A
exuberância do azul do mar da Baía de Todos os Santos, na Região
Metropolitana de Salvador (RMS), tem sido manchada por borras pretas de
óleo. Moradores de São Francisco do Conde, a 80 km de Salvador, contaram
que desde a quarta-feira (20) manchas de óleo apareceram nas praias e
manguezais da região e estão avançando, tendo chegado em Madre de Deus,
cidade vizinha. O surgimento, ainda sem explicação, impede a atividade
de pescadores e marisqueiras, além de afetar a vida marinha. Segundo a
Associação de Pescadores e Maricultores de Madre de Deus e São Francisco
do Conde, cerca de 10 mil pescadores atuam na região. Alex Bandeira,
56, é um deles. Ele começou o ofício há uma década por estar
desempregado e encontrou na pesca uma fonte de renda. Com o surgimento
das manchas, no entanto, diz que seu lucro reduziu 100%. O presidente da
entidade de pescaria, José Santos, conhecido como Zé Tunel, ressalta
que a atividade pesqueira é a primeira afetada. Isso porque, mesmo que o
trabalhador consiga pescar, o gosto do óleo vai se impregnar no peixe e
gerar desconfiança nos clientes. Do mesmo modo, as marisqueiras não
conseguem gerar renda pela dificuldade em separar a borra dos siris e
ostras durante o cozimento. Para além do
comercial, Tunel ainda afirma que animais marinhos já foram encontrados
mortos na região, em decorrência do aparecimento das manchas. Também já
é notada diminuição de mariscos e ostras. Pescadores dos municípios
vizinhos explicam que as correntezas conduzem o óleo a outras áreas como
Madre de Deus, sendo a expansão para outros municípios a maior
preocupação dos moradores. Envolvido com atividade pesqueira desde
pequeno, Domingos Rosa, 63, conta que os moradores se queixam há mais de
20 anos das atividades que envolvem petróleo na região. Segundo
Domingos, a colônia de pescadores e a Petrobras chegaram a concordar em
um projeto para tirar objetos do mar, mas depois de 2009 - quando saiu
da liderança da colônia - a situação se agravou. “O sentimento é de
tristeza porque a gente chega no manguezal para tirar o marisco e está
cheio de óleo. Se vai tirar caranguejo, vê a nata do óleo subir e, se
vai para o mar pegar peixe, a rede vem rasgada. Além dos vazamentos de
óleo [...] tem os destroços das antigas torres de petróleo”, reclama.
Diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia
(Ufba), Francisco Kelmo diz que ainda não teve informações acerca da
causa, mas é fato que a região já registrou outros vazamentos que geram
efeitos na natureza até hoje. Em nota, a Petrobras informou que
“monitora suas unidades e seu entorno em tempo integral e que não
identificou anormalidades ou ocorrências nas operações na Bahia.
Adicionalmente informa que não é mais operadora da área citada onde
ocorreu o evento”. Em 2020, a empresa assinou contrato com a Ouro Preto
Energia Onshore S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum Óleo e Gás
S.A., para venda de participação em campos de exploração na Bahia,
incluindo o localizado na região afetada pelo óleo na semana passada. A
reportagem entrou em contato com a 3R Petroleum Óleo e Gás S.A, no
entanto, não recebeu retorno até o fechamento da matéria. Já a Acelen,
refinaria de Mataripe responsável por cerca de 30% da produção
industrial da Bahia, informou não ter registros de vazamento até o
momento. Segundo o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente de São
Francisco do Conde (Seinfma), Luiz Henrique Basanez, foi realizada ontem
verificação na orla da cidade por parte da prefeitura. A coleta dos
materiais foi efetuada e será enviada a Ufba para investigação de origem
do óleo. O município também entrou em contato com órgãos e autoridades
ambientais e aguarda posicionamento oficial a respeito do ocorrido. A
Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Madre de Deus
(Sedumam) comunicou que está acompanhando o surgimento de manchas de
óleo e, a princípio, não há nenhum indício de vazamentos nas operações
portuárias, de transmissão e estocagem existentes no município. Amostras
do material foram recolhidas para análise em laboratório. O Instituto
Do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) disse que já está
investigando o caso com a equipe técnica e recomenda que qualquer
situação passível de acompanhamento pelo instituto seja formalizada por
denúncia pelo Disque Denúncia: 0800 071 1400 ou e-mail
denuncia@inema.ba.gov.br. Já o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais (Ibama) informou ter conhecimento da ocorrência
através do contato com a reportagem, mas o núcleo de emergência
ambientais já foi acionado.
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