. El interés suscitado en todo el mundo por la transexualidad y, en general, por las metamorfosis de la identidad sexual ha dado lugar a una revisión completa de la representación del cuerpo en las sociedades occidentales y a una expansión sin precedentes de teorías y escritos sobre las diferencias entre el sexo (anatomía) y el género (construcción de identidad). Pero sobre todo, mucho antes de los trabajos de Stoller y en la onda del gran movimiento de emancipación de las minorías oprimidas, se rechazó la palabra “transexualidad” sustituyéndola por “transgénero”, que permite a las personas afectadas por este síndrome librarse de las clasificaciones psiquiátricas. Al adoptar este apelativo, los transexuales reclaman el derecho a tener una identidad de género sin obligación de reasignación hormonal-quirúrgica. El resultado de esta salida legítima del ámbito psiquiátrico fue la formación de un movimiento político identitario. Sus miembros reclamaron, por consiguiente, que su identidad de género se incluyera en el estado civil aunque no coincidiera con la realidad de su anatomía. En el fondo, lo que reprochaban a Robert Stoller y a todos los promotores de la transexualidad era que hubieran adoptado una teoría esencialista, la del “cuerpo malo”. Para acceder a la cirugía, era preciso que el transexual hubiera tenido durante toda su vida la sensación de pertenecer al sexo “contrario”. En cambio, un sujeto que se define como “transgénero” puede evitar situarse en una casilla o en otra. Un trans es a la vez –y cuando él lo decide– un hombre o una mujer, y su “transición” se parece más a una iniciación, a un “rito de paso”, que a una asignación posterior a un acto quirúrgico, aunque la transición en uno u otro sentido vaya acompañada de administración de hormonas, cirugía plástica o travestismo.

TRANSIDENTIDADES

De modo que varias identidades pueden convivir según el modo en que se construye conscientemente un universo mental o corporal. Un buen ejemplo es la extraordinaria cultura del drag de los años noventa del pasado siglo, herencia de la antigua tradición de los bailes en sitios apartados donde se daban cita, desde finales del XIX, los proscritos por la norma: gais, lesbianas, travestis, negros y latinos. Los transgéneros modernos, libres ya de existir, exhiben su orgullo: por un lado los transgéneros drag queen se forjan una identidad voluntariamente femenina imitando los estereotipos de una feminidad exacerbada, mientras que los transgéneros drag king adoptan una identidad masculina igual de estereotipada: unos como una reina, los otros como un rey. Cada cual se convierte en sí mismo disfrazándose, las mujeres con barba y calcetín a modo de pene y los hombres con bandas en el pecho y ocultación de la nuez, recurriendo ambos a distintas técnicas de maquillaje exagerado. Pero para que este paso de la transexualidad a la identidad transgénero –o “transidentidad”– fuera posible, tenía que ir acompañado de otro acontecimiento: la “despsiquiatrización” de la homosexualidad. Fue en 1973 cuando la American Psychiatric Association (apa), después de un debate tumultuoso, decidió dar este paso. Con este avance en la emancipación también se dejó de hablar de “homosexualidad”, término inventado en 1869 junto con el de “heterosexualidad”, para usar palabras totalmente desprovistas de connotación patológica: los homosexuales hombres y mujeres pasaron a ser “gais” y “lesbianas”, formando dos comunidades de lucha. Este cambio significaba que la homosexualidad ya no debía concebirse como una “orientación sexual” –un hombre ama a un hombre y una mujer ama a una mujer–, sino como una identidad: se podía ser gay o lesbiana, se decía entonces, sin haber tenido nunca una relación sexual con una persona del mismo sexo. Tesis evidentemente discutible: desde este punto de vista, ¿cómo distinguir a un practicante de uno que no lo es, sabiendo que la abstinencia es una opción deliberada que no tiene mucho que ver con la identidad y tampoco es necesariamente una “asexualidad”? Pero con este cambio de paradigma se conseguía que otras denominaciones pudieran referirse no a un objeto, sino a una identidad. A la nueva comunidad de gais y lesbianas se le sumaron la de los bisexuales, los transgénero y los hermafroditas. De paso, a estos se les cambió el nombre por el de “intersexuados”, más adecuado a su nueva condición que el antiguo, en el que había un rastro de la presencia biológica de dos órganos. Cada cual dejaba atrás la vergüenza y la humillación para ostentar el orgullo de ser él mismo. De ahí viene la sigla lgtb, que pronto se modificó para convertirse en lgtbqia+ (queer, intersexuado, asexuado, etc.), una comunidad de pequeñas comunidades que reclamaban el fin de todas las discriminaciones basadas en la diferencia de los sexos. Pero ¿cuáles? La respuesta es sencilla. En efecto, desde el momento en que el saber psiquiátrico no tenía ya arte ni parte, los lgtbqia+ podían reclamar legítimamente unos derechos: al matrimonio, a la procreación, a la transmisión de sus bienes, a la condena legal de sus perseguidores. Notemos, de paso, que este movimiento conservó el par homosexualidad/heterosexualidad, no para expresar una diferencia, sino para sentar las bases de una inversión de los estigmas. Dado que la homosexualidad se había considerado una “anomalía” con respecto a una “norma”, había que considerar dicha norma como la mera expresión de un rechazo a todo lo que no entrara en su cuadro clínico. De modo que se creó la palabra “heteronormativo” para designar cualquier opresión ligada al patriarcado, a la dominación masculina, a la práctica sexual entre un hombre y una mujer, o también a la forma llamada “binaria” de la sexualidad, en contradicción con la forma llamada “no binaria”. Asimismo, la invención del término “cisgénero” permitió calificar una identidad sexual llamada “normativa”.

“Cisgénero” pasó a ser un antónimo de “transgénero”. Esta última designa a las personas que no se reconocen en el cuerpo que se les ha asignado al nacer, lo que además supone, según ellas, que la anatomía no es más que una construcción y no una realidad biológica, dado que el sujeto tiene derecho a no reconocerse en ella. En otras palabras, la invención de esta terminología es como una declaración de guerra a la realidad anatómica en beneficio de un imperativo “generizado”. Se ha impuesto ya como una nueva norma, pues el adjetivo genré (“generizado”) reemplaza cada vez más al adjetivo “sexuado” en el lenguaje diario de los periodistas y políticos, e incluso de los juristas. Da la impresión de que, una vez más, lo sexual, la sexualidad, lo sexuado, en una palabra, todo lo que tiene que ver con el sexo se proscribe en nombre de un puritanismo que ya no quiere oír hablar de sexualidad, so pretexto de que la palabra remitiría a una escandalosa biología de la dominación masculina, cosa que no es cierta. ~

Este es un fragmento de El yo soberano. Ensayo sobre las derivas identitarias, que publica este mes la editorial Debate.

Élisabeth Roudinesco es historiadora y psicoanalista. En 2021 Anagrama publicó Jacques Lacan. Esbozo de una vida, historia de un sistema de pensamiento
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