Bruno Boghossian
Folha
Os chefes do centrão gostam de circular pelos corredores de Brasília como se fossem responsáveis por frear os impulsos autoritários de Jair Bolsonaro. Volta e meia, a turma que manda na operação política do governo espalha a ideia de que está incomodada com o comportamento golpista do presidente, diz trabalhar pela moderação e argumenta que os ataques à democracia atrapalham a campanha à reeleição.
Pode até ser que o bloco recomende a Bolsonaro um pouco mais de discrição, mas é difícil sustentar que o centrão tenha uma repulsa genuína aos planos do presidente de questionar o resultado das eleições.
PRÓ-BOLSONARO – Salvo engano, os líderes do grupo trabalham dia e noite para garantir mais um mandato para Bolsonaro. Como nenhum deles se notabilizou por fazer papel de trouxa na política, não há uma única alma no grupo que acredite que o presidente se tornará um democrata a partir de 2023.
O centrão aproveita a algazarra de Bolsonaro para agir como se o bloco e o presidente fossem duas coisas completamente distintas.
Na quarta-feira (27), Valdemar Costa Neto foi ao TSE para dizer que as falas do capitão não refletem a posição do partido sobre as eleições. Dias antes, ele tinha dado palco para Bolsonaro repetir seus ataques ao tribunal, na convenção do PL.
É UM DIREITO? – Ciro Nogueira (PP) também estava lá, vestindo a camisa da campanha à reeleição. Numa entrevista recente ao SBT, o chefe da Casa Civil disse acreditar na urna eletrônica, mas apontou que “é direito do presidente criticar” o processo.
Arthur Lira (PP) navega pelas mesmas águas. O presidente da Câmara distribui declarações públicas de confiança nas urnas eletrônicas, mas dá respaldo nos bastidores ao embate de Bolsonaro com o TSE e o STF.
A briga interessa ao centrão porque os tribunais são um contraponto político a Bolsonaro e, portanto, aos arranjos de seu consórcio com esses partidos. A prioridade do bloco é enfraquecer seus antagonistas, ganhar ainda mais influência e renovar o acordo que os mantém no poder.
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