por Leonardo Vieceli | Folhapress
Com a alta de preços de TV, cerveja, carnes e até figurinhas, o
amor do brasileiro à camisa será testado na Copa do Mundo deste ano. A
boa notícia é que gol da Alemanha não é corrigido pela inflação.
Produtos como televisor, alimentos e bebidas acumulam altas de dois
dígitos no Brasil desde a Copa mais recente, realizada em 2018, indica
um levantamento feito pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA
Consultores, a pedido da Folha de S.Paulo.
O churrasco em dias de partidas, por exemplo, deve ficar mais
salgado. De agosto de 2018, após o término da última Copa, até junho de
2022, as carnes acumularam inflação de 76,79%.
A alta é superior aos avanços registrados no acumulado no mesmo
período nas vésperas das últimas Copas--de 62,02% até junho de 2010, de
46,28% até junho de 2014 e de 29,95% até junho de 2018.
O pão francês, que pode ser um reforço no cardápio, subiu 30,45%. A
cerveja para consumo em casa também avançou no mesmo período: 17,37%.
Outras bebidas, como refrigerante e água mineral (23%) e suco de frutas (17,38%), tampouco escaparam da pressão sobre os preços.
O levantamento foi produzido com base em dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
A Copa do Mundo deste ano será disputada no Catar em um período
atípico, de 21 de novembro a 18 de dezembro. Assistir aos jogos em bares
e restaurantes também deve custar mais do que em 2018 para o
brasileiro.
De agosto daquele ano a junho de 2022, a cerveja fora de casa
aumentou 13,89%, enquanto refrigerante e água mineral acumularam
inflação de 18,77%. O lanche avançou 33,81%, e a refeição teve alta de
18,71%.
De acordo com Imaizumi, era de esperar que os preços subissem no
período de quatro anos. A questão, aponta o economista, é que a inflação
está mais disseminada neste momento se comparada a anos recentes de
Copa.
Com isso, a renda do trabalhador ficou mais fragilizada, e o poder de compra no país vem perdendo de goleada.
"A inflação está mais forte agora. É um fenômeno mundial neste momento, mas está afetando mais economias como a brasileira."
Quem quiser trocar de televisor para torcer pelo técnico Tite e seus
comandados tampouco terá refresco. De agosto de 2018 a junho de 2022, o
aparelho acumulou inflação de 17,76%.
O equipamento, segundo Imaizumi, é um dos destaques deste ano. Isso
porque o televisor havia acumulado baixas nos preços em iguais períodos
de comparação das três últimas Copas (-27,50% até junho de 2010, -41,33%
até junho de 2014 e -3,98% até junho de 2018).
Conforme o economista, um dos fatores que entraram em campo e
pressionaram a inflação do aparelho foi o desajuste das cadeias
produtivas na pandemia.
Com esse desarranjo entre oferta e demanda, os insumos usados na
fabricação de equipamentos eletrônicos subiram ao longo da crise
sanitária.
Segundo ele, bebidas como a cerveja podem subir mais nos próximos
meses. Pressão de custos de produção e retomada do consumo fora de casa
são apontadas como as possíveis causas.
FIGURINHAS DOBRAM DE PREÇO
Em 2022, nem as tradicionais figurinhas da Copa conseguiram vencer a
disparada da inflação. Cada pacote sairá por R$ 4, o dobro do valor de
2018 (R$ 2). O assunto movimentou as redes sociais nos últimos dias, com
direito a lamentações e piadas de usuários.
Cada pacote tem cinco cromos, e o álbum deste ano é composto por 670
figurinhas. Ou seja, em uma situação hipotética, sem levar em conta as
prováveis repetições, o brasileiro teria de comprar pelo menos 134
pacotes para completar a coleção.
Os 134 kits custariam R$ 536. Também é preciso contabilizar o álbum, que teve preço definido em R$ 12 na versão mais barata.
Somando as duas despesas, o investimento chegaria a R$ 548. A quantia equivale a quase meio salário mínimo em 2022 (R$ 1.212).
A camiseta oficial que será usada pelo Brasil nas partidas da Copa
ainda não foi lançada pela Nike, a fornecedora de material esportivo da
seleção.
Enquanto isso, redes varejistas começam a se preparar para a
competição. O site da Centauro, por exemplo, anunciava nos últimos dias o
pré-lançamento de produtos licenciados pela CBF (Confederação
Brasileira de Futebol) com preços a partir de R$ 129,99.
O IPCA não detalha, por exemplo, a variação dos preços de roupas
esportivas. Mas é possível ver que os produtos de vestuário vêm subindo
no Brasil nos últimos meses.
Segundo os dados levantados por Imaizumi, camisas e camisetas
masculinas acumularam inflação de 33,01% entre agosto de 2018 e junho de
2022. As blusas femininas subiram 17,11%. Artigos de armarinho (29,34%)
e tecido (28,35%), que podem ser usados em peças ou itens de decoração,
também ficaram mais caros.
Resta saber se o consumo do brasileiro durante a Copa vai ficar ou não na retranca diante de tantos aumentos.
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