BLOG ORLANDO TAMBOSI
A degradação do poder político e a estagnação do crescimento ajudam a entender a hesitação de Lula. William Waack:
Eu estou certo e o mundo está errado costuma ser uma postura típica de profetas. Às vezes precisam de séculos para terem razão.
Lula
não é profeta, nem visionário, nem tem todo esse tempo. Mas, na vital
esfera da política econômica, está se comportando como se fosse dono de
uma verdade que só mal-intencionados se recusam a aceitar.
O
presidente enxerga o crescimento da economia como função quase
exclusiva do crescimento do consumo das famílias. Por sua vez,
dependente de transferência de renda via políticas públicas e da
expansão de gastos sociais.
Os
obstáculos, tais como equilíbrio fiscal, são vistos como artifícios
criados por ricos que só prosperam vivendo da renda de juros altos. E
por reacionários que combatem por motivos ideológicos um governo que se
diz comprometido com os pobres.
O
Lula dos 77 anos exibe traços de regressão a um passado no qual as
coisas pareciam mais simples. Enxerga a Lava Jato como operação do
serviço secreto americano destinada sobretudo a destruir a capacidade de
competição internacional de grandes empreiteiras brasileiras.
Considera
que a reindustrialização é função quase exclusiva de um Estado que
protege, incentiva (com renúncias fiscais) e investe via bancos
públicos. A falência de recentes experimentos nas linhas dessa fórmula
foi apenas resultado de sabotagem política e do golpe de 2016.
O
Lula 3 exibe também um notável traço de autocentrismo, em oposição ao
Lula 1 e 2, quando estava cercado de operadores políticos capazes de
peitá-lo. E cujo julgamento o então presidente respeitava (como Dirceu,
Palocci ou Thomaz Bastos). O Estado-Maior petista de hoje é segunda
linha comparado ao de 20 anos atrás.
O
problema para a visão de mundo propagada pelo presidente é que nela não
parece haver lugar para dois fatores de altíssima complexidade: a
deterioração dos poderes do chefe do Executivo frente ao Legislativo e a
polarização política calcificada que reforça ampla oposição social (que
tirou do lulismo a antiga capacidade de conciliação).
Árbitro
supremo de todas as questões, Lula 3 tem hesitado em tomar decisões,
como aconteceu com o arcabouço fiscal – e, por isso, é criticado
abertamente por operadores políticos como Arthur Lira. Os fatos difíceis
da realidade (degradação do poder político e estagnação do crescimento
econômico) ajudam a entender essa hesitação, ao mesmo tempo que parecem
aprofundar em Lula uma clara frustração.
O
Lula 3 televisivo exibe mais exasperação do que otimismo e confiança. O
profeta está tendo dificuldades para mudar a realidade.
Postado há 6 days ago por Orlando Tambosi
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