BLOG ORLANDO TAMBOSI
Alterar livros por exigência identitária expõe ignorância estética e psicológica da chamada cultura woke. Lygia Maria para a Folha de São Paulo:
Uma
das características do identitarismo é o desprezo pela estética. Arte é
bom, mas só se for limpinha e simpática. O que afeta nossa psiquê, já
que a arte é o meio seguro para lidarmos com nossas emoções.
Na Inglaterra, os livros do escritor Roald Dahl, autor de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", foram editados para eliminar termos considerados ofensivos.
Quais termos? "Feia" e "gordo", por exemplo. Não apenas soa infantil,
é. O identitarismo está transformando jovens adultos em crianças
amedrontadas.
Não à toa, o índice de ansiedade e depressão entre os millennials está em média 30% maior do que em gerações anteriores —segundo pesquisa citada no livro "Cancelando o Cancelamento", de Madeleine Lacsko.
Em
vez de ajudarmos jovens e crianças a enfrentar microagressões
cotidianas que sempre existirão, dado que o homo sapiens é uma espécie
gregária e competitiva, queremos enclausurá-los em um mundo cor-de-rosa
de empatia. Resultado? Adultos imaturos e sem autonomia.
A
descrição de características físicas é um recurso usado na literatura
para materializar personalidade e emoções dos personagens, ou para
estabelecer relações com o contexto social no qual estão inseridos.
A personagem chamada "bola de sebo", no conto homônimo de Guy de Maupassant,
é uma prostituta gorda que é vista com ojeriza por um grupo de
aristocratas que está fugindo da invasão prussiana. Ela salva a elite
que a despreza dormindo com um comandante do exército invasor, mas
continua sendo maltratada.
O
escritor francês aponta, assim, a hipocrisia da sociedade e quem são,
de fato, aqueles que merecem asco. Mostra, ainda, que caráter não tem
ligação com o aspecto físico menosprezado em determinada cultura.
Editores
de Dahl disseram que os romances foram atualizados para atender ao
público atual. Corrijo os editores: os romances foram censurados para
atender a uma parcela do público que ignora arte e história. No limite,
estamos apenas criando leitores neuróticos no futuro.
Postado há 5 days ago por Orlando Tambosi
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