Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de quarta-feira, 14 de julho:
Está
decidido: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, deixa em breve seu
atual partido, o DEM, para se filiar ao PSD, de Gilberto Kassab. E, pelo
PSD, deve ser candidato à Presidência da República, tentando abrir
caminho entre bolsonaristas e petistas. Tudo bem, não será só ele. Mas
Kassab jamais pulou em piscina vazia. É um político de rara habilidade e
todos os que atuam no ramo aprenderam a respeitar seu faro e seu
raciocínio sobre o Poder.
Rodrigo
Pacheco? Até hoje, seu mais vistoso distintivo é fazer política em
Minas. É uma esplêndida escola, a de Tancredo, Magalhães, JK, Alkimin,
Benedito Valladares; mas esta escola há alguns anos já não revela
ninguém. Há candidatos que ocupam postos melhores, como Doria, Tasso,
Eduardo Leite; Datena, popularíssimo; Ciro, com várias campanhas
presidenciais. E Kassab aposta em Rodrigo Pacheco? Uma coisa é certa:
Kassab vislumbrou a grande possibilidade de Bolsonaro não chegar ao
segundo turno, dando a seu candidato a oportunidade de ser o anti-Lula;
ou de Lula também ficar no caminho, permitindo outro tipo de disputa.
Kassab é frio o suficiente para saber que não se ganha eleição de
véspera. Mas deve achar também que as condições da disputa permitem que
seu candidato tenha chance de ganhar.
E
Bolsonaro, se nem chegar ao segundo turno para reclamar das urnas? Como
não dizia Humphrey Bogart em Casablanca, sempre lhe restará Mar-a-Lago,
o refúgio de Trump na Flórida.
Mergulhando
As
contas de Kassab levam em consideração as últimas pesquisas – todas
elas. A rejeição ao presidente ultrapassou os 50%. A rejeição de Lula é
um pouco menor, mas não muito longe disso. Está na hora, portanto, de
criar as condições para que surja um candidato de centro. Fazer
política, enfim, para reforçar um candidato e permitir-lhe disputar com
quem quer que seja. E as indicações para Bolsonaro são péssimas. Para
quem se elegeu garantindo que governaria com honestidade, é terrível
saber que 70% dos eleitores acham que há corrupção no Governo (e, em
particular, na Saúde: 64%).
Pior
ainda, apesar de toda a campanha de Bolsonaro contra as vacinas, que
incluiu o tal risco de virar jacaré. 94% da população querem ser
vacinados. Justo nessa hora se descobre que houve tentativas de tomar
algum na compra de vacinas da Índia, enquanto não havia sequer resposta à
Pfizer e se tentava ridicularizar a CoronaVac, fruto de um acordo do
Butantan com os chineses.
Mourão, frase um
Do
vice-presidente general Hamilton Mourão, há tempos escanteado por
Bolsonaro, dizendo que é preciso lutar para evitar que o comunismo
domine o país e completando: “Somos todos Bolsonaro”. É uma frase que
relembra um clássico do futebol: “O treinador está prestigiado”.
Mourão, frase dois
O
general Mourão disse, no mesmo vídeo, que é importante estimular a
educação. O presidente Bolsonaro (“Somos todos Bolsonaro”) é o autor da
frase sobre o tipo de resposta que daria à CPI. Podemos apostar que
Mourão jamais diria algo desse tipo sem ouvir reprimendas de seus pais.
Em seguida, Bolsonaro disse a seus adeptos, naquele cercadinho em que os
recebe, que é um cocô igual a eles.
O sr. diria, general Mourão, que isto é educação?
Boa notícia
A
Câmara dos Deputados aprovou ontem um projeto de lei que dificulta o
pagamento de salários pelo Tesouro acima de R$ 39.200,00, o teto fixado
pela Constituição. Até agora, tudo quanto era penduricalho entrava no
bolso dos privilegiados como se não fosse parte do salário. Se o projeto
passar pelo Senado e for sancionado pelo presidente Bolsonaro, só
alguns benefícios deixarão de ser considerados extrassalariais. E, ainda
assim, será preciso provar que alguém, que já recebe por sua função e
passa a receber também por outra, está trabalhando mais do que o fazia.
Mas, mesmo que o projeto seja aprovado pelo Senado e sancionado pelo
presidente, será preciso tomar conta das despesas (gasolina, carros,
assessores em demasia) para que o país deixe de ser roubado. Rachadinha,
por exemplo, só existe porque há montes de assessores, nomeados apenas
para transferir seu salário para os chefes.
Má notícia
Para
que se tenha uma ideia dos gastos públicos, no Estado de São Paulo há
23 cidades em que toda a arrecadação de impostos é insuficiente para
pagar as despesas das Câmaras Municipais. Dos governos, a cidade recebe
dinheiro, antes de mais nada, para pagar seus custos administrativos. Só
mais tarde começam as preocupações com o que é preciso fazer pela
população.
Show da fé
Bolsonaro
anunciou a escolha para o Supremo. É seu aliado André Mendonça, cuja
principal qualidade nada tem a ver com conhecimentos jurídicos: é ser
“terrivelmente evangélico”.
Nada contra sua fé; mas vê-la transformada em condição essencial para a nomeação soa estranho.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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