Roberto Nascimento
Os líderes que vencem as eleições e depois querem permanecer indefinidamente, na intenção de empalmar o Poder a qualquer custo, de uma forma ou outra sempre sinalizam seus propósitos, antes de tentarem colocá-los em prática. É o pensamento na frente da ação, que depois pode se transformar em realidade, sob a ótica do autocrata.
Alguns setores vulneráveis a serem manipulados abrangem as religiões, os costumes e as artes. Nesse sentido, a proposta do autocrata é fazer o Estado deixar de ser laico para seguir uma tendência religiosa, que difunda lemas conservadores. São métodos primitivos de fazer política, mas ainda funcionam e são até utilizados em nome da democracia, um paradoxo verdadeiramente absurdo.
O USO DA FÉ – O caminho do autocrata é eliminar a lógica nos atos do Estado para que passem a prevalecer os fundamentos da fé. Assim, as artes têm de se submeter ao filtro da censura, os artistas em geral perdem a liberdade de criar e lhes são negados financiamentos públicos, abre-se um caminho para retrocesso nos costumes.
O paradoxo é acreditar ao mesmo tempo na razão e na loucura, conforme já vemos nas redes digitais, com militantes virtuais a serviço de uma causa conservadora, difundindo mentiras, atacando quem não pensa igual a eles, uma deseducação, uma falta de cultura e de conhecimentos mínimos da história do país e do mundo.
E o resultado é o surgimento de adversários também fanáticos, que procedem da mesma forma desarrazoada, criando um ambiente de confronto absolutamente desnecessário na democracia.
AMEAÇA AO PODER – Tanto na Grécia de Sócrates, como na Alemanha de Hitler, as elites se incomodavam com a filosofia, o conhecimento, a pluralidade e a diversidade. Ensinar democracia, arte, valores e experiências sempre se tornaram ameaça aos autocratas.
Por essa razão, até hoje o quadro político mantém essas características negativas, existindo governos que boicotam a imprensa, recusam-se a dar transparência a seus atos, censuram as artes e os costumes, para promover uma fuga da realidade, inclusive usando compulsivamente fake news.
Trata-se de uma loucura ou é uma tática deliberada para confundir o outro ou a si mesmo? O grande perigo nisso tudo é o flerte com o precipício, como os americanos sentiram na pele durante a invasão do Capitólio pelos supremacistas brancos e o gado trumpista, com objetivo de desfazer o resultado das urnas.
MORTOS E FERIDOS – A tentativa foi repelida, mas dois manifestantes e três policiais morreram em consequência do ataque e houve centenas de feridos. Nos meses seguintes, outros quatro agentes de segurança que defenderam o Capitólio se suicidaram.
Por pouco a América não explodiu. E aqui, como será nosso destino, se o Trump tupiniquim seguir o mesmo roteiro? Só o tempo para dar a resposta. Até lá, muita calma nessa hora. O importante é que a razão sobreviva, para que a democracia siga em frente, soberana e acolhedora.
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