Pedro do Coutto
Ao discursar no domingo na convenção do PL que oficializou a sua candidatura à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro só seguiu em pequena parte as observações do Centrão para que focalizasse nas realizações de seu governo e ficasse afastado dos ataques e das ameaças. Falou sobre esses temas, destacando sua tensão para com políticas voltadas para mulher e também de seus projetos para o Nordeste.
Bolsonaro, entretanto, não resistiu ao impulso voltado para o ataque e ao combate. Voltou a atacar, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal, desta vez generalizando e acentuando que os ministros são “surdos de capa preta” e têm que entender o que é “a voz do povo”. “Quem faz as leis são o Legislativo e o Executivo. Tem que entender isso” ,afirmou.
MANIFESTAÇÃO – Bolsonaro conclamou seus apoiadores para irem às ruas pela última vez no próximo dia 7 de Setembro, não explicando a expressão “última vez”. Ela ficou isolada no ar do arrebatamento. Citando seus apoiadores, afirmou ainda haver um casamento e um compromisso de sangue, entre eles para levar o Brasil ao Porto Seguro e combater “práticas nefastas do passado”.
No O Globo, a reportagem é de Bernardo Mello e Jan Niklas. Na Folha de S. Paulo, Diana Luiza Albuquerque, Fábio Zanini e Marianna Holanda.
Bolsonaro atacou também fortemente o ex-presidente Lula, e disse que o seu compromisso é combater práticas nefastas do passado. Na parte final de seu discurso, Bolsonaro referiu-se ao Exército como “Exército do povo” e disse que as Forças Armadas participarão da fiscalização sobre o processo eleitoral.
AMEAÇA – Neste ponto repetiu que o “Exército não admite fraude e merece respeito”. “Nós, militares, juramos dar a vida pela pátria. Juro dar a vida pela minha liberdade”, disse, deixando no ar uma ameaça presente na aparente desconexão do pensamento.
Como se observa, Bolsonaro manteve a posição de preferencialmente voltar-se para o apoio militar à sua candidatura e a provável contestação ao resultado das urnas se esse, como o Datafolha indica, lhe for contrário. O STF decidiu, acrescentam Bernardo Mello e Jan Niklas, não responder aos ataques desfechados mais uma vez.
O quadro político assim permanece sombrio e sob ameaça da não aceitação dos resultados revelados pelas urnas. Não há no discurso de Bolsonaro nenhuma menção a qualquer proposta pacificadora. Há o destaque previsto para o aumento do Auxílio Brasil e para redução dos preços dos combustíveis.
CONFRONTO – O dia 7 de Setembro, pelo tom do pronunciamento, passou a marcar uma etapa talvez decisiva da campanha eleitoral. O importante para a oposição é evitar um confronto nas ruas, pois, afinal de contas, 7 de Setembro é uma data de todos nós, brasileiros.
Nesse contexto, foi importante o artigo de Ana Cristina Rosa, Folha de S. Paulo, sobre a importância do voto nas eleições de outubro. Fundamental, sem dúvida. E lembro que, na realidade, é impossível vota em branco ou anular o sufrágio, pois as duas atitudes, no fundo, estarão favorecendo algum candidato, principalmente os que lideram as pesquisas do Datafolha e do Ipec.
MULHERES NA POLÍTICA – Reportagem de Vitória Azevedo, Flávia Faria e João Pedro Pitombo, Folha de S. Paulo, revela com base em dados do TSE, que o número de mulheres filiadas a partidos políticos passaram a representar 44%, 12% apenas atrás do números de filiados. O fenômeno representa uma vontade de participação política que cresce entre as mulheres. Sem dúvida. Não só essa vontade está assinalada pela filiação às legendas, o que no Brasil não é muito comum, mas principalmente no comparecimento às urnas.
Lembro que na década de 1960, nas eleições de 1962, para governos estaduais e Poder Legislativo, o eleitorado feminino representava um terço do eleitorado geral do país. Hoje, de 33%, as mulheres passaram a representar 53% do eleitorado brasileiro. Essa é a grande prova do avanço da presença da mulher no debate político nacional.
FUNDOS DE PENSÃO – É o que afirma Idiana Tomazelli, Folha de S. Paulo de segunda-feira, acentuando que o patrimônio dos fundos de pensão das estatais atinge R$ 1,166 trilhão. Os três maiores fundos são Previ (Banco Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal), somando R$ 380 bilhões.
É preciso que os sindicatos e as associações de classe acompanhem tal flexibilização, sobretudo porque os fundos de pensão das estatais passaram a realizar atendimentos de saúde e são uma garantia da complementação das aposentadorias. Isso porque o teto da aposentadoria pelo INSS, seja qual for o salário recebido por aquele que se aposenta, é de R$ 6.660. Trata-se de um limite abaixo da média salarial das estatais e também do Banco Central.
Se alguém recebe R$ 12 mil por mês, como poderá se aposentar recebendo só a metade do INSS? Um absurdo. Ele contribuiu a vida inteira, mas principalmente seus empregadores recolhiam 20% da sua remuneração mensal. O principal objetivo dos fundos de pensão é o de garantir as complementações.
EMPRESARIADO – Empresários de diversos setores, a começar por Josué Alencar, presidente da Fiesp, que já se pronunciou isoladamente, estão preparando o lançamento de um manifesto pela defesa da democracia no país.
Participam Fábio Barbosa, da Natura, Olímpio Pereira, ex-presidente do Credit Suisse e também profissionais liberais que exercem funções executivas em grandes empresas.
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